❂ CAPÍTULO: 4 ❂

O dia passara assustadoramente devagar, tanto que a bela dama teve que conter o seu aborrecimento balbuciando algumas canções e tentando descobrir como as duas pernas humanas funcionavam rendendo desse modo alguns tombos e frustrações junto ao pensamento de tudo que poderia fazer com a sua linda cauda azul que agora como suspeitava encontrava-se em seu pescoço.

Exausta de todas as tentativas falhas de manter-se entretida, acabou por começar a sentir-se surpreendentemente sonolenta principalmente pelo balanço sutil da embarcação e talvez no final, não fosse tão ruim assim dormir um pouco, isso lhe daria novas energias para lutar em prol de sua liberdade. Logo, a noite chegara e com ela o imenso navio atracou no porto do Vilarejo de Burford, sem ao menos se importarem em estar tão expostos assim, visto que a pirataria era um crime com altas punições durante aquele período mas mesmo com uma possível consequência, esse fato não impediu que o capitão e a sua tripulação fossem comemorar a lágrima a qual pensavam que já haviam garantindo com a presença da sereia na cabine de itens acumulados de seus roubos.

Quando o barulho da enorme âncora de seus bons vinte metros de altura fora ouvido, a pequena mulher acordara de modo súbito voltando a encarar a janela onde agora lhe mostrava que estavam em um local com outros barcos e um fluxo relativamente grande de pessoas andando pelo local. A enorme estrutura de ferro era novamente posta estrategicamente por um grupo de piratas que saíram do navio para conduzir esta de forma correta e firme no cais comum que ali permanecia. Nesse momento, Barba Negra encaminhou-se ao meio de seus homens começando com o seu discurso em uma voz alta e potente.

— Homens, agora iremos começar com a nossa comemoração, iremos beber até o dia amanhecer! — exclamou com feições serias enquanto retirava sua espada da bainha e a apontava para frente durante o tempo em que como resposta, os demais homens gritavam em alegria com a alegação de seu superior.

Tão rápido quanto chegaram, saíram de uma maneira apressada ao estabelecimento beira-mar, o bar preferido dos navegantes onde a única regra era a ausência destas mesmas o que muitas vezes contribuía para a ocorrência de brigas físicas entre os fregueses claramente alterados. A taverna em si era um estabelecimento comercial pequeno, que abrigava uma venda de bebidas constituída de uma madeira de baixa qualidade, paredes acinzentadas com algumas rachaduras e várias mesas quadradas de uma madeira pesada que fazia jogo com as cadeiras de mesmo material estofadas com uma cor vermelha carmim.

O lugar com o seu jeito rústico conquistava a todos os homens que ali pisavam, fazendo com que esse negócio nunca estivesse vazio. O grupo de saqueadores que faziam parte da história do Vingança da Rainha Ana, encaminharam-se a sua mesa habitual reservada somente para estes o que fez com que em uns instantes os copos fossem preenchidos com bebidas alcoólicas, sendo do mesmo jeito, prontamente consumidos.

Copos após copos, boa parte desses homens já encontravam-se fora de seu estado de sobriedade e o demostravam cantando cantigas enquanto brindavam com as suas canecas cheias desse líquido amarelado, sorrindo amplamente em um estado de completa felicidade momentânea que a bebida conseguia causar. Entretanto dois homens não estavam sentindo-se muito bem, Larry e Chumbs eram considerados os membros mais fracos dos larápios em questão as bebidas e após algumas rodadas necessitavam procurar algum lugar mais calmo e tranquilo para tentarem controlar a enorme tontura que os assolava.

Enquanto isso, nessa mesma noite, Elliot James, encaminhava-se ao porto para descarregar o restante dos peixes que havia conseguido pescar durante a tarde para poder desse modo os vender na feira local. Sua história não era nada fácil. No início do século XVIII, os católicos na Irlanda enfrentavam tempos difíceis dado que o Parlamento inglês adotou medidas ainda mais duras contra os mesmos.

Foram feitas novas expropriações de terras, a prática do catolicismo sofreu fortes restrições (os seminários foram fechados) e os irlandeses católicos perderam vários direitos civis (exercer cargos públicos ou certas atividades profissionais, por exemplo), por isso, oriundo de uma família extremamente católica, a situação não estava nada favorável visto que o risco da situação piorar era muito grande, então, para não levantar suspeitas, seus pais, Liam e Dara James o levaram a uma família amiga de mercadores os quais o deixaram nessa pequena aldeia na Inglaterra onde poderia viver sem medo algum de um futuro incerto por mais que desde aquela época nunca mais vira os seus progenitores, que arriscaram suas vidas pela oportunidade de uma melhor para ele.

Chegando ao seu pequeno escaler, começou a pegar os seus últimos carregamentos de atum enquanto conferia se o seu fiel amigo estava bem amarrado a plataforma, entretanto, algo incomum capturou a atenção do pescador. Uma melodia triste ressoava pelo ar, o hipnotizando de uma maneira surreal. Os tons altos das notas daquela voz feminina o maravilharam e era como se o atraíssem para descobrir a sua fonte. Meio abobado com a música, largou a sua mercadoria novamente em seu barco e ouvindo atentamente, seguiu o seu caminho tentando encontrar a dona de tão linda voz.

De olhos semi cerrados em busca de uma melhor compreensão da direção desta, acabou por encontrar-se com o horripilante compilado de crânios que compunham o navio do assustador capitão Teach, mesmo que esse simples nome não lhe causasse medo como aos demais. Já encontrara diversas vezes tal capitão pelo porto e por mais que sua impiedade fosse grande, James considerava-se um homem extremamente corajoso e que mesmo cara a cara com aquele pirata, teria certeza de que conseguiria encará-lo nos olhos com ninguém jamais o fizera.

Sentindo o som cada vez mais alto, Elliot chegou a pequena e uma das únicas janelas de tal navio apoiando suas mãos nas extremidades desta, passando desse jeito o olhar pelo interior do grande navio e lá, achou o que tanto procurava, uma linda mulher de traços graciosos. Os cílios cheios encostando-se em suas bochechas, o nariz arrebitado, os lábios carnudos os quais produziam tão cativante melodia e os cabelos loiros quase brancos fizeram com que o seu coração acelerasse em suas batidas de apenas observa-la, um sentimento avassalador o qual nunca sentira antes, que o fez querer conhece-la e principalmente, escutá-la a todo momento.

Após algum tempo acordada pensando em uma maneira de sair da sala em que se encontrava cativa, a jovem concentrada na saudade que sentia do mar, começou a sussurrar uma música que seu pai lhe cantou uma vez quando tivera um pesadelo, uma das memórias que ela guardava com muito carinho. Conforme lembrava da voz de seu pai, a sereia foi aumentando a entonação, até que os pequenos murmúrios se tornassem de fato uma canção, cantada em um tom alto e claro, quase angelical até a última nota, um tanto mais baixa do que as anteriores para assim, cessa-la completamente.

Com o fim da cantoria, Anya fechou os olhos, tentando assimilar tudo que colocara em cada verso. Mas a sua surpresa foi que ao finalmente abrir os olhos, encontrou-se com dois pares de esmeraldas a fitando pela pequena estrutura arredondada com fascínio.

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