𝟎𝟒𝖝𝟑𝟎 '𝕴'𝖑𝖑 𝖇𝖊 𝕭𝖆𝖈𝕶 𝕾𝖔𝖔𝖓'
Alyssane atravessou os corredores do castelo como uma tempestade em movimento, seu coração pulsando com a força de um dragão. Os ecos de seus passos ressoavam nas paredes frias, um som decidido que reverberava na atmosfera tensa e carregada. A luz das tochas tremulava, lançando sombras dançantes que pareciam contorcer-se ao seu redor, mas nada poderia desviar sua mente do propósito que agora a consumia.
— Levem Alicent para a masmorra — ordenou, a voz firme e inabalável, como se o próprio destino estivesse em suas mãos. Os guardas a olharam com perplexidade, os rostos marcados pela surpresa. Nunca a haviam visto tão determinada, tão resoluta. Para eles, a rainha consorte era um símbolo de fragilidade, mas hoje ela emanava uma força que desafiava as convenções.
Sem hesitar, os homens a obedeceram, um misto de respeito e confusão em seus olhos. Alyssane continuou a caminhar, sua mente fervilhando com a gravidade de suas decisões. Cada passo a levava mais perto do fosso, onde os ecos da memória de sua infância e das histórias dos dragões ainda pareciam ressoar.
À medida que se aproximava, a imensidão do fosso se desdobrava à sua frente, um espaço vasto e silencioso, como se o próprio mundo estivesse segurando a respiração. As pedras frias sob seus pés pareciam sussurrar segredos antigos, e a brisa que passava carregava consigo o cheiro da terra e do lamento dos dragões. Alyssane fechou os olhos por um momento, permitindo que a força do lugar a envolvesse, a preparando para a tempestade que estava prestes a desatar. Ela sabia que estava a caminho de um confronto, mas também sentia a chama de sua determinação acesa, pronta para enfrentar qualquer coisa que o futuro lhe reservasse.
Alyssane montou em Aetherion, o magnífico dragão negro que se erguia majestoso sob ela, suas escamas brilhando sob a luz do sol que começava a se pôr. O longo pescoço do dragão se contorcia graciosamente, enquanto seus olhos, profundos como abismos, miravam o horizonte com uma inteligência feroz. O coração de Alyssane batia descompassado, não apenas pelo poder da besta sob ela, mas pela realidade sombria que se descortinava à sua frente.
Ela estava em minoria, uma figura isolada na batalha que se desenhava. De um lado, Aemond, seu marido, e ela; do outro, Rhaenyra, Daemon, Jacaerys, Baela e os novos montadores de Vermithor, Seasmoke e Silverwing.
A consciência da desproporção de forças a assaltava como uma onda, e a imagem de Porto Real sendo tomado por seus inimigos a atormentava. Se eles conquistassem a cidade enquanto ela estivesse lá, o destino dela seria selado. Mesmo com os exércitos de Aemond, a luta contra dragões era um desafio que parecia impossível.
Mas a determinação queimava dentro dela como o fogo de um dragão. Ela não poderia ficar parada, esperando que a tempestade a alcançasse. Precisava agir, precisava fazer algo para dar a Aemond uma chance, para fazê-lo recuar e ganhar tempo. E assim, com um impulso poderoso, Aetherion alçou voo, rasgando o céu com suas enormes asas, enquanto Alyssane sentia o vento uivar ao redor de seu corpo.
O mundo abaixo diminuía rapidamente, as árvores se tornando manchas verdes e as torres de Harrenhal se erguiam como sombras distantes, imponentes e cheias de histórias de batalhas e traições. Ela inclinou-se para frente, direcionando Aetherion em direção ao castelo, cada batida de suas asas ecoando como um chamado à ação. A visão de seu futuro, nebuloso e sombrio, a impulsionava ainda mais.
Enquanto cruzava os céus, uma onda de adrenalina percorria suas veias. Alyssane sabia que não lutaria apenas pela sobrevivência; lutava por um futuro, por sua filha e por um marido que, apesar de tudo, ainda amava. Naquele momento, ela não era apenas uma rainha consorte; era um dragão em seu próprio direito, pronta para enfrentar qualquer chama que ameaçasse consumir sua casa.
Quando Alyssane desceu de Aetherion, um frio na espinha a percorreu ao avistar Vhagar, o dragão de Aemond, exausto e repousando na beira da praia. O tamanho do dragão, tão majestoso, parecia agora pesar sobre ela como uma sombra imensa, um símbolo de algo que estava prestes a dar errado. O rugido de Aetherion, que reverberou pelos ares, ecoou como um lamento distante ao ver o estado de Vhagar. Alyssane sentiu o desespero apertar seu coração. Onde estava Aemond?
— Aemond! — ela gritou, a voz ressoando em desespero e ecoando entre as pedras do castelo. A brisa do mar trouxe o cheiro de sal e sangue, misturando-se ao aroma do medo que se instaurava em seu peito.
Sem pensar, Alyssane correu em direção ao castelo, os corredores escuros e sombrios parecendo se estreitar ao seu redor. As paredes, cobertas de tapeçarias que falavam de vitórias e tragédias, agora pareciam testemunhas silenciosas da angústia que a dominava. O silêncio pesado se estendia, interrompido apenas pelo som de seus próprios passos apressados, cada um ecoando como um aviso.
Ela sentia a adrenalina pulsar, as palmas suando, e a sensação de que algo terrível havia acontecido a acompanhava. Ao atravessar o pátio, avistou os soldados de Aemond, com olhares sombrios e expressão preocupada, e seu coração se apertou ainda mais. O que poderia ter acontecido?
Finalmente, ela entrou em uma das salas do castelo, e a visão que encontrou fez seu estômago se revirar. Aemond, seu marido, estava ali, apoiado contra a parede, o semblante pálido e o olhar ofuscado. Sangue escorria de uma ferida em seu lado, manchando sua roupa com um vermelho profundo. O príncipe caolho estava ferido, mas ainda assim, o fogo dentro dele não havia se apagado.
— Aemond! — ela exclamou, correndo até ele, sentindo a dor e o alívio se entrelaçarem em seu peito. Ele a olhou, um sorriso cansado se formando em seus lábios, mesmo enquanto a vida escorria dele. — O que aconteceu?
Ele abriu a boca para falar, mas a luta que travava contra a dor era evidente em seu rosto. Alyssane sentiu seu coração disparar, o medo se transformando em um grito silencioso dentro dela. O que quer que estivesse acontecendo em Harrenhal, a batalha deles estava apenas começando.
Alyssane puxou Aemond para perto, seu coração pulsando em desespero enquanto ela pressionava suas mãos contra o ferimento em seu ombro e peito, tentando estancar o sangramento que fluía livremente. O calor de seu corpo era um alívio temporário, mas a realidade da ferida o tornava um mero eco de esperança.
— Estou bem, Alys
— Você não está bem! — ela insistiu, sua voz embargada pelo medo e pela dor de vê-lo assim, tão vulnerável. A fragilidade dele a atingia como uma onda, como se o laço que compartilhavam os tornasse um só, fazendo com que ela sentisse sua dor como se fosse a dela.
Aemond, com o olhar ofuscado, tentava manter uma expressão de bravura. Ele se apoiava nela, respirando com dificuldade, cada inalação soando como um esforço titânico. O suor escorria por sua testa, e ele parecia estar lutando contra a escuridão que ameaçava envolvê-lo.
— Eu... eu matei Daemon — ele disse, sua voz era um sussurro entrecortado, mas a satisfação em suas palavras era inegável. — Vinguei o filho... o nosso filho.
Alyssane sentiu uma onda de emoções se agitando dentro de si. A vitória era amarga, uma lâmina afiada em meio ao turbilhão de sua dor. Embora ela soubesse que Aemond buscava justiça, o preço que pagavam por isso era alto demais.
— Isso não importa agora — ela murmurou, a própria dor quase física cortando seu peito. — O que importa é você. Você precisa ficar bem.
Ele sorriu fraquinha, mas os olhos dele estavam turvos, a batalha que lutava contra a dor refletindo em seu olhar. Alyssane sentiu-se paralisada por um momento, como se o universo ao redor deles tivesse diminuído, deixando apenas a luta que travavam ali, entrelaçados em uma conexão que transcendeu o simples amor. Era como se, em sua essência, eles fossem um só, compartilhando a mesma carne, a mesma dor e agora, o mesmo destino.
— Eu sempre estarei com você, Alyssane — ele sussurrou, e essas palavras, embora pequenas, tinham um peso imenso. — Não importa o que aconteça.
Alyssane balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto enquanto ela pressionava o ferimento, sentindo a vida dele escorregar lentamente por entre seus dedos.
— Não diga isso — ela implorou, sua voz se quebrando. — Você não pode me deixar. Não agora.
A dor de Aemond era uma chama ardente que queimava em seu coração, e ela sabia que a luta deles não estava apenas nas batalhas físicas, mas na batalha constante entre a luz e a escuridão que os envolvia. Enquanto ela olhava em seus olhos, a promessa de que lutariam juntos, de que sobreviveriam, era a única coisa que a mantinha de pé.
Alyssane olhou ao redor, o desespero tomando conta dela enquanto o castelo de Harrenhal se erguia, escuro e opressivo, como um labirinto de sombras. Cada parede parecia sussurrar segredos de batalhas antigas, e o eco de sua própria respiração parecia um lembrete do horror que a cercava. O vazio ao seu redor a envolvia como um manto, intensificando sua sensação de impotência.
Ela não sabia o que pegar, como ajudar Aemond naquele momento crítico. As paredes pareciam esmagá-la, e a ideia de que ele poderia morrer ali, em seus braços, a fez sentir uma raiva pulsante. Um grito de angústia escapou de seus lábios, reverberando pelos corredores vazios. A dor e o medo se entrelaçaram em seu coração, tornando cada segundo uma eternidade.
A voz de Aemond cortou o ar, fraca e cheia de urgência.
— Alyssane!
Mas ela sabia que precisava agir. Com uma determinação renovada, ela se levantou, sentindo a adrenalina bombear em suas veias. Ignorando a ansiedade que se acumulava dentro dela, ela correu pelos corredores sombrios do castelo. A sensação de estar sozinha a perseguia, mas o pensamento de que se não fizesse nada, Aemond morreria, a impulsionou para frente.
A cada passo, sua mente girava, ponderando sobre as opções difíceis que precisava considerar. O que faria se os pretos aparecessem?
A visão de Aemond, ainda embaçada pela dor e pela perda de sangue, focou em Alyssane quando ela voltou, seu semblante resoluto irradiando uma mistura de determinação e desespero. Ele não pôde deixar de se sentir aliviado ao vê-la, mesmo que a cena fosse sombrio.
Ela se ajoelhou diante dele, um brilho de esperança nos olhos, segurando um cantil de bebida alcoólica, linha e agulha, e um pano. Sua presença era um conforto no caos que o envolvia. Com um movimento rápido, Alyssane começou a rasgar a roupa dele, suas mãos tremendo levemente, mas firmes.
— Isso vai doer — avisou, sua voz suave, mas determinada.
Ele sentiu a frieza do álcool contra sua pele exposta e gemeu, o som se misturando à angústia que já pulsava dentro dele. A dor era aguda, um lembrete cruel de sua mortalidade. Cada gota de álcool parecia incendiar sua carne, mas a presença dela era um bálsamo para sua alma ferida.
— Eu... estou bem — Aemond murmurou, mesmo sabendo que era uma mentira. Ele lutava contra a fraqueza que o envolvia, tentando manter-se consciente.
— Daemon está morto — ele continuou, a voz rouca. — Recebi um corvo... disseram que Jacaerys foi morto pela tirania.
As palavras pairaram no ar, e Alyssane hesitou por um momento, o impacto da informação a atingindo. A morte de Jacaerys significava que a guerra estava se intensificando, que o equilíbrio de poder havia mudado de forma irrevogável. Mas, enquanto sua mente girava, o foco dela retornou ao que realmente importava: Aemond.
Ela começou a costurar, as agulhas cortando a carne dele enquanto trabalhava para estancar o sangramento. Cada puxão de linha era uma batalha contra a dor, mas a determinação dela a mantinha firme.
— Não diga isso — ela sussurrou, tentando manter a calma.
Ele a olhou, o único olho brilhando com uma mistura de dor e gratidão. A luta dentro dele se acalmou por um instante enquanto sentia a presença dela, sentindo-se amparado por sua determinação.
— Não posso deixá-la... — ele sussurrou, a força da sua voz falhando.
— Você não vai — Alyssane prometeu, as lágrimas se acumulando em seus olhos enquanto continuava seu trabalho, cada ponto de costura sendo um símbolo de seu amor e devoção. — Vou cuidar de você. Não vou deixar você ir, Aemond.
Aemond olhou para Alyssane, seu único olho refletindo a gravidade da situação. A fragilidade da luta era palpável, e ele sabia que cada palavra contava.
— Rhaenyra está fragilizada — ele disse, sua voz baixa, mas firme. — Ela perdeu outro filho e agora Daemon. Os Hightower estão negociando com o montador de Silverwing. Se eu morrer... você precisa matar Rhaenyra e o que sobrou dos aliados dela.
Alyssane parou por um momento, as mãos tremendo enquanto segurava a agulha. A dor da realidade golpeou-a como uma onda, e ela sentiu as lágrimas escorrem por suas bochechas. A ideia de ter que tirar a vida de sua meia-irmã, mesmo em meio a toda a traição, parecia insuportável.
— Aemond... — ela começou, a voz embargada.
— Não — ele a interrompeu, um fio de urgência em seu tom. — Você é uma Targaryen. Nós somos um só. E eu confio em você para reinar.
As palavras dele a tocaram profundamente, como se penetrassem em cada parte de sua alma. O peso de suas responsabilidades, o fardo de seu amor por ele e a lealdade à família começavam a conflitar dentro dela. Ela sabia que o trono não era apenas um símbolo de poder; era um campo de batalha onde a vida e a morte dançavam em uma linha tênue.
Alyssane enxugou as lágrimas com a parte de trás da mão e se concentrou na tarefa diante dela. Ela forçou-se a manter as mãos firmes enquanto costurava, mas a tremer com a intensidade de suas emoções.
— Eu... eu não quero isso — ela confessou, a dor da luta interna se tornando quase insuportável. — Eu não quero matar ninguém.
Aemond a olhou intensamente, o desespero e a determinação se entrelaçando em seu olhar.
— Você tem que, Alyssane. É isso ou a morte.
A voz dele estava carregada de emoção, e cada palavra parecia cortá-la como uma lâmina. A pressão em seu coração aumentou, mas, no fundo, uma centelha de determinação começou a brilhar.
— Eu farei o que for preciso — ela murmurou, a agulha cortando a carne dele enquanto suas mãos tremiam.
Ele a observou, um sorriso fraco se formando em seus lábios, apesar da dor que ele enfrentava.
— Sempre juntos — ele prometeu, e, ao ouvir aquelas palavras, Alyssane sentiu uma onda de força fluir através dela.
Alyssane terminou os pontos com um último movimento cuidadoso, a agulha deslizando pela pele dele com precisão, antes de cortar a linha com os dentes. Ao fazer isso, um sorriso involuntário brotou no rosto de Aemond, apesar da dor que o consumia.
— Em outra situação, eu teria achado isso muito sexy — ele brincou, tentando aliviar a tensão com um toque de humor, mas o esforço foi em vão. Um gemido de dor escapuliu de seus lábios, e ele se apoiou contra o ombro dela, a testa encostando em sua pele.
Alyssane franziu a testa, a preocupação tomando conta dela ao perceber que Aemond estava queimando em febre. O calor que emanava de seu corpo era alarmante, e a angustiante ideia de perder o irmão gêmeo a consumia.
— Aemond, você precisa de ajuda — ela disse, a voz trêmula, enquanto o observava lutar contra a dor. Ele estava tão pálido que parecia quase transparente, e seu coração acelerava com o medo de que a ferida o levasse a um destino sombrio.
Ele levantou a cabeça, seu único olho se fixando no dela, cheio de uma mistura de dor e determinação.
— Não posso... não agora — ele respondeu, a voz mais fraca. — Temos que agir, Alyssane. Rhaenyra... ela não vai esperar.
Alyssane hesitou, o conflito interno crescendo dentro dela. Como poderia se concentrar em planos de batalha quando seu marido estava à beira da morte? Ela precisava ser forte, mas a visão dele assim quase a quebrava por dentro.
— Você precisa ir — Aemond disse, a voz pesada de dor, mas a determinação ainda brilhava em seu único olho. — Não adianta você ficar aqui. Esperar por mim só vai te fazer sofrer mais.
— Não vou deixar você sozinho! — Ela respondeu, a firmeza em sua voz soando como um grito de desespero.
— Alyssane, você não entende... — ele exclamou, o esforço para se manter ereto se intensificando. — Rhaenyra não vai hesitar. Ela não hesitará em nos matar, e você sabe que precisa agir antes que ela faça isso.
O coração dela afundou ao ouvir essas palavras. A ideia de Aemond morto, de sua vida esvaindo-se por causa de uma guerra sem sentido, era um fardo que ela não queria carregar.
— Aetherion ainda é maior que Syrax — ele continuou, sua respiração vacilante. — Você pode chegar a ela antes que ela faça o mesmo com você.
Alyssane fechou os olhos por um momento, a dor de ter que considerar essa decisão apertando seu peito. Ela não queria matar Rhaenyra; mesmo com toda a rivalidade e dor que havia entre elas, o pensamento de se tornar uma assassina a atormentava. Mas a ideia de deixar Aemond para morrer, sozinha, em um castelo sombrio, era ainda mais insuportável.
— Aemond... — ela começou, mas a voz dele a interrompeu.
— Não, Alyssane! — ele implorou, sua expressão se contorcendo em agonia. — Se você não fizer isso, pode ser você quem pagará o preço. Eu sei que você não quer isso, mas você deve se colocar em primeiro lugar.
A emoção inundou os olhos dela, e lágrimas quentes escorregaram por suas bochechas. A visão dele, tão frágil e machucado, fez seu coração apertar como se uma mão invisível o estivesse esganando.
— Você é tudo o que eu tenho — ela murmurou, a voz embargada, enquanto a tristeza a consumia. — Eu não posso... não posso deixá-lo para trás.
— Você precisa fazer isso por nós dois, Alyssane — ele sussurrou, e as palavras foram como uma lâmina fria em seu coração. — Se eu não conseguir voltar... se você não for rápida, pode ser tarde demais para nós dois.
Alyssane sentiu como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. Aemond estava certo, e a ideia de que ela poderia perder tudo o que amava a despedaçava. Mas a ideia de abandoná-lo para enfrentar sua morte sozinha era ainda mais insuportável.
— Eu não sei se consigo — ela confessou, as lágrimas agora fluindo livremente.
— Você é mais forte do que pensa — ele disse, um tom de urgência tingindo sua voz.
E enquanto ele falava, a determinação dele parecia penetrar em seu ser, e embora seu coração estivesse despedaçado, ela percebeu que precisava lutar — não apenas por Aemond, mas por tudo o que eles haviam construído e pelo futuro que ainda poderia existir.
— Eu... eu farei isso — ela disse, a voz firme, mesmo que as lágrimas continuassem a escorrer. —
Mas no fundo, uma sombra de dúvida pairava sobre ela, uma consciência agonizante do que estava por vir.
Alyssane ajudou Aemond a se deitar em uma cama desgastada, os lençóis empoeirados parecendo uma extensão do desespero que os cercava. Ele gemeu levemente ao se acomodar, o rosto contorcido de dor, mas ainda assim, sua determinação brilhava intensamente.
— Vá logo — ele murmurou, a voz rouca e fraca. — Não há tempo a perder.
Ela hesitou, o medo de perdê-lo dominando seus pensamentos, mas sabia que ele estava certo. Com um esforço, ela se inclinou para perto dele, seus olhos buscando conforto naqueles que haviam compartilhado tantos momentos, tanto amor e tanta dor.
— Aemond... — ela sussurrou, a emoção quase a sufocando. — Se este for o nosso último momento...
Ela não conseguiu terminar a frase, pois a realidade daquela possibilidade a golpeou como um punhal. Com um impulso, inclinou-se para ele e selou seus lábios em um beijo, um ato de desespero e devoção. O gosto amargo de sua boca misturava-se com o sal das lágrimas que ainda escorriam por seu rosto. A respiração dele era irregular, cheia de esforço, mas ainda assim, ele a beijou de volta com uma força surpreendente, mordendo os lábios dela e quase a devorando.
Aquele beijo era tudo o que eles eram — um turbilhão de emoções cruas, a paixão em meio ao caos. Alyssane sentiu-se queimada, não apenas pelo toque de seus lábios, mas pelo amor que os unia e que, naquele momento, parecia transcender a dor e a fragilidade da vida.
Ele a segurou com firmeza, e ela se perdeu na intensidade daquela conexão, sentindo seu coração acelerar em um ritmo frenético. Mesmo em meio ao medo e à incerteza, Aemond a fez sentir-se viva, como se aquele momento pudesse perdurar para sempre. Mas logo, a realidade voltou a golpeá-la, e ela se afastou, sabendo que precisava ir, que não poderia permitir que esse fosse o fim.
— Voltarei para você — prometeu, a voz embargada, enquanto sua mão permanecia sobre o rosto dele, guardando a lembrança daquele último beijo como um talismã em seu coração.
Alyssane olhou profundamente nos olhos de Aemond, a dor e o amor entrelaçados em um único momento de desespero. Com mãos trêmulas, ela delicadamente removeu o tapa-olho que cobria seu olho perdido, permitindo que ele descansasse, como se, ao fazer isso, pudesse aliviar um pouco do fardo que ele carregava. Depois, inclinou-se e beijou sua testa, um gesto de carinho que esperava transmitir a força que ele tanto precisava.
Ele estava ardente, a febre consumindo-o, e o pulso fraco pulsava contra seus dedos como um lamento silencioso. A visão dele assim, vulnerável e fragilizado, a despedaçava. Alyssane sabia que voltaria para ele, mas a incerteza do que encontraria ao retornar pesava como uma pedra em seu peito. E se ele não estivesse mais ali, esperando por ela?
Lágrimas quentes escorriam por suas bochechas enquanto ela se afastava, a realidade do que estava prestes a fazer tomando forma. Ela deu meia-volta, a dor de deixá-lo para trás quase insuportável. Com o coração acelerado e um nó na garganta, correu para fora do castelo, a mente confusa e o futuro incerto.
Ao montar em Aetherion, seu dragão negro e imponente, sentiu a liberdade da altura misturada ao peso do que deixava para trás. O céu se abria à sua frente, mas a escuridão da incerteza a envolvia. Não sabia direito o que estava fazendo, se o deixava para morrer ou se estava honrando seu último desejo.
Mas em seu peito, pulsava uma única certeza: ela não poderia falhar. Ele havia confiado nela. E assim, mesmo com as lágrimas ainda secando em seu rosto, Alyssane levantou voo, determinado a lutar não apenas pela sobrevivência, mas pela esperança de que um dia retornaria para ele.
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