𝟎𝟒𝖝𝟐𝟗 '𝕸𝖔𝖙𝖍𝖊𝖗'𝖘 𝕭𝖊𝖙𝖗𝖆𝖞𝖆𝖑'
O céu da manhã se derramava sobre Pedra do Dragão como uma tapeçaria de cinzas e prata, nuvens pesadas que pareciam refletir o peso que o coração de Alyssane carregava. Nos aposentos sombrios e frios, ela se ajoelhava ao lado de Daella, as mãos tremendo levemente enquanto deslizavam o vestido verde e delicado sobre o corpo frágil da filha.
O tecido era suave, ornado com bordados finos e discretos — um presente que antes havia sido uma promessa de dias felizes e seguros, agora nada mais era do que uma lembrança amarga de tempos perdidos.
Alyssane tentava engolir o nó em sua garganta, cada gesto cuidadoso uma luta contra as lágrimas que ameaçavam romper a barreira de sua força. Ela ajeitou as mechas prateadas de Daella, afagando-as com um carinho quase desesperado, como se estivesse tentando gravar o toque e o calor da filha em suas mãos, sabendo que em breve isso lhe seria tirado.
Daella, ainda com a inocência que desconhecia a dor e a perda, olhou para a mãe com seus grandes olhos curiosos e confiantes. Ela não entendia por que a mãe parecia tão triste, por que as mãos dela tremiam, ou por que precisaria ir para longe. Mas sentia o peso do momento, e de algum modo, talvez inconscientemente, segurou a mão de Alyssane com firmeza.
— Mamãe... — a pequena voz de Daella soou baixa, quase um sussurro, e Alyssane precisou de toda sua determinação para responder.
— Você será forte, meu amor. Será corajosa, como um verdadeiro Targaryen — murmurou, embora sua voz estivesse embargada, e o sorriso que tentou lhe oferecer estivesse tão trêmulo quanto seu coração.
Ela ajeitou a capa sobre os ombros da filha, puxando-a para protegê-la do frio. Daella seria levada para um local seguro, onde septas e guardas fiéis a protegeriam, longe das sombras e intrigas que agora se intensificavam em cada corredor da Fortaleza Vermelha.
O mundo não era mais seguro, e a mãe que um dia jurara protegê-la sabia que esse era seu maior ato de amor: afastá-la daquele pesadelo que se erguia cada vez mais ameaçador.
Ao fechar o broche da capa, os dedos de Alyssane pararam por um instante, e ela abaixou o rosto, permitindo que uma lágrima silenciosa deslizasse por sua bochecha. Cada instante parecia eterno, e o amor desesperado que sentia por Daella, a necessidade de mantê-la segura, era como uma lâmina afiada em seu peito.
— Mamãe vai sentir sua falta todos os dias — ela sussurrou, com a voz carregada de uma dor que só as mães conhecem. Beijou a testa de Daella, o gesto impregnado de amor e despedida.
Alyssane abraçou Daella com firmeza, os braços envolvendo o pequeno corpo como se, por força de vontade, pudesse proteger a filha de todo o mal que se aproximava. Com passos decididos, ela deixou o quarto, seguindo pelo corredor em direção ao pátio onde as carruagens e os guardas a esperavam. Mas, antes que pudesse dar mais do que alguns passos, avistou a figura de Aemond, sua silhueta forte e imponente bloqueando o caminho.
Ele a observou por um instante, as sobrancelhas se estreitando com desconfiança ao ver a filha nos braços de Alyssane. Seu olhar se fixaram nos detalhes da expressão cansada da esposa, nas mãos dela que seguravam Daella como se nunca fossem soltar, e então ele se aproximou, seu rosto agora a centímetros do dela.
— O que está acontecendo aqui? — ele murmurou, em um tom que oscilava entre a curiosidade e a suspeita. A ponta de seus dedos tocou a bochecha da filha, traçando delicadamente o contorno do rosto pequeno e sereno de Daella.
Alyssane ergueu o olhar, as lágrimas ainda vívidas em seus olhos, mas sua determinação era palpável. Ela sustentou o olhar dele, erguendo o queixo com a dignidade de uma mãe que protegeria sua cria a qualquer custo.
— Daella ficará fora até o fim da guerra, Aemond. Não há lugar seguro para ela aqui — respondeu, a voz baixa, mas repleta de firmeza. Ela inspirou profundamente, os dedos ainda apertando as costas da filha como se aquilo lhe desse a força de que precisava para continuar. — Vou enviá-la para um convento em Rochedo Casterly, onde as septas e os guardas irão servi-la. Lá, ela estará longe dos dragões e das ameaças. Estará a salvo.
Aemond recuou ligeiramente, e a expressão em seu rosto escureceu, o olho dele cintilando com uma mistura de indignação e incredulidade.
— Como ousa tomar uma decisão dessas sem falar comigo? — ele respondeu, a voz baixa e afiada, repleta de raiva contida. Alyssane sentiu o peso daquelas palavras, mas não desviou o olhar.
— Estou fazendo o que precisa ser feito, Aemond, o que qualquer mãe faria para proteger sua filha. Os nomes das septas e dos guardas foram cuidadosamente escolhidos, todos leais, todos comprometidos com a segurança dela. Daella será cuidada e protegida, e esta é uma decisão que eu não podia deixar de tomar — ela respondeu, com a voz entrecortada, mas sólida.
A tensão no ar parecia quase palpável. Aemond a fitou por um longo instante, o olhar oscilando entre a incompreensão e a fúria. Ele apertou os punhos, seu rosto se contorcendo em algo que parecia uma mistura de orgulho ferido e frustração.
Por um momento, Alyssane pensou que ele poderia exigir que a filha ficasse, forçar sua vontade como rei e pai. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que Aemond era inteligente o suficiente para entender os riscos e que, por mais obstinado que fosse, não poderia contestar a decisão da mãe que apenas tentava salvar sua filha.
Aemond se abaixou e, com um gesto suave, pegou Daella nos braços, o calor do pequeno corpo dele lembrando-o da fragilidade que a criança representava. Assim que a menina se acomodou, ela imediatamente levou a mão ao tapa-olho dele, como sempre fazia, explorando com curiosidade a ausência que ali habitava. Aemond balançou a cabeça, um sorriso meio triste cruzando seu rosto.
— Não, minha pequena. Não é hora de mexer nisso — disse ele, sua voz suave, mas com um firme tom de autoridade. Ele caminhou ao lado de Alyssane, os passos pesados na estrada de pedras, e a carruagem se aproximava, como um sussurro da segurança que Daella precisava.
Ao chegarem à carruagem, Aemond parou e, olhando nos olhos da filha, sentiu a dor da separação dilacerar seu coração. Ele se agachou, a mão ainda segurando Daella com carinho.
— Seja corajosa, minha princesa — disse ele, a voz embargada de emoção. — Em pouco tempo, estarei aí para buscá-la. E logo, o seu dragão irá nascer para protegê-la — prometeu, sua voz firme, embora o semblante traíssem um profundo desejo de que aquela situação fosse apenas um pesadelo.
Ele se aproximou, beijando delicadamente a bochecha dela, um gesto simples que carregava a profundidade de seus sentimentos, e então entregou a menina à septa, que a recebeu com braços acolhedores e olhos compreensivos. Daella olhou para Aemond, um misto de amor e confusão em seu pequeno rosto, mas a confiança na presença do pai ainda reluzia em seu olhar.
— Ta bom. — ela respondeu em seu doce tom suave e infantil.
Aemond sorriu, um sorriso que carregava a intensidade de um rei, mas também a vulnerabilidade de um pai. Ele observou enquanto a septa guiava Daella para dentro da carruagem, a pequena mão ainda acenando para ele, um gesto de esperança. Aemond permaneceu ali, o peito apertado, assistindo à partida da filha, sabendo que as decisões que tomava agora eram para protegê-la, mesmo que a dor de estar longe a atormentasse.
Assim que a carruagem partiu, levando Daella para longe, Aemond voltou-se para Alyssane, seu olhar grave e determinado.
— Não chore — disse ele, a voz baixa, mas firme, como se a simples ordem pudesse conter a onda de emoções que ameaçava transbordar. Alyssane engoliu em seco, tentando reunir a força que lhe faltava, e seguiu o marido para dentro do castelo, onde a atmosfera estava carregada de tensão. Um abismo entre eles se alargava, como um precipício invisível que parecia intransponível.
Aemond fechou a porta atrás de si, a privacidade do ambiente isolando-os do mundo exterior.
— Não podemos atacar Dragonstone — começou, a voz já imbuída de uma frieza calculada. — Há muitos dragões lá. Mas soube que Daemon foi para Harrenhal. Precisamos atacá-lo primeiro.
Alyssane, com o coração apertado, rebatia, sentindo a necessidade de confrontar a lógica distorcida que permeava as decisões dele.
— E isso resolve o que? Os pretos ainda têm Vermithor e Asa Prata. O que adianta derrubar Daemon se o exército deles permanece intacto?
Aemond franziu o cenho, a raiva e a frustração misturando-se em seu olhar.
— Primeiro, preciso matar Daemon — disse ele, a voz repleta de uma determinação sombria. — Eu vou vingar nosso filho. Depois, cuidarei dos bastardos que ganharam dragões. Os levarei para o meu lado, mesmo que isso signifique fazer o que for necessário.
Alyssane sentiu o impacto de suas palavras como um golpe. A ideia de um ataque, de derramamento de sangue, ressoava em seu coração como um eco de incertezas e dor. Aemond estava tão consumido pela necessidade de vingança que mal via as consequências que seus atos poderiam trazer.
— E isso nos fará vencedores? — questionou, sua voz quase um sussurro, mas suficientemente audível para ele perceber a inquietação que ela carregava.
— Nos tornará indestrutíveis — ele respondeu com o olhar brilhando com uma fervorosa convicção, mas para Alyssane, aquilo não soava como a busca por justiça, e sim como um caminho em direção à escuridão que ela temia.
Alyssane sentia a tempestade de emoções se formando dentro dela. Era uma boa estratégia, ela sabia. Derrubar Daemon, e caso os novos montadores de Asa Prata e Vermithor se juntassem a Aemond, a vitória sobre Rhaenyra seria quase garantida. Mas essa vitória não era o que ela desejava. Não assim.
— O que você quer que eu faça? — perguntou, a voz embargada por um misto de determinação e dor. Ela não via como poderia desobedecer a Aemond; essa ideia não a machucava mais. O que realmente a feria era o fato de que ele não a ouvia, que não havia espaço para os desejos dela neste novo reino que ele estava construindo. Ela queria trazê-lo de volta à luz, mas cada dia parecia mais distante.
— Fique no castelo, por enquanto — Aemond respondeu, o tom firme como aço.
Alyssane franziu a testa, preocupada com a ausência dele.
— Você vai agora? — indagou, sua voz tremendo levemente.
— Sim — confirmou ele, a certeza na resposta sendo um golpe frio em seu coração.
O receio a envolveu como um manto pesado, um pressentimento de que algo daria muito errado. A visão do marido partindo, determinado a entrar em um caminho de sangue e destruição, fez sua garganta se apertar.
— Aemond... — começou ela, mas as palavras falharam, sufocadas pelo medo que a invadia. Ela queria implorar para que ele não fosse, para que reconsiderasse, mas sabia que ele já havia tomado sua decisão.
— Eu voltarei — ele disse, embora a promessa soasse vazia para Alyssane, um eco que não parecia prometer nada além do que já estava em seu destino.
Aemond notou a expressão dela, um misto de vulnerabilidade e anseio. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios, como se pudesse sentir que, mesmo entre os escombros de seu relacionamento, algo estava começando a se reconstruir. Talvez ela estivesse apenas com medo de perdê-lo, mas, em seu íntimo, Aemond esperava que estivesse, de fato, começando a perdoá-lo.
— Você é a minha rainha — declarou, a voz baixa e carregada de uma intensidade que a fazia vibrar. — E eu não vou fazer você esperar muito. Primeiro, preciso derramar o sangue de Daemon. Apenas assim ninguém mais poderá fazer você sofrer.
As palavras dançavam no ar entre eles, carregadas de promessas e desejos não ditos. Alyssane sentiu a emoção pulsar em suas veias, a paixão antiga reacendendo, e antes que pudesse pensar duas vezes, ele a puxou para mais perto. Seus lábios se encontraram em um beijo quente e possessivo, repleto de urgência.
A língua dele deslizou contra a dela, provocando um calor intenso que a envolveu, dissipando por um momento as sombras de seu sofrimento. O beijo era como um feitiço, um lembrete do que ainda havia entre eles, mesmo em meio ao caos. A conexão, embora ameaçada pelas circunstâncias, pulsava como uma chama que se recusava a se apagar.
Alyssane se entregou, esquecendo por um instante as consequências de suas decisões, e deixou que o momento a consumisse, os sentimentos conflitantes se dissolvendo na paixão que compartilhavam.
Depois que Aemond saiu, Alyssane permaneceu por um instante, perdida em pensamentos. O beijo ainda queimava em seus lábios, uma lembrança de um amor que se reconfigurava em meio ao caos. No entanto, uma sensação estranha pulsava dentro dela, como se uma sombra se instalasse em seu coração. Precisava de alguém com quem falar, alguém que pudesse compreender o peso das decisões que estavam sendo tomadas.
Assim, decidiu encontrar sua mãe. Ao entrar nos aposentos de Alicent, o ambiente parecia tenso, como se a própria atmosfera estivesse carregada de inquietação. Alicent a aguardava, uma expressão de preocupação no rosto.
— Onde está Aemond? — perguntou Alicent, a voz trêmula de uma mistura de ansiedade e autoridade.
Alyssane hesitou antes de responder, a lembrança do beijo ainda fresca em sua mente.
— Ele saiu.
A expressão de Alicent se transformou em uma máscara de desaprovação, como se uma tempestade estivesse se formando em seu olhar.
— O que você quer dizer com "saiu"? Ele não deveria estar aqui, planejando... — As palavras de Alicent carregavam um tom de acusação, como se sua filha estivesse escondendo algo.
— Ele... — Alyssane tentou encontrar as palavras certas, mas a frustração da mãe a atingiu como uma onda. Alicent franziu a testa, a desconfiança se tornando evidente.
— E você não achou necessário me contar isso antes? O que mais ele não está te dizendo?
— Aemond é o rei — Alyssane respondeu, tentando se manter firme. — Ele não precisa dar satisfação a você.
— Ele está louco! — Alicent exclamou, sua voz carregada de um desespero palpável. — Perdeu a cabeça! E eu não vou deixar que ele arruine você também.
Alyssane sentiu um frio percorrer sua espinha.
— O que você quer dizer com isso? — Ela questionou, a confusão e a preocupação se entrelaçando em seu olhar.
— Nós — disse Alicent, gesticulando entre as duas — precisamos fugir. Eu, você, Helaena e Daella iremos para um lugar seguro. Não podemos nos arriscar mais com Aemond assim.
— Eu já mandei Daella para um lugar seguro — Alyssane interrompeu, a determinação começando a se infiltrar em sua voz. — Ela está a caminho de um convento em Rochedo Casterly, acompanhada de septas e guardas. É o melhor que posso fazer por ela agora.
A expressão de Alicent se endureceu, um misto de raiva e desespero.
— Então, devemos ir. Você e eu. Eu sei que você era mais feliz quando não era rainha.
Alyssane sentiu um choque percorrer seu corpo.
— Você me preparou para isso a vida toda, mãe! Agora quer tirar tudo isso de mim?
— Rhaenyra é a verdadeira rainha — Alicent declarou, sua voz firme como aço.
Alyssane ficou sem palavras, seu coração batendo forte no peito. A traição nas palavras da mãe ressoou como um golpe. Ela sempre havia sido ensinada a desprezar a ideia de Rhaenyra no trono, a vê-la como uma inimiga. Desde pequena, Alicent encheu sua cabeça com histórias sobre a bastardia dos filhos de Rhaenyra, sobre como sua meia-irmã era uma usurpadora disfarçada. Agora, Alicent parecia disposta a entregar tudo isso a ela, simplesmente porque achava Aemond perigoso demais.
— Como você pode dizer isso? — Alyssane indagou, seu tom quase um sussurro. — Você sempre me disse que Rhaenyra não era digna do trono!
— Eu mudei de ideia, Alyssane — Alicent respondeu, sua voz tremendo levemente. — O que Aemond está se tornando... não é quem você conhece. Ele é uma ameaça não apenas a você, mas a todo o reino. Ser rainha não vale nada se você perder sua própria alma no processo. O que está em jogo agora é muito maior do que você imagina.
Alyssane sentiu uma onda de indignação e dor.
— Eu concordo que Rhaenyra deveria ser rainha — Alyssane começou, seu olhar fixo no chão, como se as palavras fossem um peso a mais em seus ombros. — Mas agora é tarde demais. Eu vejo o que Aemond se tornou, algo horrível e cruel, e isso me assusta. Mas talvez ainda haja uma possibilidade de salvação para ele.
As palavras pareciam sair de sua boca com dificuldade, um apelo à razão que ela própria tentava entender. Alicent a observava com intensidade, avaliando cada nuance da expressão da filha.
— Aemond matou três dos filhos de Rhaenyra — continuou Alyssane, a voz trêmula, mas firme. — Eu não posso simplesmente perdoá-lo por isso. Não eu, nem Rhaenyra. Ele atravessou uma linha que não pode ser desfeita, mesmo que nos ajoelhemos a ela.
Alicent assentiu lentamente, a expressão dela se transformando em uma mistura de preocupação e resignação.
— Você tem razão, Alyssane. Rhaenyra quer a cabeça de Aemond.
O ar se tornara denso entre elas, a verdade do momento pairando como uma nuvem carregada. Alyssane sentiu um nó se formar em seu estômago ao considerar as implicações do que estava por vir. A luta pelo trono estava apenas começando, e as consequências dessa guerra seriam devastadoras.
— Um dia atrás, você me deu duas opções: ir para a guerra ao lado de Aemond ou vê-lo morrer — a voz de Alyssane tremia, as lágrimas escorregando pelo seu rosto pálido. — E agora você está me dizendo para fugir ou morrer junto com ele? Isso é tão... hipócrita!
Alicent a encarou, a expressão dela revelando um misto de dor e desespero.
— Eu sei que sou hipócrita, Alyssane. Mas eu não tenho escolha. Eu negociei com Rhaenyra. Ela deixou claro que, se Aemond for morto, você, Daella e Helaena poderão viver... poderão fugir.
O impacto das palavras de Alicent fez o coração de Alyssane disparar. A ideia de deixar Aemond, de abandoná-lo em um momento de tanta necessidade, fazia sua alma se retorcer.
— E isso é o que você quer? Que eu fuja, que eu deixe meu marido para trás, como se nada tivesse acontecido?
— Não é isso que eu quero! — Alicent respondeu, a voz tensa, cheia de emoção. — Eu só... só quero que você esteja segura. mundo está se desmoronando ao nosso redor, e não podemos ignorar isso.
Alyssane se afastou, a sensação de traição apertando seu peito.
— Então, você escolhe Rhaenyra? Você a prefere como rainha a Aemond?
Alicent hesitou, e Alyssane viu a luta em seu olhar.
— Não se trata de preferências. Trata-se de sobrevivência. A guerra é um monstro voraz, e aqueles que se apegam a ele frequentemente acabam devorados.
— Eu sou a rainha — Alyssane respondeu, a voz firme, embora seu coração estivesse em conflito. — E poderia condená-la agora, por traição.
Alicent a encarou, surpresa, mas não se intimidou.
— Você não faria isso, Alyssane. Você é boa, mesmo diante de toda essa dor. Diferente do que Aemond se tornou.
A afirmação das palavras de sua mãe perfurou Alyssane como uma flecha. Um sentimento de indignação e tristeza a invadiu.
— Você não tem o direito de falar sobre ele assim! — exclamou, as emoções fervendo à superfície. — Ele ainda é meu marido, e eu o amo, apesar de tudo. Eu sempre o amei. Sempre foi você quem me impediu de ficar com Aemond, sempre me empurrou para longe dele!
Alicent hesitou, o rosto se contorcendo entre a dor e a confusão. — Alyssane, você não entende! Você está escolhendo queimar com Aemond, em vez de fugir e se salvar.
— Sim! Eu escolho! — a rainha gritou, a voz embargada, mas carregada de um orgulho feroz. — Eu sou um dragão, mãe! E é natural que eu volte ao fogo.
Um silêncio tenso se estabeleceu, a única coisa quebrando a quietude era o som de seus corações acelerados. Alicent, por um momento, parecia estar à beira de uma revelação, mas a determinação nos olhos de Alyssane era implacável. A matriarca se levantou, o desejo de fugir pulsando em suas veias como uma corrente elétrica.
— Alyssane, você precisa entender que sua vida está em jogo.
Um soluço escapuliu dos lábios de Alyssane, o peso da traição sufocando-a. Sua própria mãe estava prestes a abandoná-la, a eles, à própria sorte, em um mundo que já não fazia sentido. Alicent sempre havia se esforçado para protegê-los, sempre buscou salvá-los das chamas da guerra, e agora se tornava a chama que os consumiria.
— Como você pode fazer isso? — Alyssane perguntou, lágrimas escorrendo por suas bochechas como cristais de dor. — Como você pode fugir e deixar seus filhos para morrer?
Mas Alicent já havia tomado sua decisão, os olhos pesados com a responsabilidade e a culpa, um reflexo de uma mãe que se via dividida entre seu amor por seus filhos e a necessidade de preservar a própria vida. E assim, ao sair, a rainha consorte sentiu que as portas se fechavam não apenas para o futuro, mas também para um laço que, mesmo frágil, ainda existia entre mãe e filha.
Alyssane observou a porta se fechar atrás de Alicent, o eco do ato reverberando em seu coração como um lamento distante. A dor e a confusão a envolviam como uma neblina densa, mas, em meio ao turbilhão de emoções, uma determinação feroz começou a tomar forma dentro dela. Com lágrimas ainda escorrendo pelo rosto, ela se virou para o vazio da sala, um espaço que agora parecia mais solitário do que nunca.
— Eu juro — murmurou para si mesma, a voz carregada de um peso renovado. — Se eu sobreviver a isso, nunca deixarei minha relação com Daella se tornar aquilo que eu vi entre nós. Nunca permitirei que o medo e a traição desfigurem o amor que construímos.
Alyssane fechou os olhos por um instante, sentindo a chama da determinação arder em seu interior. Ela era um dragão, e, como tal, não se deixaria consumir pelo fogo que a cercava. Com um coração decidido, prometeu que protegeria sua filha a todo custo, que lutaria para que Daella crescesse em um mundo onde o amor pudesse florescer, e não se perder na sombra da traição.
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