𝟎𝟒𝖝𝟐𝟑 '𝕿𝖍𝖊 𝕷𝖔𝖘𝖘 𝖔𝖋 𝖙𝖍𝖊 𝕴𝖓𝖓𝖔𝖈𝖊𝖓𝖙𝖘'


Aemond andava pelas ruas de Porto Real como um lobo solitário, envolto em fúria e amargura. A raiva fervia dentro dele, cada passo ecoando como uma promessa de vingança que se desenhava em seus pensamentos.

Sentia-se incompleto, como se uma parte de si tivesse sido arrancada — um vazio que apenas ela podia preencher. Mas ela o rejeitara. Não importava se todos o odiavam, ele nunca se importou com a opinião alheia. O único olhar que ele não suportava ver despedaçado era o dela, o único afeto que não podia perder. Alyssane era o sol que aquecia sua existência, e agora, ele estava imerso em escuridão. 

Seu coração pulsava em uníssono com a raiva, mas no fundo, ele sabia que estava tentando abafar o desespero. Foi então que, sem pensar, seus passos o guiaram até a casa dos prazeres. Era um local que ele evitava há anos, desde antes de seus filhos nascerem, quando o fogo da juventude ainda era uma faísca descontrolada. Agora, tudo parecia sem vida, as lembranças antigas se emaranhando em nostalgia amarga e desejo frustrado.

Ao atravessar as portas, sentiu o cheiro familiar de vinho e incenso pesado. A música fraca preenchia o ar, mas nada era suficiente para entorpecê-lo. As mulheres o cercaram, sorrisos e toques oferecidos, mas ele sabia que não encontraria ali o que buscava. Nenhum corpo, nenhuma palavra sussurrada poderia substituir o que ele tinha com Alyssane. Ela era o encaixe perfeito entre o físico e o mental, o único desafio à sua altura, o único prazer verdadeiro que ele já conhecera.

Ainda assim, ele estava ali, movido pela raiva e pela dor. Queria se perder por um instante, esquecer-se de tudo e todos. Mas a cada rosto que passava por ele, cada toque que lhe ofereciam, era a dela que ele queria. A presença dela que preenchia o vazio e o reconfortava. O peso da angústia o consumia, mas sua raiva era maior. 

Aemond observou o ambiente ao seu redor, o olhar vagando por rostos e figuras que passavam despercebidas, até que encontrou um par de olhos familiares. A madame, uma mulher que havia sido seu primeiro encontro naquela casa de prazeres anos atrás, estava ali, como se o tempo não tivesse passado. Ela era mais velha agora, algumas linhas a mais no rosto, mas ainda mantinha o ar confiante e provocante que ele lembrava.

 Naquele momento, ela representava o mais próximo de familiaridade e conexão que ele poderia ter. Uma fuga momentânea de sua raiva e da dor que o consumiam.

Sem hesitar, ele a seguiu até um quarto, onde se entregaram ao que parecia ser uma dança ensaiada, um encontro entre passado e presente. Mas, mesmo em meio ao ato, enquanto tentava se perder no corpo dela, não encontrou o que buscava. A conexão que ele procurava não estava ali.

Ainda assim, ele continuou, como se pudesse enterrar seus sentimentos e fúria em cada movimento, sabendo que era um consolo passageiro, uma tentativa desesperada de preencher o vazio que Alyssane deixara. 

Alyssane se inclinou sobre os berços, observando as pequenas feições serenas de Daeron e Daella. Eles dormiam profundamente, inocentes e alheios ao caos que começava a se espalhar pelo reino. Com um toque leve, ela acariciou a cabeça de cada um, um beijo suave em suas testas, como se pudesse protegê-los de tudo apenas com esse gesto.

 No fundo, tentava afastar a dor que parecia envolver seu peito, uma sensação sufocante que ela não conseguia ignorar, não importava o quanto tentasse se concentrar nos filhos. A lembrança da discussão com Aemond ainda pulsava em sua mente, um turbilhão de palavras ditas e não ditas.

Quando ouviu a vozinha suave de Daella, Alyssane foi tirada de seus pensamentos. A menina, ainda com o olhar sonolento, murmurou:

— Mamãe, o titio Aemond?

Alyssane se sentiu engolida por uma tristeza amarga. Aquele apelido, "titio Aemond", soava tão doce e inocente vindo da boca de Daella, mas trazia consigo uma lembrança ainda mais dolorosa. Ela respirou fundo, tentando estabilizar a voz antes de responder.

— O titio Aemond... ele precisou sair, querida — murmurou, acariciando o rostinho de Daella. — Mas ele logo estará de volta.

Era o que ela esperava, mas o peso da incerteza pairava sobre ela. A dor da briga ainda queimava, e agora, vendo o quanto Aemond também fazia parte da vida das crianças, sentia-se mais dividida.

Eles discutiram inúmeras vezes ao longo dos anos, mas aquela última briga parecia ter arrancado algo dela, uma parte de si mesma. E, embora tentasse se manter forte diante dos filhos, o pressentimento ruim persistia, um aviso sombrio de que as coisas estavam prestes a se complicar ainda mais. 

Alyssane ajustou o cobertor sobre Daella, o mesmo que ela mesma bordara com cuidado, tecido por tecido, com o símbolo da Casa Targaryen e detalhes delicados que a menina adorava. Seu olhar vagou pelo berçário até a lareira, onde repousavam os ovos de dragão, um para cada um dos gêmeos.

Ela se perguntou, pela milésima vez, quando aqueles ovos iriam chocar, e se Daella e Daeron herdariam a ligação especial que ela tinha com Aetherion. Sentia um orgulho inegável ao imaginar os pequenos, um dia, montando seus próprios dragões pelos céus de Westeros.

Mas, naquele momento, o dragão de Alyssane, Aetherion, parecia tão inquieto quanto ela. Ela sabia que, se fosse até o Fosso dos Dragões, o encontraria em um estado de agitação que refletia perfeitamente seus próprios sentimentos. 

— Mamãe... e o titio Aemond? — repetiu Daella, a vozinha suave agora com um tom de insistência que só uma criança curiosa poderia ter. Alyssane suspirou, alisando os cabelos platinados da filha, tentando esconder a dor que a pergunta trazia.

— Agora é hora de dormir, querida — murmurou, com um sorriso forçado, abaixando-se até o nível da menina. — Amanhã, quem sabe, você poderá brincar com o titio Aemond.

Ela deu um último beijo na testa de Daella, tentando disfarçar a melancolia e o peso de suas preocupações. Seus pensamentos se voltaram a Aemond, à incerteza do que estava por vir e ao que ele havia feito.

Alyssane caminhou até a porta do berçário, seus passos ecoando suavemente pelo chão de pedra. O peso da noite parecia comprimir o ar ao seu redor, e seus pensamentos estavam tão perturbados quanto o silêncio que envolvia a Fortaleza Vermelha. 

Ela queria um momento de paz, uma chance de respirar longe dos medos e responsabilidades que a cercavam, mas sabia que isso seria quase impossível. O sentimento de pressentimento ruim ainda pairava sobre ela, como uma sombra que se recusava a dissipar.

Quando finalmente abriu a porta, foi como se o mundo parasse por um instante. Dois homens estavam parados bem diante dela, figuras escuras e ameaçadoras. Um deles era alto e magro, com um sorriso que não combinava com a crueldade em seus olhos. O outro era menor, mais robusto, com uma expressão fria e calculista. 

O mais alto, sorriu amplamente, seus dentes amarelos brilhando na penumbra.

— Vossa Graça — disse ele com uma reverência exagerada, como se estivesse prestes a fazer uma cortesia a uma rainha, mas a malícia em seus olhos traía qualquer respeito.

O coração de Alyssane parou, suas mãos tremendo enquanto ela instintivamente se colocou entre os assassinos e os filhos.

Alyssane sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha, o medo subindo como um veneno silencioso em suas veias. Ela prendeu a respiração e, com a voz trêmula, perguntou:

— Quem são vocês? O que querem?

Sangue e Queijo trocaram um olhar rápido, quase divertido, como se sua surpresa fosse exatamente o que esperavam. Sangue deu um passo à frente, aproximando-se perigosamente, enquanto Queijo permaneceu quieto, com a expressão gélida de quem já havia testemunhado horrores incontáveis.

— Somos a resposta para a injustiça — respondeu Sangue, sua voz suave, mas carregada de uma promessa de violência. — Viemos vingar a morte de Lucerys, por ordem de Daemon Targaryen.

O choque de Alyssane se transformou em um terror sufocante. Ela se perguntava desesperadamente onde estavam os guardas, como aqueles homens haviam conseguido chegar tão perto sem serem notados. 

Onde estavam Aemond, Aegon, qualquer um que pudesse impedir o desastre que estava prestes a acontecer? Mas, naquele momento, a sensação esmagadora de abandono a consumiu. Ela estava sozinha, e os olhares impiedosos daqueles homens deixavam claro que não tinham a menor intenção de misericórdia.

Alyssane tentou gritar por socorro, mas sua voz se quebrou em desespero. Sentiu um puxão brusco, e logo a lâmina fria da adaga pressionava seu pescoço. Um dos homens a segurava firme, enquanto o outro se aproximava com um olhar calculista e cruel.

— Não pode matá-la — advertiu o homem que segurava a adaga. — A rainha ainda é necessária.

Alyssane tremia, lágrimas descendo por seu rosto enquanto seu coração martelava com um medo que ela jamais havia conhecido. Mas, mesmo em meio ao pavor, sua mente estava firmemente focada em proteger seus filhos. Ela sabia que não poderia fraquejar, não quando eles estavam em risco.

— Um filho por um filho — murmurou Sangue, inclinando-se mais perto, seu olhar vazio e inabalável. — A morte de Lucerys precisa de resposta, Vossa Graça. Um de seus filhos pelo nosso príncipe.

— Eles... eles não têm culpa pelo que Aemond fez — sussurrou ela, sua voz engasgada, mas cheia de desespero. — As crianças, meus filhos com o rei... eles são inocentes.

Os homens riram, como se sua súplica fosse uma piada para eles. Queijo se abaixou, ficando ao nível dela, com um sorriso perverso.

— Inocentes? Todos são culpados. — retrucou. — Além disso, o Príncipe Daemon sabe muito bem que essas crianças não são filhas de Aegon, e sim de Aemond, o matador de Lucerys.

Alyssane sentiu o chão desmoronar sob seus pés. A revelação dos homens era um golpe brutal, uma ameaça direta à sua tentativa de manter seus filhos seguros, e uma acusação que ela temia mais do que qualquer outra coisa. 

Ela hesitou, respirando com dificuldade, enquanto olhava para os berços de Daeron e Daella. Ambos estavam alheios ao terror que os cercava, dormindo tranquilos como se nada pudesse atingi-los.

Alyssane sentiu a lâmina pressionar-se um pouco mais contra seu pescoço, uma dor fina e fria correndo pela pele, mas ela manteve o olhar fixo, sem desviar. O pânico fervilhava em seu peito, mas ela se obrigou a manter a voz firme enquanto encarava aqueles homens com uma coragem desesperada.

— Vocês estão enganados — sussurrou, forçando-se a manter a voz calma. — Daeron e Daella são filhos de Aegon, herdeiros legítimos do trono. Eu... eu juro.

Um dos homens, Queijo, deu um passo à frente e soltou uma gargalhada áspera, cheia de desprezo. Ele trocou um olhar rápido com Sangue, e ambos balançaram a cabeça em reprovação.

— Vadias mentem por menos — zombou Sangue, apertando a lâmina contra a pele dela, como um aviso. — Acha que não sabemos dos segredos desta corte? Daemon sabe muito bem que esses pequenos são frutos da sua traição com Aemond.

Alyssane engoliu em seco, sentindo a pele queimar onde a adaga tocava. Ela balançou a cabeça freneticamente, lágrimas escorrendo enquanto tentava controlar a respiração.

— Eu posso... posso oferecer ouro — implorou, sua voz entrecortada. — Riquezas, terras, o que quiserem! Não precisam fazer isso, não precisam...

Sangue a interrompeu, com um olhar carregado de desdém.

— Estamos aqui para equilibrar as contas de sangue, não para encher os bolsos — respondeu ele, com frieza.

Alyssane sentiu a esperança desvanecer-se. Eles não queriam barganhar, e nada que ela oferecesse seria suficiente. Eles haviam vindo para tomar a vida de uma de suas crianças, como retribuição pela morte de Lucerys.

Alyssane respirou fundo, tentando controlar a tempestade de emoções que a dominava. Com os homens hesitando, ela viu uma oportunidade e, em um ato de desespero, fez um pedido.

— Por favor, deixem-me me despedir deles — implorou, sua voz trêmula, mas firme. — Eu só quero... apenas um momento.

Os homens trocaram olhares incertos, e, com um movimento hesitante, Sangue retirou a adaga do pescoço dela. A lâmina se afastou, mas a sensação de alívio foi rapidamente substituída por um medo profundo, enquanto ela dava passos vacilantes em direção ao berço de Daeron.

Com cada passo, o amor por seus filhos crescia, mais forte do que qualquer medo. Ao se aproximar, ela olhou para o rostinho do pequeno, tão inocente e despreocupado, e uma onda de proteção invadiu seu coração. Lembrou-se de como, na infância, era conhecida como a Escama Protetora. Aquela era a sua essência, e nada a impediria de lutar por eles.

Não! — gritou, atacando com tudo o que tinha. Mas seus movimentos, embora ferozes, eram fracos e desajeitados. Ela socou e chutou, mas não importava quão determinado ela estivesse, aqueles dois homens eram maiores e mais fortes. Sangue riu sarcasticamente, desviando facilmente de um soco desajeitado, e rapidamente agarrou seu pulso.

— Olha só, a rainha quer lutar! — zombou, enquanto Queijo se aproximava.

Alyssane tentou se libertar, mas sua resistência era inútil. Eles a derrubaram com um empurrão, fazendo-a cair de joelhos. Um deles a segurou pelos braços, enquanto o outro se preparava para atacá-la.

— Você acha que pode nos deter? — Queijo disse, inclinando-se para ela, o desprezo evidente em seu olhar. — É apenas uma vadia assustada, sem poder.

Alyssane respirou fundo, a dor queimando em seus músculos e seu espírito. O medo e a frustração a envolviam como um manto pesado, mas ela não podia desistir. A necessidade de proteger Daeron e Daella era mais forte do que qualquer dor que estivesse sentindo.

— Vocês não podem fazer isso! — gritou, lutando para se soltar das garras deles. — Não... não podem levar meus filhos!

A indignação e a determinação surgiram de dentro dela, como um fogo indomável, mesmo que sua força física estivesse falhando. Os homens trocaram olhares divertidos, mas a determinação em seus olhos também parecia hesitante.

Alyssane sentiu o mundo desmoronar ao seu redor, o terror se espalhando por seu corpo como veneno. O homem que a segurava, apertando seus braços com força, virou-se para ela com um sorriso cruel.

— Então, qual é? — perguntou, os olhos cheios de malícia.

Ela estava de joelhos, lutando para respirar, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Sabia que qualquer resposta, seja a verdade ou a mentira, a condenaria. O peso da decisão esmagava seu coração, e a voz interior que a avisava que essa escolha a assombraria para sempre só aumentava o terror.

— Por favor... — sussurrou, sentindo o aperto da mão do homem.

— Se você não nos disser, vamos ter que matar os dois.

Alyssane sentiu como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. Uma onda de desespero a atingiu, e, em um instante de pânico, ela tomou a decisão que mais a horrorizava.

— É o da esquerda! — disse rapidamente, a voz quebrada e carregada de dor. O momento em que as palavras saíram de sua boca parecia um eco interminável, reverberando em sua mente.

Um dos homens sorriu, um sorriso maligno que prometia morte e desolação. Com um movimento brusco, ele se afastou dela e caminhou até o berço, seu coração disparando de horror.

— Não! — gritou Alyssane, mas a mão do outro homem tapou sua boca, sufocando seu grito.

Ela se viu forçada a assistir, impotente, enquanto o homem se aproximava do berço de Daeron. O pequeno estava tão tranquilo, tão inocente, e a visão de seu filho a fez sentir como se estivesse sendo esfaqueada. O homem se inclinou, a sombra cobrindo o berço, e Alyssane se debatia, mas não havia como escapar.

Tudo o que ela mais temia estava prestes a se tornar realidade, e a única coisa que restava era o peso de sua escolha, que a seguiria para sempre.

Alyssane sentiu suas pernas falharem sob o peso da realidade que acabara de presenciar. O homem a soltou, e por um breve momento, ela ficou paralisada, os olhos fixos na forma indistinta que o outro segurava, um objeto macabro que fazia seu estômago revirar. Era um ato cruel que não conseguia compreender.

As palavras de despedida e a promessa de proteção se misturavam em sua mente, mas o pânico a envolvia como um manto pesado. Ela não tinha coragem de olhar. Seu corpo estava em um estado de choque profundo, e o ar parecia escasso, como se a atmosfera estivesse sendo sugada de sua volta.

Quando finalmente recobrou a consciência de si mesma, percebeu que não sentia o ar em seus pulmões, e a visão começou a escurecer à medida que a adrenalina e o terror se intensificavam. Havia sangue em seu pescoço, uma mancha escura que parecia se espalhar, e a realidade se tornava mais distante a cada segundo.

Então, como se um instinto primordial a guiasse, ela se lançou para frente, os braços se estendendo até sua filha, Daella. A pequena estava ali, inocente e indefesa, e Alyssane a segurou com força, escondendo o rosto da filha em seu pescoço, como se isso pudesse oferecer algum tipo de proteção mágica.

Com o coração batendo descontroladamente e a respiração cortada, Alyssane começou a correr, saindo da sala como uma flecha, seu corpo em chamas com o pânico. As paredes da Fortaleza Vermelha pareciam se fechar ao seu redor, e ela não sabia para onde estava indo, apenas que precisava se afastar.

Os ecos de seus passos apressados ressoavam como um tambor de guerra, e a dor pulsante em seu peito a lembrava a cada momento do horror que acabara de testemunhar. Ela queria gritar, mas as palavras não vinham. A única coisa que restava era o impulso de escapar, de encontrar segurança em um mundo que agora parecia sombrio e ameaçador.

A luz nas janelas se tornava mais tênue à medida que ela corria, e a escuridão parecia se aproximar, mas a única coisa que ocupava seus pensamentos era o desejo de proteger Daella, de manter sua filhinha a salvo, não importa o que acontecesse.

Alyssane abriu a porta do quarto de Alicent com um impulso descontrolado, sua mente ainda girando com o terror que acabara de enfrentar. Mas ao atravessar o limiar, ela se deparou com uma cena que a fez parar no lugar, o horror tomando conta de seu ser de uma maneira totalmente nova.

Alicent e Criston Cole estavam em uma intimidade desinibida, os corpos entrelaçados, um quadro que parecia tão distante de sua realidade de medo e desespero. Quando a porta se abriu, eles se separaram num movimento brusco, como se o mundo tivesse desmoronado ao redor deles, apressando-se para cobrir suas nudezes com lençóis amassados e expressões de surpresa e confusão.

Alyssane ficou paralisada, o ar fugindo de seus pulmões enquanto a imagem se gravava em sua mente, uma visão de vulnerabilidade e desejo que parecia alheia à dor que ela carregava. O quarto estava impregnado de um calor íntimo que agora se transformara em um frio glacial. As paredes que outrora foram um refúgio seguro agora a encaravam como um espaço estranho e ameaçador.

— Alyssane! — exclamou Alicent, a voz repleta de um horror que espelhava o dela.

O olhar de Criston Cole se tornou uma mistura de preocupação e embaraço, enquanto Alyssane se perguntava como tinha chegado a este momento, sua mente ainda girando em meio a flashes do que acabara de acontecer.

Ela engoliu em seco, as palavras sufocadas em sua garganta, sem saber o que dizer ou como explicar a angústia que a assolava. A cena de seus filhos sendo ameaçados pelos homens de Daemon ainda a assombrava, e agora essa nova traição se somava a sua dor.

Alicent e Criston se vestiram rapidamente, seus movimentos apressados refletindo a tensão crescente no ar. A angústia nos olhos de Alyssane a levou ao chão, a realidade do que acabara de vivenciar a esmagando como uma onda impiedosa. Um ataque de pânico tomou conta dela, e ela sentiu sua respiração se tornar irregular, o coração disparando como se quisesse saltar do peito.

Criston, percebendo a gravidade da situação, se abaixou ao lado de Daella, que estava com o rosto manchado de lágrimas, confusa e assustada. Ele pegou a mão da menina, segurando-a suavemente enquanto tentava manter a calma.

Alicent, por outro lado, virou sua atenção para Alyssane. A expressão de choque em seu rosto foi substituída por uma preocupação profunda. Ela se agachou ao lado da filha, a urgência do momento fazendo seu coração acelerar.

— Alyssane, o que aconteceu? — perguntou, sua voz suave, mas firme, tentando alcançar a mente da filha que parecia distante e perdida.

Alyssane olhou para sua mãe, os olhos cheios de lágrimas e terror. Ela balançou a cabeça, tentando encontrar palavras, mas a dor era intensa demais.

— Por que você está com sangue no pescoço? — Alicent insistiu, a tensão em seu tom crescendo à medida que os momentos passavam.

— Porque... — Alyssane hesitou, a voz quebrando. — Porque mataram o meu menino. 

As palavras saíram em um sussurro, mas o peso delas era como uma lâmina afiada, cortando o ar entre elas. Alicent ficou paralisada, o entendimento do que Alyssane estava dizendo a atingindo como um soco no estômago.

— O que você quer dizer? — ela perguntou, seu coração afundando à medida que o horror se instalava.

— Eles... eles queriam um filho por um filho — Alyssane explicou, a voz trêmula e a respiração acelerada. 

As lágrimas começaram a escorregar pelo rosto de Alyssane, e ela cobriu a boca com as mãos, soluçando em desespero. Alicent se aproximou, mas foi Criston quem rapidamente se posicionou ao lado de Alyssane, sua expressão de preocupação genuína.

— Alyssane, respire — ele disse, tentando ser reconfortante, mas a dor e o desespero da jovem rainha eram palpáveis. — Precisamos que você se acalme.

Mas como poderia se acalmar? O mundo estava desmoronando, e a ideia de ter perdido seu filho, a deixava em um estado de terror absoluto. O que poderia ser mais sombrio do que a perda de um filho, especialmente sob tais circunstâncias?

Alicent, agora mais atenta, colocou a mão no ombro da filha, tentando transmitir algum conforto.

Alyssane começou a gritar, e desta vez não era um grito de pânico, mas um grito de dor, profundo e angustiante. Ela colocou a mão na barriga, a expressão de sofrimento transparecendo em seu rosto.

— O bebê! — ela exclamou, a voz tremendo.

Alicent, já em estado de choque, respondeu rapidamente:

— Alyssane, Daella está aqui com você. Fique calma.

— Não! — Alyssane negou, os olhos arregalados e cheios de pânico. — Eu estou grávida!

A declaração caiu como uma bomba na sala, e Alicent ficou paralisada por um instante, a realidade do que estava acontecendo se desenrolando lentamente diante dela. Ela ergueu o vestido de Alyssane, os instintos de mãe se apoderando dela, e seus olhos se arregalaram ao ver a cena horrenda.

— Alyssane, não... — Alicent sussurrou, a voz falhando enquanto o horror tomava conta dela.

Alyssane estava perdendo o bebê, e a realidade do que isso significava a golpeou como uma onda. O medo e a dor a envolviam, e ela começou a tremer, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Alicent, percebendo a urgência da situação, gritou:

— Criston! Chame os mestres! Rápido!

Criston se levantou instantaneamente, o rosto pálido, e saiu correndo do quarto, seus passos ecoando na pedra fria do corredor. Enquanto isso, Alyssane se contorcia, as mãos pressionando a barriga, um grito agudo escapando de seus lábios.

— Mãe, por favor... — ela implorou entre os soluços, — eu não quero perder outro filho!

Alicent se agachou ao lado dela, tentando manter a calma, mas a angústia em seu próprio coração era avassaladora. Ela acariciou suavemente o cabelo da filha, tentando confortá-la.

A porta se abriu com um estrondo, e Criston entrou, seguido por dois mestres, que se apressaram até Alyssane. Alicent se afastou ligeiramente, permitindo que os especialistas examinassem a situação, seu coração pesado, temendo pelo que estava por vir.

— Alyssane, por favor, fique comigo — Alicent murmurou, segurando a mão da filha, enquanto a realidade da perda começava a se instalar em seus corações.

Naquela noite, a fortaleza vermelha se envolveu em um silêncio pesado, como se o próprio castelo estivesse sentindo a dor que permeava seus corredores. Alyssane estava deitada em uma cama que antes significava segurança, agora transformada em um leito de agonia e perda. Os mestres se moviam ao seu redor, suas vozes sussurradas e suas mãos firmes, mas Alyssane estava distante, perdida em um turbilhão de memórias que a perseguiam.

A lembrança do assassinato de Daeron voltou com força, uma sombra que se espalhava por seu coração já ferido. 

Os mestres finalmente fizeram o que precisavam fazer, mas para Alyssane, cada movimento deles era uma tortura. Ela soube, mesmo sem ver, que o bebê era uma menina, uma pequena Visenya, uma promessa que não seria cumprida. 

O nome dançava em sua mente, uma lembrança de esperanças não realizadas, de uma filha que nunca teria a chance de viver. 

As lágrimas escorriam pelo rosto de Alyssane enquanto ela lutava contra a dor física que a consumia. A dor da perda, no entanto, era muito mais intensa. Cada contração, cada movimento dos mestres a lembrava do que estava prestes a perder. A visão da pequena e malformada Visenya dançava em sua mente, mas ela não teve coragem de olhar, de confrontar a realidade que estava prestes a tomar forma na escuridão de seu mundo.

As vozes dos mestres se tornaram um ruído distante, suas palavras uma névoa que ela não conseguia mais entender. Ela estava presa em um labirinto de dor e desespero, e a ideia de que outra criança, assim como a de sua irmã Rhaenyra, havia partido antes de ver a luz do dia, a esmagava. 

Ela não sabia que o bebe que Rhaenyra havia perdido quando soube da morte do pai e do trono usurpado, era uma menina com o mesmo nome, um eco de um destino compartilhado, um ciclo de perda que parecia não ter fim.

Quando tudo finalmente terminou, Alyssane estava estirada na cama, drenada, seu corpo exaurido e seu espírito desfeito. A dor física, embora intensa, era um sussurro em comparação com a tempestade de emoções que a consumia. 

Ela havia perdido duas crianças em uma única noite, e a noção dessa perda era um peso insuportável que se instalava em seu coração. O silêncio que envolvia a fortaleza era agora o lamento de uma mãe que viu seus sonhos se desvanecerem, uma tristeza que ecoaria para sempre em sua alma.

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