𝟎𝟒𝖝𝟐𝟐 '𝕿𝖍𝖊 𝕰𝖓𝖉 𝖔𝖋 𝕻𝖊𝖆𝖈𝖊'

No dia seguinte, Alyssane se encontrava sentada em seu aposento, as mãos tecendo com dificuldade o bordado que havia começado na véspera. A agulha deslizava entre seus dedos, mas seus pensamentos vagueavam, impacientes por notícias de Aemond. Ele partira na calada da noite, sem despedidas, e agora seu coração pulsava num ritmo inquieto, uma mistura de ansiedade e apreensão. Ela tentava se concentrar no dragão que bordava, mas a imagem parecia se desfazer em sua mente, como um sonho interrompido.

Alicent surgiu em silêncio, seus passos suaves até sentar-se ao lado da filha. Por um momento, a rainha apenas observou, com aquele olhar zeloso que sempre pareceu ultrapassar a realidade, enxergando algo mais fundo.

— Como você está? — Alicent perguntou, sua voz calma quebrando o silêncio carregado.

— Bem — Alyssane respondeu, sem erguer o olhar. A agulha em sua mão tremia ligeiramente, e ela quase se furou ao tentar disfarçar o nervosismo.

A mãe a estudou com atenção, então insistiu, a mão tocando suavemente o ombro da filha.

— Quer conversar?

Alyssane suspirou, quase cedendo à oferta, uma pontada de vulnerabilidade passando por seus olhos. Mas, depois de um instante, ela apenas balançou a cabeça, voltando sua atenção ao bordado incompleto.

— Estou bem — repetiu, forçando um sorriso que não alcançou os olhos.

Alicent respirou fundo, mas não insistiu. Em vez disso, ela se acomodou ao lado da filha, ambas olhando para o vazio.

— Sei que as coisas estão complicadas — Alicent começou, sua voz cheia de uma determinação suave. — Mas faremos o que pudermos para evitar essa guerra.

Alyssane fechou os olhos por um momento, permitindo-se um breve instante de esperança, embora no fundo soubesse que palavras não bastariam para apagar as chamas que já ardiam ao redor deles.

Alicent permaneceu ao lado de Alyssane, as mãos deslizando suavemente pelos fios prateados da filha, em um gesto de carinho que parecia querer reparar o tempo perdido. Alyssane, sem conseguir conter o amargor, suspirou, desviando o olhar.

— Por que agora? — perguntou, sua voz baixa mas carregada de emoção. — Por que só quer ser minha mãe agora que sou rainha?

Alicent fez uma pausa, um leve pesar em seu semblante, mas manteve a mão acariciando os cabelos da filha.

— Alyssane, sempre te amei — respondeu, sua voz suave mas firme. — Talvez você só não tenha percebido, porque estava ocupada me culpando por tentar afastá-la de Aemond.

Alyssane sentiu o coração apertar, mas não disse nada, então Alicent continuou.

— Eu fiz o que achava certo. Queria proteger você — explicou, sua voz quase um sussurro. — Queria que não caísse em pecado com ele. Sei que você o ama, mas tudo que fiz foi para preservar a família. Você sabe que todos precisamos de você... assim, casada com Aegon e no trono.

Alyssane piscou, absorvendo aquelas palavras, cada uma pesando sobre sua mente. Ela sabia que Alicent sempre tivera seus próprios planos e que seus cuidados sempre foram amarrados a uma agenda maior. O destino que lhe impuseram, tão distante daquele que sonhara, a deixava com um vazio profundo, como se fosse uma peça deslocada no tabuleiro de outras ambições.

Alicent respirou fundo antes de continuar, olhando profundamente nos olhos de Alyssane, como se buscasse alcançá-la além das camadas de ressentimento que se acumularam entre as duas ao longo dos anos.

— Eu estava tentando te proteger, Alyssane — disse Alicent, sua voz baixa mas carregada de uma firmeza familiar. — Pense no quanto poderia ter dado errado se você tivesse se envolvido com Aemond.

Alyssane, que já esperava o habitual discurso, desviou o olhar, mas Alicent não parou.

— O que você sente por ele... isso não é amor, não é o que você acha que é. É narcisismo — prosseguiu, cada palavra cuidadosamente escolhida. — Vocês dois são gêmeos, a imagem um do outro. Isso tudo... não passa de um reflexo distorcido, principalmente da parte dele. Ele vê você como uma extensão de si próprio, não como alguém para amar.

Alyssane engoliu em seco, sentindo o impacto das palavras de Alicent, como se tivessem sido friamente calculadas para penetrar em suas defesas.

Alicent parecia convencida de que os sentimentos de Aemond eram menos amor e mais uma obsessão consigo mesmo, e talvez, de certa forma, com o poder que o relacionamento secreto representava. Alyssane sentiu uma pontada de dor e dúvida, mas uma parte de seu coração não conseguia aceitar aquelas palavras. Porque, apesar de tudo, o que sentia ao lado de Aemond lhe parecia mais profundo e real do que qualquer coisa que já conhecera.

Alicent se inclinou e depositou um beijo suave na testa de Alyssane, como se quisesse, por um breve momento, dissipar a tensão que pairava entre elas.

— Vai ficar tudo bem — murmurou, tentando transmitir alguma serenidade à filha. — Você agora é a rainha. E já tem um herdeiro homem. Não há nada com o que se preocupar. Otto guiará Aegon, e, com o tempo, ele se tornará um rei melhor.

Alyssane assentiu, mas por dentro se sentia dividida. As palavras de Alicent traziam uma promessa de estabilidade, de um futuro que deveria ser seguro e controlado, mas ela sabia que as palavras eram frágeis.

 A própria presença de Aemond, a sombra de Rhaenyra e o instinto de guerra que crescia em todos os cantos da corte eram como presságios que ela não podia ignorar. Contudo, por enquanto, ela se deixou confortar pelas palavras de sua mãe, mesmo que apenas como um vislumbre de esperança em meio ao caos que já se insinuava.

No entanto, a porta se abriu com um estrondo, e Aemond entrou, encharcado pela chuva, exalando o odor inconfundível de dragão, com uma expressão tensa e alarmada. Alicent se levantou imediatamente, a preocupação estampada em seu rosto enquanto os olhos se estreitavam com suspeita.

— O que você fez, Aemond? — perguntou ela, com a voz carregada de medo.

Ele respirou fundo, evitando o olhar dela e de Alyssane.

— Cometi um erro — respondeu, sua voz quase um sussurro, mas cheia de peso. — Um erro grave.

Alyssane sentiu o ar desaparecer por um instante, enquanto a mente tentava processar o que ele poderia ter feito. A tensão enchia o salão como a ameaça de uma tempestade, e no fundo, ela sabia que as consequências do ato de Aemond poderiam ser irreversíveis, como chamas que se alastravam num campo seco.

Alicent empalideceu, os olhos arregalados, a mão cobrindo a boca enquanto Aemond, cada vez mais agitado, caminhava pelo salão. Ele murmurava sobre a fúria que lhe tomou ao ver o bastardo de Rhaenyra, sobre como o sangue Targaryen estava sendo maculado.

— Bastardo imundo... — Aemond exclamou, cerrando os punhos, o rosto rubro de raiva e pesar.

— Aemond! — Alicent gritou, sua voz trêmula de horror. — O que você fez?

Aemond parou, o olhar fixo no chão, e respondeu com uma voz fria, quase mecânica:

— Vhagar... Vhagar atacou Lucerys Velaryon.

Alyssane sentiu o peso das palavras como um golpe. Ela levou a mão ao peito, o coração martelando com a realidade devastadora. Aemond havia matado o sobrinho deles, e agora, não havia mais volta. Ela não conseguia respirar, e as implicações desse ato fatal eram inescapáveis.

Alicent permaneceu em silêncio, o rosto transformado em uma máscara de terror e incredulidade. Um abismo se abria diante deles, e Alyssane sentia o pânico crescer, misturado com um medo profundo e a certeza amarga de que o conflito estava apenas começando.

— Onde está o filho de Rhaenyra? — Alicent perguntou, a voz quase um sussurro, mas cheia de uma urgência desesperada.

— Está morto — Aemond respondeu com um tom sombrio, evitando os olhos de sua mãe.

Alyssane sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo rosto, o peso daquilo caindo sobre ela como uma tempestade inevitável.

— Você matou Lucerys? — Alicent gritou, a fúria explodindo em sua voz. — Todas as chances que tínhamos de paz... todos os esforços para evitar essa guerra... você os destruiu. Nós estávamos tentando evitar um banho de sangue, e você... você foi e matou o menino!

Aemond deu um passo à frente, a postura tensa, o rosto ainda marcado pela tempestade.

— Não foi de propósito! — A voz dele reverberou pelo salão, carregada de defesa e amargura. — Eu não queria... eu só queria assustá-lo, lembrá-lo do lugar dele! Mas Vhagar...

— Você acha que importa? — Alicent o interrompeu, desesperada. — A guerra agora é certa, Aemond! Rhaenyra jamais perdoará isso. Nós assinamos nosso próprio destino.

Os dois continuaram a brigar, as vozes crescendo, se entrelaçando em um frenesi de acusações e justificativas. Alyssane, ali, quieta e devastada, ouvia o choque dos gritos, o eco do medo e da inevitabilidade de tudo o que viria a seguir. Sabia que o sangue havia sido derramado, e não havia mais como conter as chamas que logo engoliriam todos eles.

— Melhor se preparar para a guerra, Aemond, porque ela virá — Alicent disse, com uma frieza cortante. Ela se afastou, deixando o salão silencioso, um vazio que parecia pesar sobre todos ali.

Assim que a porta se fechou, Aemond se aproximou de Alyssane, sentando-se ao lado dela. Sem dizer uma palavra, ele a puxou para um beijo desesperado, os lábios urgentes, como se ele buscasse nela alguma redenção, algum consolo. Mas Alyssane o empurrou, afastando-o.

— O que foi? — Ele perguntou, a voz carregada de frustração.

— Você matou o Lucerys, Aemond — a voz de Alyssane saiu quase num sussurro, misturando choque e dor.

— Não foi culpa minha! — Aemond respondeu, quase com raiva. — Eu não queria que isso acontecesse.

— E quer que eu acredite que Vhagar simplesmente foi lá e fez tudo sozinha? — ela rebateu, o tom frio, cheio de incredulidade.

Aemond passou a mão pelos cabelos molhados, seu rosto contorcendo-se numa expressão de frustração.

— Eu... eu só queria assustá-lo, não matá-lo! Eu não tive controle sobre Vhagar... foi tudo rápido demais.

Alyssane o olhou profundamente, sentindo o peso da tragédia que ele havia trazido sobre todos eles. Sabia que, independentemente da intenção, o sangue de Lucerys agora estava nas mãos dele, e a guerra que se aproximava não era algo que poderiam evitar. E, pior, ela sabia que nada poderia desfazer o que havia sido feito.

Aemond soltou uma risada amarga, a expressão no rosto de Alyssane dizendo tudo o que ele precisava saber. Ela não acreditava nele. Pela primeira vez, ele sentiu o peso da descrença nos olhos dela, e isso o atingiu como uma lâmina fria.

— É isso então? — Ele perguntou, a voz tensa e cheia de sarcasmo.

Alyssane permaneceu em silêncio, os olhos fixos nos dele, mas sem a familiaridade de antes. Agora, havia uma distância intransponível entre eles.

— Você não entende... — Aemond começou, sua voz oscilando entre frustração e desespero. — Eu não tive controle. Era para ser apenas uma ameaça, nada mais.

Ele tentou se aproximar dela novamente, mas Alyssane deu um passo para trás, mantendo a barreira invisível que agora os separava. Aemond respirou fundo, irritação crescendo a cada instante, o olhar se tornando sombrio.

— Eu preciso que você acredite em mim — ele disse, quase num tom de súplica. — Alyssane, eu... eu perdi o controle. 

Ela permaneceu impassível, e ele apertou os punhos, sentindo-se desamparado. A raiva e o orgulho ferido transpareciam em cada palavra que ele dizia, tentando, quase desesperadamente, encontrar alguma fagulha de compreensão nela.

Mas, mesmo diante do apelo, ela permaneceu imóvel, e ele finalmente entendeu que aquele erro talvez fosse um abismo profundo demais para ser atravessado. O ar entre eles estava pesado, carregado de uma tensão quase insuportável, e Aemond se sentiu, pela primeira vez, verdadeiramente sozinho.

A tensão no ar era palpável, e Alyssane mal conseguia respirar com o peso das palavras que sabia que precisava dizer. Ela olhou para Aemond, os olhos transbordando de emoções conflitantes, enquanto as palavras de Alicent ecoavam em sua mente. "Isso não é amor romântico. É narcisismo." 

Ela fechou os olhos por um breve momento, tentando encontrar a força para continuar, mas a dor em seu peito apenas aumentava.

— Nós... nós precisamos parar — ela sussurrou, hesitante.

Aemond franziu o cenho, sua expressão mudando rapidamente de confusão para uma incredulidade que beirava a fúria.

— Parar o quê? — Ele perguntou, a voz cheia de tensão, claramente já sabendo do que ela falava, mas querendo uma confirmação.

Alyssane respirou fundo, tentando manter a compostura enquanto suas mãos tremiam.

— Nós... isso — ela gesticulou entre eles. — Temos que parar com... com o nosso relacionamento. Com tudo isso.

O silêncio que seguiu suas palavras era ensurdecedor. Aemond deu um passo à frente, a mandíbula travada de raiva e desespero.

— Não — ele disse, sem hesitação. — Não, você não pode estar falando sério.

Alyssane desviou o olhar, mas ele agarrou seu braço, forçando-a a encará-lo.

— Aemond... — Alyssane tentou se afastar, mas ele não a soltou, o aperto firme mas sem ser violento, apenas desesperado.

— Não! — Ele gritou, a voz ecoando pelas paredes da sala. — Não quando você está carregando outro filho meu! — Seus olhos estavam selvagens, a fúria estampada em cada músculo de seu corpo.

Ela sentiu o impacto das palavras dele, e por um momento, seu coração titubeou. Mas então, ela respirou fundo, se forçando a se manter firme.

— Esse filho, aos olhos de todos, será de Aegon. Assim como Daeron e Daella são de Aegon. Ele é o meu marido, o rei.

A face de Aemond se contorceu em uma expressão de pura raiva. Ele a soltou, dando um passo para trás, as mãos trêmulas de frustração.

— Aegon? — Ele riu, uma risada amarga e fria. — O bêbado que mal sabe o que faz com uma coroa na cabeça? O homem que não poderia se importar menos com você ou com os filhos que ele nunca quis?

Ele avançou, o rosto próximo ao dela, o tom baixo e carregado de uma fúria contida.

— Eu sou o pai dessas crianças, Alyssane, e você sabe disso. Aegon é um fantoche, uma sombra. Ele não pode te dar o que eu dou. Ele nunca faria nada por você ou pelas crianças.

Ela engoliu em seco, a coragem dela desmoronando sob o peso das palavras dele, mas a voz de Alicent ainda ecoava em sua mente. "Eles precisam de você assim, casada com Aegon. Você não pode se deixar levar por isso."

— As coisas mudaram, Aemond — ela disse, finalmente conseguindo falar, a voz baixa e hesitante. — Não somos mais os mesmos, e nem o mundo ao nosso redor é. As responsabilidades... o reino...

— Você acha que eu me importo com o reino? — Ele interrompeu, a voz rouca e furiosa. — Eu só me importo com você. Com nós. E agora você quer me trair, quer me deixar, por causa de... de Aegon? Por causa da coroa? ou o que? — Ele cuspiu o nome do irmão como se fosse veneno.

— Não é sobre Aegon! — Alyssane exclamou, a voz falhando enquanto as lágrimas finalmente escapavam. — É sobre tudo! Sobre o que somos e o que nos tornamos. Não podemos continuar assim, Aemond, nós... nós estamos indo longe demais.

— Eu não posso deixar você fazer isso — ele sussurrou, a voz carregada de um desespero sombrio. — Não depois de tudo. Você é minha, Alyssane. Sempre foi. E eu não vou permitir que você me tire isso.

Ela balançou a cabeça, sentindo o peso daquelas palavras.

— Eu sou sua irmã, Aemond. E nada mais.

A raiva explodiu no rosto de Aemond, seus olhos brilhando com uma fúria incontida.

— Não — ele rosnou, avançando mais uma vez, seu rosto apenas a centímetros do dela. — Você é minha, Alyssane.

Alyssane sentia o peso das palavras que precisava dizer, mas hesitava em dizê-las, ainda lutando contra a corrente de emoções que tomava conta dela. A verdade finalmente escapou em meio ao desespero:

— Mentira é o que nós temos, Aemond. Sempre às escondidas, sempre com medo de que alguém descubra, sempre mentindo.

Aemond riu, uma risada seca e amarga.

— Faz anos, Alyssane. O que mudou agora?  São os bastardos da Rhaenyra? Você se preocupa mais com eles? Lucerys não faz nenhuma falta.

— Pare de falar isso! — Ela exclamou, sentindo as lágrimas se acumularem. Sua mão foi instintivamente até a barriga, num gesto de proteção, como se tentasse bloquear o impacto das palavras dele.

— Você vai se casar, Aemond. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma firmeza que ele nunca ouvira dela antes.

A expressão de Aemond se transformou em uma máscara de desprezo e revolta.

— É claro que não vou — ele retrucou, se aproximando dela mais uma vez, a voz baixa e sombria.

Ele a olhou intensamente, cada palavra saindo como uma promessa sombria.

— Eu vou matar Aegon — ele declarou, o tom carregado de determinação gélida. — Vou tomar a coroa para mim e ser rei, se isso é o que você quer. Se Aegon estiver morto, você se casa comigo.

O ar ao redor deles parecia se tornar mais pesado, as palavras de Aemond reverberando na sala como um eco sombrio. Alyssane mal conseguia respirar, o coração batendo descontroladamente enquanto processava o que ele acabara de dizer.

Ela recuou, dando um passo para trás, a mão ainda firme sobre o ventre, a mente tentando desesperadamente processar a situação. Sentiu-se sufocada, incapaz de escapar da intensidade com que Aemond a observava.

Alyssane sabia, naquele momento, que ele estava disposto a destruir tudo para mantê-la. E talvez, só talvez, isso fosse o que ela mais temia.

— Pare, Aemond! Vá embora — ordenou, a voz tremendo com uma mistura de determinação e medo.

Por um instante, ele apenas a encarou, os olhos afiados como lâminas, a respiração pesada. Ela podia ver a tensão se acumulando nos ombros dele, os punhos cerrados enquanto ele lutava contra a raiva que fervilhava sob a superfície. Mas quando Aemond finalmente percebeu o medo nos olhos dela, ele hesitou.

Aos poucos, ele respirou fundo, forçando-se a relaxar, e deu um passo para trás, os olhos se estreitando.

— Está bem. Se é espaço que quer, eu dou — murmurou, a voz carregada de um tom amargo. — Eu respeito sua decisão, Alyssane. Mas lembre-se disso, porque você vai se arrepender profundamente.

Com essas palavras, ele deu meia-volta e saiu, batendo a porta atrás de si com uma força que fez o som ecoar pela sala. Alyssane ficou ali, imóvel, o coração batendo descompassado enquanto tentava assimilar tudo o que acabara de acontecer. Ela sabia que, de alguma forma, essa despedida marcaria o início de algo ainda mais sombrio entre eles.

Alyssane se deixou deslizar até o chão, o frio das pedras invadindo seu corpo enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. Cada gota parecia carregar o peso de todos os momentos frágeis que haviam se acumulado entre ela e Aemond, desde o dia em que ele a puxara para dentro da escuridão do seu coração. Ela se lembrou da serva que ele matou e da raiva que haviam os separado, mas nada se comparava à fragilidade do que existia agora.

A ideia de que tudo estava quebrado a envolvia como uma neblina sufocante. Era como se ela estivesse se afundando em um mar de desespero, lutando para permanecer à tona. As palavras de Alicent ecoavam em sua mente, e a responsabilidade de ser rainha pesava sobre seus ombros como um manto de chumbo. Ela sabia que tinha obrigações, que deveria agir em prol da família e do reino, mas em momentos como este, tudo parecia uma prisão.

 Os tremores em suas mãos aumentaram quando ela acariciou a barriga, uma lembrança do novo ser que crescia dentro dela, um símbolo de esperança e dor. O pior de tudo era saber que a guerra estava vindo.

A imagem de Aemond, com sua expressão desconfortável e cheia de raiva, invadia sua mente. Ele tinha matado Lucerys, e agora a paz que se estendia sobre Westeros era apenas uma ilusão. Ela sabia que a chama da guerra já estava acesa, e que agora, apenas fogo e lágrimas aguardavam todos eles.

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