𝟎𝟑𝖝𝟏𝟖 '𝕯𝖎𝖓𝖓𝖊𝖗'
O Grande Salão estava iluminado com a luz suave de candelabros suspensos, o som baixo das conversas preenchendo o espaço enquanto os membros da família Targaryen se reuniam para o jantar, conforme Viserys havia solicitado. A tensão no ar era quase palpável.
Alicent estava sentada ao lado de Rhaenyra, ambas aparentando uma tensão subjacente que ninguém poderia ignorar. Os olhares cautelosos que trocavam denunciavam anos de ressentimentos e rivalidades mal resolvidas. Otto Hightower estava à direita de Alicent, vigilante e atento como sempre, enquanto Daemon estava ao lado de Rhaenyra, com uma postura relaxada, mas seus olhos brilhavam com a costumeira malícia que ele exibia nas situações mais tensas. Um lugar vazio entre Alicent e Rhaenyra aguardava o rei, Viserys, que estava atrasado, provavelmente devido à sua saúde debilitada.
Alyssane entrou no salão, sentindo o peso de todos os olhares, mas mantendo a compostura. Ela se dirigiu ao lugar reservado para ela, ao lado de Aegon, seu marido. Ele a cumprimentou com um sorriso curto. À sua esquerda, sua irmã Helaena estava perdida em pensamentos.
Aemond, por sua vez, se sentou ao lado de Aegon, ficando separado de Alyssane pelo corpo de seu irmão mais velho. Ele estava perfeitamente alinhado de frente para Lucerys Velaryon, seu olhar frio e impenetrável, nunca desviando muito de seu jovem sobrinho. O clima entre os dois era denso, a velha ferida entre eles nunca totalmente cicatrizada.
O silêncio caiu sobre o salão quando as portas se abriram, e Viserys foi trazido em uma grande cadeira, sua forma frágil e abatida causando um impacto imediato. Ele foi colocado entre Rhaenyra e Alicent, ambas visivelmente tensas, mas mantendo a compostura.
Viserys fez um esforço visível para se erguer um pouco na cadeira, tossindo levemente antes de começar a falar, sua voz rouca preenchendo o salão.
— Esta noite... — começou ele, com uma respiração pesada entre as palavras. — Eu convidei todos vocês, minha família, para este jantar... porque o tempo que me resta é curto, e há coisas que devem ser ditas.
Todos os olhares estavam fixos nele. Rhaenyra e Alicent, que outrora foram amigas, agora se observavam com uma distância gelada. Aemond ainda fitava Lucerys do outro lado da mesa, mas até ele voltou sua atenção ao pai, cujas palavras carregavam um peso imenso.
— Durante anos, esta família tem sido assolada por divisões... por rivalidades e ressentimentos... — Viserys olhou de um lado a outro da mesa, seus olhos passando por cada um dos rostos ali presentes. — Mas, se não pudermos nos unir, se continuarmos a deixar as feridas do passado nos separar... nosso legado, nossa casa, será destruída.
A sala permaneceu em silêncio, o clima pesado com a tensão não dita. Alyssane sentia uma mistura de emoções. Então, com um gesto trêmulo, Viserys levantou a mão para o rosto e, com esforço, removeu sua máscara de ouro, revelando o que estava escondido por baixo. O lado esquerdo de seu rosto estava desfigurado, a carne corroída pela doença. A sala prendeu a respiração ao ver a extensão da deterioração de Viserys, mas o rei continuou, sem deixar que a reação deles o afetasse.
— Quero que vejam... a mim como sou — declarou ele, sua voz vacilante, mas firme. — Pois, se eu, o rei, estou disposto a me mostrar vulnerável, a abrir mão do orgulho, então, vocês também devem ser capazes de perdoar... e encontrar a paz.
Alyssane observava seu pai com um misto de respeito e tristeza. Viserys estava oferecendo tudo de si, apelando para que a família se unisse em seus últimos dias. Mas ela apenas continuou a observar o pai, o coração apertado, enquanto o rei fazia seu apelo final à unidade.
O jantar foi servido com fartura, pratos requintados enchendo a mesa, uma abundância que contrastava com o clima tenso entre as famílias. Alyssane observava em silêncio enquanto Rhaenyra trocava pequenos comentários com Daemon, e eles riam juntos de forma leve e afetuosa. Havia uma certa doçura nos gestos de Rhaenyra que a fazia parecer uma mãe protetora e uma esposa feliz. Alyssane não pôde deixar de admirar a união entre eles, a intimidade que compartilhavam apesar de todas as dificuldades. Por um breve momento, Alyssane se perguntou se um dia as coisas seriam assim para ela.
A família de Rhaenyra parecia forte, unida, mesmo sob o fardo das suspeitas e acusações que pairavam sobre a legitimidade de seus filhos. Alyssane não se importava que os filhos de Rhaenyra fossem considerados bastardos. Na verdade, ela refletia que os seus próprios, também eram, de certa forma, bastardos – mas com o sangue do dragão correndo em suas veias, e isso era o que importava.
De repente, Rhaenyra ergueu sua taça, chamando a atenção de todos à mesa. Um brinde.
— Ao meu pai — começou ela, sua voz firme, mas com um tom de ternura que tocou a todos. — Que sua sabedoria e força tenham sido uma luz para este reino, e que a paz reine entre nós. E, claro, à rainha Alicent, que cuidou dele com tanto zelo e dedicação. — Rhaenyra inclinou a taça em direção a Alicent, um gesto de respeito genuíno apesar das diversidades.
Alyssane observou a reação de sua mãe, Alicent, que pareceu tensa, mas grata pelo reconhecimento. Alicent sorriu de maneira contida, visivelmente desconfortável com a situação, mas aceitando o brinde de Rhaenyra, talvez como um pequeno passo em direção a uma trégua.
Aegon, ao lado de Alyssane, inclinou-se para perto dela, sussurrando:
— Talvez Rhaenyra não seja tão ruim quanto nossa mãe a pinta — ele murmurou, sua voz arrastada, mas desta vez surpreendentemente sóbria. Ele parecia pensativo, algo raro para seu comportamento usual.
Alyssane ficou surpresa com a observação. Não esperava ouvir algo assim de Aegon, que sempre fora o primeiro a seguir cegamente as críticas de Alicent em relação a Rhaenyra. Ela olhou para ele, surpresa, mas não pôde deixar de concordar.
Enquanto a conversa ao redor da mesa continuava, Alyssane sentiu uma mistura de emoções. O brinde de Rhaenyra, as palavras inesperadas de Aegon, a presença de toda a família reunida à mesa – tudo isso parecia um raro momento de equilíbrio, uma pausa nas tensões constantes. Mas, no fundo, ela sabia que a harmonia era frágil e poderia se desfazer a qualquer momento.
Alicent, desejando manter as aparências e talvez, de certa forma, apaziguar os ânimos que sempre estiveram à beira de explodir, ergueu sua taça com um sorriso tenso e calculado.
— A Rhaenyra — disse ela, a voz cuidadosamente medida. — Tenho certeza de que será uma governante justa e sábia, tal como seu pai.
As palavras de Alicent ressoaram pelo salão, e um silêncio momentâneo tomou conta da mesa. Todos sabiam da rixa entre as duas, e o gesto, por mais que fosse um esforço de paz, carregava camadas de tensão e falsidade. Alyssane, percebendo o clima, desviou os olhos e focou no prato à sua frente. O enjoo voltava a incomodá-la, uma sensação desagradável se arrastando em seu estômago, embora ela tentasse disfarçar.
Ela cortava pequenos pedaços de comida, mexendo-os no prato sem muito entusiasmo. Seu olhar, contudo, acabou vagando pela mesa, e foi quando seus olhos encontraram os de Jacaerys, do outro lado. Ele parecia estar tentando chamar sua atenção, sutilmente, sem ser notado pelos outros. Seus olhos eram intensos, cheios de algo que ela não conseguia decifrar imediatamente.
Logo após o discurso emocionado de Viserys sobre a paz na família, ele começou a mostrar sinais de exaustão. Seu corpo, fragilizado pela doença, não aguentava mais o peso do momento, e logo os servos o levaram de volta aos seus aposentos. O clima no salão ficou tenso, e a falta de sua presença só aumentava o desconforto que pairava sobre todos à mesa.
Alyssane, sentindo o peso da situação, percebeu que a tensão se espalhava lentamente entre os presentes. Os olhares trocados entre Aemond e Lucerys, a forma como Daemon sorria de canto de boca, como se soubesse mais do que todos ali, e o silêncio que começou a dominar a mesa. Ela sabia que precisava agir antes que a paz frágil fosse quebrada.
Levantando-se lentamente, Alyssane ergueu sua taça, com um sorriso suave nos lábios. Seu gesto atraiu a atenção de todos.
— Eu gostaria de fazer um brinde — sua voz era firme, apesar do leve enjoo que ainda sentia. — Às minhas primas, Rhaena e Baela, que agora estão noivas de Lucerys e Jacaerys. Que o amor e a união delas tragam paz e prosperidade para nossas casas.
Os olhares se voltaram para as duas jovens, Rhaena e Baela, que sorriram timidamente ao serem mencionadas. Lucerys e Jacaerys trocaram um olhar breve, grato, como se o brinde de Alyssane tivesse, de alguma forma, dissipado um pouco da tensão que pesava no ar.
A taça de Alyssane se ergueu, e logo outros ao redor da mesa seguiram seu exemplo.
— À paz entre as nossas casas — concluiu ela, olhando brevemente para Aemond e depois para Jace, ambos mantendo-se em silêncio, mas claramente entendendo a mensagem por trás de suas palavras. A paz era frágil, sim, mas era tudo que restava naquele momento.
Os sorrisos eram forçados, mas o brinde parecia funcionar. Pelo menos por enquanto, a tensão se dissolveu um pouco, e a mesa voltou a se concentrar na refeição. Mesmo que fosse apenas uma trégua temporária, Alyssane sabia que cada pequeno gesto como aquele poderia fazer diferença. Ela só esperava que durasse tempo suficiente para evitar que as faíscas à mesa se transformassem em chamas.
Os olhares se voltaram para as duas jovens, Rhaena e Baela, que sorriram timidamente ao serem mencionadas. Lucerys e Jacaerys trocaram um olhar breve, grato, como se o brinde de Alyssane tivesse, de alguma forma, dissipado um pouco da tensão que pesava no ar.
A taça de Alyssane se ergueu, e logo outros ao redor da mesa seguiram seu exemplo.
— À paz entre as nossas casas — concluiu ela, olhando brevemente para Aemond e depois para Jace, ambos mantendo-se em silêncio, mas claramente entendendo a mensagem por trás de suas palavras. A paz era frágil, sim, mas era tudo que restava naquele momento.
Os sorrisos eram forçados, mas o brinde parecia funcionar. Pelo menos por enquanto, a tensão se dissolveu um pouco, e a mesa voltou a se concentrar na refeição. Mesmo que fosse apenas uma trégua temporária, Alyssane sabia que cada pequeno gesto como aquele poderia fazer diferença. Ela só esperava que durasse tempo suficiente para evitar que as faíscas à mesa se transformassem em chamas.
Aemond, ao lado de Aegon, mantinha o olhar fixo na mesa, os músculos tensos. O comentário grosseiro e vergonhoso de seu irmão irritava profundamente, mas ele seguia o plano de não interagir, como havia prometido. No entanto, seu maxilar travado e os dedos tocando levemente a adaga ao seu lado denunciavam a raiva contida. Ele observou de canto de olho Jacaerys, que também parecia estar no limite.
Jace, que estava sentado ao lado de Baela, não hesitou. Ele se inclinou para frente, sua expressão endurecida de indignação.
— Você pode falar o que quiser sobre mim, Aegon — a voz de Jacaerys era firme, mas perigosa. — Mas não sobre minha noiva. Ao invés disso, talvez devesse focar em cuidar da sua própria esposa.
O comentário de Jace foi um golpe direto, e Alyssane sentiu seu coração parar por um segundo. A tensão na mesa aumentou ainda mais, e por um momento, parecia que tudo iria desmoronar.
Jacaerys respirou fundo, fazendo um esforço visível para não prolongar a tensão. Ele se levantou de sua cadeira com uma postura mais calma, estendendo a mão para Alyssane.
— Vamos dançar, Alyssane? — ele sugeriu com um leve sorriso, tentando aliviar o clima pesado da mesa.
Alyssane hesitou por um momento, mas percebeu que aquilo talvez ajudasse a acalmar os ânimos. Ela aceitou a mão de Jacaerys, e os dois foram para o centro do salão. A música começou a tocar suavemente enquanto eles giravam e dançavam, suas risadas misturando-se ao som das cordas. A leveza dos movimentos parecia fazer as sombras de tensão ao redor se dissiparem, pelo menos temporariamente.
Rhaenyra observava os dois com um olhar brilhante, uma mistura de admiração e carinho. Alyssane sempre fora doce, mesmo com aquele temperamento fofoqueiro e encrenqueiro que exibia quando criança. Mas agora, Rhaenyra via uma jovem mulher que havia amadurecido, que era protetora acima de tudo. Esse lado de Alyssane era algo que Rhaenyra admirava profundamente, mais do que Alyssane poderia imaginar ou saber.
Enquanto isso, do outro lado da mesa, Aemond mantinha seu único olho fixo no casal dançando. Seu olhar era gélido, quase cortante. Cada vez que via as mãos de Jacaerys tocando Alyssane, um fogo de ódio crescia dentro dele. Mesmo controlado e frio na maioria das vezes, ele não podia ignorar a sensação corrosiva de ciúmes que o consumia. Para Aemond, Alyssane era dele, e ver aquele bastardo rindo e girando com ela no meio do salão era uma afronta que ele tinha dificuldade em suportar.
Seu punho se apertou sob a mesa, mas ele não deixou escapar uma palavra. O que lhe passava pela mente era muito mais sombrio do que qualquer coisa que ele pudesse verbalizar naquela noite.
Quando a dança terminou, Jacaerys e Alyssane voltaram para seus lugares na mesa, rindo suavemente pela leveza do momento. Porém, a atmosfera logo se transformou em tensão novamente quando um porco assado foi servido ao lado de Aemond de maneira abrupta, quase como um golpe de ironia cruel.
Lucerys, sentado à frente de Aemond, não conseguiu conter uma risada curta e abafada, seu olhar fixo no porco. A lembrança do passado, quando zombaram de Aemond ao lhe oferecerem um porco como "dragão", parecia ter voltado à tona. Aquilo foi a gota d'água.
Aemond se levantou de repente, o som da cadeira arrastando no chão ecoou no salão e chamou a atenção de todos. O ambiente, antes cheio de conversas e murmúrios, caiu em um silêncio tenso. Todos os olhos se voltaram para ele. Alyssane, ainda sentada, observava o irmão com preocupação evidente, percebendo o olhar de raiva e a tensão em seus ombros.
Porém, ao invés de explodir, Aemond pegou sua taça, elevando-a em um brinde. Seu rosto estava impassível, mas o tom de sua voz carregava um sarcasmo afiado e venenoso.
— Aos meus sobrinhos — começou ele, sua voz ressoando pelo salão. — Tão inteligentes... e fortes. — Ele pausou propositalmente na palavra "fortes", enfatizando o nome da família de Harwin Strong, o verdadeiro pai de Jacaerys e Lucerys, para que todos entendessem a insinuação.
Jacaerys, sem conseguir conter a raiva que havia começado a ferver durante o brinde de Aemond, levantou-se de sua cadeira de forma abrupta. Ele encarou Aemond diretamente, sua voz saindo tensa e carregada de fúria:
— Repita isso, se tiver coragem, Aemond!
Aemond apenas ergueu uma sobrancelha, seu sorriso cínico permanecendo. Ele não se moveu, mantendo a taça em mãos, com uma expressão de desdém. Seu tom era frio, quase como se estivesse se divertindo com a situação.
— Estou apenas dizendo a verdade, sobrinho. — Ele enfatizou a última palavra, quase cuspindo o termo, deixando claro o desprezo.
Foi o suficiente para Jacaerys perder o controle. Sem pensar duas vezes, ele avançou sobre Aemond, e o salão foi tomado por gritos e sons de cadeiras arrastadas. O primeiro soco de Jacaerys acertou o rosto de Aemond, fazendo-o cambalear levemente para trás. Mas Aemond, sempre treinado e preparado para a luta, revidou rapidamente, acertando um soco firme no estômago de Jacaerys, que o fez dobrar-se de dor momentaneamente.
A cena tornou-se um caos. Lucerys tentou se levantar para ajudar o irmão, enquanto Aegon assistia de sua cadeira, com um sorriso torcido nos lábios. Alicent gritou para que a briga parasse, enquanto Rhaenyra se levantou rapidamente, preocupada. A tensão na mesa, que antes parecia apenas uma ameaça sutil, havia se transformado em um confronto direto e brutal.
Os dois jovens continuaram a trocar socos, com Aemond mostrando sua superioridade física sobre Jacaerys. Porém, Jacaerys não desistia, mesmo sendo derrubado mais de uma vez. O salão estava em um frenesi de vozes e caos, até que Daemon, que assistia a tudo com um sorriso de aprovação até então, decidiu intervir.
Ele se moveu rapidamente, agarrando Jacaerys pelo ombro e separando os dois com uma força controlada, mas firme.
— Chega! — a voz de Daemon ecoou pelo salão, autoritária e impassível.
Aemond, com o peito arfando de raiva, recuou ligeiramente, mas não sem lançar um último olhar mortal para Jacaerys, cujo lábio estava sangrando, mas cujos olhos ainda brilhavam com ódio.
— Guarde sua força, garoto — murmurou Daemon para Jacaerys, segurando-o firme. — Não desperdice com provocações baratas.
A briga foi interrompida, mas o silêncio que se seguiu foi tão denso quanto o próprio conflito. Alyssane, que havia observado tudo com o coração acelerado, sabia que aquilo era apenas o começo do colapso iminente.
Rhaenyra, ainda tentando recompor-se do caos que acabara de acontecer, virou-se para Alicent e, com um tom de voz calmo, mas decidido, disse:
— Acho que é melhor voltarmos para Dragonstone. Essa situação só vai piorar se continuarmos aqui.
Alicent, que ainda estava abalada com a briga, franziu o cenho e replicou, tentando manter as aparências.
— Você acabou de voltar, Rhaenyra. Não pode partir assim tão de repente.
Antes que Alyssane pudesse acompanhar o desenrolar dessa discussão, algo inesperado aconteceu. Aegon, que até então parecia mais envolvido em seus devaneios e na bebida, a chamou abruptamente.
— Alyssane, vamos para o meu quarto.
Ela olhou para ele, confusa. Fazia tanto tempo que ele não pedia por sua companhia, que Alyssane mal conseguia lembrar quando fora a última vez. Provavelmente antes de Daeron e Daella nascerem, quando ela ainda fingia o desejo por ele para esconder a verdadeira paternidade dos filhos.
— O que...? — ela começou, a confusão evidente em seus olhos.
Mas Aegon, desta vez, parecia diferente. Seu tom era firme, quase autoritário, algo que ela raramente via nele.
— Eu quero você agora, Alyssane. Sou seu marido, e ponto final.
Alyssane ficou imóvel por um momento, surpresa tanto pela exigência quanto pela firmeza com que ele falou. Ela podia sentir uma tensão crescente, não apenas da sua parte, mas também em Aegon, como se ele estivesse tentando reafirmar algo que ele próprio tinha esquecido ao longo dos anos.
Relutante, ela assentiu, sabendo que não teria escolha.
Alyssane sabia que aquela súbita exigência de Aegon não era sobre desejo ou afeição. Era sobre provar algo a si mesmo, especialmente depois da resposta de Jacaerys durante a briga. O orgulho ferido de Aegon precisava de reparação, e ela se via mais uma vez sendo arrastada para a dinâmica de poder e ressentimento entre os homens que a cercavam.
Enquanto ela se levantava, sentindo o peso da tensão no salão, seus olhos encontraram os de Aemond. A raiva queimava no único olho visível do irmão. Ele não precisava dizer nada; o ódio e o ciúme estavam estampados em sua expressão. Aemond havia planejado passar a noite com ela, finalmente juntos após um jantar cheio de formalidades, onde tiveram que se ignorar o tempo todo. Ele teve que assistir, impotente, enquanto Jacaerys dançava com ela no meio do salão, tocando-a de um jeito que o enlouquecia.
Agora, a ideia de Alyssane indo para os aposentos de Aegon era insuportável para Aemond. Ele cerrou o maxilar, o punho cerrado ao lado do corpo. Ele sabia que não podia fazer nada.
Alyssane sentiu o peso do olhar de Aemond em suas costas enquanto se afastava. Ela sabia que o que viria a seguir não seria sobre desejo ou amor.
Quando Alyssane e Aegon chegaram aos aposentos, o ar parecia mais denso, e uma sensação claustrofóbica a envolveu. As paredes do quarto, que outrora haviam sido apenas um local de fuga temporária, agora pareciam se fechar sobre ela. A atmosfera estava carregada, e o cheiro forte de álcool vindo de Aegon a fazia sentir-se ainda mais nauseada.
— Tira logo isso. Não faz essa cara de santa pra mim... — Aegon riu, desajeitado, se aproximando para ajudá-la a tirar o vestido. — Aquele bastardo da Rhaenyra acha que pode falar sobre mim, acha que eu não sei cuidar da minha esposa? Vou te mostrar o contrário, Alyssane.
Alyssane estava nua, o corpo exposto à luz suave das velas que tremulavam nas paredes do quarto. Aegon a deitou na cama com pouca delicadeza, seus movimentos eram pesados e desajeitados. Ele não se preocupou com carícias ou palavras suaves. Em questão de segundos, ele já estava sobre ela, movendo-se com urgência, como se apenas estivesse tentando provar algo para si mesmo.
Ela olhou para o teto, os olhos fixos nas vigas de madeira, enquanto sentia o corpo dele se mover dentro dela. A sensação era desconfortável, e ela sabia, por experiência, que aquilo não duraria muito. Ainda assim, a pressão era irritante, o peso de Aegon sobre ela a deixava sufocada.
A cada investida, Alyssane se sentia mais desconectada. Ela se concentrou na respiração, tentando bloquear a realidade que a cercava. Mas então, um enjoo súbito subiu à sua garganta, uma sensação familiar que a fez fechar os olhos por um segundo.
Sua mente a transportou para o passado, para a última vez em que havia feito isso com Aegon, forçando-se a fingir para esconder a verdadeira paternidade de seus filhos. A mesma náusea a invadiu naquela noite, a mesma sensação de vazio.
E então, como uma onda avassaladora, a ideia tomou forma em sua mente, trazendo clareza e uma pontada de medo: e se ela estivesse grávida de novo?
As peças começaram a se encaixar. O enjoo recente, os sinais que ignorava. A ansiedade apertou seu peito ao pensar nas possíveis consequências disso. Mais um filho de Aemond, mas com o nome de Aegon. Mais mentiras para sustentar.
Ela sentiu o corpo de Aegon tenso, prestes a terminar, enquanto seu pensamento se perdia na espiral de possibilidades e preocupações.
Aegon desabou ao lado dela, soltando um suspiro de satisfação enquanto o cheiro forte de álcool e suor preenchia o quarto. Ele não olhou para ela, não disse uma palavra. Para ele, aquilo tinha sido apenas mais uma obrigação conjugal, uma forma de reafirmar seu domínio como marido, como se o simples ato bastasse para apagar a verdade que ambos conheciam.
Ela esperou o som da respiração de Aegon se estabilizar e ficar mais pesada, indicando que ele havia adormecido, mergulhado na inconsciência provocada pela bebida. Quando finalmente teve certeza de que ele estava fora de seu alcance, ela se levantou silenciosamente da cama. Cada movimento era calculado, uma tentativa de não acordá-lo.
O quarto parecia sufocante, as paredes se fechando ao seu redor. Ela foi até uma janela entreaberta, sentindo o vento frio da noite bater em sua pele quente. Fechou os olhos por um momento, buscando algum consolo no ar fresco, mas a sensação de inquietação a acompanhava.
Alyssane passou a mão pela barriga de forma instintiva, o pensamento da gravidez pesando mais do que qualquer outro. O que faria agora? Como lidaria com mais uma criança carregando o sangue de Aemond? Mais uma mentira, mais um fardo a ser carregado no jogo intrincado que sua vida se tornara.
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