𝟎𝟒𝖝𝟐𝟔 '𝕹𝖊𝖝𝖙 𝖎𝖓 𝖑𝖎𝖓𝖊 𝖔𝖋 𝖘𝖚𝖈𝖈𝖊𝖘𝖘𝖎𝖔𝖓'
Aemond entrou na torre com passos firmes, o manto negro ondulando atrás dele como uma sombra viva. Alicent estava de pé, as mãos crispadas em torno da beirada de pedra fria da sacada, observando seu filho se aproximar. Os estandartes verdes da casa Hightower tremulavam ao vento, mas o peso no ar era sufocante, carregado com a tensão das notícias de Pouso de Gralhas.
Sem hesitar, Aemond caminhou direto até Alyssane, o olhar fixo nela como se o resto do mundo não existisse. Alicent prendeu a respiração ao ver o gesto familiar, quase íntimo demais para um irmão. Ele enfiou os dedos nos cabelos prateados de Alyssane, suas mãos segurando seu rosto com uma gentileza que contrastava com a brutalidade do campo de batalha que acabara de deixar para trás.
Ele inclinou a cabeça e a beijou na testa, os lábios pressionados com uma intensidade que dizia mais do que qualquer palavra. Alicent, parada no canto da sala, sentiu uma onda de desespero tomar conta dela, o coração apertado em um medo crescente. A máscara de decoro e aparência finalmente havia caído. Aemond não se importava mais em esconder o que sentia por Alyssane, e isso a aterrorizava.
A rainha mãe conhecia bem os perigos de sentimentos incontroláveis — os sussurros já começavam a se espalhar pelo castelo. Ela sabia o que o reino diria se a verdade sobre seus filhos viesse à tona.
Alicent olhou para Aemond, que agora passava o polegar suavemente pelo rosto de Alyssane, como se ela fosse o único alívio de sua alma conturbada.
Alicent não aguentou mais. A tensão, o desespero, o medo que ela carregava como uma coroa pesada — tudo isso a empurrou a agir. Com um movimento rápido, ela agarrou o braço de Aemond, puxando-o com uma força que ela nem sabia que possuía. O rosto dela estava pálido, mas seus olhos brilhavam com um misto de fúria e angústia.
— O que você acha que está fazendo, Aemond? — a voz dela saiu entre dentes cerrados. — Alyssane é a rainha!
Ele se virou lentamente para encará-la, os traços duros e inabaláveis, mas algo em seus olhos cintilava com desprezo. Alicent sentiu o peso do silêncio que se seguiu, como se cada segundo entre eles carregasse o peso de anos de segredos não ditos.
— Eu sei muito bem quem ela é, mãe — respondeu Aemond, a voz baixa, mas carregada de raiva contida. — Mas e daí?
Alicent recuou um passo, mas não soltou o braço dele. Aemond olhou para baixo, para a mão dela, com uma mistura de irritação e frieza, então se desvencilhou de seu aperto com um movimento brusco.
— Ela pode ser a rainha aos olhos do mundo, mas é minha — ele continuou, a rudeza em sua voz perfurando o ar como uma lâmina. — Não me importa o que você, Aegon, ou o reino pensem. Isso aqui... — Ele fez um gesto vago entre ele e Alyssane, que permanecia imóvel, distante, observando-os. — Isso é entre nós. E você não vai interferir.
Alicent sentiu um nó apertar em sua garganta, o pânico crescendo. A realidade da situação, das consequências desse comportamento, era avassaladora.
— Aemond, isso é insano... — ela tentou argumentar, mas ele a cortou antes que pudesse continuar.
— Insano? — ele riu, mas não havia humor em seu tom. — Insano foi deixá-la se casar com Aegon. Insano foi deixá-la sofrer sozinha por tanto tempo.
Alicent sentiu o golpe daquelas palavras, sua alma revirada pela dor e pelo medo. Ela olhou para Alyssane, que parecia estar ausente do mundo ao redor, e viu o quanto sua filha estava quebrada. Talvez não houvesse mais volta para eles.
Alicent estreitou os olhos, sua voz saindo em um sussurro trêmulo.
— Onde está Aegon?
Aemond respirou fundo, como se a pergunta fosse um fardo indesejado, algo que ele preferia não responder. Mas então ele a encarou, sem hesitação em sua expressão, e respondeu com a mesma frieza calculada que agora parecia ser uma extensão de sua alma.
— Na batalha. Rhaenys o atacou — disse ele, a voz pesada, mas firme. — Ele está sendo trazido de volta. Está muito ferido... Não sabemos se vai sobreviver.
O silêncio caiu pesado sobre elas. Alicent levou a mão à boca, os olhos arregalados em um terror que ela mal conseguia conter. Ela havia dito para Aegon não ir, para ficar longe da batalha. Agora ele estava à beira da morte. Mas antes que pudesse reagir, Aemond continuou, sua voz impassível.
— Mas Rhaenys está morta. E o dragão dela, Meleys, também. Um dragão a menos para os negros.
Cada palavra saía de sua boca com uma precisão cortante, como se estivesse recitando um relatório militar, e não falando da destruição de vidas. Era um alívio cruel para ele. Um passo mais perto de algo maior, algo que ele desejava com todo o seu ser. Enquanto ele falava, o peso das palavras parecia esmagar o ar ao redor.
Alyssane, ao lado deles, não disse nada. Seus olhos haviam sido atraídos para a espada do Conquistador, que agora repousava no cinto de Aemond, em vez de no de Aegon. Uma vez, aquela espada havia sido empunhada por seu marido, o rei. Agora, estava na posse de seu irmão.
Ela sentiu um aperto no peito, uma sensação sufocante que a fez desviar o olhar da espada para Aemond, observando-o falar com aquela frieza cortante. E foi então que ela soube, sem que ninguém precisasse dizer. Não foi Rhaenys quem atacou Aegon. Foi Aemond.
Era um pressentimento, uma convicção profunda em seu coração. O jeito como ele se comportava, a maneira como carregava a espada, como se já tivesse reivindicado algo que não era seu.
Os guardas chegaram com passos apressados, carregando o corpo inerte de Aegon em uma maca improvisada, o rosto do rei queimado e marcado pela dor. Alicent nem hesitou, seu coração batendo descompassado, ela os seguiu sem olhar para trás, as saias do vestido farfalhando enquanto corria ao lado deles, implorando para que os meistres fizessem o impossível. O peso da coroa parecia pender mais pesado sobre todos, mas agora era Aegon quem lutava pela própria vida.
Quando os corredores ficaram vazios, Alyssane ficou ali, apenas com Aemond, o silêncio entre eles tenso e sufocante. Ela não se virou imediatamente para ele, os olhos ainda fixos no vazio, no eco das palavras ditas sobre Aegon e Rhaenys. O mundo parecia girar ao redor dela, lento e sem forma.
Aos poucos, ela virou o rosto para Aemond, seus olhos carregados de uma tristeza profunda e confusa.
— O que você fez, Aemond? — sua voz saiu em um sussurro, quase quebrada.
Ele a encarou com aquela intensidade inabalável, os olhos de um azul cortante e frio como gelo. Ele deu um passo à frente, como se suas palavras fossem tão simples quanto inevitáveis.
— Eu fiz o que precisava ser feito — ele respondeu, sem hesitação. — O que eu disse que faria.
Ela sentiu um nó se formar em sua garganta, as mãos trêmulas, o pavor se agarrando a cada parte dela. O que ele queria dizer com isso? Como ele podia falar com tanta frieza?
Aemond deu outro passo à frente, mais perto dela, e então falou com uma calma aterrorizante:
— Eu tirei Aegon do caminho. Agora, você é minha.
Alyssane deu um passo para trás, o coração disparado. A verdade, a horrível verdade, estava diante dela. Ele havia feito isso. Ele havia tirado Aegon de cena, como se fosse uma simples peça no jogo que estavam jogando.
Ela viu o brilho calculado no único olho de Aemond, aquela frieza assustadora, e soube que ele acreditava estar fazendo o que era certo—não por ela, mas pelo poder que ele tanto almejava.
— Você fez isso para ter o trono... — ela sussurrou, a voz baixa, mas firme. — Não foi por mim.
Aemond, no entanto, não vacilou. Ele se aproximou ainda mais, seus dedos apertando o queixo dela com firmeza, erguendo seu rosto para que ela o olhasse diretamente. Seus lábios formaram uma linha fina, a sombra de algo mais profundo dançando por trás daquela fachada calculada.
— Aegon nunca mereceu nada do que tinha — ele murmurou, a voz dele fria como uma lâmina de aço, cortante e decisiva. — Ele não é digno da coroa. Não é digno de você. Ele sempre foi fraco.
Alyssane engoliu em seco, os olhos dela se encheram de um pânico contido, tentando processar o que ele estava realmente dizendo. Era como se a escuridão que envolvia o castelo também estivesse engolindo a alma de Aemond.
— Aegon ainda está vivo... — ela insistiu, a esperança tênue em sua voz. — Ele pode melhorar. Os meistres...
Aemond não permitiu que ela terminasse. Com um gesto brusco, ele apertou o queixo dela com mais força, a intensidade de sua posse evidente.
— Isso não vai acontecer — ele sussurrou, a voz quase um rosnado. — Ele não vai melhorar.
Aemond soltou o queixo dela com mais delicadeza desta vez, sua mão deslizando pelo rosto de Alyssane, tentando suavizar a tensão que ele mesmo havia criado. O toque era quase gentil, mas o fogo por trás de seus olhos não havia desaparecido, continuava a queimar com uma intensidade feroz.
— Não tenha medo de mim, Alyssane — ele disse, a voz firme, mas com uma suavidade inesperada. — Eu odeio quando você me olha assim, com receio.
Ela permaneceu em silêncio, o olhar dela desviando por um breve momento, como se estivesse pesando suas palavras. Ele sentiu aquilo como uma punhalada, mas forçou-se a manter a calma. Ele sabia que o caminho até o coração dela, até a confiança dela, agora estava manchado com a sombra de suas próprias escolhas.
Aemond segurou os ombros dela com firmeza, mas não com brutalidade. Seus dedos percorreram as bordas do vestido dela enquanto ele falava, o tom de sua voz mudando de algo sombrio para uma promessa sombria e poderosa.
— Eu vou tratar você como a rainha que você é — ele sussurrou, o olhar fixo no dela. — Nós ainda somos dragões, Alyssane. E os dragões queimam tudo o que ameaça seu domínio. Eu vou derramar o sangue de todos que contribuíram para nossa infelicidade, nosso filho, todos esses anos em que nos mantiveram separados, em que nos fizeram sofrer. Eles vão pagar, um por um.
O olho dele brilhou com aquela promessa de violência. Alyssane sentiu o peso das palavras, como se o destino estivesse gravado no fogo que envolvia as decisões de Aemond. Mesmo com o calor dele próximo, ela sentia uma frieza na alma, um pressentimento que a fazia hesitar.
Aemond entrou no salão do conselho com a postura altiva de quem acreditava ser o legítimo herdeiro de tudo ao seu redor. O som de suas botas ressoava pelas paredes de pedra, cada passo medido, deliberado. Seu manto negro, preso por uma fivela em forma de dragão, balançava atrás dele, e a espada do Conquistador pendia em seu cinto, reluzindo sob a luz trêmula das tochas.
No centro da sala, Alicent estava sentada, os olhos inchados pelo sofrimento. Desde que Aegon foi trazido ferido, ela mal havia se afastado dos corredores do Grande Septo e dos aposentos dos Meistres. Seu coração estava partido, e ela se agarrava a qualquer esperança de que seu filho, o rei, pudesse sobreviver. Otto, Larys, Criston Cole e outros lordes do conselho estavam reunidos ao redor da mesa, todos com expressões tensas.
A pauta era clara: o reino estava sem um rei em pleno tempo de guerra. Eles precisavam de um regente.
— Precisamos de alguém que governe até que Aegon esteja recuperado — começou Otto, o tom seco, mas preocupado. — O reino não pode ficar sem uma liderança firme, principalmente agora, com as batalhas em curso.
Alicent, com a voz trêmula mas cheia de determinação, se ergueu.
— Eu serei a regente. Fui regente durante os anos da doença de Viserys, e conheço bem os assuntos do reino. Já fiz isso antes, sei do que precisamos.
Um silêncio pesado tomou conta do salão por um momento. Mas antes que qualquer lorde pudesse apoiar a decisão de Alicent, Aemond deu um passo à frente, com um sorriso gélido e olhos penetrantes, interrompendo-a sem qualquer cerimônia.
— A senhora foi regente em tempos de paz, mãe — ele disse, com uma calma que carregava um subtexto afiado. — Agora, estamos em guerra. As circunstâncias mudaram, e o reino precisa de um líder que entenda o que está em jogo.
Alicent piscou, a dor misturada com confusão ao ver o próprio filho desafiá-la tão abertamente. Aemond avançou mais um passo, seus olhos fixos no conselho enquanto sua presença dominava a sala.
— Eu sou o próximo na linha de sucessão — continuou ele, sem hesitar. — É natural que o regente seja eu. Não há tempo para políticas sutis ou gestos diplomáticos. Nós precisamos de força, de foco... de ação.
Criston Cole, sempre leal a Aemond, assentiu de maneira discreta, mas significativa. Larys Strong apenas observou, com o olhar enigmático que sempre mantinha. Otto Hightower olhou para o neto, a tensão entre eles quase palpável. A regência de Aemond significaria a consolidação de um poder militar absoluto, algo que Otto não tinha certeza se conseguiria controlar. Mas ele também sabia que não podia contrariar Aemond sem enfraquecer a própria posição.
Alicent apertou as mãos no colo, olhando para o filho.
— Aemond... seu irmão ainda vive.
Aemond inclinou a cabeça, o rosto agora impassível, mas sua resposta foi cortante.
— Aegon está à beira da morte, e o reino à beira do colapso. Vou garantir que nenhum dos dois caia.
A tensão na sala de conselho finalmente deu lugar à decisão inevitável. Um a um, os lordes votaram, com olhares hesitantes, e a maioria acabou se inclinando para Aemond, o Príncipe Regente. O peso da votação caiu como uma sentença, não apenas para o reino, mas também para Alicent, que assistia seu filho mais jovem assumir o controle do destino de todos ali.
Quando a reunião chegou ao fim, os lordes e cavaleiros saíram em silêncio, deixando a sala pesada com a atmosfera de poder recém-conquistado. Aemond manteve-se em pé, imponente, como uma estátua viva de autoridade, observando a todos partirem.
Alicent esperou até que a última figura desaparecesse pelo corredor, e então, finalmente, o silêncio se tornou insuportável. Ela se aproximou do filho, os olhos carregados de angústia, quase irreconhecível em sua dor.
— Aemond — começou ela, sua voz trêmula, mas ainda firme. — O que você está fazendo? Está perdendo o controle. Você é jovem e está tomando decisões precipitadas, decisões que podem nos destruir.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, como se suas preocupações fossem insignificantes diante da grandeza que ele almejava. Sem olhar diretamente para ela, ele respondeu com a mesma frieza que usava no campo de batalha.
— Estou garantindo que o trono permaneça em nossas mãos. É isso que importa.
Alicent sentiu o calor subir pelo corpo, uma mistura de desespero e frustração, suas mãos tremendo ligeiramente.
— Isso não é poder, Aemond. Isso é imprudência! Você está colocando todos nós em perigo. Sua obsessão com o trono, com a guerra... você não está mais pensando com clareza.
— Aegon é um rei fraco. Ele não merece o que tem. Eu estou fazendo o que é necessário para que o reino sobreviva.
A dor no rosto de Alicent ficou mais evidente, mas ela não conseguiu se segurar.
— E Alyssane? — perguntou, sua voz falhando um pouco, sem saber como abordar o assunto delicado que a corroía por dentro. — A quanto tempo... a quanto tempo você está com sua irmã?
Aemond sustentou o olhar dela sem piscar, sua expressão não demonstrando remorso ou hesitação. Em vez disso, seus ombros se relaxaram levemente, como se a resposta fosse tão óbvia e sem importância que ele não precisasse esconder.
— Desde antes dela se casar com Aegon — disse ele, com a mesma indiferença que usava ao falar de guerra.
Alicent estremeceu. Ela sabia, sempre soube. Os sinais estavam lá, mas ouvir aquelas palavras tão frias saindo da boca de seu filho era como uma faca perfurando seu coração. Ela sentiu-se impotente, incapaz de fazer qualquer coisa. O mundo que ela lutou tanto para manter unido estava se despedaçando diante de seus olhos, e seu próprio filho era o catalisador.
— Vocês dois... isso só vai trazer desgraça. Alyssane não merece isso, você não merece isso. Nenhum de vocês!
Mas Aemond não se abalou. Ele simplesmente deu de ombros, como se o destino deles já estivesse selado há muito tempo, e suas palavras, sem peso.
— Nós somos dragões, mãe. E dragões não pedem permissão. — Ele ameaçou se levantar mas ela segurou o filho pelo braço.
— Não terminei de falar com você, Aemond.
Aemond se levantou da cadeira sem dar qualquer atenção ao pedido de sua mãe para que ele permanecesse. O peso das palavras de Alicent não o tocava mais como antes. Ele era o Príncipe Regente agora, e o poder que estava ao seu alcance o isolava de qualquer laço de afeição ou culpa. Sem sequer olhar para trás, ele saiu da sala, suas botas ecoando pelos corredores frios da Fortaleza Vermelha, ignorando os murmúrios que ainda ressoavam por entre as paredes.
Ele avançou com determinação até os aposentos onde Aegon estava sendo tratado. Os meistres, pálidos, moviam-se com cuidado em torno da figura ferida e irreconhecível do rei. O ar no quarto estava carregado com o cheiro metálico de sangue e o odor forte de unguentos. Assim que Aemond entrou, o ambiente pareceu encolher, a presença dele impondo-se como uma sombra inevitável.
— Relatem — ordenou Aemond, com frieza.
Os meistres se entreolharam, nervosos, antes de um deles dar um passo à frente.
— Sua Graça sofreu queimaduras extensas em grande parte do corpo. Vários ossos quebrados, danos internos severos. Sua recuperação será lenta e... — o meistre hesitou, lançando um olhar cuidadoso para Aemond antes de continuar — incerta.
Aemond dispensou os meistres com um simples gesto de mão, os olhos fixos no corpo destroçado de Aegon. Os homens saíram em silêncio, deixando os irmãos a sós.
Aemond se aproximou lentamente da cama. Cada passo ressoava como um prelúdio sombrio, enquanto o olhar dele permanecia impassível diante da visão grotesca do irmão queimado e quebrado. Aegon, coberto de bandagens e incapaz de se mover sem dor, estremeceu ao ver Aemond ao seu lado. Seus olhos, que mal conseguiam se abrir, fixaram-se no irmão com uma mistura de pavor e desespero. Ele sabia.
Aemond inclinou-se ligeiramente sobre a cama, seu olhar penetrante e frio, quase cruel. Ele estudou o estado deplorável de Aegon, e um leve sorriso — mais uma linha de desprezo — surgiu em seus lábios.
— Veja só no que se transformou o grande rei... — Aemond murmurou, quase como se estivesse falando consigo mesmo.
Aegon tentou falar, seus lábios rachados se movendo em vão, mas nenhum som saiu. Sua respiração era um esforço doloroso, cada suspiro um lembrete de sua fragilidade. Aemond, no entanto, não demonstrou piedade.
— Eu disse que você não merecia o que tinha — continuou Aemond, sua voz firme e sem emoção. — Agora, veja onde isso te trouxe. Rhaenys está morta, seu dragão também... mas você... — Ele tocou de leve o ombro enfaixado de Aegon, que se contorceu de dor com o contato, seus olhos se arregalando de medo. — Você não deveria ter sobrevivido.
A sombra de Aemond caiu sobre o corpo frágil de Aegon, que mal conseguia respirar sem sentir dor. Ele estava ali, indefeso, quebrado de corpo e espírito, diante de um irmão que não nutria mais nada além de desprezo.
— Não se preocupe, irmão — disse Aemond, em um sussurro frio, quase gentil. — Logo, você não será mais uma preocupação para ninguém.
Aemond permaneceu ao lado da cama, observando o irmão, agora impotente, como um dragão em cativeiro. O silêncio entre eles era pesado, carregado de um desejo insaciável de controle. Aemond se afastou por um momento, caminhando até a mesa ao lado, onde um copo de leite de papoula repousava, inocente em sua aparência, mas com um potencial sombrio.
Ele pegou o copo, examinando a substância leitosa que prometia alívio, um conforto ilusório em meio à dor. Aemond sentiu um sorriso escorregar pelos lábios enquanto imaginava o que estava prestes a fazer. Com um movimento sutil, ele adicionou um toque de veneno, uma dose pequena, mas mortal. Um líquido escuro se misturou ao leite, como um segredo maligno em meio à pureza aparente.
Com o copo em mãos, ele se virou novamente para Aegon. O rei, com os olhos cansados e confusos, olhou para ele, um misto de esperança e medo transparecendo em seu semblante.
— Aqui, irmão — disse Aemond, aproximando-se da cama. Ele inclinou-se, segurando o copo diante do irmão. — Você precisa se acalmar. Isso vai ajudar.
Aegon hesitou, mas a necessidade de alívio era mais forte que a desconfiança que começava a brotar em seu coração. Aemond inclinou o copo com cuidado, encorajando-o a beber.
— Isso vai fazer você se sentir melhor — insistiu Aemond, sua voz envolvente, como um veneno suave. — Não quero que você sofra.
Os lábios de Aegon se abriram hesitantes, e ele começou a beber. O líquido deslizava por sua garganta, doce e espesso, mas Aemond percebeu que o verdadeiro sabor era amargo, um eco do que estava prestes a acontecer.
— Você sabe, Aegon — Aemond começou, enquanto o irmão bebia, sua voz carregada de um desprezo velado. — Sua morte não significará nada. Assim como sua vida. Você não fez nada de relevante.
Aegon parou de beber, um tremor passando por seu corpo enquanto a revelação começava a se formar em sua mente, mas Aemond rapidamente pressionou o copo contra os lábios do irmão novamente, forçando-o a continuar.
— Beba — ordenou ele, sua voz um sussurro persuasivo.
Os olhos de Aegon se arregalaram em terror e confusão, enquanto a realidade do que estava acontecendo começava a se estabelecer. Ele lutou contra Aemond, mas as forças o abandonaram; seu corpo, exausto e queimado, não tinha mais poder.
Aemond observou Aegon sucumbir à inevitabilidade, o veneno se espalhando lentamente por seu sistema, enquanto ele se afastava um pouco, um sorriso sutil curvando seus lábios.
— Durma, irmão — ele murmurou, como se estivesse se despedindo.
Aemond deixou os aposentos, a porta se fechando com um estalido suave atrás de si. O ar nos corredores estava impregnado de uma tensão quase palpável, e o eco dos seus passos parecia reverberar como o bater de asas de um dragão em voo. Ele sentiu um sorriso se formar em seus lábios, uma expressão de triunfo que mal conseguia conter. A sensação de poder pulsava dentro dele, uma força bruta que prometia transformá-lo em algo mais do que apenas um príncipe.
Enquanto se afastava, os gemidos de dor de Aegon ecoavam em sua mente como uma melodia macabra. Era uma sinfonia que ele havia orquestrado, um plano que estava se desenrolando com uma precisão cruel. O jogo estava apenas começando, e Aemond estava decidido a ser o jogador mais astuto.
Ele se permitiu uma breve pausa, respirando fundo o ar fresco dos corredores, que agora parecia mais limpo, como se os grilhões do passado estivessem se desfazendo. Aegon, com sua indiferença e mediocridade, estava prestes a se tornar um capítulo encerrado na história da Casa Targaryen. Aemond já podia ver o trono se aproximando, brilhando à sua frente como um farol de poder e autoridade.
Aemond estava determinado a eliminar qualquer obstáculo que pudesse se interpor em seu caminho. Ele poderia sentir a urgência pulsar em suas veias, o desejo de vingar as injustiças que sua família havia suportado por tanto tempo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top