𝟎𝟑𝖝𝟏𝟔 '𝕾𝖍𝖆𝖉𝖔𝖜 𝕭𝖊𝖙𝖜𝖊𝖊𝖓 𝕾𝖔𝖚𝖑𝖘'

Nos dias que se seguiram ao incidente, Alyssane mal conseguia olhar para Aemond sem sentir o coração apertar no peito. Ela não queria sentir medo, não dele. Não fazia sentido. Ele era seu gêmeo, sua alma gêmea, uma metade espelhada que sempre estivera ao seu lado, desde o ventre de sua mãe. Eles eram mais do que apenas irmãos; eram dois corpos que dividiam uma única alma, destinados a se entenderem sem palavras, a se protegerem sem medo.

Sempre fora assim. Quando crianças, compartilhavam segredos através de olhares, brincadeiras e risos silenciosos, onde a presença de um era a fortaleza do outro. Aemond nunca precisara falar muito — seu olhar bastava para que Alyssane soubesse que estava segura, que ele era sua rocha inabalável. Sempre havia algo de feroz em sua proteção, um desejo inquebrável de mantê-la a salvo de tudo e todos.

Mas agora... agora algo havia mudado. Uma sombra pairava entre eles. O peso da noite sombria e do sangue derramado assombrava cada pensamento dela. Ela não conseguia tirar da cabeça o rosto da serva, os olhos arregalados e o silêncio que se seguiu ao golpe rápido de Aemond. Era um silêncio que reverberava dentro de si, quebrando lentamente a imagem do homem que sempre fora o guardião de sua confiança.

Alyssane queria acreditar que aquilo não havia mudado nada, que ele continuava sendo seu Aemond, o gêmeo que entendia cada batida do seu coração, mas algo dentro dela estava ferido. O medo era uma serpente sussurrante, enroscada ao redor de sua coragem. Ela sabia que, no fundo, Aemond agira por ela, por eles, por tudo o que tinham de mais precioso — os filhos, o segredo. Mas ainda assim, o sangue manchava a memória daquele momento.

Nos últimos dias, ela o evitara. Suas palavras eram medidas, os encontros breves. Até seus toques pareciam ter perdido o calor de antes. Ela o amava, mais do que qualquer coisa nesse mundo, mas o medo começava a consumir o que restava dessa conexão perfeita que sempre compartilhavam. E Aemond, como sempre, notava

Ele era como uma tempestade contida, uma força selvagem prestes a explodir, mas mantida sob controle por causa dela. Sempre por causa dela. E Alyssane se odiava por essa nova distância, por essa barreira invisível que se erguera entre eles.

Alyssane estava sentada no chão do berçário, a luz suave do final da tarde banhando o cômodo, criando sombras tênues nas paredes de pedra. Daeron e Daella riam, as risadas infantis enchendo o espaço, enquanto ela os ajudava a empilhar pequenos blocos de madeira. Era um momento de tranquilidade, um raro alívio das tensões que pairavam sobre sua vida ultimamente.

Ela ergueu Daella nos braços, balançando-a suavemente enquanto murmurava uma canção de ninar. Daeron correu ao redor delas, rindo enquanto derrubava a pequena torre que havia construído. Alyssane forçou um sorriso, tentando se concentrar nas crianças, nos risos deles, no calor puro e inocente que ainda restava em seu mundo.

Então, a porta rangeu suavemente, e ela sentiu sua presença antes mesmo de olhar. O coração dela acelerou, como se cada batida ecoasse na quietude do momento. Aemond entrou silenciosamente, seus passos firmes, mas controlados. Ele parou à porta por um breve instante, observando a cena diante dele. Alyssane tentou parecer calma, mas a tensão em seu corpo era impossível de esconder.

— Alyssane... — a voz de Aemond rompeu o silêncio, grave e carregada de algo não dito.

Ela não respondeu imediatamente, focando-se em colocar Daella de volta no chão, sentindo o olhar dele queimar em sua direção. Ele notava. Ele sempre notava. A maneira como seus ombros se enrijeciam, a maneira como sua respiração ficava mais superficial quando ele estava por perto, diferente de antes. Antes, sua presença era um consolo, uma força.

— Você tem me evitado — ele disse, sem rodeios, a voz baixa e cheia de um peso silencioso.

Alyssane não conseguiu conter o leve tremor em suas mãos enquanto brincava com Daella. 

— Estou apenas... ocupada — murmurou, sabendo que a desculpa soava vazia.

Aemond deu alguns passos à frente, aproximando-se lentamente. Ele se ajoelhou ao lado dela, sem desviar o olhar de seu rosto. As crianças continuaram a brincar, alheias à tensão que pairava entre seus pais. Ele estendeu a mão, pousando-a levemente no ombro dela, um toque que outrora traria conforto, mas agora apenas a deixava mais tensa.

— Alyssane — a voz dele era um misto de frustração e algo mais profundo, quase ferido. — O que está acontecendo? Você está diferente. Estamos diferentes.

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio, enquanto sentia o peso de tudo o que estava guardando. O medo, a culpa, a sombra do que havia acontecido naquela noite. As mãos dele apertaram suavemente o ombro dela, em uma tentativa de reconectar, de trazer de volta aquela proximidade que eles sempre compartilharam. Mas Alyssane apenas se afastou um pouco, mal perceptível, mas o suficiente para Aemond notar.

— Você está com medo de mim — ele sussurrou, quase uma acusação, quase uma pergunta.

Ela finalmente o encarou, os olhos cheios de uma confusão de emoções que ela não conseguia expressar. 

— Não é isso... — começou, mas sua voz falhou. Ela queria negar, queria dizer que tudo estava bem, que o que ele tinha feito fora necessário para protegê-los, mas as palavras morriam em sua garganta.

Aemond ficou em silêncio por um momento, os olhos roxos fixos nos dela, escuros e intensos. 

— Não minta para mim, Alyssane. Eu sei. Eu sinto.

Ela fechou os olhos por um segundo, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar. 

— Eu não sei como me sentir... — confessou, sua voz trêmula. — Eu sei que você fez o que achou certo, mas... — sua voz quebrou. — Eu não consigo... esquecer. Não consigo parar de pensar em tudo isso.

Aemond apertou os lábios, e por um momento, o silêncio pairou entre eles, pesado e denso. Ele finalmente soltou o ombro dela, seus dedos traçando uma linha pelo braço antes de cair ao lado do corpo.

— Eu fiz o que precisava ser feito para nos proteger — ele disse, a voz baixa e firme. — Eu sempre farei isso.

Ela sabia disso. Sempre soube. Mas agora, a sombra daquele conhecimento parecia maior, mais escura.

Alyssane, visivelmente abalada, se levantou com um movimento brusco, sem dizer uma palavra. A tensão ainda dominava seus movimentos enquanto ela evitava o olhar de Aemond, o coração acelerado com o turbilhão de emoções que havia se formado. Ela se dirigiu para a porta com passos rápidos, tentando esconder as lágrimas que começavam a surgir em seus olhos.

Aemond a observou sair, incapaz de impedi-la, seu maxilar travado em frustração. Ele bufou, irritado consigo mesmo e com a situação que parecia fugir de seu controle. Alyssane sempre foi o centro do mundo dele, e vê-la assim, assustada, o corroía por dentro. 

Ele não sabia mais o que fazer para restaurar o vínculo que antes era tão sólido entre eles. A raiva misturada com impotência o consumia, mas ele sabia que forçar qualquer coisa agora só a afastaria ainda mais.

Respirando fundo, Aemond desviou os olhos para as crianças, que o observavam de longe. Daeron e Daella pareciam momentaneamente parados, sentindo a mudança de energia no ambiente, mas logo voltaram às brincadeiras, rindo e correndo ao redor dos blocos de madeira.

Aemond passou uma mão pelos cabelos, tentando se recompor. Ele se aproximou das crianças, curvando-se ao lado de Daella, que olhou para ele com curiosidade nos olhos.

— O que vocês estão construindo? — Aemond perguntou, a voz suavizando.

— Um castelo! — respondeu Daeron, animado, erguendo uma das peças de madeira como se fosse a torre mais alta de toda Westeros.

Aemond esboçou um sorriso sincero, a tensão em seus ombros diminuindo um pouco enquanto observava os dois. Ele se abaixou ao lado deles, pegando uma das peças de madeira e começando a ajudar na construção improvisada.

— Não parece um castelo muito forte — disse ele, brincando, enquanto empilhava os blocos com mais precisão. — Precisa de paredes mais grossas.

Daeron olhou para ele com admiração, acenando com a cabeça enquanto tentava imitar os movimentos cuidadosos de Aemond. Daella, rindo, segurou uma das torres e colocou-a de lado, desmoronando parte do castelo, o que fez Aemond rir baixo.

Por alguns momentos, ele conseguiu esquecer o peso que carregava. Ele sabia que essas crianças eram parte de tudo o que ele e Alyssane estavam tentando proteger, parte da razão pela qual ele havia feito o que fez. Brincar com eles, ouvi-los rir e vê-los felizes era um pequeno alívio em meio ao caos que reinava fora daquele berçário.

Mas, no fundo, ele sabia que não poderia ignorar para sempre o abismo que estava se abrindo entre ele e Alyssane.

A porta se abriu de repente, e Aemond se endireitou ao ver Alicent entrando no berçário. Ela franzia a testa, os olhos severos ao pousarem sobre ele, ajoelhado ao lado de Daeron e Daella, ainda ajudando na construção do castelo improvisado. Havia algo de julgador na maneira como ela o observava, e Aemond sentiu o desconforto crescer, como se fosse um garoto pego em uma travessura.

— O que você está fazendo aqui, Aemond? — Alicent perguntou, o tom baixo, mas carregado de implicações. — Não é comum vê-lo... distraído assim.

Havia algo naquela frase que soava suspeito, como se ela estivesse questionando suas intenções de maneira velada. O olhar de Alicent passou das crianças para ele, insinuando algo que fez o sangue de Aemond ferver.

Ele se levantou lentamente, os músculos tensos, sentindo o peso das palavras não ditas. O rosto de Aemond se fechou, e o leve tom de brincadeira que tinha com as crianças desapareceu.

— Eu posso brincar com meus sobrinhos quando eu quiser, mãe — respondeu ele, a voz fria e cortante como uma lâmina.

Alicent piscou, surpresa pela rudeza na resposta dele. Os olhos de Aemond estavam fixos nos dela, uma mistura de desafio e frustração. Ele sabia o que ela estava insinuando. Sabia das fofocas, dos rumores que corriam pelos corredores, e agora ela também parecia envolvida na rede de desconfianças.

— Não é o que parece... — Alicent começou, tentando suavizar a tensão.

— Sei exatamente o que parece — ele retrucou, interrompendo-a. — Parece que não posso sequer estar com eles sem que questionem meus motivos. Mas deixe-me lembrá-la, mãe, que posso vir aqui, posso vê-los e estar com eles sempre que quiser. — Ele enfatizou as palavras com uma clareza feroz, deixando claro que não estava aberto a mais insinuações.

Alicent o encarou por um momento, as sobrancelhas levemente franzidas, mas ela não respondeu de imediato. Havia algo pesado no ar entre eles, algo que ela reconhecia mas não estava disposta a confrontar diretamente. Ela suspirou, tentando manter a calma, mas a tensão não desapareceu.

— Certo — disse ela, com um tom mais calmo. — Mas tome cuidado, Aemond. Tudo o que fazemos é observado... cada passo, cada gesto. As pessoas sempre irão falar.

— Deixe que falem — ele respondeu, voltando os olhos para as crianças, sua expressão mais suave ao vê-los rindo e brincando. — Eles não sabem de nada.

Alicent bufou, a paciência claramente se esgotando. Ela cruzou os braços e olhou ao redor do berçário, procurando por Alyssane, mas sem sucesso.

— Onde está Alyssane? — perguntou, a irritação evidente em sua voz.

Aemond, que estava de costas para ela, ajeitando alguns brinquedos, mal se deu ao trabalho de olhar para trás.

— Não sei — respondeu ele com indiferença, sua voz cheia de desdém.

A resposta curta fez Alicent estreitar os olhos. Ela sabia que algo estava errado. Aemond e Alyssane sempre foram inseparáveis, e agora ele não sabia onde ela estava? Isso não era comum.

— Isso é novo — Alicent retrucou, o tom ácido. 

— Desde quando você não sabe onde sua irmã está? Vocês sempre...

Antes que ela pudesse terminar, Aemond se virou, um sorriso debochado se formando em seus lábios.

— Por que não pergunta ao marido dela? — provocou, cada palavra carregada de sarcasmo. — Talvez Aegon tenha mais sorte em saber onde sua esposa se esconde.

A menção a Aegon trouxe uma sombra ao rosto de Alicent, que se manteve rígida por um momento. Ela sabia da indiferença de Aegon, da distância crescente entre ele e Alyssane. Era uma situação desconfortável que tentava ignorar, mas Aemond fazia questão de cutucar essa ferida sempre que podia.

— Aegon... — Alicent começou, tentando manter a compostura, mas a frustração era evidente. — Aegon não é...

— Não é o que, mãe? — Aemond a interrompeu, sua expressão desafiadora. — Não é um homem digno? Não é um marido presente? Ou simplesmente não se importa com nada além de seus próprios desejos? — Aemond deu um passo à frente, encarando-a. — Eu conheço Aegon, e você também conhece. Se Alyssane está se afastando, é porque ele não lhe dá motivos para ficar.

A tensão entre os dois era palpável, e por um momento, tudo que se ouvia era o som das crianças rindo suavemente ao fundo.

Aemond olhou fixamente para Alicent, seus olhos frios e penetrantes. Ele estava farto da interferência constante, e sua paciência, já curta, estava prestes a se esgotar.

— Me deixe em paz com os meus sobrinhos — disse ele, em tom baixo e controlado, mas com uma clara autoridade que não deixava espaço para mais discussão. Alicent bufou, cruzando os braços, mas cedeu, reconhecendo que Aemond estava inflexível.

— Está bem — respondeu ela, quase que com relutância. Seus olhos percorreram rapidamente o berçário antes de voltar para Aemond. — Mas, caso encontre Alyssane, diga a ela que teremos visitas em breve.

Aemond arqueou uma sobrancelha, mais curioso do que preocupado. Alicent, no entanto, continuou sem perder tempo:

— Rhaenyra, Daemon, Lucerys e Jacaerys estão vindo de Dragonstone. Eles vêm discutir a sucessão de Driftmark. Vaemond pretende reivindicar o assento para si.

O nome "Jacaerys" causou uma pequena mudança no rosto de Aemond, mas ele manteve a calma. Alicent o observou atentamente, esperando algum comentário, mas ele permaneceu em silêncio, apenas a encarando com uma expressão de desinteresse.

— Avise-a — repetiu Alicent, como um lembrete. Ela se virou para sair, mas não sem antes lançar um último olhar de aviso. — As coisas estão prestes a se complicar ainda mais.

Aemond observou enquanto ela saía, e o som de seus passos desapareceu ao longo do corredor. Ele permaneceu imóvel por um momento, processando a notícia, antes de se voltar novamente para as crianças, sem demonstrar qualquer preocupação visível.

Mas em sua mente, a menção de Jacaerys reacendeu a chama de uma velha rivalidade.

Alyssane estava na varanda, um lugar que sempre fora seu refúgio, cercado pelo aroma suave das flores do jardim. O sol começava a se pôr, lançando uma luz dourada sobre o pátio enquanto suas lembranças se entrelaçavam com a realidade. Ela apoiou as mãos na balaustrada de madeira, perdendo-se no panorama à sua frente, um mundo que parecia tão distante das suas preocupações internas.

O vento leve acariciava seus cabelos, mas não conseguia afastar a angústia que a consumia após a conversa tensa com Aemond. Ele havia se mostrado tão intenso e confuso, e as palavras trocadas entre eles ainda reverberavam em sua mente como ecos em uma caverna vazia. O que restava de sua inocência?

Enquanto ela se perdia em pensamentos, uma carruagem dourada começou a se aproximar, seu tilintar de rodas ecoando pelo pátio. Alyssane franziu a testa, sem perceber a visita que se aproximava. A carruagem parou com um suave rangido, e, antes que pudesse reagir, a porta se abriu.

Daemon e Rhaenyra desceram, ambos exibindo sorrisos radiantes. Rhaenyra segurava um bebê de cabelos platinados em seus braços, enquanto Daemon, com um olhar protetor, segurava outro ao lado dela. As crianças, com seus rostos redondos e olhares curiosos, eram a imagem da inocência, tão distantes das intrigas e das lutas de poder que permeavam o castelo.

Atrás deles, Lucerys, Jacaerys e Joffrey também estavam presentes, cada um mostrando um misto de alegria e preocupação ao ver os pais. Alyssane observou a cena, a felicidade que emanava da pequena família quase a sufocando.

Ela se lembrou de como seus próprios sonhos de um futuro feliz pareciam desvanecer, consumidos pelas circunstâncias e pelas expectativas. O que ela desejava agora? 

Mas, enquanto Rhaenyra se movia com graça e alegria, Alyssane sentiu um vazio crescente. Faziam anos desde que as duas se distanciaram, e a saudade de sua antiga amiga a apertou o peito. Ela se lembrou das tardes passadas juntas, dos segredos compartilhados, e da confiança que outrora as unia. 

Sentia falta da conexão, mas a sombra de Daemon, que nunca pareceu confiar plenamente nela, a fazia hesitar. Ela sempre se sentiu indiferente à presença do tio, como se fosse uma intrusa em seu próprio mundo.

Lucerys e Joffrey estavam tão crescidos, e ela mal conseguia acreditar em como o tempo havia passado. Mas foi ao olhar para Jacaerys que seu coração deu um salto. Ele estava tão bonito, seu cabelo ondulado brilhando sob a luz do sol.

Um frio na barriga a invadiu, lembrando-a de sensações que ela tentava esconder. Jacaerys era mais do que um sobrinho; ele era o primeiro homem que ela realmente esteve. A lembrança da última vez que o viu, na véspera de seu casamento, invadiu sua mente como um sonho perdido.

Alyssane cerrou os punhos, lutando contra a tempestade de sentimentos que a dominava. Jacaerys era um dos maiores segredos de sua vida, junto com a verdadeira paternidade de seus filhos. O que ela havia compartilhado com ele ainda queimava em sua memória.

Ela se afastou um pouco da balaustrada, o coração acelerado enquanto lutava para colocar seus pensamentos em ordem. A vida era cheia de segredos e complicações, e se havia algo que a mantinha à beira do precipício, era a esperança de que um dia pudesse ter a liberdade de amar, sem as correntes que a prendiam.

Alyssane respirou fundo, tentando dissipar a confusão em seu coração antes de se aproximar da família. Ao se aproximar, o sorriso que antes reluzia no rosto de Rhaenyra foi ofuscado por um comentário irônico de Daemon.

— Realmente, não ter uma recepção digna da herdeira do trono é um verdadeiro desaforo — ele reclamou, cruzando os braços com um ar arrogante. O tom de sua voz era cortante, mas a familiaridade daquela dinâmica fez Alyssane se sentir um pouco mais à vontade.

Rhaenyra, no entanto, não se deixou abalar pela crítica do marido. Ela se voltou para Alyssane, o rosto iluminado por um sorriso pacífico.

— Alyssane! — exclamou Rhaenyra, com uma alegria genuína em seus olhos. — É tão bom te ver novamente!

Alyssane sorriu de volta, um alívio percorrendo seu peito. As duas se aproximaram, e Rhaenyra a abraçou brevemente. Alyssane pôde sentir a calorosa presença de sua amiga, e isso fez seu coração aquecer.

— Venha conhecer meus pequenos — Rhaenyra continuou, segurando um dos bebês em seus braços. — Este é Viserys — ela disse, fazendo uma leve reverência com a cabeça em direção ao pequeno. O bebê, com seus cabelos platinados, balançava os olhos grandes e curiosos.

Daemon observava de longe, ainda com uma expressão cética, mas Rhaenyra estava imersa na alegria materna. Alyssane se agachou um pouco para olhar mais de perto o pequeno Viserys, admirando o brilho em seus olhos.

— E este aqui é Aegon — Rhaenyra apresentou, passando o bebê para Alyssane, que o segurou com cuidado e carinho. O pequeno Aegon sorriu, como se já estivesse ciente do amor ao seu redor.

— Ele é tão adorável — Alyssane murmurou, seu coração se enchendo de ternura. — Mal posso esperar para apresentar meus filhos também!

As palavras saíram com um entusiasmo genuíno, e ela se viu sorrindo com facilidade. A ideia de suas crianças se encontrando com os pequenos da família trouxe um calor reconfortante à sua alma.

Daemon, observando a interação entre as mulheres, soltou um suspiro desdenhoso, mas sua esposa o ignorou. Para Alyssane, aquele momento parecia uma breve pausa nas complexidades da vida que as cercava.

Enquanto Alyssane se encantava com os bebês, um ruído de risadas e brincadeiras chamou sua atenção. Lucerys, com um brilho travesso nos olhos, não conseguiu conter sua curiosidade e lançou uma pergunta direta, rompendo o momento de ternura.

— Você teve filhos?

O ambiente ficou em um breve silêncio, e Jacaerys, que estava por perto, imediatamente se tensa, um semblante de desconforto tomando conta de seu rosto. A tensão no ar era palpável, e Alyssane sentiu o olhar dele fixo em si, como se estivesse avaliando como ela responderia.

Ela se endireitou um pouco, olhando para Lucerys, antes de responder. 

— Sim, eu tenho gêmeos — disse Alyssane, um sorriso suave brotando em seus lábios, embora seu coração pulasse de ansiedade. Ela não queria criar suspeitas sobre a paternidade das crianças, mas a felicidade ao mencionar seus filhos era difícil de conter.

— Gêmeos?  Igual você e o Aemond. — repetiu Lucerys, claramente intrigado. — Que idade eles têm?

— Quase quatro anos — respondeu Alyssane, sorrindo. Seus olhos suavizaram ao pensar nos filhos, e ela instintivamente estendeu a mão, ajeitando os cabelos de Lucerys em um gesto carinhoso, quase maternal. 

Nesse momento, Daemon e Rhaenyra já haviam entrado no castelo, deixando a família mais jovem para trás. A tensão no ar diminuiu, mas ainda pairava entre eles.

Jacaerys, que observava a interação em silêncio, finalmente falou, com uma expressão que misturava curiosidade e uma ponta de algo que Alyssane não conseguia decifrar completamente.

— Então... parece que Aegon a está fazendo feliz, afinal — ele disse, a voz controlada, mas os olhos fixos nela, buscando alguma reação.

Alyssane congelou por um breve instante, uma onda de desconforto subindo pelo seu corpo. As palavras de Jace, apesar de superficiais, pareciam tocar em algo mais profundo. Ele não sabia da verdade, claro — ninguém sabia, exceto Aemond. No entanto, o comentário dele fez seu coração bater mais rápido, e por um momento, o ar parecia mais denso ao redor deles.

Ela sorriu, mas seu olhar foi cauteloso. 

— A felicidade pode ter muitas faces, Jace — respondeu, mantendo o tom leve, mas com um subtexto que ele provavelmente entenderia. — Nem sempre é o que parece de fora.

Os olhos de Jacaerys se estreitaram por um breve segundo, como se tentasse ler nas entrelinhas, mas antes que ele pudesse responder, Lucerys, sem perceber a tensão, interrompeu o momento.

— Quando podemos conhecer os gêmeos? 

Alyssane agradeceu mentalmente a intervenção de Lucerys e sorriu suavemente. 

— Em breve, Luce. Tenho certeza de que eles vão adorar conhecê-los também.

Alyssane os seguiu para dentro como uma boa anfitriã, o coração ainda batendo ligeiramente por causa da interação anterior. Ela pensava em como seria o momento em que Aemond visse os sobrinhos novamente. Ele sempre teve uma relação conturbada com eles, e ela sabia que a animosidade que sentia por Jacaerys vinha de um lugar de ciúmes, algo que ela não tinha ideia de que estava ligado ao que haviam compartilhado em segredo.

Lucerys, por outro lado, era um lembrete constante do incidente que havia marcado a infância de Aemond — a perda do olho, um ferimento que ainda pairava sobre sua alma como uma sombra. Alyssane olhou para os rostos inocentes dos meninos e não conseguia sentir ódio por nenhum deles, mesmo com as brigas e rivalidades da infância.

Era difícil para ela, assimilar a complexidade das emoções. As memórias de jogos e risadas misturavam-se com os ecos de desentendimentos, mas, no fundo, a bondade dos meninos prevalecia em sua mente.

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