Capítulo Seis

— Onde você mora? Sempre te vejo no metrô, mas nunca te vejo entrando ou saindo — falou Jennie, colocando um chiclete na boca.

— Moro um pouco longe, na última estação, então é por isso que você nunca me vê entrando nem saindo — menti, mas ela pareceu entender, já que assentiu e começou a mascar seu chiclete. — Isso mata a sua fome?

— Não, mas engana até eu chegar em casa e comer minha comida preferida: miojo — falou, forçando um sorriso de orelha a orelha, fazendo-me rir.

— Se não gosta, por que come?

— Porque é a única comida que eu consigo preparar, isso quando eu consigo. Não tenho tempo nem pra respirar direito. Odeio final de mês! — reclamou, revirando os olhos.

— É, final de mês é complicado mesmo — concordei, sentindo uma pontada de empatia. — Eu também não tenho muito tempo, mas tento fazer umas receitas simples às vezes — menti novamente.

Eu nem como.

— Que tipo de receitas? — perguntou ela, curiosa.

— Ah, coisas rápidas, como sanduíches ou saladas. Às vezes, uma omelete. Nada muito elaborado — respondi, dando de ombros.

— Acho que eu deveria aprender a fazer essas coisas. Viver de miojo não é saudável — disse Jennie, rindo um pouco.

— Com certeza. Eu posso te ensinar, se você quiser — ofereci, sorrindo.

— Sério? Isso seria incrível! — Ela pareceu genuinamente animada com a ideia.

Como eu vou ensinar sendo que não posso sair daqui? Arrependimento.

— Claro, só me dizer quando você tiver um tempinho — falei, fingindo estar feliz.

— Combinado. Assim que esse mês infernal acabar, a gente marca — Jennie disse, piscando um olho e voltando a mascar o chiclete.

— Fechado! — respondi, querendo me tacar em um buraco negro.

Onde foi que eu me meti?

— Se divertiu muito com o celular? Assistiu aos clipes de K-pop? Conheceu os grupos? A indústria?

— Muitas perguntas. Calma! — sorri, sem jeito. — Aprendi muitas coisas e descobri muitas coisas também. Tem muitos jovens talentosos, né? Você poderia tentar debutar em uma empresa.

— Ah, não. Eu sou muito velha pro padrão deles. Acha que sou talentosa? — assenti. — Mas você nunca me viu fazendo nada.

— Claro que vi. Você já tinha baixado um monte de aplicativos aqui, e quando entrei no Instagram, um vídeo seu dançando apareceu.

— O quê? — perguntou, envergonhada, ficando vermelha. — Como assim? Hum... Que vídeo exatamente você viu?

Peguei meu celular para mostrar o vídeo e o procurei o mais rápido possível, não demorando para encontrá-lo em sua conta. Apressei-me em virar o celular para ela, mostrando a dança que fazia.

— Ufa! Menos mal. Gravei esse vídeo no intervalo da faculdade com as minhas amigas. Gostou?

Assenti, vendo o vídeo novamente e admirando o quão lindo é o sorriso da Jennie, o quão lindo é seu corpo, seus olhinhos, seu cabelo...

— Mas esse vídeo eu gravei na brincadeira. Como pode ter certeza que danço bem? — perguntou, cruzando os braços e deixando-me pensativa.

— Não sei. Quando olho pra você, sinto que esconde um talento, só não sei qual é. Portanto, toda vez que eu te ver fazendo algo artístico, vou dizer que você é muito boa e nasceu pra isso.

— Hum... Entendi! — suspirou, pegando seu celular. — Alguns dias atrás, fui fazer um trabalho na casa da minha amiga e lá tinha um piano — recebi uma notificação e logo peguei meu celular para ver o que era. — Então, gravei um vídeo cantando e tocando. Eu que compus a música, não me julgue, por favor!

— Próxima estação: Anguk. Desembarque ao lado direito do trem!

— Preciso ir. Tchau, Lili — se levantou e aproximou-se de mim, deixando um selar demorado em minha bochecha.

Ao se afastar, encarou meus lábios por alguns segundos, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, o metrô parou, fazendo com que o corpo dela perdesse o equilíbrio. Só que não caiu em cima de mim, pois segurei sua cintura firmemente e não pude resistir a apertar levemente o local, vendo-a sorrir maliciosamente e sem mostrar os dentes.

— Obrigada, Manobal! — sussurrou em meu ouvido antes de sair andando.

Engoli seco vendo-a sair da minha visão. Como aquela garota poderia mudar de personalidade tão rápido? Uma hora é fofa, outra hora é extremamente sexy.

Suspirei, pegando meu celular para ver seu vídeo. Coloquei os fones e dei play. Jennie cantava com uma paixão que eu nunca tinha visto antes. Cada nota parecia carregar uma parte de sua alma, e fiquei hipnotizada, incapaz de desviar o olhar da tela. Sua habilidade no piano também era impressionante, os dedos deslizando pelas teclas com uma graça natural.

O trem continuou seu trajeto, mas eu estava em um mundo à parte, mergulhada na música de Jennie. Não pude deixar de me perguntar quantos outros talentos ela escondia, quantos lados de sua personalidade ainda não havia mostrado. Quando o vídeo terminou, me peguei sorrindo, sentindo uma mistura de admiração e algo mais, algo que não conseguia identificar.

Após terminar de assistir, mandei uma mensagem para ela: "Ei, acabei de ver seu vídeo cantando e tocando piano. Você é incrível! Quando tiver um tempo, gostaria de ouvir mais das suas músicas. Boa noite, Jennie."

Desliguei o aparelho, recordando-me de seu sorriso e, agora, de sua voz angelical também.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top