Four

Benjamin estava montando caixas de pizza em uma mesa desocupada no canto da lanchonete. Ele estava concentrando, não fazia ideia que eu o olhava as vezes, pelo menos era isso que eu pensava. Na minha cabeça, a cena de ontem, ele me defendendo se repetia, eu não contei a Cassidy o que aconteceu, achei melhor deixar para lá, ela não estava falando tanto comigo desde que me contou sobre sua infidelidade, talvez ela tivesse se arrependido de ter me contado. Preferia ter sido assim, dessa forma, não teria que olhar Benjamin sabendo que ele estava sendo feito de bobo.

Queria que Cassidy acabasse logo com isso. Pego meu celular e mando uma mensagem para ela perguntando como estava na espera de que me desse alguma novidade do que pretendia fazer. Coloco o celular de  volta no balcão e continuo a lavar alguns copos.

Um barulho de algo caindo ressoa atrás de mim, olho assustada. E então vejo meu pobre celular no chão, Benjamin se reclina do outro lado do balcão, as caixas de pizza embilhadas no local onde antws meu celular estava.

— Desculpa, Alissa, eu não vi seu celular, eu empurrei as caixas e ele caiu.

Enxugo minhas mãos e corro até meu celular desfalecido. Tento ligá-lo, mas nada. A tela havia trincado ainda mais. As pernas de Benjamin aparecem perto de mim que me matinha agachada tentando ressuscitar meu aparelho.

— Quebrou?! — ele questiona quando me levanto.

— O quê você acha? — suspiro, sentindo meu coração descompassado no peito. Pronto, agora iria ficar sem celular.

— Me dá — Benjamin captura o celular da minha mão.

— O quê estava fazendo? Não liga já tentei.

— Eu quebrei, vou levar para arrumar.

— Ele já estava todo arruinado Benjamin, não precisa, me devolve.

— De jeito nenhum — ele guarda meu celular em seu bolso. O olho nos olhos.

— Benjamin eu disse que não precisa.

— Alissa só me deixa arrumar minhas burradas.

— Foi um acidente você não teve culpa.

— Independente, tenho que arcar com as consequências — ele diz, e isso me faz lembrar o porquê ele veio trabalhar aqui. Talvez tivesse mais nessa frase do que ele queria dizer. Acho que Benjamin, não é tão ruim como o julguei.

O olho e ele me olha. Seus olhos azuis estavam decididos não havia nada que pudesse fazer senão concordar.

Assinto para ele. E então ele me sorri de canto.

— As pizzas estão prontas para entrega? — Bill aparece da cozinha pedindo.

— Estão aqui — Benjamin aponto para elas sobre o balcão. Me viro e retorno a atenção para meus copos.

*

— Por quê não me respondeu ontem? Mandou msg e não me respondeu — Cassidy me questiona quando nos sentamos em uma mesa do refeitório para lanchar.

— Meu celular estragou — digo simples.

— Como?

— Deixei cair — falo não revelando que a culpa tinha sido de Benjamin, não sei bem por que fiz isso, só não queria jogar a culpa nele.

— Que merda, ein, Ally — Cassy exclama.

— O quê é uma merda? O ensino médio? — Benjamin aparece furtivo e senta próximo a Cassidy lhe dando um selinho.

— Oi, Ally — ele me cumprimenta. Balanço a cabeça pois estava com a boca cheia.

— A Ally deixou o celular dela cair e está sem — Cassy diz pra Benjamin.

— Ela? — Benjamin me olha, sabia que ele estava confuso.

— Amor, pode buscar água pra mim fiquei com sede?

— Tá — Benjamin sai.

— Você ainda está falando com o Caio?

— Sim.

— E quando pretende terminar com o Benjamin?

— Alissa as coisas estão boas como estão, acho melhor não mexer em nada.

— Como assim, Cassy? Só se estão boas para você, Benjamin está sendo feito de babaca e eu tenho que ficar acobertando essa sujeira — desabafo minhas palavras em seu prato.

Cassidy me olha afetada. Está prestes a me rebater, mas vê que Benjamin se aproximava.

— Bom saber que posso contar com você, Ally, por isso somos amigas — Cassy sorri. — Obrigada, amor — Ela pega o copo que Benjamin trouxe.

Cassy poderia me odiar, mas minha vontade era de falar toda verdade aqui e agora na frente de Benjamin. Não sei da onde surgiu esse meu senso de justiça, mas ele estava gritando dentro de mim. Mas ao invés disso abaixo a cabeça  quando Benjamin me olhou.

Eu era cúmplice de um crime cruel contra um coração. Também era culpada.

*

Já faziam dois dias do incidente com meu celular, mas ele não me fazia tanta falta visto que mal converso com alguém por ele e mal entro nas redes sociais. Ele praticamente só servia como despertador. Benjamin disse que o traria hoje para mim já que o rapaz o qual havia levado tinha o concertado.

Quando a moto de Benjamin estacionou no mesmo lugar de sempre em frente a lanchonete e o vi entrar logo pude notar que algo estava errado. Suas feições eram tristes como se algo de terrível tivesse acontecido.

— Eai, Ally — seu cumprimento foi sem ânimo, o observei colocar sua toca e avental. Me perguntei se Cassidy havia finalmente terminado como Ele.

— Aconteceu alguma coisa?

Ele me olha.

— Problemas familiares — ele diz simples.

— Quer falar sobre isso? — Eu simplismente perguntei isso, por que parecia que ele precisava desabafar, só não sabia se eu era a pessoa certa.

Ele nega com a cabeça.

E eu o respeito.

— Trouxe seu celular — ele se aproxima de mim e me estende um celular.

— Nossa, não parece meu celular — olho a tela nova com película, ele parecia ter acabado de ser comprado. O pego e vejo que está com uma capinha. Ela era preta com várias fórmulas matemáticas em branco nela. Olho para Benjamin — Você comprou una capinha também?!

— É, você disse que gostava de matemática e pensei que seu celular ficaria mais bem protegido em uma capinha. Então, aproveitei e comprei ela.

— É linda, Benjamin, mas não precisava ter gastado além...

— É um presente! — fecho um sorriso fino em seu rosto.

— Obrigada! — sorrio de volta. Eu não era habituada a receber presentes. Ainda mais vindo de Benjamin.  Mas eu havia gostado muito da capinha.

Realmente julguei Benjamin mal, eu não o conhecia de verdade. Sempre achei que ele fosse exibido e mesquinho, mas na verdade ele é humilde e bondoso. Ele não merece ser magoado.

*

— Ally? — Benjamin me chama quando estava indo buscar minha bicicleta já que estava na hora de irmos embora.

— Sim?

— Preciso de uma opinião urgente.

— Pode falar — digo de prontidão.

— É, o que você faria se descobrisse que alguém que você conhece está traindo seu parceiro? Você contaria a verdade?

— Por que está me perguntando isso Benjamin?

— Por que eu confio em você. E te acho sensata.

Ficamos nos encarando por um instante. De quem Benjamin estava falando? Da onde ele tirou essa pergunta? Meu cérebro estava dando um nó.

— Vou te explicar o contexto — ele suspira e se senta em um dos degraus da lanchonete me sento próximo a ele. — Bom, eu faço aula de jujtisu a tarde, e hoje o professor teve que sair mais cedo então consequentemente voltei mais cedo para casa, peguei meu pai e a secretária dele no sofá de casa. Minha mãe está viajando a trabalho vai voltar amanhã, e ele disse para mim não contar nada para ela que devolvia meu celular e cartão de crédito disse que nem precisava vir mais trabalhar — ele pausa enquanto absorvo toda a informação. — Eu fiquei puto, o xinguei e me tranquei no quarto até a hora de vir trabalhar. Eu não sei o que fazer, só sei que se contar vou magoar minha mãe a acabar com o casamento deles, mas não ficar sem contar, sei que meu pai vai me odiar, mas não fui eu quem errei, puta que pariu — Benjamin começa a segurar o choro. Até então eh estava calada. Sabia que o que ele queria era uma saída. Mas eu me encontrava na mesma encruzilhada que ele.

— Eu sinto muito que você esteja nessa situação, Benjamin. Não imagino o quão difícil isso está sendo para você, mas eu sei que você vai conseguir fazer a coisa certa — falo soando positiva, mas as palavras saem quase como um bolo da minha garganta. Ele me olha, seus olhos úmidos brilham sob a luz do poste que nos iluminava.

— Você acha que eu devo contar? — ele me encara.

— Acho. Sua mãe merece saber — dito isso, percebo finalmente que também não consigo mais guardar para mim o fato de saber que Cassidy está traindo ele. Poderia contar tudo se ele não estivesse tão abalado.

— Obrigado, Ally — ele funga o nariz. — Vou fazer isso — sua voz agora estava decidida.

Ficamos em silêncio por um instante.

— Posso te perguntar mais uma coisa?

— Pode.

— Por que antes sempre pareceu que minha presença te incomodava?

Rio.

— Bem, acho que te julguei mal, pensei que fosse um chato arrogante. Ainda te acho chato, mas arrogante não — ele ri. Pega uma pequena pedrinha e atira na rua. — Mas a verdade é que eu guardava ressentimentos de você do jardim de infância — digo, mas em tom de brincadeira.

— O quê aconteceu no jardim de infância? — ele me olha arqueando uma sobrancelha.

— Você não lembra? Me acertou uma pedra no braço — digo olhando ele que estava pronto para arremeçar a nova pedra. Mas para.

Ele me olha.

— Sério? — seu ar era de riso.

— Doeu sabia.

— Dramática.

Pego uma pedrinha e atiro de leve em seu ombro.

— Aí — ele resmunga.

— Viu só.

— Você disse que guardou ressentimentos, mas agora que me recordei do episódio, eu que devia ter guardado, você chamou a professora — ele me fita.

— Claro!

— Não tive culpa que você estava no lugar errado na hora errada — ele me olha. Cruzo os braços sobre o peito. — Eu pedi desculpas, não pedi?

— Por que foi forçado.

Ele ri.

— Você acabou de me dar uma pedrada acho que estamos quites, não? — ele reclina o corpo para frente os cotovelos sobre os joelhos e então me olha.

— Estamos quites — digo por fim.

Ele sorri. Eu também.

— Boa noite! — a voz de alguém surge perto da gente e então vejo Caio passar próximo ao meio fio.

— Boa noite! — Benjamin responde. Caio olha para nós e então some na escuridão que a rua tomava.

— Acho melhor eu ir embora — digo me levantando.

— A gente se vê amanhã — Benjamin diz se pondo de pé também.

Olhamos um para o outro pela última vez antes de tomar direções diferentes.

...

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