Capítulo II

Foi na famosa biblioteca de Finshares que um jovem chamado Tarnin em sua voracidade pela leitura e historicidade adquiriu acesso à ala dos livros secretos. Um vasto salão de prateleiras com verdadeiros calhamaços sobre os reinados dos povos e as grandes guerras de outrora.

Ao adentrar aquele ambiente, o rapaz admirou-se com a magnitude construída pelos antigos artesãos do reino da floresta. Os detalhes, as pinturas, os vitrais e as cores projetadas nos livros. Andou pelos corredores como um transeunte perdido em meio à tempestade.

Sim, eram tempos de verdadeiras tempestades. Às vezes podiam durar semanas ou meses, com relâmpagos rasgando e clareando as noites como se fossem dias. Ele sabia que a terra estava em desequilíbrio e queria encontrar a razão por aquela tormenta estar se perpetuando por estações afora.

Tarnin, então, vasculhou as prateleiras e não encontrou na história do mundo algo que o ajudasse. Sem ter mais o que fazer, correu ao outro lado do salão com um candelabro de vidro em mãos e buscou nas profecias o motivo daquela procela.

Tirou da velha estante de madeira um livro enegrecido com um grande círculo prateado na capa. Não havia título. Abriu-o e começou a ler algo relacionado aos dias de chuvas torrenciais e ondas gigantescas no mar.

Leu também que as águas do oceano avançariam mais e mais rumo ao continente e inundariam por completo todo o reino de Finshares, destruindo a história dos Finras. Então o dilúvio avançaria para a cordilheira de Gonomle até atingir a montanha mais alta, matando afogado o último Giale e exterminando para sempre todos os povos da terra.

Existia apenas uma alternativa que livraria o mundo daquele final catastrófico. Quando os olhos de Tarnin passaram por aquelas linhas já esquecidas, o pranto o derrubou ao chão.

Não havia um único ser vivente que sabia o que ele acabava de descobrir àquele instante. O rapaz levantou-se num impulso e correu ao grande palácio de Finshares para prostrar-se diante da rainha Haia do reino da floresta.

Aos pés do trono ele explicou o que estava acontecendo e, mostrando o exemplar à rainha, Tarnin a pediu permissão para navegar pelos mares de Nathal até encontrar os Nallias. E assim acabar de uma vez com as tormentas que avassalavam os três grandes reinos.

— Não será uma missão fácil — disse Haia, senhora das florestas, com seus cabelos dourados caindo à face —, mas não vejo alternativa. Tarnin, tu és possuidor de grande conhecimento. Tens minha permissão para cessar a tempestade perpétua e tornar-te senhor da história de nosso povo.

— Tem mais uma coisa, majestade! — Virando a cabeça para o semblante da realeza, o rapaz completou: — Preciso levar uma peça de cristal das terras férteis comigo.

A rainha levantou as sobrancelhas diante da condição de Tarnin demonstrando surpresa. Fez sinal com as mãos a um dos guardas presentes na sala do trono e tornou-se a olhar para o rapaz ainda prostrado.

— Levanta-te, Tarnin, desbravador da tempestade. Que assim seja feito!

Neste instante o guarda adentrou novamente o recinto com o cristal em suas mãos. Entregou-o a Tarnin que se pôs em retirada imediatamente. Sabia que tinha uma missão pela frente; extremamente perigosa.

Não obstante, entendia, mais que tudo, que o destino do reino dependia de seu sucesso. Munindo-se de coragem, ele transcendeu os limites de Finshares rumo aos mares inexplorados pelos seres da floresta.

"565 palavras."

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