Leia
— Você já quis que as pessoas viessem com um manual de instruções? — perguntou 3L4.
— Já sim — ele respondeu. Que pergunta mais estranha... — Sempre quis. Principalmente com as mulheres. Elas são tão complicadas... Nunca as entendo, jamais as entendi.
— Pois tome.
3L4 estendeu a mão, entregando um livro.
— O que é isso?
— Meu “como usar”. Faça bom proveito e não me decepcione. — Encarou o homem na sua frente enquanto tomava um gole da taça de vinho.
— Ué... Mas... espera, como assim?
— Leia. Ah, a parte dos encontros já começa na página 150.
Ele colocou na página 150, mais por curiosidade que por interesse.
— Leia aí para mim, por favor.
Ele começou:
— “Sobre Encontros... Precisa de atenção constante... Recusa cavalheirismos exagerados a não ser que esteja com preguiça...” — dizia o cara, olhando ora para o livro, ora para a moça. — Que é isso?
— Como você mesmo disse, você gostaria de ter um manual de como se usar das pessoas.
O cara ficou perplexo; achava que era uma daquelas perguntas que se faz naturalmente, longe do intuito da verdade. “Que animal você seria?” Um pássaro morre engasgado com chiclete ou porque a mãe o empurrou do ninho. Quem quereria ser um pássaro?
— Mas não se trata da verdade.
— Trata-se da minha verdade, pois então agora é uma verdade.
— Cruzes.
— Veja a página 267, ela fala sobre a parte da religião.
— Você é biruta!
— Eu não sou nada! Você está no caminho errado! A parte que se refere a como se desculpar comigo está logo no começo. Você pode conferir logo, antes que seja tarde demais.
— Por que tarde demais? — trocou a indignação pela curiosidade.
— Leia. Não gosta de ler? Eu adoro gente que gosta de ler. Veja, no final eu anoto os livros que já li.
— Hum.
— Hum o quê?
— Gosto de ler.
— Pois fale.
— Assim é fácil demais.
— Você não queria um manual de como entender as mulheres? Bem, no caso uma delas.
— Onde está a parte da conquista?
— Página 187, logo quando acaba a parte dos encontros.
— Não. Digo... E a parte em que eu me sinto bem por ter conseguido algo difícil?
— Vá fazer um concurso. Passe no ITA. Siga as regras, a parte difícil é essa.
— Quem é você para dizer algo assim? Você é louca; tem um manual de instruções.
— Louca é a sua mãe. Louco é você por não ter um desses. E atente-se, é um manual de “como usar”, não de instruções.
— E em quê isso melhora para você?
— Adéqua-me à sociedade, como pelo que você quer me usar, sentir a boa sensação de conseguir algo difícil.
— Você é realmente maluca — já ameaçava se levantar da cadeira.
— Oras, é você quem não quer seguir as regras. É você o vadio, vagabundo, rebelde. Eu só estou seguindo meus padrões.
Um silêncio.
3L4 continuou:
— Veja, se ainda quiser me conquistar, vá até a parte da desculpa e faça igual lá está escrito.
O cara olhou torto para 3L4.
— É sério. Acredite em mim, eu gosto disso.
— De onde você tirou esse manual de “como usar”? — o cara não aguentou não perguntar. Pena que essa era a única coisa que 3L4 não sabia fazer. Pena também que ela carregava uma arma consigo. Agora resta apenas saber se em caso de dúvida ela deveria sumir consigo mesma ou com quem a fizesse entrar em colapso.
Apenas se ouviu o barulho de um único tiro.
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