VII. Neil
NEIL
Dias se passaram e Neil já estava mais do que acostumado a passar os dias com Andrew e Renee, quase se adequando à nova rotina. Ele perguntava a Wymack sobre Kevin e se mantinha atualizado da situação quando visitava ele e Abby enquanto trabalhava os detalhes de seu contrato com os Trojans. Ele e Kevin ainda não tinham cruzado caminhos desde o dia em que brigaram e Neil tinha que confessar que sentia falta do irmão, mas não o procuraria ainda. Ele não sabia se já tinha superado sua raiva o suficiente para que controlasse suas palavras.
Ao acordar ao lado de Andrew mais uma vez, com uma mão em sua cintura e o rosto escondido no pescoço dele, Neil se sentia bem. O que era estranho porque o toque físico nunca foi algo que ele entendia porque era tão importante para algumas pessoas, isso, porém, foi antes ele se aproximar de Andrew Minyard e sentir a necessidade constante de ter uma conexão com ele. Uma mão na cintura, cabeça no ombro, até a ponta dos dedos se tocando servia se fosse para manter Andrew próximo. Ele gostava disso, da intimidade de poder tocar em alguém sabendo que era bem-vindo.
— Muito cedo, coelho, muito cedo — Andrew reclamou com a voz rouca, como se tivesse sentido que Neil tinha acordado. Neil sorriu com o apelido que Andrew arrumou durante esse tempo que eles estavam se acostumando a viver juntos.
— Tá fora do meu controle, o meu primeiro treino com os Trojans começa agora cedo — Neil respondeu, deixando um beijo no pescoço dele como pedido de desculpas antes de se desvencilhar e sair da cama.
— Como você vai chegar lá?
— Hm? — Neil o olhou com curiosidade. — De Uber, ué.
— Eu te levo — Andrew se ofereceu, fazendo Neil arquear uma sobrancelha. — Caso tenha se esquecido, eu tenho um carro e ele não é de enfeite.
— Tudo bem, eu vou me arrumar — Neil falou com um sorriso.
Andrew não respondeu, mas Neil já estava acostumado com as respostas não verbais a essa altura do campeonato.
🐾
Andrew o levou até o centro de treinamento dos Trojans, chegando 20 minutos adiantados. Jeremy o esperava no estacionamento com um sorriso enorme, como sempre, porque aparentemente Jeremy Know não sabia o que era um dia ruim.
— Neil — Jeremy se aproximou do carro enquanto Neil saía. — Bom te ver na sua nova casa.
Jeremy parecia verdadeiramente feliz de ver Neil no centro de treinamento dos Trojans e Neil sorriu de canto enquanto Andrew também saía e dava a volta no carro, se apoiando na porta ao lado de Neil.
— Andrew, esse é o Jeremy, meu novo colega de time. Jeremy esse é o Andrew meu... — Neil não sabia exatamente como apresentá-lo. Professor de tiro não parecia exatamente adequado para situações sociais e amigo não parecia o suficiente. Neil olhou para Andrew, esperando que ele mesmo concluísse, mas Andrew não se deu ao trabalho, então Neil decidiu concluir como achasse melhor — meu.
— Seu? — Jeremy questionou com uma sobrancelha arqueada em divertimento. Neil assentiu. — Okay, então. E o seu Andrew vai ficar pra assistir ao treino?
Neil olhou para Andrew novamente e dessa vez ele considerou que essa era uma pergunta digna de uma resposta .
— Não, eu tenho um aluno marcado pra hoje de manhã, mas eu venho te buscar. — Neil sorriu e se prepara para seguir Jeremy até a quadra quando sente Andrew o segurando pelo pulso e puxando com pouca força, deixando um selinho em seus lábios e surpreendendo Neil com a atitude casual. — Se comporte Josten e me ligue se alguém aqui se tornar um problema.
Andrew lançou um olhar de aviso para Jeremy, que apenas ergueu as mãos em sinal de rendição, antes de entrar em seu carro e dar partida enquanto Jeremy conduzia Neil até a quadra. Neil sorriu, depois de tanto tempo, ele finalmente estava voltando para seu ambiente natural.
🐾
Neil e Kevin já estavam brigados há algumas semanas e por brigados entenda sem se verem e sem se falarem por todo esse tempo. Não era a primeira briga, longe disso, mas eles nunca ficaram tanto tempo afastados e Neil podia confessar para si mesmo que sentia falta do irmão, assim como sentia falta de ter toda a família junta. Neil sabia que a imagem de Kevin agonizando na quadra e a dor se mostrando em cada parte de seu rosto quando o dano foi feito ficaria em sua mente por muito, muito tempo, mas não tinha motivo para se manter longe do irmão, principalmente quando ele sabia que Kevin iria precisar dele.
Neil estava com o carro de Andrew emprestado e não tinha palavras para definir o que ele sentiu quando Andrew segurou seu pulso, virou sua mão de palma para cima e com um "traz de volta inteiro" colocou a chave da Maserati sobre ela, fazendo Neil olhar para ele e piscar sem reação por alguns minutos. A reação que seguiu o choque foi puxar Andrew para um dos beijos mais entusiasmados que os dois já trocaram e sair de casa antes que a coisa escalasse e Neil deixasse Kevin à própria sorte.
Quando Neil estacionou na frente de seu prédio, Kevin já esperava por alguém na calçada, mas esse alguém com certeza não era ele se a expressão de surpresa pudesse ser levada em consideração. Neil abaixou o vidro.
— Entra.
Neil esperava uma discussão, mas ela não veio, Kevin apenas entrou no carro silenciosamente e assim o caminho continuou até a clínica. Nenhum dos dois tentou fingir que as coisas estavam bem entre eles, não era assim que a relação deles funcionava. Kevin precisava dele e Neil ali estava. Era assim que a relação deles funcionava.
A recepção estava vazia quando os dois entraram e a recepcionista os cumprimentou com um sorriso antes de direcioná-los ao consultório onde o doutor já esperava por eles.
— Kevin. Neil — cumprimentou quando os dois entraram, fazendo uma careta de leve ao reparar no gesso e na tipóia que Kevin usava. — Bom, parece que vocês decidiram me dar algum trabalho depois de tanto tempo sem precisar de maiores cuidados médicos. Vamos ver no que eu estou me metendo.
Com isso, Neil e Kevin se sentaram e uma longa lista de perguntas e testes foram feitos.
🐾
A consulta demorou menos do que o esperado. O doutor examinou a mão de Kevin e pediu vários exames para chegar a um plano de ação que pudesse garantir a ele um boa recuperação e um retorno para as quadras o mais rápido possível. Neil e Kevin aproveitaram para já deixar todos os exames marcados.
Com tudo isso resolvido na medida do possível, os dois se encontravam no carro, Neil dirigindo e Kevin no banco do carona.
— Então, os Trojans? — Kevin perguntou em uma tentativa de quebrar o silêncio. — Como isso aconteceu?
— Depois do jogo que o Riko te acertou com a raquete e eu lavei a minha alma com um soco, o Jeremy veio me procurar.
— Foi por isso que ele levou a gente para o hospital?
— Foi. Enquanto você estava sendo atendido ele me fez a proposta. Disse que os patrocinadores já tinham concordado e que o treinador deles deu carta branca pra ele nos convencer a ir.
— Calma. Nós?
— Sim. Eu disse que a gente tinha um time.
— Por isso você bateu tanto na tecla pra eu quebrar o contrato — Kevin entendeu.
— Não, eu queria que você quebrasse o contrato porque o Riko ia acabar causando um dano irreversível se você continuasse naquele time sem apoio. Ter uma proposta pra você foi só a minha forma de garantir que nenhum de nós ficaria desamparado depois.
— Eu estraguei tudo, não foi? Os Trojans não vão manter uma proposta pra um atacante que acabou de se lesionar — Kevin lamentou, olhando impotente para a mão engessada.
— Não, eles vão sim. — Kevin desviou o olhar para o rosto de Neil tão rápido que Neil se perguntou como ele não deslocou o pescoço no processo. — Eu conversei com Jeremy sobre isso. Ele me levou pra conversar com a diretoria do time e eu expliquei a situação. Eles disseram que se sua mão não fosse um fim definitivo na sua carreira eles estavam dispostos a te puxar pra linha quando você se recuperasse.
Neil não podia tirar os olhos da estrada, mas ele tinha certeza que o olhar de Kevin devia estar brilhando com a notícia. Eles tinham acabado de sair da consulta que bateu o martelo que a carreira dele não estava nem perto de acabar. Kevin Day ainda seria, independentemente dos resultados dos exames, um atleta de alto rendimento, o doutor só precisava descobrir qual seria o método mais rápido de conduzir o tratamento.
Neil foi se aproximando do prédio em que eles moravam com o carro.
— Obrigado por ter vindo comigo — Kevin agradeceu, mordendo o canto do lábio inferior apreensivamente. — Então... você quer subir pra ver alguns dos jogos recentes?
Era um hábito deles assistir jogos juntos, pegar dicas, entender adversários que eles poderiam vir a enfrentar em algum momento. Era uma oferta de recomeçar depois de uma briga e Neil sabia que os dois queriam se entender depois de semanas separados.
— Quero, mas eu preciso ver com o Andrew se ele vai precisar do carro primeiro.
— Você pode fazer isso lá em cima.
Sem argumentar, Neil o seguiu até o apartamento e entrou, estranhando um pouco estar de volta ali depois de semanas vivendo com Andrew e Renee. Neil ficou tão confortável com eles que nem se sentiu invadindo o espaço de outra pessoa, não que algum deles desse a entender isso de qualquer forma.
🐾
Já passava de 23:00 da noite quando Neil chegou no apartamento de Andrew e o encontrou dormindo no sofá, encolhido contra o encosto com as pernas contra a barriga. Adorável era a melhor forma de descrevê-lo. Neil se agachou ao lado do sofá.
— Drew? — chamou, se aproximando e colocando a mão sobre o ombro dele. — Drew, vai pra cama. — Andrew se remexeu levemente, mas parecia estar se recusando a desistir de seu sono. — Andrew.
— Hm? Junkie? — Andrew murmurou com a voz ríspida pelo sono.
— Eu mesmo. — Reconhecendo a presença de Neil, ele simplesmente virou para o lado novamente para voltar a dormir. — Não, Drew. Você tem que ir pra cama.
Andrew então abriu um dos olhos apenas o suficiente para Neil ver um pouco da íris âmbar, mas não fez qualquer movimento para sair do sofá. Neil foi pego de surpresa quando Andrew apenas ergueu os braços e Neil levou alguns segundos para entender que ele queria ser carregado. Neil abriu um sorriso pequeno enquanto fazia o que Andrew pedia, passando um dos braços pelas pernas dele e o outro pela cintura, o erguendo e o levando até o quarto. Neil o deixou na cama e se preparou para sair do quarto e tomar banho, mas foi impedido pela mão de Andrew em seu pulso.
— Não. — A voz estava baixa, mas Andrew não precisava falar alto, a atenção de Neil estava tão focada nele que mesmo se ele sussurrasse ainda seria completamente audível.
— Eu preciso tomar banho — Neil respondeu, deixando um afago nos fios loiros com a mão que Andrew não segurava.
— Mas volta.
— Eu volto, Drew — concordou Neil, deixando um beijo na bochecha de Andrew, que soltou seu pulso, os olhos voltando a fechar os olhos.
Neil nunca tomou um banho tão rápido em sua vida, apressado para voltar para o homem que o esperava sonolento na cama.
NOTAS DA AUTORA
Acabou, mas não muito, ainda tem o epílogo vindo por aí em algum momento.
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