V. Neil/Andrew
NEIL
Jogos fora de casa sempre eram sinônimo de dor de cabeça para Neil, considerando que eles estariam expostos à radiação de Riko sem descanso. O clima sempre ficava pesado e o autocontrole de Neil tendia a falhar nessas situações, deixando tanto Neil quanto Kevin em um constante estado de alerta.
Quando Neil e Kevin encontraram Riko antes de entrar no ônibus do time que os deixaria no aeroporto, ambos tiveram a certeza de que ele estava planejando alguma coisa. A falta de provocações e do sorriso ladino, presente em seu rosto toda vez que um dos dois olhava para ele, deixavam mais do que claro que algo os esperava ao clarear do dia. Neil sabia que até o final daquela viagem alguma coisa aconteceria.
O voo não foi demorado, cerca de uma hora, e Neil aproveitou o tempo que tinha para descansar da aula que teve com Andrew na noite anterior. Quando chegaram, Neil tinha os olhos levemente inchados por ter acordado recentemente e o time foi para o hotel em uma van alugada para eles durante o tempo em que estivessem na cidade.
— Vou tomar banho — Kevin avisou depois que os dois se instalaram no quarto.
Neil aproveitou o tempo que Kevin estava no banheiro para avisar a Andrew e Wymack que haviam chegado em segurança, assim como separar a roupa que usaria, escolhendo um conjunto moletom cinza, considerando que os dois passariam o resto do dia no quarto.
Neil foi tomar banho depois que Kevin saiu. Quando acabou, o encontrou estudando esquemas táticos do time que enfrentariam no dia seguinte e se juntou a ele, os dois discutindo alguns pontos e algumas estratégias que eles achavam funcionariam melhor.
Após horas estudando, Neil tinha a sensação de que sabia os esquemas táticos dos Dragons de trás para frente sem grande dificuldade e seus olhos já pesavam pelo sono depois de horas a fio investidas em concentração sem perder o foco. Neil nunca entenderia como, quando se tratava de exy, a estamina de Kevin parecia que não ter fim, ele havia desistido de tentar acompanhá-lo há muito tempo.
— Pra mim já deu. Vê se não vai dormir muito tarde, você não vai valer de nada em quadra se não conseguir manter seus olhos abertos — Neil falou enquanto se espreguiçava, se levantando logo em seguida.
— Tá. Boa noite.
— Boa noite, Kev.
🐾
Ao acordar no dia seguinte, Neil saiu para correr, um hábito que ele adquiriu desde que se encontrou livre das correntes de seu pai. Correr o ajudava a clarear a mente e pelo menos tentar planejar para onde sua vida estava indo. Seu contrato com o Ravens estava perto de acabar e, se Neil tinha uma certeza, era de que não renovaria nem que tivesse uma arma apontada para sua cabeça e Neil teria certeza de convencer Kevin a sair com ele. Eles já tinham se tornado grandes demais para a mentalidade pequena daquele time.
Ao retornar, Kevin já tinha pedido o café dos dois e já tinha instruções do treinador para uma reunião e um reconhecimento de quadra marcados para dali a trinta minutos e Neil achou que seria melhor comer depois que já tivesse trocado de roupa.
Nenhuma das duas ações demorou mais que 10 minutos cada uma e alguns minutos depois, Neil e Kevin já estavam descendo para encontrar o treinador e seus colegas de time no hall do hotel.
— Ótimo, já que estão todos aqui, então podemos ir — disse Tetsuji, com Riko ao seu lado, o rosto refletindo puro tédio. Neil segurou o impulso de revirar os olhos, considerando que a perturbação provavelmente começaria em breve.
Com o técnico liderando o caminho, todo o time se dirigiu à mesma van que usaram no dia anterior e foram levados para o estádio local, começando a reunião depois que todos trocaram suas roupas casuais por uniformes. Neil estava prestando atenção no que o técnico dizia quando, quase como um sexto sentido, ele sentiu Kevin ficar tenso ao seu lado e respirou fundo, sabendo que a tentação de cometer um assassinato bateria em sua porta mais uma vez.
— Espero que saiba seu lugar no jogo de hoje, Day, não quero ter que brigar pelos holofotes com você mais uma vez. Temo que dessa vez não acabaria bem — Riko disse, parado ao lado de Kevin com os braços cruzados sobre o peito. Neil não disfarçou a encarada e o escárnio quando olhou para Riko. — Oh-oh, Josten, não faça isso. Não gosto desse olhar no seu rosto, faz parecer que eu não tenho pulso firme como capitão. Você não quer que eu precise te usar de exemplo, quer?
Riko sorria quase como se estivesse preocupado com Neil, mas tanto ele quanto Kevin sabiam que ele usaria qualquer desculpa que lhe fosse oferecida para acabar com a carreira de Neil no primeiro golpe e Neil tentou manter o temperamento sob controle, mesmo quando Riko se aproximou de Kevin e o analisou da cabeça aos pés. Neil sentiu seu sangue fervendo em suas veias, ardendo para que ele fizesse alguma coisa.
— Eu espero que esse seu rostinho bonito aguente firme no jogo de hoje, ninguém gostaria de vê-lo deformado — Riko se aproxima dos dois para sussurrar como se fosse um segredo compartilhado entre os três, segurando Neil pelo queixo. Neil o afastou, balançando a cabeça com violência.
— Não me toque, Riko. Eu não sou adestrado e eu sei morder — Neil falou com a voz ríspida, causando uma risada em Riko.
— Que bonitinho, ele acha que consegue me enfrentar — Riko devolveu a provocação com um falso olhar carinhoso. — Eu quero ver você tentar.
Neil sentiu o impulso antes que pudesse processá-lo, seu punho a poucos segundos de acertar o rosto de Riko, mas foi impedido por Kevin que segurou seu antebraço tão rápido que parecia que sua reação estava engatilhada. Riko se afastou com um sorriso debochado no rosto enquanto caminhava na direção de seu tio, que ainda falava, alheio à confusão que seu sobrinho criava, ou simplesmente a ignorando como sempre fez.
— Minha paciência tá por um fio, Kevin. E eu estou te avisando porque quando esse fio arrebentar a coisa vai ficar muito, muito feia — Neil falou entredentes para Kevin, as palavras contidas para que ninguém por perto escutasse, mas tão embebidas de raiva que Kevin sentiu-se arrepiar, pensando que talvez dessa vez seu irmão realmente acabasse preso.
O assunto morreu enquanto Tetsuji falava sobre a possível escalação de seus adversários e, pelo menos por um tempo, Neil deixou sua mente ser tomada por passes, defesas e ataques.
🐾
O jogo estava na metade e a adrenalina enchia o estádio com os gritos da torcida, Neil e Kevin estavam em sua melhor forma, pontuando quase sem parar enquanto Riko mal usava a raquete em suas mãos. Neil podia jurar que sentia o olhar dele queimando em sua nuca quase como se os olhos dele tivessem lasers. Sob o capacete, os lábios de Neil se torceram em um sorriso satisfeito. O sorriso durou pouco porque alguns minutos depois, Kevin estava jogado no chão por causa de uma colisão violenta. Neil sabia que o fio tinha estourado quando o sorriso vitorioso ficou visível para Neil pelas grades do capacete de Riko Moriyama.
ANDREW
Apesar de ter ignorado a mensagem que recebeu, Andrew sabia que não tinha como ignorar a chegada de Nicky e Aaron no apartamento que dividia com Renee. Tudo que restava era torcer para que a visita fosse curta o suficiente para evitar que Andrew fosse a causa da morte de outro membro da família. Os dois iriam dividir o quarto de Renee enquanto Renee estaria fora da cidade visitando sua mãe.
Neil, que era sem concorrência o aluno mais frequente de Andrew, estava fora da cidade, ou seja, Andrew não tinha onde passar mais tempo fora do apartamento. Nicky e Aaron chegariam na manhã do dia seguinte, eram oito horas da Alemanha para os Estados Unidos e os dois haviam embarcado há alguns minutos.
Andrew, Aaron e Nicky viveram juntos desde que os gêmeos tinham 12 anos e Andrew dera um jeito na mãe abusiva que não sabia ouvir avisos amigáveis. Andrew e Aaron foram levados para lares adotivos, juntos e separados, durante quatro anos até Luther decidir que queria pagar algum pecado e levar os dois para morar com ele. Andrew e Aaron viveram com os Hemmick até entrarem para a universidade e Andrew odiou cada minuto que passou sob o mesmo teto que os tios. Luther só saiu vivo dessa situação porque Andrew havia prometido a Nicky que a vida de seu pai não estava na ponta da faca. Se em algum momento Andrew se arrependeu de uma promessa mais do que se arrependeu dessa, ele não se lembrava porque Luther ganhou o desafeto de Andrew sem maiores esforços.
Aaron nunca o perdoou por ter dado um ponto final na vida de Tilda e, desde que Aaron e Nicky se mudaram para a Alemanha no intuito de fazer faculdade, Andrew mantinha apenas o contato necessário para saber que seu irmão e seu primo estão vivos e algumas visitas pontuais dos dois aos Estados Unidos. A presença de sua família por perto costumava deixar Andrew no limite de sua paciência que, sejamos realistas, já não é abundante.
Andrew, então, ligou a televisão e aproveitou o pouco tempo que teria sozinho, deixou em um canal que passava "De repente 30" e deixou que sua mente se afastasse de um certo ruivo e de sua família problemática.
🐾
Andrew tinha seus cabelos bagunçados e os olhos inchados quando abriu a porta para Aaron e Nicky, cada um segurando uma mala de mão. Nicky com um sorriso no rosto e Aaron parecendo ter sido arrastado para fora do avião na base da força. Nicky conhecia o primo o suficiente para saber que não teria um abraço retribuído, mas parecia animado de vê-lo depois de um ano e meio.
— Bom dia? — Nicky falou, com um sorriso quase zombeteiro. Andrew não respondeu, apenas deu passagem para que os dois entrassem no apartamento, não confiando em si mesmo para não cometer um assassinato antes de uma xícara generosa de café.
Andrew ligou a cafeteira e a deixou trabalhar enquanto Nicky e Aaron deixavam as malas na sala, seguindo até a cozinha depois. Nicky não tinha mudado desde a última vez que eles se viram, os mesmos cabelos levemente ondulados, os mesmo olhos vívidos e cheios de energia, e as mesmas tentativas de reconstruir uma relação que estava quebrada além de reparos.
— Renee viajou, né? Quando ela volta? — Nicky perguntou, curioso.
— Dois dias depois que vocês voltarem para a Alemanha — Andrew respondeu inexpressivo, enquanto observava as primeiras gotas de café caírem.
— Ah, que pena! Eu queria ver ela antes de voltar.
— Acho incrível que ela consiga morar com você, na minha vez não deu muito certo — Aaron provocou e Nicky lançou um olhar reprovador na direção dele. Aaron não ligou. Andrew olhou para o irmão por algum tempo, decidindo se valia a pena começar essa discussão quando eles não tinham passado nem 15 minutos no mesmo espaço. Andrew o encarou, olhos para os olhos da mesma cor âmbar que os dele, o cabelo loiro, o rosto. Tudo tão parecido com ele, mas tão diferente ao mesmo tempo.
— Renee sabe onde os limites estão e não ignora quando eu aviso a linha que não pode ser cruzada — Andrew retruca, finalmente se servindo com a primeira caneca de café do dia. — Eu não me arrependo do que eu fiz Aaron, e eu faria de novo. Com ou sem a sua aprovação. — A vontade de Nicky de bater a testa na mesa para ver se assim o clima pesado na cozinha se dissiparia estava estampada em toda a sua expressão. — Vocês sabem onde é o quarto. Se instalem.
Foi a última coisa que Andrew disse antes de retornar para o próprio quarto, esquecendo o breve desentendimento ao ver uma mensagem de Neil em seu celular largado na escrivaninha ao lado de sua cama.
"O jogo é amanhã de manhã. Assista se quiser e me veja chutar a bunda de alguns inúteis."
O sorriso ladino de Andrew estava em seu rosto antes que pudesse se policiar para fingir que não se importava.
ANDREW
Andrew tentou dizer para si mesmo que só iria assistir ao jogo porque não tinha nada melhor passando aquele horário, mas ele sabia que só estava mentindo para si mesmo com o objetivo de se fazer de cego sobre os sentimentos que ele sabia que existiam, mas que deliberadamente não faria nada a respeito.
Aaron e Nicky saíram do quarto de Renee pouco tempo depois, ambos se surpreenderam ao encontrar Andrew assistindo o pré-jogo de uma partida de Exy mais concentrado do que quando estava dando uma de suas aulas de tiros. Os dois se entreolharam, mas preferiram não tocar no assunto enquanto tomavam café da manhã. Depois que acabaram de comer, foram se sentar com Andrew no sofá e assistir com ele, considerando que tinham o dia livre e Andrew não parecia disposto a sair durante o tempo que durasse a partida. Nicky e Aaron não tinham planos muito melhores.
— O que te fez voltar a acompanhar Exy? — Nicky arriscou a pergunta mesmo achando que Andrew não iria responder.
— Eu não voltei a acompanhar Exy, esse jogo que vai ser interessante — Andrew respondeu, para a surpresa de Nicky, mas sem elaborar.
— Estranho, nem quando você jogava você parecia tão interessado — Aaron apontou, erguendo uma sobrancelha, curioso.
— Não sei como isso é da conta de vocês — Andrew retrucou, quase cantarolando, sem de fato olhar para nenhum deles.
— Já faz um tempo que você mostrou interesse por alguma coisa, você não pode nos culpar por estar curiosos — Nicky respondeu, dando de ombros.
— Curiosidade pode sair caro, você tem certeza que quer se arriscar a pagar o preço?
Nicky não teve tempo de responder antes dos times serem introduzidos e os jogadores começarem a ser anunciados. Andrew o calou com um olhar e passou a prestar ainda mais atenção à tela, quase sem perceber que a expectativa estava óbvia em sua linguagem corporal. Nicky e Aaron se entreolharam, mas nenhum deles ousou comentar alguma coisa.
"Vejam bem, Kevin Day e Neil Josten, a dupla de ouro da temporada atual. Poucos passaram por eles e menos ainda conseguiram parar seus ataques em conjunto. Parece que o reinado de Riko Moryama como principal jogador dos Ravens tem dias contados, se é que já não estão acabados."
O locutor soava pelos auto-falantes da televisão e Andrew não impediu a satisfação se espalhar por seu corpo ao ver Riko tentar disfarçar uma expressão de desgosto com a narração com um aceno para os torcedores. A mudança rápida de expressão talvez enganasse a maioria das pessoas, mas Andrew viu pessoalmente a forma que Riko olhava para Neil e Kevin, o ódio mal encoberto em seus olhos para quem soubesse procurar direito. Andrew, como uma pessoa que passou boa parte de sua vida convivendo com pessoas que o odiavam, sabia reconhecer esse tipo de sentimento melhor que a maioria das pessoas.
Andrew reconheceu também a expressão determinada de Neil e a concentração de Kevin quando ambos estavam em quadra lado a lado e conversando, sem parecer dar muita atenção para o que acontecia ao redor deles, mas Andrew sabia mais do que isso. Pelo o que conhecia de Neil ele já tinha percebido cada uma das olhadas que Riko lançava na direção deles e estava fingindo não se importar, provavelmente porque Kevin estava mantendo a guia curta, sabendo que Neil estava no limite de sua paciência.
— Alguma coisa tá muito estranha nesses Ravens. O clima parece tenso e não é por causa do jogo. — Nicky comentou enquanto observava, franzindo a testa com estranheza para a situação.
Andrew não confirmou nem negou, mas continuou assistindo conforme a câmera ia de um time e de um jogador para o outro, preparando a atmosfera para o jogo que teria início nos próximos minutos. Os times foram para suas posições e, apesar de sua apatia pela maioria das coisas que envolviam seu gêmeo, até Aaron ficou mais confortável em seu lugar no sofá para assistir ao jogo.
Pouco tempo depois, a bola estava sendo passada de uma raquete para a outra e a adrenalina comandava a quadra
ANDREW
Metade do jogo já tinha passado e apesar de estar jogando contra um de seus maiores rivais, os Ravens não mostravam sinais de cansaço ou de que desacelerariam o ritmo. Neil e Kevin estavam a todo vapor, atacando constantemente enquanto Riko parecia estar na quadra para assistir ao jogo de uma posição mais privilegiada. Ele recebia poucos passes e os poucos que recebia eram defendidos pelo goleiro, eventualmente, o time parou de passar e Riko parecia estar em quadra apenas para completar a quantidade de jogadores obrigatórios enquanto os demais massacravam o adversário. Andrew sentia a satisfação sob sua pele em cada grunhido frustrado seguido por uma comemoração fingida de Riko quando Neil, Kevin ou algum dos outros pontuava.
E então tudo aconteceu.
Foi tudo muito rápido, Andrew só percebeu porque ele estava constantemente acompanhando Neil, Kevin e Riko correndo pela quadra. Para qualquer pessoa pareceria um acidente, algo não intencional, mas não para Andrew. A fúria de Neil dizia o suficiente sobre o que tinha acontecido para ele acreditar que Kevin estar jogado no chão desacordado não era algo que Riko Moriyama tinha planejado.
Andrew sentiu um sorriso maldoso se espalhar para o seu rosto conforme ele assistia Neil finalmente chegar ao seu limite e ignorar toda e qualquer consequência quando avançou sobre Riko com um olhar de puro ódio em seu rosto.
NEIL
Neil não era uma pessoa violenta, mas ao ver Riko acertar Kevin com a raquete, Neil soube que tinha chegado ao seu limite quase como se suas motivações para fazer vista grossa e se manter sob controle evaporasse fisicamente de seu corpo. A última coisa que ele se lembrava foi de ver Kevin jogado no chão com sangue escorrendo de sua cabeça. Depois disso, sua raquete acertou a quadra quando ele a largou e atravessou a distância entre ele e Riko como se não fosse nada. Poucos sentimentos seriam tão satisfatórios quanto a sensação da mandíbula de Riko cedendo sob seu punho.
Isso foi tudo que Neil conseguiu fazer antes de sentir uma mão tremulante agarrando seu pulso. Kevin, depois de poucos segundos apagado, se esforçou o máximo que conseguiu para evitar que Neil cometesse um crime em rede nacional. O toque de Kevin foi tudo que Neil sentiu antes do inferno estourar ao redor dele.
Em poucos segundos, boa parte do time correu para impedir Neil de acertar Riko de novo, mas a única preocupação de Neil era tirar Kevin daquela bagunça. Kevin tinha um pouco de sangue escorrendo por seu rosto e o pandemônio dos jogadores, treinadores e a torcida tentando entender o que aconteceu não ajudava em nada a levar Kevin para a enfermaria mais próxima.
Neil estava a ponto de liberar espaço aos gritos quando os jogadores do Trojans perceberam o estado de Kevin e os rodearam, criando um espaço aberto no meio deles e escoltando Neil e Kevin até a saída pelo vestiário. O capitão do time, Jeremy Knox, deu as direções até a enfermaria e disse para Neil não se preocupar, ele cuidaria das coisas enquanto Kevin recebia tratamento. Pela primeira vez, Neil não se importava com como um jogo ia acabar, ele tinha preocupações maiores. Neil levou Kevin até a enfermaria com pressa, deixando tudo para trás sem pensar nas consequências. Tetsuji estaria furioso e ele tinha certeza que ali acabava sua carreira no Exy, Riko se certificaria de que isso acontecesse. Naquele momento, no entanto, Neil não podia se importar menos.
A enfermeira estava distraída, mas teve sua atenção atraída para a porta quando Neil e Kevin entraram sem tentar ser discretos. A mulher reagiu rápido ao ver as manchas de sangue no uniforme de Kevin.
— O que houve? — perguntou, sinalizando para que Neil deixasse Kevin sentado sobre a maca. Neil o fez com o máximo de delicadeza que conseguiu reunir.
— Ele foi acertado na cabeça por uma raquete.
— Que tipo de raquete? — a enfermeira indagou enquanto colocava luvas descartáveis e separar algumas gazes e frascos que Neil não sabia com detalhes para que serviam. Imaginou que seria para limpar qualquer que fosse a ferida que pudesse estar escondida pelo cabelo.
— Do tipo mais pesado.
— Certo. Acho que eu não preciso dizer isso, mas pancadas na cabeça são perigosas e imprevisíveis. Eu vou fazer o que eu posso, mas recomendo que procurem um hospital e que ele fique em observação por um tempo.
— Tudo bem. Obrigado.
— Só fazendo o meu trabalho. Por favor, espere lá fora.
— Me chame se precisar de alguma coisa. Eu vou entrar em contato com Wymack e Abby e deixar claro que você ainda tá vivo. — Neil falou com seu irmão, deixando um aperto na mão de Kevin.
Kevin apenas acenou em concordância e Neil saiu da pequena enfermaria para o corredor, onde, surpreendentemente, Jeremy Knox estava esperando por ele encostado na parede.
— Podemos conversar enquanto você espera?
Neil ficou tentado a responder não, mas ele sabia que estava em débito com ele por ter ajudado ele e Kevin a chegar até ali, então decidiu fazer um esforço.
— Podemos.
— Kevin?
— Um ferimento na cabeça, nós vamos pra um hospital depois daqui pra manter ele em observação — Neil respondeu sem precisar pensar. — O jogo?
— Foi suspenso. O treinador Moriyama se recusou a jogar enquanto essa situação não fosse resolvida, então as datas serão rearranjadas. — Neil quase riu de quão ridículo aquilo era. Porque Tetsuji Moriyama queria, o jogo seria remarcado. — Aquilo não foi um acidente, foi? — Jeremy perguntou em voz baixa. Neil estava surpreso que alguém em quadra tenha percebido.
— Não. Riko está procurando uma forma de me chutar do time sem dar muito na cara já tem um tempo, ele sabe que é mais fácil me acertar pelo Kevin, então foi isso que ele fez — Neil respondeu, dando de ombros sem realmente se importar se Jeremy soubesse ou não a verdade. Não ia fazer diferença.
Jeremy o encarou em silêncio por alguns segundos antes de reagir.
— Vocês tem carona para levar vocês ao hospital?
A pergunta pegou Neil de surpresa, ele esperava que Jeremy fosse conduzir um interrogatório no corredor.
— Não, nós viemos com o time.
— Eu levo vocês. As roupas estão no vestiário, certo?
— Sim.
— Eu vou pegar, você se concentra em tirar o Kevin daqui o quanto antes para evitar que os repórteres cheguem aqui primeiro.
— Riko ou o Mestre vão vir atrás de nós. Nenhum deles vai ficar feliz de saber que você nos ajudou — Neil avisou, não para ser ingrato, mas porque ele conhecia aquele time melhor do que ninguém.
— Não se preocupe com isso, eu tenho carta branca.
Neil não sabia o que Jeremy quis dizer com isso, mas não teve tempo de questionar, quando menos percebeu, Jeremy estava andando apressado pelos corredores.
🐾
Horas mais tarde
Kevin passaria a noite no hospital por precaução e Neil seria seu acompanhante. Neil estava sem seu celular, estava desligado depois de descarregar e seu carregador estava em sua bolsa no hotel, Jeremy havia arrumado um para ele usar e não precisar voltar ao hotel e enfrentar Riko, mas levaria um tempo até acumular um pouco de bateria. Ambos já haviam tomado banho e trocado de roupa e agora procuravam algo para assistir na tv disponível no quarto. Neil, sentado na poltrona ao lado da cama de Kevin, estava com o controle em mãos enquanto passava pelos canais.
— Ei, volta — Kevin pediu, parecendo ter encontrado algo que prendeu sua atenção. — Acho que estão falando sobre nós.
Neil obedeceu e aumentou um pouco o volume.
— Aparentemente, Neil Josten terá o contrato com os Ravens revogado depois de atacar seu colega de time, Riko Moriyama — disse o apresentador enquanto a imagem de Neil acertando Riko passava em loop no telão ao fundo. — A informação veio de dentro da própria equipe, uma fonte confiável me garantiu que...
— Engraçado, ninguém me avisou — Neil caçoou enquanto Kevin olhava para ele indignado. — O quê?
— O quê? "O quê?", você me pergunta. Neil, você não tem mais um contrato. Você não tem mais um time. — Neil não precisava ser um gênio para saber que Kevin está bravo. Muito bravo. — Riko finalmente conseguiu o que queria, ele te colocou pra fora.
— Quem disse?
— Quem disse o quê?
— Que eu não tenho um time, quem disse isso? — Neil perguntou, um sorriso presunçoso despontando de seus lábios. — Não se preocupe com isso, Kev, se preocupe com você porque, pela primeira vez em muito tempo, eu não vou estar lá pra segurar o rojão por você. Ou você aprende a se impor até conseguir sair daquele inferno, ou o Riko vai montar em você e te usar de mula. E não se preocupe, depois de anular o contrato com os Ravens, eu já tenho uma proposta me esperando. Eu quero te tirar de lá, mas eu não posso te obrigar. Faça com que eles rescindam o seu contrato também, ou quebre por conta própria, faça o que for necessário. Eu tenho um time que vai te aceitar.
Kevin deixou que a informação chegasse até ele, mas não reagiu. A raiva que estava sentindo e a necessidade de brigar com Neil por não ter pensado direito sumiram quando ele entendeu o que Neil estava dizendo: que ele tinha um futuro, que ele não tinha que ficar naquele lugar para sempre, que Riko não era mais a única opção, e sentiu-se sufocar com a intensidade de coisas que o inundaram ao mesmo tempo.
— Eu não posso sair, Neil. Riko vai me caçar até no inferno se eu tentar — Kevin confessou em um sussurro.
— Eu sei que ele acha que tem algum direito sobre você por ter sido ele a sugerir nossa contratação, mas ele não tem. Você não depende dele, Kevin, você já é um jogador melhor que ele e ele sabe disso. Até quando você vai deixar que ele manipule decisões que deveriam ser só suas? Riko não deveria ser empecilho nenhum para você sair, a gente já deveria ter saído daquele time há muito tempo e não deixar chegar às últimas consequências para tomar uma atitude — Neil falou com calma, sentado na poltrona ao lado da cama de Kevin. — Faça eles rescindirem o seu contrato, o Exy tá longe de acabar para nós dois.
Kevin não respondeu e Neil não pressionou, apenas se arrumou na poltrona até estar confortável o suficiente para dormir. Kevin dormiu poucos minutos depois, sobrecarregado demais para se manter acordado por mais tempo. Neil iria fazer o mesmo, mas seu sono evaporou com a chegada de duas mensagens em seu celular.
ANDREW
Andrew percebeu que estava para lá de ferrado quando se percebeu sorrindo depois de ver o soco que Neil acertou em Riko em 4K na televisão. Não que ele já não suspeitasse antes, se é que os flertes durante as aulas eram de algum indicativo, o jogo só confirmou que ele não tinha escapatória. Aaron e Nicky observavam enquanto ele enviava a mensagem para Neil, sem se atrever a perguntar sobre o que se tratava e Andrew ignorou os olhares curiosos que Nicky jogava em sua direção enquanto assistia o caos se instalar na quadra. Na tela, Neil se aproximou de Kevin e passou o braço dele por seus ombros, apoiando-o até que os dois desaparecessem nos vestiários com a ajuda dos jogadores do time adversário. Riko foi ajudado por um de seus colegas de time enquanto segurava a mandíbula, como se o soco de Neil fosse o suficiente para fazê-la desgrudar de seus ossos. E Andrew sorriu ainda mais satisfeito.
Quando desligou a TV, depois de ver os desdobramentos de toda a situação, Aaron e Nicky já haviam se retirado há algum tempo e Andrew também se recolheu depois de tomar um banho e vestir seu pijama. Nicky e Aaron ficariam nos EUA pela próxima semana e voltariam para a Alemanha, já que, segundo Nicky, eles ainda iriam visitar a família de seus respectivos parceiros.
O clima entre os três não era exatamente convidativo, haviam problemas demais entre eles para serem resolvidos em uma viagem curta e nenhum deles estava disposto a dar o primeiro passo, então eles apenas ignoravam o elefante na sala e deixavam tudo como estava quando Aaron e Nicky decidiram se mudar.
🐾
A despedida dos primos não foi calorosa, Nicky foi embora com um sorriso triste, talvez ainda lamentando a relação aparentemente irreparável entre eles, e Aaron saiu com nada mais que um aceno, como se ele estivesse indo para um apartamento no andar de baixo e não para outro continente. Andrew não se importou, havia passado há muito tempo da fase em que tentou se conectar com sua família, agora apenas Renee era o suficiente. Ele não precisava de uma família numerosa se a que ele tinha era para toda e qualquer situação. O pensamento de que Neil talvez estivesse se tornando um membro do seleto grupo que conquistou a confiança de Andrew foi prontamente ignorado por ele.
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