II. Neil
Quando Neil e Kevin decidiram ir embora, a noite já estava mais escura do que ambos esperavam enquanto estavam distraídos em seus respectivos novos hobbies. Neil se sentiu um pouco mal por fazer Wymack esperar tanto tempo, mas David não reclamou, apenas se levantou da padaria e encontrou os dois na entrada.
— Mais calmos? — Neil assentiu e Kevin sorriu levemente. — Ótimo, então vamos porque a Abby deve estar a poucos passos de vir nos buscar pelos cabelos.
— Ela sabe onde você trouxe a gente? — Kevin perguntou desconfiado enquanto os três se dirigiam até o carro.
— Não, ela não sabe e vocês não vão contar porque ela me mata se descobrir que eu encorajei o Neil a aprender a atirar. — Wymack lançou um olhar ameaçador na direção dos dois antes de entrar no lugar do motorista, com Kevin no banco do carona e Neil no banco de trás com uma conversa leve soando entre eles, quase como se o clima ruim de mais cedo que os levou até a MinyGym nunca tivesse existido.
Quando os três chegaram na casa que Wymack e Abby moravam, Abby os esperava na sala com um livro em seu colo e Wymack conduziu Kevin e Neil para dentro.
— Até que enfim chegaram, achei que tinham se perdido — Abby comentou, deixando o livro sobre o sofá, se aproximando dos três com um sorriso e deixando um beijo na bochecha de cada um. — Bom ver vocês, meninos.
— Bom te ver também Abby — Kevin disse, largando a bolsa ao lado da porta e Neil fez o mesmo.
— Eu vi que vocês venceram o jogo. Parabéns! Vocês estavam incríveis.
— Obrigado, Abby — Neil agradeceu, retribuindo o sorriso enorme de Abby com um menor, mas sincero. Neil nunca seria capaz de descrever em palavras quanto o apoio e os conselhos de Abby significavam para ele.
— Não por isso, querido. Vão tomar banho e ficar confortáveis enquanto eu e o David vamos terminar o jantar.
Os dois obedeceram sem que Abby precisasse falar duas vezes. Depois de um jogo e o estresse que veio depois e as novas experiências, ambos estavam cansados e necessitados de um banho,um momento livre de pressão com a família também seria muito bem-vindo.
Neil saiu do banho, vestindo uma blusa com o dobro de seu tamanho e uma calça moletom, ambas cinza e sem detalhes, e desceu as escadas secando os fios ruivos com a toalha e se sentindo muito mais relaxado e tranquilo enquanto ia encontrar com Abby e Wymack na cozinha para ajudar no jantar depois de pendurar a toalha para secar. Poucos minutos depois Kevin também aparece por lá, provavelmente tendo a mesma ideia, e a cozinha se enche de conversas casuais, risadas e sorrisos ladinos da parte de Neil.
Depois do jantar, Neil e Kevin se juntaram na sala para assistir um filme, decidindo ir dormir depois que acabou e se recolhendo cada um em seu quarto que Abby e Wymack mantiveram mesmo depois que os dois se mudaram para morar mais próximo do centro de treinamento.
Ao chegar em seu quarto, Neil percebeu uma mensagem esperando por ele em seu celular, que ficou carregando enquanto ele aproveitava seu tempo com sua família e sorriu ao perceber que, apesar do número desconhecido, ele conseguia reconhecer quem enviou apenas pela saudação.
🐾
Neil acordou sem precisar de despertador, acostumado demais aos horários dos treinos para continuar dormindo, e encontra Abby na cozinha sentada à mesa com uma xícara de café em uma mão e o celular na outra.
— Bom dia, Abby.
— Bom dia, querido — Abby respondeu com um sorriso carinhoso enquanto Neil servia uma caneca de café para ele mesmo. — Dormiu bem?
— Dormi. Como estão as coisas no hospital?
— Estão indo, na medida do possível, hospitais nunca param — Abby respondeu com uma risadinha. — Tá mais calmo? David comentou comigo ontem que você e o Kevin estavam meio estressados e que foi por isso que vocês se atrasaram.
— Ontem foi... complicado.
— As coisas estão ruins no time?
— Não "coisas" no plural, uma coisa só não tá funcionando, mas é uma coisa que eu e o Kev não podemos mudar sem nos comprometermos — Neil explicou a situação sem dar muitos detalhes.
— Hm, posso dar minha opinião?
Neil olhou para Abby, reparando como os fios loiros presos em um coque desajeitado caíam sobre a lente do óculos não parecia incomodá-la. Com os olhos cheios de carinho e preocupação estavam focados nele e como Neil sentia que nunca conseguiria deixar claro o suficiente como ele grato por aquilo.
— Não vai doer ouvir.
Neil se sentou na cadeira do lado oposto da mesa.
— Aguenta firme por agora, mas veja onde estão os seus limites. Não vale a pena continuar se estiver te fazendo mal. Só peço para você evitar a cadeia, algo me diz que a fiança seria cara.
Neil riu levemente, deixando a caneca sobre a mesa entre eles com um sorriso ainda se demorando em seu rosto..
— Tudo bem. Obrigado Abby. — Neil sorriu pequeno.
— Não por isso, querido. Eu tô aqui pra ajudar, se vocês precisarem. Meu número no celular de vocês não é só enfeite.
— Obrigado por isso também.
Abby apenas sorriu enquanto toma um gole de café. Poucos minutos depois Kevin e Wymack aparecem saindo das escadas.
— Bom dia! — Wymack cumprimentou, se sentando na cadeira depois de deixar um beijo na bochecha de Abby e um afago nos cabelos ruivos de Neil.
— Dia — Kevin resmungou quase contra vontade. Os fios negros bagunçados pela noite de sono, as roupas amassadas e o rosto amassado por ter acabado de acordar. Neil melhor do que ninguém sabia que Kevin só funcionava de manhã se estivesse motivado por Exy, em qualquer outro cenário, ele era uma péssima companhia matutina.
— Bom ver que você continua uma pessoa que ama acordar cedo Kevin — Abby comentoucom uma risada.
— É incrível como mesmo depois de anos acordando cedo por causa dos treinos certas coisas nunca mudam — Wymack concordou com um sorriso pequeno no rosto enquanto se servia de café. Neil se permitiu analisar o pai adotivo. A barba por fazer, as tatuagens espalhadas pelo antebraço, a aparência intimidadora que se perdia depois que se conhecia o homem prestativo e preocupado que ela encobria. Totalmente diferente de seu pai biológico. O que David Wymack tinha de bom, Nathan tinha de ruim e Neil carregava cada diferença em seu psicológico que levou anos para desconectar um homem de outro.
— Vocês só estão rindo porque não moram mais com ele. Agora eu aturo o mal humor dele sozinho. Qualquer dia desses vocês vão encontrar meu corpo naquele apartamento porque eu disse a coisa errada antes que ele estivesse acordado o suficiente pra lembrar que homicídio é crime.
— Há, há, há, como o Neil acordou piadista — Kevin ironizou enquanto se encostava na pia com uma caneca de café em mãos. Os fios negros e bagunçados caindo sobre os olhos. — Espero que já esteja pronto pra ir, hoje nós não temos treino, mas vamos dar uma faxina.
— Eu sei o que a gente combinou, Kev, não precisa ficar me lembrando. — Neil revirou os olhos.
— Olha só pra eles Abby, falando de coisas de adulto como se até ontem eu não estivesse descascando abacaxi deles na escola porque o Neil tem a língua maior que a boca e o Kevin não sabe controlar o ego maior que ele — Wymack provocou enquanto olhava de um filho para o outro.
— Eu não duvido que vá acontecer novamente, mas o que eu posso fazer? A linguagem do amor deles é ofensa.
Neil e Kevin nunca poderiam discordar disso.
— Pode nos levar em casa, pai? Estamos sem carro.
— Eu sei. Oficina, né? — Wymack perguntou para confirmar e Neil assentiu. — Eu levo vocês.
Assim, os três terminam de tomar café da manhã e saem depois de se despedirem de Abby.
🐾
Quando Wymack deixou Kevin e Neil no prédio em que eles moravam e se despediu com um aceno, Neil suspirou pensando na faxina que os esperava no dia de folga. Ele e Kevin estavam há algumas semanas tentando encontrar um dia para arrumar o apartamento. A situação não estava insustentável, já que Neil e Kevin nem passavam tanto tempo em casa para que o espaço se tornasse inabitável, mas isso também significava que, para além das tarefas básicas como lavar louça e varrer o chão, eles não tinham tempo para fazer o resto. Ou seja, o dia de folga seria dia de tirar pó, organizar e desapegar de coisas que não eram mais usadas. Os dois guardaram as bolsas em seus respectivos quartos e começaram a separar quem faria o que e os produtos que iriam usar. Enquanto isso, Neil pensou que seria um bom momento para perguntar.
— Você conheceu ou jogou contra algum Andrew Minyard na época da faculdade?
Kevin parou para pensar um pouco e levou alguns segundos para lembrar
— Ah, o goleiro?
— Isso.
Kevin remexia os produtos de um lado para o outro, procurando, Neil sabia, por aquele que mais gostava.
— A gente era de estados diferentes, então nunca nos enfrentamos, mas eu ouvi falar. Acho que eu vi ele jogar uma ou duas vezes. Ele era bom, mas parecia que não tinha motivação. Por quê?
— Ele é o meu instrutor de tiro.
— Ele só jogou na liga universitária, né? Bem na época que você tava na Inglaterra.
— Pois é, não tinha muito como a gente se esbarrar estando em continentes diferentes — concordou, dando de ombros. Mas Kevin o conhecia melhor do que quase qualquer pessoa no mundo, ele sabia ler as entrelinhas.
— Você parece interessado.
Kevin arqueou uma das sobrancelha.
— Ele é interessante.
— Boa sorte com isso, então. Pelo que eu ouvi ele não é exatamente fácil de lidar.
— Eu também não sou o que as pessoas definiriam como "fácil de lidar", mas a gente se virou bem até agora.
— Você tem um ponto — disse Kevin, acenando com a cabeça e pegando um desinfetante e indo para a sala com um rodo em mãos. — Vou começar a passar pano, vê se não enrola porque eu quero terminar cedo.
— Amo como você é otimista — Neil ironizou, pegando um pano e o lustra móveis, já que estava responsável pelas prateleiras de madeira.
🐾
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top