Caminhos Incertos; 0.5

A família Jackson estava reunida para o jantar, uma cena rara, já que os horários e as obrigações da rotina geralmente os mantinham afastados. O jantar estava simples, mas acolhedor: arroz, feijão, frango grelhado e salada. A atmosfera tinha um tom leve, embora houvesse um ar de tensão sutil no rosto de Willian.

Max, estava sentado ao lado da cadeira de Noah, observando-a com olhos atentos e um comportamento atento de cão treinado. Ele era um companheiro leal, sempre próximo nos momentos de incerteza.

── Então, filha, como foi sua consulta? ── perguntou Jasmine, com um tom suave, enquanto cortava um pedaço de frango para colocar no prato de Willian.

Noah hesitou, olhando para seu prato, evitando o olhar direto de sua mãe. Ela sentia os olhos de todos sobre ela, especialmente a expressão interrogativa de Jasmine, e isso fez com que uma onda de desconforto surgisse em seu peito.

── Foi... bem ── respondeu Noah, tentando soar casual, mas sua voz soou tímida.

Willian franziu o cenho, percebendo a mudança no tom de sua filha. Ele sabia que Noah não gostava de falar muito sobre suas consultas e estava acostumado com esse silêncio de reticências, mas seu olhar trazia uma repreensão silenciosa, como se estivesse alertando Jasmine para não pressionar demais.

── Se você quiser conversar sobre isso depois, estamos aqui ── disse Willian, tentando suavizar a situação sem fazer Noah se sentir ainda mais encurralada.

Noah respirou fundo e tentou mudar de assunto, observando Max sentado ao seu lado, parecendo sereno apesar do clima no ar. Seu olhar caiu sobre o cachorro, sentindo-se um pouco mais confortável.

── Mãe, você já fez parte de um dojo chamado Cobra Kai? ──murmurou.

Jasmine, que estava prestes a tomar um gole de água, parou no meio do movimento. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, e o copo em sua mão ficou suspenso no ar. O silêncio tomou conta da mesa, e até mesmo Willian, que parecia concentrado em cortar a carne, levantou os olhos para olhar para a esposa.

── O quê? ── Jasmine perguntou, sua voz tingida de surpresa, mas com um tom de curiosidade genuína.

Noah manteve os olhos fixos em Max, que continuava sentado ao lado dela, como se o cão fosse seu ponto de apoio naquele momento tenso. Ela sabia que a pergunta causaria uma reação, mas precisava entender.

── Você já fez parte de um dojo chamado Cobra Kai? ── repetiu Noah, com mais firmeza desta vez, levantando o olhar para encarar a mãe.

Jasmine piscou algumas vezes, como se tentasse processar a pergunta, e então colocou o copo de volta na mesa com um cuidado exagerado. Seus lábios se apertaram por um instante antes de se abrir em um pequeno suspiro.

── Quem falou sobre isso? ── perguntou ela, olhando diretamente para Noah, mas sem qualquer traço de repreensão.

── Um tal de Kreese ── respondeu Noah, hesitante, mas tentando soar confiante. ── Ele me viu no dojo e mencionou que te conhecia. Disse algo sobre determinação e... raiva.

O nome "Kreese" pareceu trazer uma sombra momentânea ao rosto de Jasmine, mas ela logo balançou a cabeça, afastando qualquer pensamento negativo.

── Então você esteve no dojo dele? ── perguntou Jasmine, sua voz mais suave agora, como se tentasse entender o contexto antes de reagir.

Noah assentiu lentamente.

── Só por curiosidade... Meu joelho ainda está se recuperando, então não posso treinar.

Jasmine se recostou na cadeira, parecendo refletir por um momento. Então, seu olhar se fixou em Noah, cheio de algo que parecia uma mistura de compreensão e proteção.

── Eu conheço Kreese, e conheço o Cobra Kai ── começou ela, sua voz firme mas carinhosa. ── É verdade, eu fiz parte desse dojo há muito tempo, antes mesmo de você nascer. Foi uma época complicada para mim, mas também me ensinou algumas coisas importantes.

── Coisas boas? ── perguntou Noah, surpresa pela resposta mais aberta da mãe.

Jasmine sorriu levemente.

── Algumas, sim. Mas muitas outras... não foram. O Cobra Kai tem um jeito de ensinar que pode ser perigoso se você não souber exatamente quem você é e onde quer chegar. ── Ela fez uma pausa, olhando para Noah com seriedade. ── Mas se você está curiosa sobre isso, podemos conversar. Não quero que você sinta que precisa esconder algo de mim, ok?

Noah ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras da mãe. Sentiu-se um pouco aliviada, mas também mais curiosa do que nunca.

── Obrigada, mãe ── disse ela, sinceramente.

── Claro, querida. ── Jasmine colocou a mão sobre a de Noah, apertando-a gentilmente. ── Só quero que você tome cuidado, está bem?

Willian observou a interação em silêncio, com um pequeno sorriso de aprovação, e Max deitou-se ao lado da cadeira de Noah, como se sentisse que a tensão havia diminuído.

Depois que Noah subiu para o quarto, Max a seguiu prontamente, deixando Jasmine e Willian sozinhos na sala de jantar. O silêncio entre eles era denso, preenchido apenas pelo som dos talheres sendo recolhidos. Willian, com o rosto sério, se levantou e começou a ajudar Jasmine a organizar a mesa.

── Você realmente vai deixar ela entrar no dojo que te traumatizou? ── perguntou ele, quebrando o silêncio, sua voz baixa, mas cheia de preocupação.

Jasmine pausou por um momento, segurando um prato na mão. Ela respirou fundo antes de responder, seu olhar fixo na mesa.

── Eu não quero que ela entre nesse mundo, Willian ── disse Jasmine, com um tom calmo, mas firme. ── Mas também não posso controlá-la. Ela já é uma jovem adulta, e quanto mais eu tentar impedir, mais ela vai querer saber.

Willian colocou os talheres no balcão da cozinha e se voltou para a esposa, cruzando os braços.

── Então você vai deixá-la aprender com Kreese? Aquele homem... ele não mudou, Jasmine. Você sabe disso.

Jasmine encontrou os olhos de Willian, e havia algo intenso em sua expressão, um misto de determinação e preocupação.

── Eu sei quem ele é. Sei do que ele é capaz. Mas, por isso mesmo, eu preciso estar ao lado dela. Preciso guiá-la antes que ela se perca nisso.

Willian balançou a cabeça, passando a mão pelos cabelos curtos.

── E se ele tentar manipulá-la, como fez com você?

Jasmine caminhou até o marido, colocando uma das mãos no ombro dele.

── Eu não sou mais a mesma pessoa que ele conheceu, Willian. E Noah também não é como eu era naquela época. Ela tem uma força que eu nunca tive.

Willian suspirou, mas não parecia convencido.

── Só quero que ela esteja segura. Não quero vê-la passar pelo que você passou.

── Eu também não ── disse Jasmine, com a voz baixa, mas cheia de convicção. ── E é por isso que vou fazer tudo o que puder para protegê-la.

Por um momento, os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando. Era evidente que ambos queriam o melhor para Noah, mas a sombra do Cobra Kai pairava sobre suas preocupações.

── Vamos lidar com isso juntos ── disse Jasmine, finalmente. ── Mas precisamos confiar nela, Willian.

Willian assentiu lentamente, embora sua preocupação ainda fosse evidente.

── Tudo bem. Mas eu vou ficar de olho nesse Kreese.

Jasmine esboçou um pequeno sorriso, agradecida por saber que tinha o apoio do marido, mesmo em meio às incertezas.

Noah sorriu ao ver Eli e Demetri conversando com duas garotas no canto do pátio. Eli estava com seu típico ar confiante, enquanto Demetri parecia um pouco mais nervoso, gesticulando demais enquanto falava.

── Oi, meninos! ── cumprimentou Noah, se aproximando com um sorriso.

Eli virou a cabeça ao ouvir a voz dela, exibindo seu cabelo recém-pintado de roxo brilhante.

── Roxo? Ficou legal! ── disse Noah, inclinando a cabeça para observar o novo visual dele mais de perto.

Eli abriu um sorriso como se estivesse orgulhoso.

── Achei que estava na hora de mudar, sabe? Um toque de "fabuloso" nunca faz mal a ninguém.

── Concordo. Ficou estiloso ── respondeu Noah, genuína, antes de olhar para Demetri, que parecia aliviado por não ser o centro das atenções. ── E você, Demetri? Quando vai radicalizar no visual?

Demetri soltou uma risada nervosa.

── Ah, eu vou deixar essas transformações ousadas para o Eli. Meu cabelo já é uma obra-prima natural... ou algo assim.

Noah sorriu educadamente para as duas garotas enquanto elas se apresentavam.

── Eu sou Yasmine, e essa é a Moon ── disse a garota com ar confiante, lançando um olhar rápido para Noah. ── E você seria...?

Noah estendeu a mão, mantendo o sorriso.

── Noah Jackson. Prazer em conhecê-las.

Moon, que parecia mais descontraída, sorriu de volta.

── Noah? Que nome legal! Você é nova por aqui?

── Mais ou menos. Me mudei faz pouco tempo, mas ainda estou me adaptando a tudo ── respondeu Noah, jogando o peso do corpo de um pé para o outro.

Yasmine cruzou os braços, avaliando Noah com um olhar mais crítico, mas não abertamente hostil.

── Interessante... E você já conhece os meninos há muito tempo?

── Na verdade, acabei de começar a conhecer melhor eles ── disse Noah, olhando para Eli e Demetri com um ar divertido. ── Eles têm sido bem legais comigo, então acho que estou no caminho certo.

Moon deu um pequeno riso e lançou um olhar para Eli.

── Bom, se você está andando com o Eli, vai precisar de óculos escuros... por causa do cabelo, sabe?

Eli fingiu indignação, segurando o peito dramaticamente.

── Vocês são tão invejosas. Admirem e aprendam, é tudo que tenho a dizer.

Noah riu, sentindo-se mais à vontade com o grupo.

── Bem, vou deixar vocês continuarem a conversa. Só queria dar um alô.

Demetri fez um gesto exagerado de despedida.

── Não suma, Noah. Precisamos do seu bom senso para equilibrar isso aqui.

── Pode deixar. Nos vemos por aí.

Ela se afastou, ainda sorrindo, satisfeita por estar começando a se enturmar, mesmo que o grupo fosse tão peculiar quanto parecia.

Noah estacionou o carro em frente ao dojo, o motor ainda ronronando suavemente antes de ser desligado. Ela pousou as mãos no volante por um momento, respirando fundo enquanto olhava para a fachada do lugar. As palavras de Kreese na última visita ainda ecoavam em sua mente, misturadas com as memórias conflitantes da conversa com sua mãe.

— Você consegue, Noah — murmurou para si mesma, tentando acalmar o coração que parecia bater mais rápido do que o normal.

Abrindo a porta do carro, ela desceu, sentindo o vento leve tocar seu rosto. Vestia um moletom e calças de treino, a roupa prática ajudando a mascarar a sensação de vulnerabilidade que carregava. Cada passo em direção ao dojo parecia mais pesado, como se o chão de concreto quisesse prendê-la no lugar.

Noah parou por um segundo antes de empurrar a porta de vidro. Assim que entrou viu Kreese do outro lado do dojo, com os braços cruzados enquanto observava os alunos treinando. A postura dele era firme, imponente, e parecia estar atento a cada movimento dos praticantes.

— Oi — disse Noah, sua voz firme apesar do leve nervosismo que sentia.

Kreese virou a cabeça em direção a ela, seus olhos avaliando a garota por um momento antes de um pequeno sorriso se formar em seus lábios. Ele deu alguns passos na direção dela, a postura relaxando levemente.

— Você voltou — comentou ele, com uma mistura de surpresa e satisfação na voz.

— Parece que sim — respondeu Noah, tentando soar mais confiante do que realmente se sentia.

— Está pronta para aprender? Ou ainda está decidindo se o karatê é para você? — Kreese perguntou, com aquele tom desafiador típico dele, que parecia cutucar as inseguranças e ao mesmo tempo despertar algo dentro dela.

Noah respirou fundo, sentindo o olhar penetrante dele.

— Estou aqui, não estou? — respondeu ela, firme, encontrando os olhos do sensei.

Kreese deu uma risada baixa, parecendo apreciar a resposta.

— Bom. Então vamos ver do que você é feita, garota.

Kreese se virou para os alunos que estavam no tatame e seus olhos pousaram em Tory.

— Nichols, quero que lute com a Jackson — disse ele com o tom firme e autoritário que sempre usava para dar ordens.

Tory deu um passo à frente, erguendo o queixo, enquanto lançava um olhar avaliador para Noah. Ela parecia confiante, quase desafiadora.

Noah, por sua vez, não demonstrou hesitação. Ela rapidamente tirou os tênis e o moletom, dobrando a peça de roupa e deixando-a ao lado. Apesar do nervosismo que sentia, seu rosto estava determinado. Ao pisar no tatame, ela respirou fundo, tentando se lembrar das instruções básicas que tinha visto.

Kreese cruzou os braços, observando as duas.

Tory assumiu a posição de luta, um leve sorriso no rosto, como se já estivesse certa do resultado.

— Vamos lá, novata. Mostre o que sabe — provocou ela, ajustando sua postura.

Noah se posicionou, sentindo o olhar de todos ao redor. Suas mãos estavam firmes, e sua mente estava dividida entre a excitação e o medo.

O som do comando de Kreese ecoou pelo dojo:

— Comecem!

Tory não perdeu tempo e avançou novamente, dessa vez com um chute médio que Noah tentou bloquear com os braços cruzados. O impacto a fez recuar alguns passos, mas ela conseguiu manter o equilíbrio.

Kreese observava atentamente, avaliando cada movimento das duas.

Tory avançou com um chute médio, mirando o torso de Noah, mas desta vez Noah estava mais atenta. Ela se inclinou para o lado, desviando do golpe, e, ao mesmo tempo, percebeu uma abertura.

Com um movimento rápido e instintivo, Noah girou o corpo e lançou uma rasteira direcionada às pernas de Tory. Surpresa com o movimento, Tory perdeu o equilíbrio e caiu de costas no tatame com um baque surdo.

Houve um breve momento de silêncio no dojo enquanto todos os olhares se voltavam para as duas. Kreese arqueou uma sobrancelha, visivelmente surpreso, mas seu olhar carregava um toque de aprovação.

Tory, por sua vez, ergueu a cabeça e encarou Noah com um sorriso desafiador, claramente impressionada.

— Nada mal, novata — disse Tory, aceitando a mão que Noah ofereceu para ajudá-la a levantar.

Kreese deu um passo à frente, interrompendo o clima tenso.

— Bem jogado, Jackson. Você tem algo. Mas não se deixe levar. Habilidade é apenas o começo.

Noah engoliu em seco, sentindo o peso das palavras, mas também uma pequena onda de orgulho por seu movimento improvisado. Ela ajustou sua postura e deu um pequeno aceno, sentindo que, pela primeira vez, estava começando a se conectar com aquele mundo.

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