Setembro de 2009


-Kento à sua direita! – gritei vendo a maldição aparecer ao lado dele. A missão era eliminar algumas maldições num distrito comercial abandonado. Não eram fortes, mas existiam ali em quantidade.

O loiro reagiu assim que eu o avisei, partindo a maldição que se lançou em sua direção em dois e depois de girar a espada para se livrar do sangue andou até mim – Pode fazer a sua coisa.

Revirei os olhos e juntei as mãos na frente do meu corpo – Minha "coisa" vai evitar de nós – apontei para ele e depois para mim - Ficarmos uma eternidade matando essas pequenas maldições.

Com o tempo passando e Akira forçando cada vez mais minhas técnicas, algumas delas evoluíram. Considerando também a influência que a energia de Satoru tinha sobre a minha, a propriedade das minhas linhas em si podiam ser alteradas.

Agora não necessariamente precisava cortar o físico para usar minhas linhas de Aisa, apenas num nível amaldiçoado já era o suficiente.

Nanami deu de ombros enquanto eu deixava que a energia fluísse, centenas de linhas se projetando no terreno que já havia sido mapeado. Girei meus pulsos antes de as puxar fazendo um pente fino no terreno, nenhuma maldição escaparia.

As linhas que normalmente eram brancas emitiam um brilho azulado de leve, e em poucos segundos havia acabado. Aisa se juntou no centro do terreno e sumiu em seguida levando a cortina junto.

-Foram vinte e três – comentei as maldições que encontraram seu fim pela minha técnica - E você?

-Vinte e sete – respondeu fazendo com que eu franzisse a testa – Parece que a próxima visita no café você paga.

-Mas eu te avisei de uma – reclamei.

-Mesmo assim seriam vinte e seis – ele arrumou o óculos no rosto – Você ainda perde.

Passei a mão no pescoço segurando os fios de cabelo na minha nuca e os puxando logo – Certo, aceito a minha derrota. – respondi o e acompanhei de volta para o carro. O assistente da vez pegando um breve relatório.

Não estávamos tão longe de Tóquio dessa vez, então em pouco menos de uma hora já nos víamos andando pelas conhecidas ruas ao redor da escola e mantendo a nossa tradição fomos ao café que tinha por ali a fim de eu pagar a minha aposta. Julgando pelo horário poderíamos até chamar de almoço.

A mesma mesa, no mesmo lugar de sempre, mas com uma pessoa faltando mesmo depois de quase um ano nenhum de nós ousava se sentar no lugar que antes era ocupado por Haibara.

Era uma acordo silencioso entre nós, de que não deixássemos a memória do nosso colega ser esquecida ou tomada de nós.

Mais um ano tinha se passado, tão rápido quanto os outros, olhando para o lado de fora do estabelecimento algumas memórias dos meses esquecidos surgindo como lembranças. O conselho não parecia mais querer interferir na minha relação com Satoru, já que eles surpreendentemente pareceram perceber que não adiantaria absolutamente nada.

Em compensação cada vez mais ele saia para missões sozinho, deixando Shoko e Getou para trás. Mas nos víamos com frequência, bem mais do que quando os velhos nas cadeiras mais altas estavam atrapalhando.

Akira ainda era professor, agora assumindo a nova turma de primeiro anistas, o homem era tudo que você não esperaria de um educador. Mal explicava, passava as próprias missões para os alunos fazer e era um exímio preguiçoso, contudo mesmo assim ele era um tanto quanto respeitado. E os alunos gostavam dele então Yaga-san deixava passar, na maioria das vezes.

-Sobre os seus exames – Nanami comentou me puxando de volta para a realidade.

-Semana que vem – respondi deixando minha cabeça tombar para trás – Não estou muito animada para ser sincera.

-Você quer morrer?

-Não – resmunguei fazendo uma careta pela sinceridade desmedida dele – Não estou falando que não vou só que eu não gosto.

-Seu coração é fraco precisa cuidar dele por métodos convencionais, seria uma perca e tanto para a escola se você morresse. – e continuou – Considerando seu contrato e tudo mais.

-E eu achando que você se preocupa porque é meu amigo – levantei a cabeça – Você só não quer ter que trabalhar mais não é?

Kento riu de leve mas não me respondeu, continuando a responder às minhas perguntas com sinceridade demais. Mas agradeceu educadamente pela refeição.

-Vai voltar para o dormitório? – perguntei pulando os degraus de pedra da escola. Recebendo um aceno.

-Me pediram alguns relatórios, vou preencher isso – Nanami respondeu – Você deveria fazer o mesmo.

Balancei a cabeça – Depois eu faço, Akira conseguiu algumas coisas sobre a venda do meu primo, vou revisar as informações.

-Como se você já não soubesse – ele resmungou.

Tomamos caminhos separados e em pouco tempo eu estava numa das salas de estudo revisando a pasta de informações. Era uma pena que não tivéssemos conseguido uma foto, acho que teria que usar o meu instinto.

-Não acredito que está vendo isso de novo – a porta se abriu de repente. Satoru entrou e se sentou na cadeira do meu lado – Vou acabar ficando com ciúmes.

-E deveria – rebati sem desviar o olhar da folha – Tenho certeza que ele é dez vezes mais fofo que você, e menos chato.

Ele arrastou a cadeira até que grudasse na minha e começou a subir a mão pela minha perna – Pelo que eu me lembre chato, não foi uma das coisas que você me disse ontem. E tenho certeza que já me chamou de fofo alguma vez.

-Não, você deve estar delirando – virei o meu rosto para ver que ele me encarava por cima dos óculos – Suba essa mão mais um pouco e você só vai ter duas opções.

-Quais? – sussurrou quase encostando a boca com a minha

-Colar seu braço de volta com a técnica de reversão e correr o risco dele ficar torto ou quase sangrar até a morte procurando Shoko e pedindo pra ela colocar seu braço de volta no lugar. – respondi e ri vendo que ele tirou a mão da minha perna – Bom menino.

Ele me deu um selinho demorado antes de se jogar na cadeira relaxadamente.

-Vou ganhar alguma recompensa depois? – disse enrolando meu cabelo entre os dedos.

Batidas na porta nos interromperam e Yaga-san apareceu. Ele pigarrou e disse – Satoru, podemos conversar?

-Yaga-san! – meu namorado disse – Não sei o que aconteceu mas não fui eu.

O rosto do diretor parecia sério, com um semblante triste e diria até que decepcionado – É melhor você ir.

Satoru me questionou com o olhar mas não disse mais nada, apenas seguiu o mais velho para o lado de fora. Era a primeira vez que eu via Yaga-san naquele estado, me perguntei que tipo de coisa envolvendo Gojo teria acontecido.

Não tive tempo de o questionar, apenas senti a onda de raiva e desprezo avassaladora que ultrapassou até mesmo as barreiras que eu deixava na linha da promessa. Quando saí da sala encontrei apenas um diretor encostado contra a parede completamente desolado.

-Yaga-san – o chamei – Porque não se senta um pouco?

O mais velho olhou para mim e aceitou o meu convite. Ficamos em silêncio por um tempo até que ele resolveu compartilhar comigo a situação; Getou aparentemente tinha assassinado 112 moradores numa vila que ele tinha visitado.

Disseram que eram vítimas do espírito amaldiçoado que ele foi exorcizar, mas na verdade Getou foi o próprio carrasco e agora estava com uma ordem de execução sob a cabeça perante o artigo 9 do regulamento de jujutsu.

-Não sei o que Satoru pode fazer [Nome] – disse por fim.

-Eu também não, para ser sincera – lógico que o garoto tinha seus momentos mas eu nunca tinha visto, ou sentido, uma emoção tão intensa assim.

Getou era seu melhor amigo, sabia disso. Mesmo que não fossemos tão próximos, eu o respeitava e o admirava também era uma pessoa que sempre arrancava altos elogios de Haibara.

-Eu vou ficar de olho nele – comentei – Não se culpe Yaga-san, você pode ensinar as pessoas mas no fim do dia o que elas fazem ainda vai cair sobre a sua própria consciência.

O mais velho passou as mãos no rosto e se manteve em silêncio, e com um alto suspiro se despediu falando que tinha muito o que resolver ainda. Também não estava nas minhas melhores condições, então voltei para o meu quarto, guardei os documentos e monitorei os sentimentos de Satoru.

Raiva foi predominante por um longo tempo, mas depois de um pico ficou apenas a sensação de tristeza e insuficiência. Precisava encontrá-lo, Satoru esteve lá por mim tantas vezes que agora era a minha vez de retribuir.

Dei um passo e acelerei Crono, na minha frente Gojo estava sentado nas escadas parecendo completamente derrotado. Não disse nada, apenas desci os degraus e sentei ao seu lado em silêncio tomando a sua mão e entrelaçando nossos dedos.

Ele havia encontrado Getou a tarde e o confrontado em relação a suas últimas ações, e quando teve a chance apenas recuou.

Passos mais pesados chegaram aos meus ouvidos.

-Por que não o perseguiu? – o diretor perguntou.

-Você realmente está me pedindo isso?

Yaga-san manteve o olhar no horizonte – Esqueça, desculpe por ter perguntado.

-Sensei – Satoru começou falando – Eu sou forte não sou?

-Sim – o diretor respondeu – E cheio de si mesmo também.

Mas aparentemente não é o suficiente eu ser forte. - Gojo apertou a minha mão – Só consigo salvar aqueles dispostos a serem salvos por outros.

Naquele fim de tarde e noite, Satoru se manteve quieto. Provavelmente tentando distinguir seus próprios sentimentos, achei que ele tinha ido embora quando nos separamos do lado de fora do dormitório. Mas quando voltei para meu quarto ele estava encolhido contra a parede.

Já não estava com as roupas da escola, mas sim com suas vestes normais. Ele deveria ter ido para a casa e voltado.

-Não queria ficar sozinho – ele disse se virando para ficar de frente pra mim

-Eu sei – passei os dedos de leve pelo seu rosto num carinho.

Ele fechou os olhos apenas se deixando levar pelo sono e cansaço. Passei meus dedos pelos seus cabelos, mesmo que ele estivesse sonolento sabia que sua mente ainda estava funcionando com total capacidade então tomei a liberdade de usar Chrono para pelo menos poder dar uma boa noite de sono a ele.

Espaço-tempo voltando a se equilibrar na balança que era o destino. Culpei nossos ancestrais por muito tempo, mas vivendo hoje o que eles provavelmente já sabiam era apenas certo, não importava o que viesse a acontecer. Se tínhamos uma certeza é que nunca estaríamos sozinhos, nem em vida e nem no universo.

Era após era, uma pequena promessa, uma sýndesis que nos conectava sob os níveis mais profundos da alma.

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