Prince Phillip


De alguma forma posso traçar um paralelo entre minha situação, com a um preso tendo seu banho de sol da semana. Depois de passar tanto tempo dentro do hospital, fiquei com a sensação de que esqueci como o mundo do lado de fora é.

Tinha um pequeno jardim destinado aos pacientes e acompanhantes, o caminho plano facilita em relação as muletas que ainda me servem de apoio. Os meses que fiquei parada fez algum dano na musculatura, teria que tomar algumas sessões de fisioterapia até que conseguir me mover normalmente.

-Obrigada por virem me visitar – falei – Achei que nunca mais iam querer olhar no meu rosto depois de tudo que aconteceu.

-Não foi sua culpa – Haibara comentou – A escola estava envolvida, Akio-san disse na época que era segredo, não é como se você pudesse fazer alguma coisa.

Os dois garotos estavam sentados no banco de cimento enquanto eu andava na frente deles sem ter coragem de os encarar nos olhos.

-Não mereço sua amizade Yu, ou a sua Nanami.

-Auto piedade não combina com você – o loiro respondeu e eu tombei a cabeça pro lado rindo de leve, claro que ele tinha uma resposta na ponta da língua – Se é sobre o fato de você ter me desmaiado, estava me protegendo de certa forma.

-E você passou três meses desacordada pra compensar.

Finalmente levantei os olhos para eles – Obrigada, por ficarem por perto. – me aproximei do banco e eles abriram um espaço para que pudesse sentar no meio, a conversa a partir desse ponto ficou mais tranquila. Eles comentaram sobre os casos que pegaram e casualidades da rotina que compartilhamos antes de tudo acontecer.

-Quando eu sair daqui vocês vão precisar me levar nesse novo café perto da escola, preciso verificar se o que Yu está falando é verdade. Não acredito que seja melhor do que o nosso antigo ponto de encontro.

-E não é – Nanami disse.

-Você é muito metódico, Nanami, claro que não ia gostar. Foge da sua rotina – Haibara se inclinou para frente a fim de confrontar o amigo.

Como eu senti falta dessas pequenas discussões.

-É bom te ver fora da gaiola – Akira vinha andando na nossa direção com uma pasta na mão e passos arrastados.

-Akira-kun boa tarde! – Haibara o cumprimentou recebendo um aceno de mão em resposta, o homem andou até parar em nossa frente.

-Parecem ter um bom momento, atrapalho? – perguntou logo recebendo uma resposta, ainda animada, do meu amigo que parecia imune ao seu humor sarcástico.

-Não, apenas viemos visitar tivemos um dia de folga e sairemos para missão amanhã.

-Bom pra você – Akira respondeu, ele não é o melhor em manter conversas com outras pessoas.

-Você não está aqui para uma visita não é mesmo? – Nanami perguntou, e se levantou em seguida vendo que o mais velho balançou a pasta que carregava no ar. – Já ficamos o suficiente mesmo, é melhor irmos Haibara.

-Ah sim, claro. – Yu se levantou também – Se você não tiver saído do hospital quando voltarmos, vamos vir te visitar de novo.

-Por mais que eu adore conversar com vocês, espero que nosso encontro seja em outro lugar da próxima. – depois de um breve aceno ambos se afastaram na direção da saída me deixando na companhia do meu novo amigo Akira, o qual não estava com a melhor das expressões no rosto.

-Parece que teve um dia ruim – comentei logo após ver ele se jogar no banco do meu lado, batendo com a pasta na minha perna.

-Nem me diga – respondeu – Encontrou com Satoru hoje?

Estranhei a pergunta repentina e me virei para que pudesse encarar seus olhos – Não, ainda não, deveria?

Ele tombou um pouco a cabeça parecendo estar num monólogo bem interessante dentro da própria cabeça, um que talvez ele não quisesse compartilhar. Abri a pasta que havia me entregue apenas para encontrar uma série de documentos.

-São as partes do contrato – disse – como você conseguiu?

-Enquanto você tinha seu sono da beleza eu e o garoto Gojo andamos fazendo algumas viagens – Akira se ajeitou do meu lado – E sim a maioria das coisas que você me contou sobre sua conversa no plano espiritual com sua versão beta bate, com exceção disso aqui.

O homem estendeu a mão e puxou da parte de trás uma segunda foto, era o contrato, dava pra ver pelo padrão contínuo dos escritos mas parecia ter algo diferente.

-Essa parte de baixo – ele apontou para uma área específica – Parece que foi acrescentada depois.

-Não pode ser possível, ela disse que os dois morreram – comentei – Yoshiaki Gojo usou o que restava da sua energia para mandar a minha ancestral para um território entre universos ou sei lá o que era.

-Ou ela estava mentindo ou não sabia - Akira retrucou – O que leva a segunda parte do problema que está me dando dor de cabeça, o texto acrescentado.

De dentro do paletó ele tirou um pequeno bilhete e me entregou em seguida – O que conseguimos decifrar, estava bem borrado e o fato das palavras serem antigas não ajudam muito...

Ele deixou que as palavras morressem no ar, o que me levou a o questionar – Mas?

-Mas, se difere um pouco das coisas que você me contou. E nos faz retomar a história da promessa não cumprida se tornar uma maldição, que nem o falecido Telles disse.

-Achei que já tivéssemos passado por isso – abri o bilhete com algum receio, não tinha muitas coisas mas assim como daquela vez com Akio-san um parágrafo parece ter sido traduzido.

"sob o irrevogável querer de que nossos espíritos voltem a se reencontrar, perante esse laço firmado em sangue com o último laivo de honradez, suplico para que o nosso ardor perenize através do ciclo e clamo para que de igual forma todo juramento feito entre dois iguais perpetue até seu firmamento"

-Parece com as palavras de alguém desesperado – comentei – O que devemos pensar agora? Que eu menti para mim mesma?

-Não necessariamente – Akira respondeu – Se sua ancestral, veio a falecer primeiro, ela não teria condições de saber o que aconteceu depois não é? Como você disse, a perda de um desestabiliza o outro.

-Do que Yoshiaki teria tanto medo a ponto de precisar colocar uma cláusula como essa?

O homem ficou em silêncio por um momento antes de olhar para frente – Imagine que você ama alguém desesperadamente, e sabe que vai reencontrar com ela na vida seguinte. Mas nada garante que ela vai te amar de volta o que faria? – Akira deu uma pausa antes de continuar. - Considerando que alguma parte da sua sanidade foi embora pela perda precoce desse amor.

Abaixei os olhos para o texto, havia algo de triste naquelas palavras apesar de ser uma coisa errada.

-Quem é Romeu e Julieta perto de maldições e promessas que atravessam as eras. – comentei e voltei a colocar o bilhete dentro da pasta.

-Seu senso de humor é um pouco duvidoso – Akira bateu de leve o ombro com o meu – reagiu melhor do que Gojo quando descobriu.

-Esse é o motivo de você ter perguntado se eu tinha o encontrado hoje?

-Sim. Continuamos olhando através dos arquivos do clã dele apesar da maior parte ter sido decifrada, estava por perto quando recebi a tradução. Não sei exatamente o que aconteceu, mas o garoto Gojo estava... Nervoso, por assim dizer.

-Mais do que quando você começa a irritar? – retruquei, fazendo com que ele risse.

-Não chega nem perto. Portanto, pegue leve se ele aparecer por aqui.

Akira acompanhou para dentro do hospital e ficou me aporrinhando sobre os mais variados assuntos, até que uma das enfermeiras o enxotou para fora falando que o horário de visitas havia terminado. O que me fez soltar um suspiro um tanto quanto chateado, mesmo sabendo que Satoru geralmente usava meios alternativos de entrada.

Sentada na poltrona do canto, com um livro desinteressante e a mente longe demais. Essa é a minha atual situação. Foi só quando o relógio apitou indicando que eram onze horas da noite que tomei coragem de voltar para a cama e tentar dormir pelo menos um pouco.

No meio do caminho apoiada na muleta senti o ar se mover às minhas costas.

-Deveria estar dormindo.

Não parei de andar, me sentei na lateral do colchão e coloquei meu apoio encostado na parede. Conseguindo encarar Satoru de frente.

As roupas estavam desalinhadas e havia algumas manchas no seu rosto, os olhos permaneciam brilhantes como sempre mas a feição. Não precisava usar da linha que os ligavam para saber o tipo de coisa que passava em sua mente.

Ele não ousou se aproximar, apenas ficou parado a alguns metros de distância, acariciei meus braços na tentativa de prover algum conforto – Akira me mostrou o texto, se é isso que está te preocupando.

-Claro que ele mostrou.

Foi clara a mudança de tom quando mencionei o texto – Olha, não-

-Não foi minha culpa? – ele respondeu – É você [Nome] falando ou sua ancestral?

Franzi o meu cenho – Se veio aqui para despejar toda a sua raiva em cima de mim pode ir embora. Consigo separar muito bem meus sentimentos, aparentemente coisa que você parece estar com problemas em fazer.

-Não foi certo, longe disso. Mas o que eu posso falar sobre? Além do fato de estar decepcionada de alguma maneira, por quantos ciclos o tempo e espaço se apaixonaram? Não havia motivo para acreditar que não aconteceria de novo.

-Eu sei – ele levou as mãos à cabeça – Não pode me culpar por ter medo de te perder de novo, você não viu todo o sangue como eu vi. E se você não me amasse de volta como eu te amei?

-Do que você está falando? – perguntei – Achei que tínhamos concordado em sermos amigos.

Satoru se virou pra mim confuso – O que foi que eu disse?

Olhei para a palma da minha mão e alcancei o ar fazendo com que a linha do destino aparecesse, minha surpresa em ver que uma segunda parecia se mover em conjunto como se fosse uma sombra. Não à minha volta, em volta de Gojo.

-Satoru venha aqui – o chamei com a mão, ele se sentou ao meu lado ao mesmo tempo que eu levantei. Sem esperar uma permissão ou algo do tipo coloquei uma mão de cada lado da sua cabeça embrenhando os meus dedos nos fios de cabelos claros.

Já fazia um tempo que não usava a minha técnica, então realmente esperei que desse certo, eu tinha me resolvido com a minha parte do passado. Talvez ele precisasse se resolver com a dele também, mas toda a informação que recebia dos seis olhos não o deixava se concentrar naquele traço de energia do passado.

Tudo que eu fiz foi diminuir o fluxo da velocidade dos dados que ele recebia – Se concentre no fio.

E como num passe de mágica ele apagou, seu corpo pendeu para frente vindo de encontro com o meu, tentei puxar alguma coisa pela conexão. Entendimento, carinho... Ele estava bem, precisava apenas se resolver consigo mesmo.

O problema agora era como que eu tiraria o rapaz da cama, a resposta veio rápida, não tiraria. Ajeitei ele do jeito certo e ponderei qual seria a minha próxima ação, quando eu estava longe ter sua presença por perto serviu de lembrete para que eu voltasse.

Talvez estivesse na hora de retribuir o favor.

A cama não era grande, mas pareceu o suficiente para que nós dois estivéssemos deitados lado a lado, puxei sua mão para o meu colo antes de a segurar firmemente.

-Boa noite Príncipe Phillip.








N/A: Ai meu coração. Principe Phillip é o príncipe da Bela Adormecida caso alguém esteja se perguntando.

Já dizia o Yaga-san, amor é uma das maiores maldições.

Vejo vocês na próxima!

Até mais, Xx!

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