Página Virada
O chalé com paredes de madeira escura era familiar de seus sonhos, aqueles que começaram a atormentar logo depois de resgatar [Nome] de Prometeu.
Entretanto, diferente da sensação de conforto que presenciou durante aquelas noites inquietas, dessa vez parecia mais vazio, porém nítido. Levantou a mão para tocar a madeira, podia sentir a poeira acumulada sobre seus dedos.
Era real, um território.
-Fico feliz em saber que não foi só a minha técnica que foi passada para os descendentes, um pouco de intelecto também. Imagine só se os seis olhos terminassem nas mãos de um idiota.
Satoru se virou devagar, o homem que estava a sua frente era bem similar a si mesmo, porém os cabelos eram mais compridos e o rosto com alguns traços mais clássicos. As vestes também se assemelhavam ao tipo de roupas que eram usadas há milhares de anos atrás.
Porém, que realmente chamava a atenção era o olho. Um era igual ao seu, com a técnica da família, e o outro apenas não existia.
-Você fala de uma maneira bem atual, para alguém que parece que saiu de uma pintura de mais de mil anos atrás.
-Graças a você – respondeu – Sabia que existia a possibilidade de termos essa conversa, mas não imaginei que fosse dessa maneira. Inteligente ela, não? [Nome], diminuiu a velocidade do fluxo de informação que você recebeu para que pudesse se concentrar na trilha que deixei para trás.
-Sim, ela é inteligente. – concordou com Yoshiaki – Mas não ignore o real motivo de isso estar acontecendo. Você está interferindo em coisas que não devia.
-Estou? – o homem deu alguns passos para o lado – Essa história começou comigo pelo que eu me lembre. Não seja tão cínico Satoru, se não fosse a minha pequena ajuda você não teria encontrado a garota.
Alguma coisa nele fazia com que Gojo ficasse em alerta, o jeito de falar ou o modo como começava a o rodear. Algo deturpado por trás do olho que refletia sua própria imagem. A nota que Akira havia mostrado já revelava que alguns fios de sanidade estavam soltos, o caracterizando aquele amor incontrolável como obsessão.
Com a balança desequilibrada só lhe restava a loucura.
-Você se perdeu no caminho Yoshiaki – Gojo tentou contornar a situação com conversa – O que aconteceu foi uma tragédia, mas não existe motivos para que você permaneça por aqui.
-Acredito que já tenha falado antes – ele inclinou a cabeça levemente para a frente – Não está apto a proteger, deixou que a tomassem, torturasse e tudo isso porque não acreditou no que disse.
-Admito meus erros, mas isso te torna um candidato melhor do que eu? – Satoru fechou as mãos em punho prevendo o que viria a seguir.
-Com certeza.
Foi num piscar de olhos que Yoshiaki avançou em sua direção, tomado por cólera. Se ele mesmo tivesse perdido [Nome] naquele dia. É assim que se tornaria? Uma força descontrolável de caos?
-É uma criança com poderes grandes demais para entender – o homem o segurou pelo pescoço enquanto o segurava contra a parede.
-Para alguém morto você se acha muito – retrucou, o empurrando para trás – Pelo menos minha [Nome] ainda está viva, não podemos dizer a mesma sobre sua não é mesmo?
Um brilho roxo ameaçou tomar forma, mas foi impedido por uma luz branca intensa, sentiu sua mão direita esquentar e um calor percorrer pelo seu braço. Satoru precisou cobrir os olhos por um momento, sentimentos familiares de medo, esperança e devoção o atingiram.
Quando voltou a abrir os olhos uma nova figura estava entre eles, Yoshiaki estava completamente paralisado. Ela usava um kimono, as mangas pintadas de carmesim até quase os cotovelos, os cabelos se estendiam como uma cascata pelas costas.
Ela virou o rosto apenas o suficiente para que Satoru enxergasse o pequeno sorriso em seu rosto, os olhos de cor distintas revelaram o destino do olho perdido de Yoshiaki.
-Como...
-Eu sempre fui inteligente – ela respondeu ao questionamento do homem, ela parecia brava. Ou melhor, desapontada – O que aconteceu com você?
Yoshiaki imediatamente andou na direção da mulher tomando as mãos dela dentre as suas – Só queria ter a chance de poder te amar de novo, sem precisar me preocupar com a sua família ou a minha interferindo. Quando você se foi, todo o sangue, e-eu não conseguia ver outra coisa que não fosse seu corpo em vida sendo jogado numa vala a mando do seu irmão.
-Mesmo assim condenou as gerações futuras a um fardo que não é deles para carregar. [Nome] e Satoru devem escolher por si mesmos, o que nós tivemos não deve influenciar sobre isso.
A mulher soltou as mãos dele antes de tomar uma postura mais séria – Desfaça a promessa, e deixe que ele retorne.
Era clara a mudança da personalidade que o mais velho teve, e sem um segundo pensamento ele esticou a mão no ar segurando o fio vermelho e o rompeu. Imediatamente aquele sentimento ofuscante que ficava martelando na sua mente se foi, deixando apenas o recém-descoberto afeto que sentia em relação a [Nome].
-Eu disse a ela e vou dizer a você também – ela se virou na direção dele – Amar um ao outro é uma escolha sua para fazer.
Satoru se sentou rapidamente, a visão ainda um pouco embaçada. O coração batia rapidamente e podia se sentir levemente enjoado.
Estava no quarto do hospital, mas [Nome] não estava em nenhum lugar por perto, ainda um pouco tonto ele se levantou. Estava escuro, e o relógio marcava algo em torno das cinco da manhã, onde ela estava?
Olhou em volta, nenhum sinal dela por perto.
Sem perceber a porta abrindo as suas costas, Satoru continuou passando possibilidades inimagináveis na sua mente, ignorando as respostas mais simples. [Nome] observou as costas do rapaz enquanto ele andava de um lado para o outro.
-Satoru? – chamou assim que fechou a porta atrás de si mesma.
Se tivesse que dar uma etiqueta ao estado dele seria em pânico, ela tinha um exame para coletar logo no primeiro horário, por isso deixou o quarto antes do sol sequer nascer. Quando saiu ele parecia estar dormindo tranquilamente depois de ter algumas horas conturbadas na madrugada.
Só quando o primeiro raio de luz atravessou pela cortina semi aberta foi que reparou nas marcas que escorriam de seus olhos, Satoru estava chorando. Num segundo estava analisando a situação e no outro os braços dele estavam à sua volta, o baque surdo da muleta caindo ao chão.
Gojo tremia, e as mãos pareciam geladas mesmo sobre o tecido das suas vestes. O que quer que tivesse acontecido, não havia sido tão tranquilo quanto a sua conversa na campina.
Passou os próprios braços pela cintura do garoto fazendo movimentos circulares em suas costas na tentativa de prover algum conforto.
-Q-quem sou eu? – sua voz soou abafada por estar contra seu pescoço. O garoto afastou o rosto apenas para que pudesse olhar no fundo dos olhos de [Nome] – O que você vê?
-Satoru Gojo – respondeu com um tom de riso - Alguém brilhante, mas também preguiçoso e uma personalidade confiante que me tirou do sério no momento que conheci. Mas geralmente tem um bom senso de julgamento, a não ser quando está agindo como uma criança.
-Um idiota que quer que eu acredite que está apaixonado por mim.
Satoru fechou os olhos por um instante e abaixou a cabeça até que suas testas encostassem – E está funcionando?
-Talvez, acho que ele precisa tentar um pouco mais. Afinal eu montei toda uma história com Akio-san apenas para conseguir dar uma cantada, não foi?
O clima sério de repente foi substituído por uma aura agradável. – Vou manter isso em mente. Nunca achei que fosse do tipo rancorosa [Nome]-chan.
-Até parece. Você pode me soltar agora – disse dando alguns tapinhas na lateral dele – Pretendo dormir mais um pouco antes de voltar para a minha rotina de exames. Já que você ocupou 80% do meu espaço no colchão.
Os braços deles pareceram a trazer mais para perto escorregando de maneira provocante pela base das suas costas. – Ah agora que você disse, dormimos juntos na mesma cama? Que escândalo.
A maneira que as palavras foram sopradas no pé do seu ouvido fizeram com que um arrepio subisse por toda a extensão da sua coluna, teria falado algo se não tivesse sentido suas costas baterem contra algo macio.
-O que você está fazendo? – perguntou vendo Satoru se acomodar ao seu lado na cama de hospital. Ter ele desmaiado era uma coisa, agora o deliberadamente se deitando ao seu lado era uma completamente diferente.
-Você disse, está com sono. Estou te colocando pra dormir.
-Agradeço a preocupação, mas não precisa estar na cama comigo para isso.
-Estou com preguiça de voltar pra casa.
-Mentiroso – rebateu, um braço transpassou sua cintura enquanto uma das pernas estupidamente longas dele subia em cima das suas próprias. Satoru parecia a segurar como se fosse um urso de pelúcia ou algo do tipo.
E não tinha nenhuma perspectiva de que estava disposto a se mexer daquela posição, maldito sentimento que fazia seu coração acelerar ao invés de querer o chutar para fora dali.
-Espero que Akira-kun nos encontre exatamente assim.
-Ah cala a boca.
N/A: Agora só semana que vem.
Até mais, Xx.
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