Feeling Good


O sol devia ter acabado de nascer, julgando pelos raios fracos que passavam pela janela. Parte do céu ainda tomado pelas cores mais escuras da noite, desaparecendo conforme o dia se fazia presente.

Respirei fundo enquanto mantinha um olho aberto, tentei me mexer, mas o braço circulando a minha cintura com firmeza e as pernas – estupidamente longas – entrelaçadas com as minhas limitaram as opções. O corpo de Satoru estava quente contra o meu e a respiração tranquila batia na base do meu pescoço.

Não queria ter que acordá-lo, então esperei por algum tempo, mas a posição em que estávamos não era exatamente confortável. Poderia ser para ele, mas minhas costas e pescoço começavam a doer pela pose anormal; isso e também como uma lembrança dos eventos da noite passada.

Mal consegui levantar a minha cabeça, o garoto deu um suspiro longo e pareceu querer me puxar ainda mais para perto. Quebramos algumas leis da física, mas a de "dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo", não.

-Isso é ridículo – pensei em voz alta antes de um brilho azul tomar o quarto, Chrono podia ser bem útil às vezes. Soltei o meu meio primeiro antes de me desvencilhar das pernas dele, finalmente conseguindo me sentar e pelo menos liberar a tensão que estava sobre os meus ombros e músculos. Liberei o tempo apenas para ver um par de olhos brilhantes se abrirem imediatamente.

-Eu sabia que não estava dormindo – falei mirando o rapaz com uma careta – Não tem como alguém ficar confortável assim.

Satoru riu contra o travesseiro e fechou os olhos novamente – Estava dormindo, você me acordou no momento em que deixou meus braços.

-Mentiroso – retruquei, ele se virou ficando de barriga para cima e colocando um dos braços atrás da cabeça. O sorriso de canto de boca nunca deixando seus lábios.

-O que foi? – perguntei vendo que ele não desviava o olhar de mim.

– Sabe, na minha mente isso se passou diferente, era um pouco mais romântico. – a mão que estava livre encontrou o caminho por debaixo da camiseta acariciando a minha pele - Quem sabe com um beijo de bom dia e um pouco mais.

-Desculpe por acabar com o seu sonho príncipe pervertido – fiz um bico de deboche na direção dele e dei um tapa nas costas de sua mão, fazendo com que recuasse.

-A culpa não é minha – Satoru se sentou mantendo um braço como apoio enquanto organizava alguns fios na minha cabeça – Que você é linda.

Ele se inclinou para que pudesse se aproximar do meu rosto, sussurrando em seguida – E me deu muitas ideias.

Coloquei minha mão livre entre nós antes que ele pudesse chegar ao meu pescoço e empurrei seu rosto para trás, sabia que seria uma caso perdido se ele se aproximasse demais, o arrepio que subiu pelas minhas costas denunciou isso à medida que meu rosto esquentava.

Ele riu, voltando a cair de costas na cama com os braços estirados, enquanto eu me levantava juntando o que costumava ser minhas roupas. Agora pareciam trapos saídos de dentro de uma garrafa – Você faça sua mágica e me leve de volta pra escola.

-Hum – o garoto resmungou, fechou os olhos e se virou ficando de costas. Não deveria ser o meu objeto de atenção, mas sobre a pele nua linhas vermelhas em paralelo se estendiam nas mais variadas direções, algumas mais marcadas, outras já quase sumindo. Tombei a cabeça para o lado, geralmente eu não ficaria admirando, mas saber que fui eu que coloquei as marcas ali me deixou quase orgulhosa.

– Estou sem energia, acho que você vai ter que passar o dia aqui.

Sai dos meus devaneios sobre os arranhões e peguei a jaqueta do uniforme dele e joguei em sua direção – Nem pense nisso. Preciso me encontrar com Akira, ele encontrou informações sobre-

Satoru se sentou rapidamente fazendo com que eu me interrompesse, um sorriso vil no rosto e os olhos ansiosos como de uma criança no dia de natal.

-Meu primo. – completei a frase, me arrependendo em seguida.

-Nesse caso você não pode o deixar esperando, não é? – disse e se levantou, pegou as próprias roupas e as vestiu no caminho para o banheiro.

Não era nada de mais o professor tinha se comprometido a me ajudar a rastrear o filho do meu tio Toji e parece que ele tinha algumas informações de seu paradeiro. Então depois que Gojo se deixou apresentável nos levou direto para a escola, mesmo sob algumas reclamações ele ficou no dormitório enquanto eu fazia o meu caminho até os vestiários.

Mal se passava das oito horas quando nós dois nos encontramos com o mais velho num dos cafés nos arredores da escola, uma sensação de angústia me atingindo pelo possível diálogo que aconteceria.

Akira nos encarou com uma sobrancelha levantada, provavelmente mirando a mão que parecia estar viciada em ficar na minha cintura. O professor dobrou o jornal que tinha nas mãos e se encostou na cadeira cruzando as pernas em seguida – Não me lembro de ter marcado com você Satoru, apenas [Nome].

-Estou acompanhando a minha namorada.

-Dormimos juntos.

Foram dois golpes seguidos, é claro que ele deveria estar esperando a primeira chance para falar algo do tipo e esfregar na cara de Akira algumas novidades. Akira desviou o olhar dele para mim, afiado e ácido como sempre.

Ali estava a fera faminta que destilava veneno com palavras, ignorei seu olhar me sentando à sua frente e puxando o cardápio.


"Agora direto do distrito de Setagaya, nossa correspondente Hina Tajiri fala sobre as quedas de energia que afetaram a região na madrugada.

Isso mesmo, começaram por volta das onze da noite e se estenderam até a madrugada, os moradores relataram também alguns postes que estouraram. Vídeos tomaram a internet mostrando o fenômeno acontecendo em vários pontos da cidade, a chama 'respiração das luzes' já ganhou algumas teorias interessantes"


Engasguei vendo o vídeo na pequena televisão e coloquei a mão na frente do rosto. A garçonete se aproximou para tirar nosso pedido em seguida.

-Interessante as luzes não? Piscam quase que apaixonadas. – disse encarando a tela e em seguida olhando para nós.

Gojo sorriu e apoiou o rosto na mão me olhando de canto de olho – Se eu fosse um poeta diria que são o reflexo de um amor selvagem.

Akira revirou os olhos e deixou a cabeça tombar para trás – Um café grande, extremamente forte para mim. E alguma coisa doce, mas sem morangos. Deixo nas suas mãos.

Ela corou com o sorriso de Akira e anotou nossos pedidos em seguida saindo com um breve aceno. O mais velho abriu a boca para falar – Então... Foi a selvageria de vocês que andou piscando as luzes por aí?

-Posso garantir que fez mais do que isso.

Coloquei a mão na testa, desejando que alguma força maior me deixasse inconsciente até que os dois adolescentes cheios de hormônios terminassem sua conversa besta e cheia de duplos sentidos.

-Chega. – falei batendo a mão na mesa, Chrono se expandindo tomando o café na sua luz azulada. As pessoas ali não precisavam, e não deviam, escutar aquelas coisas. – Os dois.

Akira levantou as mãos em sinal de rendição – Só me diga uma coisa, vocês se protegeram?

Tranquei no maxilar e mirei os olhos do mais velho com firmeza – Eu sou estéril Akira – o tempo estava parado, mas a mudança na expressão dele aconteceu tão rápido quanto um flash. A pose debochada de sempre completamente desmontada.

Não encarei Satoru de frente apenas vi parte de sua feição pelo canto de olho – Antes - mantive a voz séria e continuei - Enquanto estava na Grécia, as coisas deram erradas e eu acabei com uma lança amaldiçoada atravessando coisas que supostamente não deveriam. Não tinham curandeiros com técnicas de reversão avançadas o suficiente – expliquei rapidamente, não querendo me manter no assunto.

-Viemos aqui para falar de meu primo – soltei o tempo, deixando que as cores retomassem sua saturação normal – Então fale Akira.

Ele tamborilou os dedos na mesa – Não é só sobre herdeiros, é saúde também. Mas enfim – ele puxou uma pasta e a colocou na minha frente em seguida, aceitando que o assunto estava finalizado.

-Seu tio aparentemente se casou e tomou o nome da esposa, Fushiguro. O filho dele também está se livrando do nome Zenin.

Li o nome na ficha, não tinha fotos, apenas algumas informações.

-Estou tentando localizar algum endereço, mas não é exatamente fácil – Akira disse agradecendo pelo copo de café quente que foi colocado na sua frente – Para alguém dito sem muitas habilidades e um inútil por completo, Toji-kun até que sabia algumas coisas.

-Isso é o que os Zenin falam, não o que ele era – segurei as folhas entre as mãos – Não conseguimos intervir nessa venda?

-Talvez dependendo dos termos negociados, se a atual guardiã dele interceder... Realmente não sei, não estou por dentro do último boletim de advocacia jujutsu. Mas por hora é o que eu tenho.

-Temos um ano até que a venda seja feita – falei olhando para a janela – Megumi Fushiguro.

Sorri – É um nome bonito. Eu gosto.






N/A: 52 é o número pessoal! Esse ainda não é o último.

Xx

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