SINFONIA DOS DEUSES




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O Império Valiriano era cruelmente elegante, não havia dúvidas que cada beleza e pedaço de sua história foi construído com morte e egoísmo. Os castelos e casas arquitetados em pedras e mármores brancos banhados a ouro e prata, cravejados com vidros coloridos e desenhados, foram estruturados com o sangue dos povos que Valíria conquistou. Cada pedaço da cidade estava manchado de sangue – e o povo tinha orgulho da sua história, de sua crueldade, de suas casas escarlate.

Os valirianos não sangravam vermelho, o ícor que derramava quando a pele valiriana era ferida era dourado como o mais rico e lindo dos ouros – um dos motivos pelo qual eles se consideravam filhos dos deuses, acima do resto do mundo e merecedores de toda a glória e poder –, e quando você está acima de tudo, vidas tão medíocres e coradas eram tão descartáveis quanto uma folha morta.

Psiquê não sangrava vermelho, o sangue que corria suas veias era prata, como de toda a sua família, a família que ela era a única herdeira e que, por consequência, deixou o legado de assumir o Império Valiriano e usar a tiara feita de estilhaços de vidro de dragão – a Coroa Negra. Psiquê, entretanto, não queria ser uma genocida, não queria ser marcada pela morte. Psiquê queria ser vida, o lado iluminado do deus Khraxes, tudo o que ela nunca poderia ser.

E Aeros, não tão distante, estava preso em uma gaiola com barras douradas e uma coleira controlada por aquela que deveria ser sua libertadora.

Aeros era quem queriam que fosse o herdeiro, o próximo Imperador que continuaria o anos dourados e de ascensão – que conquistaria cidade, que tomaria culturas, que exterminaria reis. E Aeros faria tudo que lhe era pedido, como o perfeito escravo que cresceu para ser; às vezes sua visão embaçava e ele não enxergava sua própria prisão, mas sua inocência foi perdida a muito tempo, sua mãe garantiu que o filho pródigo fosse um assassino, que sua alma se tornaria tão corrompida quanto a de sua progenitora.

Psiquê não queria amor. Aeros não queria amor. Nenhum dos dois queria ou desejava o poder magnífico que manejam sob as mãos acorrentadas – mas os deuses não amaldiçoavam qualquer um. Eles eram crueis e adoravam o equilíbrio do mundo, duas pessoas que exalam tanta magia tinham seus destinos entrelaçados pela sinfonia de ordem, caos, criação e destruição.

O destino, entretanto, não era previsível. E Aeros não era a criança prometida, o deus do fogo renascido abençoado a destruir toda Valíria.

Psiquê era.

O castelo da Imperatriz sempre trazia lembranças ruins à Psiquê. Embora ela tenha crescido rodeada de luxos, riquezas e com escravos para realizar todos os seus desejos, era também aquele local a origem de memórias ruins. Foi no salão de jantar que seu pai morreu envenenado, foi no quarto da rainha que sua mãe adoeceu e se foi não muito tempo depois e, por fim, foi ali, no trono do Imperador que viu o seu irmão morrer e no salão principal ele foi velado e queimado.

De sua família restou apenas ela, que caiu sob os cuidados da Imperatriz de Valíria, de quem herdaria a coroa amaldiçoada. A organização da nobreza no Império Valeriano era diferente do que se via em outros lugares: dez famílias governavam o Império, alternando entre si a Coroa Negra – um tiara maciça feito de cristal negro que os dragões produziam e cheia de diamantes e outras pedras brancas brilhantes –, seu falecido irmão era quem seria o próximo Imperador, mas com sua morte, a responsabilidade de ser a Imperatriz recaia sobre Psiquê, a única que restou da familia Tessares.

Quando Psiquê assumisse a Coroa, seu herdeiro seria o membro da próxima família na ordem – normalmente o jovem mais promissor que carregasse o sobrenome era escolhido para tal honraria, sempre alguém novo, para representar a força e a vitalidade do Império se revigorando.

Não que cada uma das dez famílias ficassem sentadas esperando sua vez, defender sua reivindicação sempre foi um ato bem visto; o herdeiro tinha que se destacar, provar que merecia governar a cultura mais influente atual e manter o Império crescendo. Psiquê era talentosa, sim, mas seu desgosto pela violência sempre trouxe dúvidas a todos de sua Corte; a atual Imperatriz, sua avó de consideração, não estava satisfeita com tamanho sinal de fraqueza.

Valirianos eram fortes, ágeis montadores de dragões, hábeis manipuladores da magia dos elementos – eles não eram misericordiosos, eram conquistadores. Psiquê nunca desejou nada disso, mas era seu dever, quem ela nasceu para ser e quem todos esperavam que ela seria, mesmo aqueles que não queriam com a Coroa.

Psiquê cansava-se facilmente da vida social que Imperatriz gostava de cultivar, mas sabia ser importante, os chás da tarde que fazia com frequência ajudava a manter sua influência e poder fresco nas mentes das casas mais nobres, principalmente aquelas que desejavam adiantar seu herdeiro ao trono – para muitas delas, entretanto, era impossível, poucas casas tinham herdeiros viáveis a cada troca de monarca, atualmente, haviam apenas dois: Psiquê e Aeros. Psiquê sendo a última herdeira de sua família e casa e a próxima na linha do trono, o quão perfeito e predestinada sua reclamação soava.

A Imperatriz chamou a atenção de todo o jardim para seus dois netos cavaleiros de dragões que faziam um show de acrobacia nos céus; como sempre, a Imperatriz vestia um longo e pesado vestido vermelho sangue, com duas fendas que mostravam as a pele negra das pernas brilhando sob o sol, o cabelo longo e azul estava trançado com tranças tão delicadas e longas que apenas a magia poderia fazer. Imperatriz sempre vestia-se ricamente, usando e abusando de seus atributos que tinham se tornado ainda mais desejados com a idade e de pedras coloridas em colares, brincos e argolas pelo rosto, aneis e braceletes, assim como adornos nos braços e cintura. Psiquê, como a herdeira da Imperatriz, seguia sua moda: a jovem vestia um sári branco e rosa claro, que mostrava a pele macia de sua barriga, cintura e braços, também usava as argolas no nariz e orelhas e demais joias em prata rica e pequenos, porém delicados e elegantes, diamantes adornando-as; Psiquê nunca gostou de cores fortes ou pedras grandes – deixava tal cor para seus olhos negros como a noite escura e sem estrelas.

Andando pelo jardim, sentiu um olhar em si e levou a taça de vinho à boca. Como a herdeira, estava sempre a observando, analisando seu comportamento – mas aquela sensação específica, Psiquê sabia muito bem de quem eram os olhos: Afiona Vendove. Assim como Psiquê, Afiona era uma das únicas e últimas bruxas de sangue de Valíria; as bruxas de sangue eram raras, apesar da magia correr pelo sangue valiriano, cada bruxo tinha um elemento de onde seu poder tirava energia. As bruxas de sangue extraiam seu poder da morte, era uma magia sacrificial e difícil, mas a mais poderosa de todas as outras e a que mais se tinha misticidade em volta das possibilidades.

Afiona e Psiquê eram as únicas de toda a Valíria que estavam vivas – o próprio Império Valiriano em toda sua secularidade, apenas dois bruxos de sangue herdeiros e nenhum viveu o suficiente para ser Imperador, Psiquê seria a primeira da história. Tal marco tão importante era um dos maiores motivos para a Imperatriz pessoalmente cuidar de sua proteção e educação, não que ela tivesse alguma família para recorrer, todos estando mortos.

A nobre, entretanto, não tinha nenhum sentimento de camaradagem por Psiquê. Afiona, na verdade, tinha um distorcido ódio pela herdeira e ela não fazia questão de esconder, sempre lançando-lhe olhares recheados de fúria e alimentados pela certeza que o herdeiro da Imperatriz deveria ser Aeros, seu filho. Aeros era um caso à parte: um mimado filho de uma mulher gananciosa e sem nenhuma gota de amor se transformou em um homem que era insuportável estar perto, apesar da beleza avassaladora.

Aeros preferia voar em seu dragão do que se dignar a ser amigável com qualquer um, apenas obedecendo às ordens secretas e vis de sua mãe, como o bom e perfeito capacho que Afiona o criou para ser. Desnecessário dizer que Psiquê não guardava carinho por nenhum dos dois – ela tentava não transparecer muito, embora.

Ignorando seu olhar assassino, Psiquê logo se cansou da performance de voos e se voltou para os jardins, onde nenhuma alma estava: assim como a magia de sangue precisava da morte sacrificial, Psiquê precisava de silêncio para sobreviver.

Em silêncio pela primeira vez no dia, ela respirou fundo, enchendo seus pulmões com o odor das flores e plantas mistas que a Imperatriz gostava de manter. Tinha alguns bancos distribuídos pelo local, mas Psiquê ficou em pé, caminhando lentamente, apreciando a paz – que, infelizmente, foi interrompida minutos depois por Aeros que, como sempre, vestia orgulhosamente a cor azul de sua família e Casa.

— Você parece triste. — Aeros comentou, se aproximando dela com um sorriso malicioso, como se guardasse um segredo que apenas ele tivesse ciência.

Psiquê desejou estar morta.

— Porque estaria triste? — retrucou, disfarçando o mau humor.

Aeros deu de ombros, não se importando em responder e parando a poucos centímetros dela. Ele estava tão perto que Psiquê foi capaz de sentir seu cheiro.

— Você está bonita, Psiquê. — Inclinou-se para ela, olhando profundamente em seus olhos, Psiquê não recuou. — Você decidiu ir atrás de um parceiro, finalmente? Você se veste como a rainha.

— E você veste o rosto de um mentiroso, Aeros.

Deixando-o para trás, parado no jardim, ela voltou para sua tortura pessoal.

Aeros, entretanto, ficou ali, temendo a punição de sua mãe caso ele não conquistasse a herdeira e a aniquilasse, como ordenado.

Se Psiquê não fosse a herdeira e, logicamente, todos sabiam onde ela se encontrava todos os momentos do dia, ela acusaria Aeros de persegui-la. Nas semanas que se passaram desde seu encontro inusitado, onde Psiquê ia, logo Aeros estaca a seu lado, em toda a glória e beleza valiriana; a paciência dela, há muito tempo esgotada, apenas o ignorava. Ao menos era o que tentava – por mais que Psiquê tentasse esconder, seu temperamento era explosivo, irritável e, acima de tudo, impulsivo. Então, quando sentiu a respiração quente do homem em seu pescoço tamanha a proximidade que ele gostava de impor, Psiquê não mordeu a língua.

— Eu não vou me unir a você.

— Você teria sorte em unir-se a mim. — Aeros debochou, fazendo o que apenas poderia ser considerado dois pulinhos para andar a seu lado, ainda carregando seu sorriso sarcástico. Psiquê respirou fundo, rezando aos deuses por paciência. Aeros , de repente ficou sério, sua expressão, por um momento assustador, se normalizou. — Você não gosta de mim.

A herdeira não o ofenderia com uma óbvia mentira.

— Porque? — Aeros insistiu.

— O que você fez ou disse para eu gostar de sua companhia? — Retrucou. E, de fato, ele assumiu que ela estava certa. Aeros não tinha personalidade, ele obedecia sua mãe; falava o que ela lhe sussurrava ao ouvido e estripava os inimigos dela. E Aeros não seria hipócrita de não assumir que também só estava ali por causa de mais uma das ordens dela; era seu papel na família, seu trabalho, sua sina e sua maldição.

Ele arriscou: — E presumo que minha mãe querer você morta não ajuda em sua afeição por mim.

Psiquê tropeçou, quase caindo no chão enquanto Aeros voltava com o sorriso sarcástico.

— Sim, — a herdeira resmungou. — Isso também não ajuda.

Entretanto, ela não denunciou sua família para a Imperatriz – um sinal satisfatório, ao menos ele estaria vivo para persegui-la no dia seguinte. E ele fez. Todos os dias ao longo de duas luas e, aos poucos, ela foi cedendo; começou com algumas respostas atravessadas e claramente mal humoradas, mas era incrível o quanto que, quando encontrado com a dedicação, um animal selvagem poderia amaciar. Aeros fingiu que não estava afetado também – que ele mesmo não estivesse amaciando em relação a herdeira, que não começou a responder as perguntas com tanto entusiasmo quanto ele mesmo perguntava a ela.

Fingia que não começou a ansiar as tardes de passeios que cheiravam a flores e mato, que não gostava de ver a risada nos olhos rosas apesar do resto do rosto delicado não expressar nada; Fingia não odiar ter que voltar para sua casa todas as noites e ser punido por, em mais um dia, não ter  cumprido sua ordem – mas no dia seguinte ele ainda estaria ali, afinal, a certeza do céu no dia seguinte era mais poderoso que a certeza das noites em sua casa.

Psiquê, entretanto, revelou-se uma pessoa atenta a detalhes – ou, especialmente, aos detalhes em Aeros. Ela notava que, alguns dias, ele parecia mais cansado que outros, a bolsa sob seus olhos cada vez mais escuras – mas não ousava perguntar, a relação que se criou sendo tão frágil e quebradiça quanto uma folha de outono; mas ela notava. Como ele soava e se comportava ainda mais infeliz que ela. Era interessante pensar na possibilidade de alguém rodeado de tantas pessoas poderia ser tão infeliz quanto ela, que não tinha ninguém – todos tinham sua sina, todos sempre ansiavam por algo que não tinham; era da natureza humana nunca estar satisfeito e era da natureza valeriana ansiar por algo que nunca poderia ter. Seja uma família viva ou uma família amorosa.

Ou uma Coroa nunca destinada a sua cabeça.

Em uma noite, o quente do verão somando-se ao calor da lava do vulcão sob qual Valíria foi construída, dois pesadelos se desenrolaram no mais alto da lua. Na herdeira, seu medo, uma ideia abstrata que há muitos anos havia tornado-se vivo, reapareceu em seus pesadelos: a família, com a pele manchada em seiva vermelha e derretendo perante o fogo de dragão enquanto o Castelo da Imperatriz era destruído; pedra negra por pedra negra cedendo sob a lava que voava, saindo do vulcão furioso. Na mente do perfeito filho, o pesadelo era, na verdade, a realização de seu futuro: um ser sem mente, sem alma, o perfeito escravo e carrasco, nascido apenas para seguir ordens. Isso o aterrorizou.

O maior medo de Psiquê era viver sozinha.

O maior medo de Aeros era nunca conseguir viver por si mesmo.

Por isso, quando Aeros, sem conseguir dormir, com a lua ainda alta até o jardim que passou tanto tempo nos últimos dias e encontrou Psiquê ali, também acordada e atormentada, ele a beijou.

E quando Psiquê o sentiu quente em seus braços, beijou-o de volta – com desejo e saudade e todos os pesadelos e seus maiores medos desapareceram.

Não era amor, Psiquê dizia a si mesma. Não era amor o arrepio na coluna quando Aeros passava seus dedos em um sussurro de toque; não era amor quando o toque dos lábios suaves e gelados recostava em na pele sensível de seu pescoço. Não era amor seu coração acelerado quando suas mãos desciam alguns centímetros a mais e o prazer inundava seu ser.

Era temporário, Aeros se dizia. Quando ele escutava os sons que ela fazia quando ele a tocava e a beijava, seria temporário – para irritar sua mãe, vivenciar a rebeldia e liberdade que existiam nos lábios de Psiquê.

Não era amor. Era temporário.

Mas, em todos os momentos juntos, eles sabiam estar mentindo para si; em seus toques, em seus sussurros, em suas risadas baixas para que ninguém escutasse e nos olhares trocados que diziam mais do que suas vozes um dia poderiam.

Quando estavam distantes, cada um em seu ato perfeito de marionetes adequadas ao papel determinado, tudo que a mente poderia pensar era um no outro. Aeros sentiu algo muito mais do que um dia sentiu, acordado da palidez da existência – enxergando cores e vida onde nunca antes houve.

Mesmo com sua genitora cada dia mais impaciente, ele não podia evitar ignorar suas ordens em favor a viver. Pela primeira vez, Aeros viveu. E quando ele viveu, pela primeira vez, sua mãe perdeu o controle que tinha em punhos firmemente cerrados.

Já Psiquê finalmente tinha algo seu. Que não era a escolha para a herdeira e sim algo dela, algo que sua magia cantava pra ela ter e possuir e dominar.

Se fosse amor, era um possessivo e obcecado, que aumentava e exigia mais do que qualquer outro sentimento que havia sentido antes. Era um segredo, mas não havia como esconder o brilho vivaz da pele, os olhos rápidos que buscavam o outro.

Era temporário, mas nenhum deles sabia quando acabaria, se acabaria. Não quando tudo que Psiquê e Aeros queriam era existir o outro. Em sua dor, em suas lágrimas, em sua raiva.

Nenhum segredo, entretanto, fica preso nos lábios, por mais selados que estivessem.

Afiona não era conhecida por ser benevolente, Afiona era sangue de Valíria, dragões a obedeciam, a magia dobrava-se a seu desejo. Porém, o poder era uma especiaria intoxicante. Quanto mais o possuía mais se ansiava, nunca sendo o suficiente, nunca saciando a fome infinita. Quando seu filho se esvaiu por entre seus dedos, Afiona tomou sua decisão, regada de crueldade e desamor.

Nenhuma palavra foi dita, nenhum olhar foi dirigido e nenhuma dor foi sentida quando Aeros se foi. Magia de Sangue nunca seria completamente entendido – e nunca seria impune.

Em uma Noite de Lua, Balerion, o deus da destruição, tomou conta do Domínio de Zaati, a deusa da magia, e concedeu o desejo de Afiona. Mas nenhuma gota de sangue derramada por magia era dada livremente, nem mesmo aos deuses.

Khraxes, o deus da vida e da morte, exigiu pagamento por seus planos interrompidos. Exigiu justiça pela alma morta que mal viveu; pela existência ínfima de seu servo que tinha lhe dado tantas almas. E o que é mais justo para um assassino que a vingança em si?

O que era justo, para a deusa da paixão que também teve seus planos interrompidos, do que conceder a magia que sua igual implorava?

O desejo concedido a Afiona também foi um desejo concedido à Psiquê.

A diferença, entretanto, é que Psiquê Tessares era mais poderosa. E tinha perdido a única coisa que a prendia no fio de humanidade que lhe restava.

Psiquê era a última herdeira, a última de sua família e também tornou-se a última bruxa de sangue, quando sacrificou cada gota datas de sangue de Afiona, querendo a verdade – querendo o calor e a familiaridade, o carinho e a gentileza, o amor e a paixão que existia na companhia da única pessoa que chegou perto o suficiente de seu coração, de seu ser. Psiquê sabia que estava perdendo qualquer resquício de sanidade, mas ela não se importava, não quando tinha visto tantos funerais.

A cada feitiço, um pouco de sua vida se esvai, e não importava quantos sacrifícios, quantos rezas em nome dos deuses e quantas noites ajoelhada e sangrando ela passava – Aeros estava longe de seu alcance, nada era o suficiente para concederem nada além de apenas um momento fugaz com el, em que Aeros tentava tocá-la, tão consumido pela saudade quanto ela, sua alma ansiando-a mesmo quando seu corpo apodrecido já fosse cinzas jogadas no mar. Suas orações e devoções não eram suficientes, o sacrifício daqueles de quem os deuses queriam suas próprias vinganças não era o suficiente.

E a cada feitiço, Psiquê aumentava sua aposta, entregava mais de sua vida, dava de bom grado mais de seu poder, perdendo-se e fechando-se em sua mente, em sua ansiedade e loucura. Seu desespero atingiu tamanha proporção que Psiquê deixou-se levar pela impulsividade.

Psiquê não queria ser Imperatriz, não queria estar viva, não queria ser ninguém e, ao mesmo tempo, queria ser livre. Ela queria a vida perfeita que foi prometido, queria uma vida em que não tivesse que planejar cada passo, cada segundo de seu dia para corresponder a herdeira perfeita. Psiquê queria Aeros e, depois de décadas, cedeu a voz de Khraxes em sua mente, que contava exatamente o que tinha que fazer para vê-lo novamente.

A Imperatriz, viva e velha, não montou em seu dragão a muito tempo, e mesmo sendo tomado, ele não a rejeitou quando subiu em sua cela. Coroa Negra, um dragão tão branco quanto o algodão mais puro e com o fogo tão negro quanto a alma abusada de Psiquê, levantou voo.

Era dia quando Valíria queimou. Em uma sinfonia de fogo negro e gritos.

Era um dia quente, sem nuvens com chuva – não que algo tão simplório quando água fosse apagar o fogo demoníaco que queimou cada alma da ilha.

Nos milênios seguintes ainda se falaria da Perdição de Valíria, como o vulcão que originou os dragões queimou pela última vez, como toda a cultura foi-se perdida, como o dialeto original se perdeu – como não só as pessoas, mas todos os resquícios de vida de Valíria queimou e perdeu-se, restando apenas fragmentos do que antes era o maior Império já visto.

Ninguém nunca saberá a verdadeira história. Ninguém nunca saberá que Psiquê em um ato de amor e loucura, sacrificou toda a civilização em seu poder para ter a única coisa que nunca poderia.

E os deuses ficaram satisfeitos com tamanha devoção.

♥ e essa foi SYMPHONY!! espero que gostem, mesmo sendo bem diferente das outras fanfics de asoiaf daqui! ela é um projeto da collab que mistura asoiaf com mitologias de todo o mundo, como visto, eu me inspirei em Psiquê e Eros, que apesar de ter muita tragédia, tem um final feliz. E, para ser sincera, o que é mais tragédia grega coded do que a Valíria?

♥ não esqueçam de votar, comentar e checar as outras fanfics da collab (lista de leitura no meu perfil) assim como minhas outras fics do universo! com carinho,

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