SUBMUNDO

Capítulo 4 — Submundo

— Vocês pretendem ficar aqui? — Jimin perguntou ao ver que Will não estava sozinho para o que deveria ser a primeira aula.

— Ele é meu dono. Eu tenho direitos aqui. — Thom resmungou se sentando ao lado do feiticeiro, que tentava inútilmente esconder um sorriso do namorado.

— Eu sou curioso demais para deixar a oportunidade passar. — Taehyung resmungou do outro lado. — Prometo não atrapalhar.

— Ele vai. — Will desmentiu o outro vampiro. — Ele é incapaz de calar a boca, mas na maioria das vezes isso acaba ajudando de certa forma.

Jimin concordou um tanto desconfortável, escutando a risada de Jungkook atrás de seu corpo.

Havia conversado com Jacky e Will durante o café da manhã. Aceitado a proposta e feito suas regras, para que aquela ideia pudesse dar certo e decidiram começar as aulas pela tarde, não esperava que mais pessoas participariam daquilo, ainda mais não feiticeiros.

Se sentou na mesa de frente para os três e abriu um de seus livros antigos. Pensando em como deveria começar, mas sabia com certeza como não deveria. Se lembrava com detalhes de como havia sido doloroso seu treinamento, mas ele faria diferente, ele era diferente.

Se sentia nervoso por estar sendo assistido de perto por Jungkook, que parecia querer garantir que Jimin não estava se afundando em toda essa coisa.

— Bom, eu acho que talvez a melhor forma de aprender sobre mágica é na prática. Explorando os limites do seu poder. — Explicou, se sentindo nervoso, diretamente para Will, que parecia concentrado. — Mas não posso deixar toda a teoria de lado, quando é algo fundamental. Então irei explicar algumas coisas e você pode me interromper se tiver dúvidas.

Will concordou, parecendo apreciar a ideia e Jimin sentiu seu estômago revirar em nervosismo e ansiedade.

— Certo. — Confirmou para si mesmo, tentando ganhar tempo. — Como submundanos, nós respondemos ao submundo.

— As villians? — Taehyung interrompeu, atraindo a atenção de Jimin e fazendo Jungkook rir mais uma vez, porque mal havia dito uma frase e o intrometido já havia o interrompido.

— Não. As villians foram construídas para os submundanos. — Jimin explicou com calma. — Feiticeiros, vampiros, Seelies, lobos. Os seres que vivem aqui são meio humanos. Estamos falando do submundo. O lugar onde fica o que não é humano.

Jimin assistiu o vampiro engolir em seco enquanto encarava Jungkook, e não precisou ver para saber que o demônio estava fazendo aquela coisa assustadora com os olhos.

— Pare. — Jimin mandou, e sentiu o calor se aproximando de seu corpo, quando Jungkook sentou na cadeira ao lado, com as pernas abertas, para tocar em Jimin de certa forma.

— Você nunca deixa eu me divertir. — Resmungou.

— Certo. Demônios. — Taehyung murmurou baixo, levemente pertubado. — Ouvi falar sobre eles, sacrifícios, sangue, origens das espécies, essas coisas, mas ainda não havia visto pessoalmente.

— Costumava ter alguns em Amestita. — Will contou para o amigo, com pouco caso. — Mas foram embora quando os mestres morreram. E agora sem as barreiras duvido que eles venham para cá.

— O submundo tem seu charme. — Jungkook provocou, dando de ombros e Jimin o encarou com humor.

— É por isso que você se recusa a voltar para lá? — Dessa vez, o demônio não respondeu, como se aquilo nem sequer valesse a pena o seu tempo. — Demônios normalmente precisam ser invocados para atravessar as barreiras entre os mundos. Não é como villians e o mundo humano. As barreiras aqui eram mais ilusões e proteção, mas estava no mesmo plano astral, o submundo é diferente.

— Existem apenas 7 demônios poderosos o suficiente para atravessar sem serem invocados e eles não dão as caras a muito tempo. — Jungkook complementou, sem realmente pensar no assunto, porque não ligava ao todo.

— E quem são? — Taehyung perguntou novamente, fazendo Will rir com Thom por estar certo sobre o amigo possivelmente atrapalhar e ajudar ao mesmo tempo.

— Demônios não revelam os próprios nomes. E queimaram todos os registros com eles. — Jimin engoliu em seco, sabia que aquilo era um assunto sensível para Jungkook. — Só se pode invocar um demônio se o chamar pelo nome verdadeiro.

A memória era agridoce em sua boca.

Conseguia se lembrar de cada detalhe, dos olhos debochados de Jungkook o encarando de perto, com o claro desprezo de alguém que odiava feiticeiros mais do que tudo.

Quando Eryx lhe apresentou ao demônio preso em seu porão, Jimin ficou encantado e assustado. Jungkook possuía uma aura assassina e violenta, que não deixava dúvidas do quão hostil e perigoso era.

Jimin, que ainda não havia sequer completado uma década de vida, carregava marcas de todas as agressões que vivia diariamente, e se encantou ao enxergá-las no demônio também.

Marcas de corrente, de chicotes, as algemas com símbolos gravados no ferro que cortavam os pulsos do escravo, feridas abertas, o olhar de ódio transbordando enquanto carregava um sorriso no rosto, como alguém que não daria a ninguém o gosto de derrotá-lo.

A sensação de que não estava sozinho no mundo, que havia alguém que o entendia, alguém que odiasse tanto Eryx quanto ele. Aquilo lhe deu esperanças. Porque ele podia ser fraco e inútil, mas aquele demônio, era forte.

E Jimin viu o quanto Eryx o temia em segredo pela forma como Jungkook estava preso. Com correntes nos pés e nas mãos, uma gaiola ao seu redor e um círculo mágico riscado no chão, tudo para impedir o poder do demônio, para impedir ele de se transformar ou de fugir, porque Eryx, assim como Jimin, sabia que a primeira coisa que Jungkook faria quando estivesse solto, seria matar o feiticeiro.

E nada que não seja forte ou poderoso o suficiente para ser temido precisa de tanto esforço. E se Eryx o temia, então essa era a chance de Jimin.

— Olhe bem, garoto. — Eryx disse para Jimin, com a voz esbanjando nojo, enquanto fechava as mãos em um movimento trêmulo, fazendo Jungkook urrar de dor ao sentir como se todos seus ossos se quebrassem ao mesmo tempo. — Nunca alimente o que não é capaz de conter. Eles nos deram o poder esperando devoção e hoje são escravos de seres mais poderosos que eles são incapazes de nos controlar. — Jimin notou o olhar cruel de Jungkook, que mesmo se contorcendo em agonia, ainda era tão irracional que tornava a atmosfera do porão quase irrespirável. — E por isso que se deve matar o que não se pode conter.

Aquilo era uma ameaça intrínseca. Jimin deveria obedecer, deveria abaixar a cabeça e obedecê-lo cegamente, porque quando Eryx decidisse que não poderia contê-lo, o mataria sem pensar duas vezes.

E podia ver pelos olhos de Jungkook, que ele também o mataria se pudessem, mas entre seu mestre e o demônio, ele preferia morrer pelas mãos de Jungkook se isso significasse uma chance de fugir.

— Se eles são poderosos e perigosos, por que invocá-los? — Taehyung perguntou, tirando Jimin de dentro da sua própria mente e o trazendo de volta para o presente, onde Eryx estava morto e Jungkook livre.

— Quem não quer um escravo ou um saco de pancada? — Jungkook debochou, como se a pergunta fosse idiota, e Jimin deslizou a mão para a perna do demonio, como quem tenta lhe confortar.

— Existem muitos motivos, poder, segurança, controle. — Listou com um tom tão frágil que Jungkook teve que encará-lo duas vezes para ter certeza que Jimin não estava prestes a surtar. — No começo, quando a primeira geração os invocou, pediram poder em troca das próprias almas. Não mediram as consequências, mas acredito que nenhum dos lados tenha medido.

Fez uma pausa, para pensar com calma em quais palavras usaria para falar sobre aquilo.

— Quanto mais poder um homem tem, mais poder ele quer. — Seu tom baixo parecia hipnótico e não passou despercebido para ninguém o quanto aquilo era sensível para o feiticeiro. — Quando a segunda geração nasceu, sem alma e com poderes descontrolados, encontraram no vínculo uma forma de conter e controlar o poder.

— Mas para isso precisavam dos demônios e nós não somos os melhores na arte de cooperar. — Jungkook interrompeu com um ar bem humorado, como se aquilo não o atingisse, tentando poupar Jimin de toda aquela merda. — A forma mais fácil seria nos submeter. Nos obrigar a dar o que queriam. Por isso invocações, vínculos, amarras e muita, muita dor. — Fez um gesto de mão, como se tudo aquilo fosse apenas conversa fiada. — Um demônio pode se alimentar do poder do feiticeiro, e devolver o poder com mais intensidade, mas se o feiticeiro o controla torna todo o jogo injusto. Nos tirando nosso direito de escolha.

Taehyung encarou o demônio com um pesar em seu estômago. Pela forma como ele falava era claro que ele já havia passado por merdas como aquela, o que parecia terrível.

— Ainda fazem esse tipo de coisa? — Jungkook poderia entender a pergunta como uma curiosidade desnecessária, mas o tom de voz quase magoado, deixava claro que o vampiro estava mais horrorizado do que tentado.

— Nem todo mundo é tão bonzinho. — Foi a resposta seca de Jungkook.

— Independente se ainda é algo feito ou não, o importante é que eles nos criaram. Nosso poder vem do submundo e de tudo o que vive lá, toda a energia central e espiritual. — Jimin tomou a frente novamente, tentando falsamente parecer mais energético. — Não existem apenas demônios de classes altas ou baixas, existem espíritos, anjos, entidades e...

— Dragões. — Jungkook provocou ao ver o olhar fascinado de Taehyung.

— Sério? — O vampiro facilmente impressionável questionou e Jimin encarou Jungkook o repreendendo com o olhar.

— Não, Taehyung. Sem dragões. — Respondeu com a voz ríspida.

— Eles existem. — Jungkook insistiu, dando de ombros.

— Não, não existem.

— Eles existiram! — Teimou.

— Ele está apenas tentando te enganar. Ele faz isso às vezes. — Afirmou, segurando um suspiro ao ver o sorriso cretino do demônio, antes de se voltar para o que e quem realmente interessava. — Quanto mais você se conectar com o submundo e com as forças da natureza, mas controle sobre seus poderes você vai ter. — Explicou para Will. — Você não precisa de um demônio ou de um familiar, muito menos de algum amuleto para conter seu poder. — pontuou, assustando Will, que não sabia que o outro feiticeiro havia notado o colar em seu pescoço.

— Eu perco o controle muito fácil. — Admitiu, com a voz fraca, mas relaxou ao sentir o namorado o cercando, o incentivando a continuar. — Depois do acidente, Bardo começou a me perseguir e fui obrigado a me conter, mas o limite que eu consigo suportar é muito tênue. E eu não posso correr esse risco perto das pessoas que eu amo.

Jimin encarou o vampiro ao lado do feiticeiro, aquele com um olhar doce e carregado do mais puro afeto. Jimin não sabia o que era ser amado, mas sabia o que era amar. E sabia o que era temer pela vida de alguém que amava. Entendia Will como ninguém.

— Se você conhecer seu poder e tudo o que consegue fazer. Não vai precisar contê-lo, porque terá o controle sobre ele. — Will lhe encarou com dúvida e uma pitada de descrença e Jimin riu fraco ao entender o que o menino estava pensando. — Não estou mais com Jungkook para conter minha mágica. Na verdade, ele foi durante anos o maior motivo do meu descontrole e foi por isso que tive que aprender a me controlar sozinho. Ele não faz um bom trabalho quando se trata disso.

— Gosto quando Jimin perde o controle. — Jungkook admitiu e logo sorriu para Thom como se fosse um segredo. — É sempre mais divertido.

— Se não é por controle, porque manter um vínculo? — Will questionou ligeiramente confuso. Jimin não parecia alguém que buscava mais poder do que já tinha.

— Por que ele me mandaria embora? — Jungkook indagou entre dentes, irritado pela audácia do pirralho a contestar aquilo. — Jimin é apaixonado por mim. Sou a melhor coisa da vida dele, ele nunca faria isso. Além do mais, eu ainda quero o poder dele. Quando ele morrer e eu tiver tudo o que é dele, vou ser o desgraçado mais poderoso do submundo, vou voltar para o meu mundo e governar o inferno para que possamos atravessar e escravizar todos os humanos que estiverem vivos. Vai ser maravilhoso.

O sorriso do demônio era algo entre maníaco e divertido, e Taehyung não sabia se era uma piada ou não, mas esperava que fosse.

— Ele vai poder fazer isso? — Perguntou para Jimin, que encarava o demônio com uma mistura de dor e afeto enraizado, mas o sentimento logo sumiu quando o feiticeiro se voltou para Taehyung.

— Vai. Na verdade, ele vai sim. 


| SWEET DEMON |

Espero que estejam gostando.

Hoje sai os últimos capítulos de ROYALS

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