LIBERDADE RESTRITA
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Capítulo 14 — Liberdade restrita
~ 1857 | Mansão lacrosty | ~
— É um enorme prazer recebê-lo lorde Park, mas confesso que fiquei surpreso ao receber sua carta. — Disse Emílio com um tom cortez.
— Ah. sim, Minha carta. Me perdoe pela visita inesperada. — Jimin comentou desviando rapidamente o olhar para Jungkook, confirmando de que ele havia enviado algo em seu nome.
— Ora, não se preocupe com esse tipo de tolice. Recebo visitantes o tempo todo e é sempre bom estar entre os nossos. — Murmurou com humor.
"Não somos como você!" Resmungou Jungkook em sua mente, com uma voz mimada e atrevida.
— Imagino que sim. — Concordou desconfortável.
— Claro que somos muito mais discretos do que aqueles tolos sanguessugas. — Continuou tagarelando. — Visitei recentemente o Duque de Allaster e é escandaloso como ele mantém o condado.
"É uma prática bastante discreta escravizar demônios"
— Duque de Allaster?
— Ainda não o conheceu? — Perguntou surpreso. — Não perdeu nada. Um regressista odioso. Está a procura de um humano para seu filho recém nascido. Mantém o condado todo em uma tirania assustadora. Tentei lhe alertar sobre os perigos que estava correndo ao chamar tanta atenção, mas vampiros nunca escutam, só pensam em sangue e mais sangue.
— Um filho? — Jungkook questionou confuso, tomando um gole de seu cálice, mas Emílio não o respondeu de imediato, parecendo desconfortável.
— Eu entendo que vocês, mais jovens e progressistas, são a favor da boa convivência com seres inferiores. — Tagarelou para Jimin. — Mas sempre existe o meio termo. Eu por exemplo não mantenho Milleuir preso a correntes, mas também não lhe dou liberdade para falar sem minha permissão com outros feiticeiros.
"Você tá ouvindo esse cara?"
— Não sou a favor de manter uma vila inteira refém, mas também não vejo problemas em achar uma bolsa de sangue viva para um vampiro recém nascido. — Voltou a tagarelar como se fosse o dono da razão. — Viu? Meio termo.
— É um mestiço então? — Questionou Jimin, tentando desviar o assunto, mas Emílio negou.
— Não. Ele engravidou a própria dona, uma humana. — Respondeu pensativo. — Ele tem mantido escravos humanos por todos os lugares, mas se alimenta dela com regularidade. Imagino que esteja procurando algo assim para o filho. Um humano que lhe servirá banquetes de sangue à vontade.
— Isso parece... — Errado? Cruel? Jimin não sabia qual palavra usar. — Extravagante?
— Eu sei. Tentei convencê-lo a maneirar. Está chamando atenção, mas eles nunca escutam. — Uma risada seca e malcriada saiu da garganta do demônio em pé, a alguns metros da mesa, chamando a atenção de todos. — Algo a acrescentar. Milleuir?
— Não, senhor. — A voz carregada de raiva contida ecoou pelo grande salão de jantar.
— Foi o que pensei. — Acrescendo com o nariz erguido e um olhar contido.
— Milleuir é da classe escuridão, certo? — Jimin perguntou para Emílio, com um ar interessado, e sendo um homem apaixonado por falar de si mesmo, voltou a tagarelar.
— É sim. Você entende, é uma classe tão difícil e impertinente, temos que ser duros com eles se quisermos respeito. — Voltou a resmungar.
"Esse cara é um boçal" Jungkook murmurou novamente dentro de sua cabeça e Jimin reprimiu a vontade de concordar com ele.
— Sim, e sempre tem mais o que aprender sobre eles. Não é? — Tentou novamente, e Emílio parou por um momento, analisando Jungkook antes de se voltar para Jimin.
— Imagino que sim. — Se deu por convencido. — Mas não perco muito meu tempo com o que não me é importante.
"Agora Jimin, saia agora para que possamos conversar sobre burocracias e outras coisas a sós"
— Entendo. — Respondeu Jimin com calma, lançando um olhar gentil para Jungkook, que parecia irritado. — Me perdoe por minha indelicadeza, mas poderia sair por um segundo, acho que o caldo não me caiu muito bem. — Resmungou falsamente constrangido, mas o homem pareceu compreensivo.
— É. Caldo de fígado não é pra qualquer estômago. Esperaremos aqui. Pode pedir para o mestre-sala o acompanhar até a ala certa.
Jimin se levantou, lançando um último olhar para Jungkook, que em momento nenhum desviou o olhar de Emílio, com ódio e desprezo. Jimin engoliu o bolo em sua garganta, se conformando de que aquele seria o fim. Seria aquela a última visão que teria de Jungkook e que o Demônio nem ao menos fazia questão de lhe olhar uma segunda vez.
Seria melhor assim. Jungkook encontraria a carta e o amuleto, se já não tivesse encontrado, e então seria livre. Estava tudo bem no final das contas, não tinha com o que se preocupar.
Andou por um corredor longo na companhia do mestre-sala e foi acompanhado até uma sala privativa, com um banheiro, uma lareira e uma cama, para caso quisesse repousar.
Ao se ver sozinho na sala, imaginou por quanto tempo teria que esperar. Se Milleuir iria ser rápido ou se pretendia prolongar ainda mais as coisas. Não tentaria lutar contra, não depois de tudo. Se aquele era o plano de Jungkook, a forma como o demônio queria que acabasse, aceitaria de bom grado.
Se sentou em uma poltrona acolchoada perto da lareira, decidido a esperar pelo final. Segurou as lágrimas o quanto pôde e limpou a que escorreu pelo seu rosto sem sua permissão.
Pensou em Jungkook, em tudo o que havia vivido ao seu lado, em cada momento que o amou sem controlar, a cada palavra cruel dita sem verdade e tentou se conformar com a realidade.
Escutou a porta pesada de madeira se abrindo lentamente, e teve que se esforçar para não soluçar alto. Seus lábios tremiam, lágrimas e mais lágrimas escorriam pelo seu rosto e o bolo em sua garganta só não era mais pesado do que o que estava em seu coração.
— Garoto? — A voz de Milleuir ecoou pela sala e Jimin se encolheu.
— Seja rápido, por favor. — Murmurou, se recusando a encarar o demônio.
— Está chorando? — Questionou confuso, se aproximando para enxergar melhor Jimin. — Não. Droga. — Xingou, se desesperando. — Me escute, Garoto. Precisa parar imediatamente. Se Jungkook chegar aqui e encontrar você nesse estado, ele irá me matar no mesmo segundo.
— O que? — Questionou com confusão, fungando enquanto tentava entender o que o demônio na sua frente falava.
— Prometi a ele que não faria nada com você, que te manteria bem enquanto ele... resolve algumas coisas.
— Ele está matando Emílio. — Mesmo não sendo uma dúvida, Milleuir confirmou.
— Está.
— E você está aqui para me matar.
— O que? Não. Jungkook foi muito claro sobre eu não tocar em você. — Afirmou rindo fraco. — Eu tinha apenas que te distrair e manter seguro enquanto ele faz o que tem que ser feito.
— Mas...
— Acredite, eu também não entendi. Quem recusaria liberdade, não é? — Provocou, encarando o menino choroso. — Eu avisei que você vai traí-lo em algum momento, mas ele não quis me ouvir. — Jimin o encarou em choque e surpresa.
— O que? Eu nunca o trairia. Jungkook é... tudo pra mim. — Respondeu em um murmuro fragilizado, mas o demônio sorriu em escárnio.
— Já ouvi isso antes. De humanos pecadores que juravam lealdade, mas veja só onde isso tudo me levou.
— Não sou como eles. — Negou.
— É pior. Oferece algo a ele que ele nunca poderá aceitar.
— Porque...
Antes que pudesse finalizar sua pergunta, o demônio já caia no chão, sentindo as correntes soltando e o prazer da liberdade percorrendo suas veias.
"Jimin?" — A voz ecoou em sua mente, interrompendo seu próprio pensamento. "Jimin?"
— Ele acabou. — Concluiu, mesmo que o outro já soubesse.
— E eu também. — respondeu o demônio, com um sorriso satisfeito de quem sabia que havia mexido com o feiticeiro. — Faça um favor aos dois, e acabe com isso o quanto antes. Você sabe que ele nunca vai amar alguém a quem ele pertence.
O feiticeiro abriu a boca para responder, mas nada saiu. Sabia que aquilo era verdade. Jungkook odiava ter um mestre, odiava obedecer e ter alguém que podia ditar regras. Não que Jimin o obrigasse a fazer algo, mas o simples fato de saber que poderia se quisesse, já irritava Jungkook até o topo.
Mas se odiava tanto assim, porque não havia aproveitado aquela chance?
— Jimin? — Dessa vez a voz vinha do corredor e sem esperar uma resposta, Milleuir já sumia no vento, sem deixar rastros. — Droga, onde ele se enfiou? — Jimin sentia as pernas bambas, mas mesmo confuso e assustado, caminhou em direção ao demônio que o procurava.
— Estou aqui. — Respondeu baixo, chamando a atenção de Jungkook, que parecia minimamente aliviado.
— Onde está Milleuir? — Questionou encarando o seu menino, e não precisou olhar uma segunda vez para saber que Jimin havia chorado.
— Ele já foi. — Admitiu em um fio de voz.
— Ótimo, vamos. Já acabamos por aqui. — Jimin observou o demônio se aproximando, lhe estendendo a mão para aparatar, mas ao ver as mãos juntas, o bolo em sua garganta aumentou e ficou difícil de respirar.
— Porque fez isso?
— Porque Emílio era um boçal do pior tipo, e você estava se arriscando para descobrir o que estava acontecendo. — Explicou como se fosse óbvio. — Agora você sabe. Pode parar de xeretar e ficar em casa, onde é seguro.
Jimin negou com a cabeça, sem conseguir entender o homem à sua frente.
— Porque não acabou com isso, Jun? Você poderia estar livre agora. Milleuir podia ter me matado e tudo isso não...
— Não sou mais eu que estou preso com você, Jimin. — Jeon respondeu com um sorriso cruel. — É você quem está preso comigo.
//~//
| Atualmente |
— Posso te pagar uma bebida? — O homem gritou por cima da música e Jimin sorriu timidamente, acenando. — Sou o Maison.
— Jimin. — Respondeu por cima da música.
— É um prazer, Jimin.
Jimin poderia estar fora do mercado a muito tempo, mas ainda sabia ler certos sinais. O cara havia lhe pagado uma bebida, não desgrudava os olhos dos seus e forçava uma aproximação em meio a massa de pessoas, lhe tocando sutilmente. O convidou para dançar e não foi nem um pouco respeitável com a distância entre seus corpos, lhe guiando de forma indireta para uma parte mais calma e afastada.
Então não foi uma grande surpresa quando ele lhe beijou. Não era um beijo apaixonado, ou emocionado, era um beijo com gosto de álcool e tabaco, sem fogo ou faíscas, apenas muita língua e mãos soltas.
— Isso é incrível. — Maison resmungou entre o beijo, próximo demais da boca de Jimin. — Eu nunca tinha ficado com alguém da sua espécie. — Jimin se afastou um pouco, tentando entender se havia escutado direito, mas antes que tivesse tempo, Maison já tentava lhe beijar novamente.
— Desculpa, eu acho que preciso ir. — Afirmou se afastando.
— O que foi? Algo de errado? — Perguntou confuso, tentando o segurar, mas Jimin se soltou novamente.
— Se me tocar de novo, irei botar fogo em você e jogar suas cinzas no vaso sanitário. — Assustado, Maison lhe deu espaço para passar e Jimin caminhou a passos duros até a saída da boate, cansado daquela merda.
Do lado de fora pode respirar fundo, tentando organizar sua mente por um segundo, antes de tentar decidir qual seria o próximo passo. Ir embora, ou tentar mais uma vez? Mas antes que pudesse tomar uma decisão, sentiu o calor e a escuridão em suas costas.
— Pronto pra ir? — Jungkook perguntou com um falso controle cronometrado, que chamou a atenção do feiticeiro.
— Você viu?
— É claro que eu vi. — Respondeu sem qualquer sinal de humor em sua voz, apesar de todos os instintos gritantes em seu ser que queriam girar a faca na ferida ainda aberta, Jungkook não se sentia animado, não depois de ver Jimin beijando outro.
— E não vai falar nada? — Instigou. — Nenhuma piadinha ou xingamento? Não vai me falar o quão estupido e patético eu sou?
— Claro, posso fazer isso. — Afirmou com um sorrisinho fraco, que morreu aos poucos ao ver a expressão fragilizada e abalada de Jimin — Você é estupido se acha que existe alguém vivo ou morto que esteja aos seus pés. E é patético que você os deixe chegar perto o suficiente para provar o meu ponto.
Jimin o encarou surpreso, porque aquilo parecia elogios mascarados de ofensa, mas não se deixou intimidar.
— Eu não estou à procura da perfeição.
Estava a procura de algo pior, algo ainda mais difícil, algo recíproco e caloroso, que aquece o coração e revira o estômago, algo puro e verdadeiro, algo quase assustador. E aquilo não era surpresa ou novidade para o demônio e doía saber que não podia ser o que Jimin estava procurando.
— Deveria parar de procurar.
| SWEET DEMON |
Espero que estejam gostando
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