ESCURIDÃO

EU AVISEI...


Capítulo 16 — Escuridão

— Imagino que não seja pelas novidades da loja? — Jimin respondeu com um humor que não tinha.

Não havia visto Milleuir desde o dia em que Jungkook havia matado seu mestre, o dia de sua liberdade. E agora o demônio estava na sua frente, exalando perigo e crueldade.

Jacky e Will encaravam o intruso prontos para atacar, mas Jimin temia por eles, por mais forte que fossem, aquele não era um problema deles. Independente de qual seja o motivo que tivesse trago Milleuir até ali.

— É um lugar realmente... interessante. — O demônio afirmou olhando ao redor com pouco caso.

"Jimin?" A voz em sua cabeça o chamou. "O que está acontecendo? Onde você está? Sinto seu medo."

— Posso pegar alguns itens de colecionador se quiser. Não tem magia, mas são ótimas decorações. — Ofereceu Jimin, descontraído, ganhando tempo. E de forma discreta, colocou a mão na cintura, passando de leve o dedo pela sua marca do demônio, mostrando a Jungkook o que via através de seus olhos.

"Que porra ele tá fazendo ai?" Jungkook perguntou ao ver Milleuir no meio da loja de artigos mágicos de Jacky Monroe. "Estou indo"

Jimin quis negar, avisar que não viesse, mas não sabia como ou porque. Apenas pressentia que não deveria.

— Infelizmente terei que negar sua generosa oferta. — O demônio debochou. — Estou aqui apenas para cumprir ordens.

— Ordens? De quem? — Jimin questionou curioso.

— Bem, Jungkook não é exatamente o filho favorito. E Soberba estava feliz o ignorando, mas quando se quebra regras tão importantes como as de um bloqueio mental, a curiosidade bate na porta do orgulho, a vaidade visita a inveja e o resto vira história. — Contou com humor. — E agora, estou aqui, para pôr um fim naquilo que não pode existir. — Jimin o viu puxar a adaga dourada, e soube exatamente o que era, mas seu cérebro levou 4 segundos para entender suas intenções.

Milleuir estava ali para matar alguém, mas a lâmina de Serafim deixava claro que não se importava com qual dos dois seria.

Mais do que nunca, Jimin quis avisar Jungkook para não vir. Para ficar onde estava e ficar seguro, mas antes que pudesse, o demônio já surgia pela outra porta, com o olhar raivoso e pertubado que Jimin tanto amava.

— Recue. — Ordenou.

— Eu lhe avisei, velho amigo. Não se pode ter tudo. — Milleuir foi firme.

— No momento, quero você morto. — Jungkook rosnou, se aproximando.

— Então somos dois. — Afirmou como se fosse uma competição, antes de avançar em direção a Jungkook, mas Jimin se adiantou, tentando o puxar para o chão, falhando em seu feitiço.

— O que... — Jimin resmungou confuso, sua magia nunca havia falhado, nunca. Mas ao ouvir a risada do demônio, que desviava de Jungkook, entendeu o que acontecia.

— Espero que não se importe, tomei a precaução de bloquear a magia ao meu redor. — Informou com humor, investindo contra Jungkook com a lâmina sagrada. — Encontramos um de seus amuletos a um tempo atrás, demônios têm usado sua magia para se proteger a décadas.

— Jimin... — Will chamou baixinho, confuso com o porque não atingia o demônio como desejava.

— Saiam daqui. Agora. — Ordenou.

— Não vamos te deixar sozinho. — Jacky afirmou.

— Não é assim que nossa família funciona. — Will concordou com o pai.

— Ele é imune a magia, estão indefesos e em perigo. Se querem ajudar, fiquem fora de perigo. — Tentou novamente, aflito por ver Jungkook lutar contra Milleuir enquanto ele possuía uma arma mortal contra demônios em mãos.

— Iremos procurar ajuda. — Will afirmou, arrastando o pai para dentro da casa, na tentativa de buscar por aqueles que não usavam magia para se defender, mas Jimin trancou a porta com um feitiço de proteção assim que os dois passaram por ela. Ninguém daquela família se machucaria por ele.

Jimin observou a cena com cuidado, Jungkook parecia se esquivar bem, mas não conseguiria manter aquilo pra sempre. Precisava distrair Milleuir.

— Porque aceitou vir até aqui, Milleuir? — Jimin questionou em voz alta. — Não conseguiu viver sabendo que Jungkook tinha algo que você jamais terá. — O demônio rosnou, tentando vir na direção do feiticeiro, mas Jungkook o intercedeu.

— Que porra você tá fazendo, Jimin? — Jungkook gritou, irritado, prendendo em uma chave de braço, tentando o distanciar de Jimin. — Explode logo esse bosta.

— Ele não pode. — Riu alto, se soltando segundos antes de cravar a faca no ombro de Jungkook, a lâmina atravessou sua carne, se fincando no gesso da parede.

NÃO! — Jimin berrou apavorado, se sentindo indefeso. Sem saber o que fazer. Não era nada sem sua magia. E agora iriam morrer. Jungkook iria morrer, e não tinha nada que pudesse fazer. Sua magia não respondia.

Jungkook gritou com a dor alucinante que lhe cortava, tentando se soltar, mas parecia impossível. E observou com horror quando Milleuir se virou na direção de seu feiticeiro.

— Não especificaram quem queriam morto. — Respondeu com um sorriso, invocando uma segunda adaga. — Então pensei em reparar o erro que cometi décadas atrás.

— Não. Milleuir. Não. — Jungkook berrou desesperado, se debatendo, rasgando ainda mais o tecido de seu braço. — Porra. Eu vou te matar. Se tocar nele, irei te perseguir pelo resto da existência. Irei te torturar até que implore a morte, filho da puta.

— O que? Vai me dizer que se importa com o garoto? — Repetiu com humor a frase que disse décadas atrás.

— Não toque nele, porra! — Jungkook berrou, desesperado.

— Você não parece tão falante agora, Jimin. — Milleiur disse com humor para o feiticeiro, que negou com a cabeça, se afastando.

— Acabe com isso, Jimin. É o seu poder que está o protegendo. — Jeon berrou do outro lado. — É você. Você é o ser mais poderoso dessa merda de universo, quebre a barreira e mate ele.

— Ele? — Milleuir debochou. — O garoto assustado no canto do quarto?

Jimin desviou o olhar de Jungkook para o homem à sua frente, sentindo a magia fluir pelas suas veias. O medo se tornando raiva, a fraqueza virando força, a ira se transformando em poder.

— Nunca considerei a inveja um sentimento inteligente.— Jimin disse com clareza e poder em sua voz, assustando até mesmo Jungkook, que com medo, ainda tentava se soltar para ajudar Jimin. — Mas você trouxe a única arma capaz de te matar diretamente para as minhas mãos.

Milleuir sorriu.

— Trouxe? — Questionou falsamente confuso. — Ela parece estar segura comigo. — Afirmou apertando ainda mais a arma.

— É o que vamos ver. — Afirmou com um sorriso de lado, antes de convocar tudo o que tinha.

O chão tremeu. Algumas poções, vidros, livros e ervas caíram das prateleiras. As janelas explodiram e o olhar de Jimin parecia possuído. Algo preto e roxo parecia correr por suas veias, como magia escura, suas mãos se acenderam em fogo roxo ao mesmo tempo que o ar ficou seco. Gotículas de água viraram agulhas finíssimas, apontadas para o demônio.

E um passo em falso seria o suficiente para tudo começar.

— Sua magia não pode me tocar. — Milleuir afirmou incerto, blefando, mas Jimin sorriu.

— Eu não preciso que ela te toque. — Devolveu o blefe. E com um movimento de mão, as agulhas foram lançadas, o chão tremeu sobre seu pés e seus olhos mudaram do roxo vivo para o preto.

Jungkook perdeu o ar ao ver Jimin, não sabia o que estava acontecendo, mas algo lhe dizia que não era bom.

Milleuir tentou andar, mas estava preso ao chão, como um encanto que não podia ver.

— O que está fazendo? — Gritou para o feiticeiro, que parecia a cada segundo mais possuído.

Jimin? — Jungkook questionou desesperado ao ver sangue escorrendo dos ouvidos do feiticeiro. — Jimin!

Milleuir caiu no chão, sentindo a dor percorrer seus ossos. A carne se espremendo e o ar faltando. Aquilo não era possível. As proteções nunca haviam falhado antes. De joelhos, cuspiu sangue à sua frente, não conseguia se mexer e a dor parecia o consumir a cada segundo.

— Volte para o inferno e diga a Soberba e qualquer outro que ousar se meter, que matarei todos se for preciso. Destruirei o inferno e quem mais precisar. — Sua voz não era mais doce e melodiosa, era assustadora, possuída e carregada. Como se mil vozes falassem junto a ele.

Jungkook observava a cena com medo, conseguia sentir Jimin, conseguia sentir a dor e o esforço que o feiticeiro fazia. Se ele não recuasse, aquilo o mataria. Precisava fazer algo.

Com esforço e dor, puxou a adaga que atravessava sua pele. E usando quase toda a força que tinha, gritando de agonia, sentindo o sangue jorrar da ferida, conseguiu se soltar.

— Não voltem a nos procurar. — Afirmou sem medo, sem recuar mesmo que sangue escorresse pelo seu nariz, olhos e ouvidos. — Vocês criaram algo que não podem conter e vão pagar o preço se tentarem novamente.

Milleuir engasgava com o próprio sangue e vendo que morreria se continuasse ali, tentou abrir o portal para fugir, mas antes que conseguisse, a lâmina atravessou seu coração e seu corpo fraquejou em cima de Jungkook, que sem cuidado o jogou para o lado.

Jimin ainda parecia possuído por magia das trevas, como se não conseguisse controlar e Jungkook se arrastou até ele, desesperado, sem forças, assustado com o que sentia vindo do feiticeiro.

— Jimin. Por favor, por favor, pare, você está morrendo, meu amor. Pare. Por favor. — Implorou, de joelhos para o homem que amava. O homem que teve medo de amar durante toda a sua vida, o homem que perderia se não salvasse. O homem que havia feito tudo por ele. O homem que havia lhe mostrado o amor. O homem que era tudo em sua vida. — Jimin. Por favor, meu amor. Por favor. Acabou. Está tudo bem agora. Pare.

Os olhos de Jimin caíram sobre Jungkook, como se não o reconhecesse no primeiro momento, mas logo compreensão os atingiu. E os ombros relaxaram no mesmo instante que a exaustão o dominou, o derrubando no chão.

Jungkook o segurou em seus braços, em um abraço desesperado, porque o sentia fraco, o sentia destruído, morrendo em suas mãos. Havia feito de tudo para proteger Jimin e agora o perderia para o que mais tentou evitar.

O tremor parou, a porta trancada se abriu, deixando todos que tentavam ajudar, finalmente entrar. Os olhos de Jimin não focavam com precisão, seu coração batia fraco e sangue preto escorria de todos os lugares, inclusive de sua garganta.

— Jun... — Jimin murmurou com um sorriso fraco ao ver o demônio. Sabia que estava morrendo, sabia que aquele era o momento.

— Não fale. Precisamos de ajuda. — Admitiu desesperado. Olhando ao redor, vendo Jacky, Nora, Will e todos os outros. — Ajudem ele. Ele não pode morrer. Ele não pode... — Só naquele momento Jungkook notou que chorava novamente. Dessa vez um choro desesperado e agoniado. — Por favor. Nos ajude.

— Jun... — Jimin tentou novamente, chamando sua atenção. — Tá tudo bem. Eu to bem.

— Não tá...

— Existe um medalhão e...

— E uma carta, eu sei. — Jungkook afirmou negando. — Não quero seu medalhão, nem sua proteção, quero meu mestre, quero você. Você não vai pra lugar nenhum, Jimin. Não deixarei.

— Eu to feliz que esteja comigo agora.

— Jimin...

— Se proteja. E aproveite a liberdade. — Os olhos de Jimin perdiam o foco. E Jungkook era consciente da movimentação agitada ao redor, mas nada além de Jimin importava naquele momento.

— Você não vai morrer.

— Não seja malvado. — Continuou com esforço, porque sabia que não tinha tempo para discutir daquela vez. — Você tava certo — Admitiu com um sorriso fraco, manchado de sangue, sentindo a consciência o deixando aos poucos.

— Não durma, Jimin. Por favor. Eu imploro. Fique acordado, meu amor. — Repetiu como um mantra ao ver os olhos pesados caindo.

— Eu sempre te amei...

E aquilo foi a última coisa que disse antes da escuridão o levar. 

| SWEET DEMON |


NÃO É SADFIC!

Não se esqueçam que eu só trabalho com finais felizes e açucarados.

Mas e ai? O que acharam?

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