DEMÔNIOS E PECADOS

COMENTEM BASTANTE


Capítulo 13 — Demônios e pecados

~ 1857 | Suíte de lorde Park em Symoon | ~



| Alerta de conteúdo sensível: Morte e suicídio |


— Você enlouqueceu? — Jungkook gritou irritado.

Seu temperamento estava a cada dia pior, mais irritado, mais violento, mais estressado, como se nada nunca fosse o suficiente para acalmá-lo. Nem mesmo suas visitas diárias ao bordel local estavam melhorando seu humor e Jimin já não sabia mais o que fazer.

— Eu... — Como se seu cérebro tivesse derretido, se sentia incapaz de formular uma resposta coerente.

— Está tentando chamar minha atenção? Sendo imprudente de propósito ou algo assim? Porque não vai funcionar, Jimin. — O interrompeu. — O que você fez hoje foi ridículo. Se expondo a um perigo daqueles sozinho, como se fosse imortal ou algo assim.

— Eu sou imortal. — Murmurou baixo, irritando ainda mais o demônio.

— Diga isso quando tiver uma estaca no seu peito. Inferno. — Rugiu furioso.

Poucas coisas deixavam Jungkook tão bravo e sendo sincero, Jimin não esperava por uma reação como aquela, mas seu peito se apertou ao ver o quão preocupado Jungkook parecia estar.

— Eu não deveria ter ido até lá sozinho, sinto muito, mas eu precisava...— Jungkook o interrompeu.

— Você não sabe do que precisa, Jimin. Você não sabe nada sobre a vida. Está andando para cima e para baixo como se fosse seguro e ignora tudo o que eu digo. Está tentando me enlouquecer.

Jimin abaixou a cabeça, sem saber o que dizer naquele momento. Sentindo as mãos trêmulas e o coração apertado.

— Você leu a carta? — Perguntou com um fio de voz, mas pela risada áspera do demônio, Jimin soube que fez mal em perguntar.

— No momento que notei que não estava no seu quarto, como havia dito que estaria, milhares de coisas passaram pela minha mente, algumas incrivelmente perturbadoras e nenhuma delas era sobre essa maldita carta. — Respondeu tirando o papel amassado do bolso, o jogando aos pés de Jimin, no chão de madeira escura. — Se livre desse lixo e pare com essa merda, Jimin. Não me faça repetir.

E com passos duros, o demônio saiu do quarto, deixando o feiticeiro sozinho, com lágrimas nos olhos e medo encarnado.

Já havia feito de tudo por ele. Já havia o libertado como podia e lhe dado chance de sobra de finalizar aquilo, mas Jungkook parecia se recusar a fazer o óbvio. E Jimin tinha medo de que Jungkook nem ao menos fosse gentil o suficiente para lhe matar antes de ir.

Por isso havia escrito a carta, por isso havia deixado o medalhão em cima da cama, por isso havia se enfiado mata a dentro em direção a igreja local, por isso pretendia se sacrificar. Por ele, tudo por ele, mas Jungkook havia chegado antes que pudesse se expor como bruxo e o tirado de lá tão rápido como um raio. Um raio furioso.

Jimin se deixou cair de joelhos e chorou tudo o que estava preso em seu peito. Chorou por cada palavra escrita naquele papel, pela decisão difícil que havia tomado, pelo fracasso da noite e por mais uma vez, não ter a misericórdia de Jungkook.

Por perceber mais uma vez, que ele nunca facilitaria as coisas.

Jungkook fugia para longe sempre que possível e estava a cada dia mais irritado, mas se recusava a ir embora ou a dar um fim em sua vida. Tinha medo de que quando soubesse sobre o medalhão, apenas fosse embora, e o deixasse para trás, vivo e sozinho. O feiticeiro tentava se enganar ao acreditar que ao menos ali, no último momento, Jungkook seria gentil o bastante para lhe matar antes de ir, mas atitudes como aquela, garantiam a Jimin que aquilo não estava nos planos dele por agora.

O que o despedaçava por dentro. Por não ser digno nem mesmo daquilo.

— Eu deveria fazer por mim mesmo. — Murmurou ainda no chão, com a carta abandonada à sua frente, amassada como se fosse um lixo qualquer e não suas últimas e mais sinceras palavras.

Como se seu coração não estivesse ali, como se não tivesse se despedaçado ao escrever aquilo para o demônio, ao admitir que o amava e que por isso o libertaria.

Chorando, Jimin conjurou uma adaga de prata, afiada e cravejada por pedras bonitas.

— Rápido e fácil. — Murmurou para si mesmo, posicionando a lâmina contra seu peito, respirando com dificuldade. — Por ele. Vamos, você consegue. — Murmurou entre lágrimas dolorosas, mas deixou a arma cair ao se dar conta de que era incapaz de fazer aquilo.

Deixando o corpo cair contra o chão duro, Jimin desmoronou, com lagrimas quentes escorrendo pelo rosto fino, levando com ela a dor de um coração frio.

— Por favor, Jun. Por favor. — Murmurou Jimin com a voz embargada. — Faça isso por mim. Estou esperando por você. Por favor.

Jungkook que observava toda a cena com atenção, escondido em um ponto cego do quarto, atento a qualquer movimento em vão para mergulhar e impedir Jimin daquela loucura sem sentido, sentiu o peito aliviado ao ver que por hora o feiticeiro havia desistido daquilo.

E decidido a resolver a situação saltou para fora, voando em céu aberto até alguém que poderia lhe ajudar e assim que avistou o grande casarão, se aproximou com cautela para não ser visto.

O lugar todo o lembrava de Sun Hall. Sempre escuro, úmido e carregado de dor, fedendo a infelicidade e desespero.

Milleuir, um demônio da escuridão, estava sentado em uma poltrona velha, com um cálice de algo denso e viscoso, parecia despreocupado, mas Jungkook o conhecia melhor do que aquilo.

— Olha só quem voltou? Pensou melhor em minha proposta? — A voz carregada de sarcasmo quebrou o silêncio da sala e Jungkook, frustrado, saiu da escuridão.

— Na verdade, pensei. E trago uma contraproposta. — O Demônio o encarou com interesse, largando o cálice em uma mesa pequena e de aparência frágil, mas antes que Jungkook pudesse dizer qualquer coisa, Milleuir o analisou com atenção antes de soltar uma risada fraca e mal humorada.

— Ainda é sobre o garoto? — Debochou.

— Jimin não tem nada a ver com isso.

— Claro que não. — A risada seca rasgou a garganta. — Eu lhe propus liberdade, lhe propus uma vida sem um mestre lhe controlando ou usando. Algo que todo demônio morreria e mataria para ter, e quer que eu acredite que o fato de ter recusado não tem nada a ver com o garoto?

Jungkook engoliu em seco, dando o seu melhor para não mostrar fraqueza. Aquilo seria um erro seríssimo.

— Tenho planos maiores para ele do que a morte. — Tentou, mas o demônio riu novamente, como se tudo aquilo fosse ridículo.

— Garoto. Eu não sou idiota. Você pode ser filho da soberba, mas eu sou da inveja. Sinto de longe quando algo é mais do que aparenta ser.

— Bobagem. — Negou, começando a andar pela sala, como se tudo ao redor fosse muito interessante.

— Então imagino que veio aqui para que possamos finalizar nosso plano? — Mas então, como se se lembrasse de algo, se corrigiu bem humorado. — Ah, certo, Você tinha uma contraproposta que nada tinha a ver com o garoto que dorme ao seu lado.

— Irei matar seu mestre e libertá-lo. — Afirmou Jungkook, ignorando as piadinhas do amigo.

— E quando a Jimin?

— Jimin fica vivo. É claro.

É claro. — Repetiu ainda com humor. — Sabe, contradizendo a voz popular que julgaria suas atitudes como burras, eu lhe acho interessante, no mínimo. Até mesmo corajoso.

— Não to com cabeça para suas gracinhas agora, Milleuir.

— Estou sendo sincero. — Reafirmou. — Qualquer um no seu lugar já teria matado o garoto no primeiro sinal de perigo. Você não só não o matou, como está o protegendo de um final inevitável. — Balançou a cabeça, falsamente desacreditado. — É lindo de se ver. Espero estar por perto quando o fim chegar, adoraria ver como um ser orgulhoso e presunçoso como você vai ficar quando perder tudo.

— Não estou o protegendo de nada. — Mentiu. — Jimin não é meu. — Mentiu novamente. — E não existe um final. — Milleuir se levantou, com graça.

— Não existe nada mais triste do que a auto rejeição. — Negou com a cabeça. — Somos demônios da escuridão, somos a linha de frente, os primeiros filhos dos pecados. Eles nunca deixarão que tenhamos algo, nada nunca ficará no nosso caminho. Quando descobrirem sua fraqueza pelo humano, irão tirar isso de você, como se não fosse nada. E você sabe disso. Tá insistindo em um erro já cometido. Lutando por um feiticeiro que vai se virar contra você.

— Não foi o meu erro. — Jungkook insistiu, sem se deixar vacilar por nenhuma palavra dita, mas no fundo sentia aquele medo, o medo de perder Jimin.

— Eu estava lá, Jungkook. Eu vi o quanto todos estavam fascinados com os brinquedinhos novos, humanos medíocres com poderes bobos. E bastou um segundo olhar para o inferno os corromper e os virar contra a gente, como punição pela nossa transgressão viramos escravos de nossa criação. Se lembre de tudo o que aconteceu e se pergunte se realmente quer manter esse humano vivo. Se quer que ele viva o suficiente para o futuro em que ele lhe destruirá?

— Jimin fica vivo. Isso não está em negociação. — Foi firme, fazendo o outro demônio suspirar desistente.

— E o que você ganha com a minha liberdade? — Questionou curioso e Jungkook deu de ombros.

— Meus motivos estão acima do seu entendimento, tudo o que precisa saber é que virei até aqui, matarei seu mestre, libertarei você e Jimin ficará ao meu lado.

//~//

— Ordene que arrumem uma carruagem o mais rápido possível. — Ordenou para o servo ao lado da porta, sem se preocupar com Jimin, que bebericava de seu cálice, encarando o demônio com curiosidade.

— Como deseja, milorde. — O homem afirmou se retirando e Jungkook se dirigiu a Jimin, pela primeira vez em muito tempo, com humor.

— Vamos, iremos a um lugar essa noite. — Jimin o encarou um tanto perdido.

— Um lugar?

— Mansão Lascroty. — Informou ainda com um sorriso e Jimin sentiu seu estomago revirar.

Emilio Lascroty, o feiticeiro mais próximo da região com um demônio da escuridão. Um dos nomes em sua lista de possíveis futuras vítimas.

Jimin encarou Jungkook desejando mais do que tudo ler sua mente. Saber o que ele pretendia e o porque colocar dois feiticeiros que se encaixavam nos parâmetros do assassino em uma mesma sala.

Eram sempre dois corpos, sempre mortos aos pares, sempre feiticeiros portadores de demônios.

O pensamento de que estava indo em direção a morte certa passou pela sua mente durante o passeio de carruagem. E encarando Jungkook de rabo de olho, Jimin pensou se aquele era o melhor momento para entregar a Jungkook o medalhão.

Jun...

— Preste atenção. — Jungkook o interrompeu. — Tenho assuntos para tratar com Emilio, preciso que nos deixe a sós por alguns minutos.

— Assuntos?

— Burocracia. — Jimin notou que o demônio tentava despistá-lo, o que o deixou ainda mais alarmado. — Sugira um passeio ou qualquer coisa que lhe tire da sala ao meu sinal. Milleuir vai encontrá-lo até que tudo esteja resolvido.

Jimin iria questionar, fazer as perguntas que o atormentavam, mas então as peças se encaixaram em sua mente e tudo ficou muito claro de um momento para outro.

Feiticeiros portadores de demônios mortos aos pares. Nenhum sinal dos demônios convocados, demônios esses que não poderiam machucar os próprios mestres, mas poderiam matar os mestres um dos outros.

Jungkook havia o levado até ali para que Milleuir pudesse o matar em seu lugar. Jungkook nem mesmo o deixaria lhe olhar nos momentos finais. De repente se sentiu frio e vazio.

Em um ato não pensado segurou a mão do demônio e encarou seus olhos, com afeto, o mesmo que se usa para encarar o que ama uma última vez, antes de deixar ir.

— Esperarei por você. 

| SWEET DEMON |

Essa história me destrói aos poucos

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