A ÚLTIMA BARREIRA
Capítulo 15 — A última barreira
— Você não vai falar nada?
Jimin estava pensativo e Jungkook odiava isso. Odiava o silêncio mórbido e machucado do feiticeiro, que se manteve quieto o caminho todo até em casa. Jungkook odiava não saber o que fazer, ou como ajudar, principalmente porque havia avisado Jimin para não sair.
Sabia que acabaria assim.
— Estou cansado, e não quero brigar. — Informou com a voz exausta, mas Jungkook riu sem humor, descrente do que estava ouvindo. — O que foi agora?
— Você age como se a culpa fosse minha. Como se eu puxasse a briga.
— Vai negar? — Perguntou, sem conseguir segurar a própria língua.
— Bom, eu que não sou. Eu não inventei de sair e também não sou eu que fico invejando o que não posso ter.
Jimin parou no meio do quarto, antes de se virar para o demônio. Jungkook estava tentando começar uma briga, isso era óbvio. Ele estava cutucando feridas e o instigando por algum motivo, e era ridículo como era incapaz de não morder a isca que o demônio lhe oferecia.
— O que... — Suspirou, ainda mais cansado. — O que você quer de mim? — A voz frágil irritou ainda mais o demônio.
— Que você pare de agir como se não soubesse das consequências dos seus atos. — Afirmou se aproximando mais do feiticeiro. — Que pare de desejar algo que não pode ter.
— Eu não posso... — Jimin murmurou com lágrimas nos olhos.
— Porque não? Você me ama, isso não é o bastante, inferno?
— Não. Não é. — Respondeu Jimin em um grito. — Não é porque você não me ama. — Sua expressão mudou rapidamente para surpresa, como se a própria confissão tivesse o surpreendido. E notando que Jungkook falaria algo, levantou a mão em uma ordem. — Não. Não falaremos sobre isso.
— O que? — Questionou tentando contrariar a ordem. — Você não pode... porra. Jimin. Me deixe só...
— Não. — Afirmou perturbado. — Eu não deveria ter falado isso. Eu não deveria te cobrar nada. Não é assim que as coisas funcionam. Eu prometi que nunca te cobraria sobre isso. — A cada palavra, mais transtornado Jimin parecia e aquilo parecia uma nova forma de tortura para Jungkook.
Ele sabia que Jimin tinha sentimentos e sabia que não poderia corresponder, que era incapaz daquilo, mas naquele momento, aquilo pareceu demais. Jimin nunca havia admitido e sabia que enquanto as palavras não saíssem, tudo estaria bem, mas notou naquele momento que não estava.
Mais do que nunca, quis ser diferente, quis poder devolver tudo o que Jimin havia lhe lado. Queria o corresponder, queria que ele fosse feliz, ao menos um pouco feliz. Queria não ser a causa de tanta dor para ele.
Jimin se assustou ao sentir o demônio o abraçando. Sentiu seu rosto pressionado contra sua camisa, sentindo seu cheiro e seu calor.
— O que está fazendo? — Perguntou confuso e perdido, sua voz abafada pelo peito do demônio.
— Eu... não sei. — Admitiu com a voz fraca. — Eu gostaria de ser o que você precisa. — Jimin se assustou com a revelação. — Eu queria, Jimin. Eu não sou, mas queria ser.
— Jun...
— Eu não entendo você a maior parte do tempo. E às vezes preferia que você me odiasse, porque seria mais fácil, mas tudo o que eu sinto é raiva e ódio, porque você tá se destruindo e eu não sei como fazer parar.
Jimin relaxou ao ouvir as palavras, sentindo ainda mais lágrimas escorrendo de seu rosto, tentando se aproximar ainda mais do demônio e em um movimento assustador para Jungkook, Jimin o abraçou de volta.
— Isso me parece bom. — Jimin murmurou frágil, surpreso por Jungkook se abrir de tal forma.
— Eu me importo. Me importo pra caralho. — Foi sincero, tentando abordar o assunto da forma que conseguia, sem desobedecer a ordem. — Tentei o meu melhor por você, mas não sei o que você quer.
— É isso o que eu quero, Jun. — Afirmou levantando a cabeça para encarar os olhos pretos do demônio. — Quero abraços calorosos, pele com pele, olhos nos olhos. Compreensão silenciosa e afeto mútuo. — Os olhos de Jungkook transmitiam total pânico e descrença, como se Jimin tivesse acabado de amaldiçoá-lo pelo resto da vida. — Você consegue entender isso, Jun?
— Não. Na verdade, não consigo não. — O demônio murmurou baixo, com uma expressão triste e confusa.
— Para alguém que não entende, você é um ótimo abraçador. — Jimin murmurou o conduzindo para a cama, deitando lado a lado, abraçados, sentindo o calor fluir entre os corpos de uma forma perfeita, tentando descontrair o que agora parecia um momento leve e intenso.
Durante anos havia desejado aquilo, mas Jungkook sempre o afastava ou se recusava. Aquele momento provavelmente seria único e isolado, mas para Jimin parecia o suficiente no momento, porque Jungkook havia admitido que se importava.
— Eu me sinto errado. — Jungkook murmurou baixo, apertando ainda mais Jimin em seus braços.
— Errado como?
— Como se a qualquer momento alguém fosse entrar aqui e nós degolar. — Murmurou com um tom sombrio, e Jimin não precisou olhar para saber que toda a atenção do demônio estava voltada para a porta do quarto, esperando pelo momento onde possivelmente seriam atacados.
— Está se sentindo em perigo? — Questionou por um momento, tentando entender o que Jungkook lhe falava nas letras miúdas. — Vulnerável talvez? — O demônio ponderou por um segundo ou dois, antes de confirmar.
— Acho que sim. — Afirmou. — Algo como ir desarmado e pelado para uma guerra ou dormir no inferno com a porta aberta. — Brincou, em uma tentativa falha de piada.
— Eu acho que é normal se sentir assim em um momento como esse. — Jimin tentou o confortar, se recusando a se afastar. — Acabamos de admitir coisas que nunca admitimos antes.
— Você não parece perturbado ou vulnerável.
— Bom, eu estou.
— Não como eu.
Jimin ponderou aquilo e teve que concordar. Poderia estar se abrindo e se entregando mais um pouco para o Demônio, mas não era tão difícil para ele, quanto era para Jungkook. O feiticeiro já havia se conformado com o tempo que amava aquele ser mais do que tudo, mas Jungkook ainda não estava acostumado ou pronto para receber seu amor.
— O que está fazendo? — Jungkook perguntou ao sentir a mão do feiticeiro deslizando pelo seu peito.
— Ficando vulnerável. — Respondeu em um sussurro antes de soltar a única corrente que faltava.
O peito de Jungkook subiu e desceu, um tanto bambo com a sensação. E o demônio se sentiu inundado de sentimentos que não conhecia.
A barreira mental de Jimin caiu, Jungkook tinha acesso a tudo e não sabia o que era mais perturbador, a confiança que Jimin depositava nele ou o sentimento intoxicante que fluia do menino ao seu lado.
Quando a primeira barreira caiu, Jungkook ficou irritado. Jimin havia mesmo lhe dado a opção de ir embora? Não era isso que o demônio queria, ele não queria que Jimin o afastasse, queria que Jimin fosse consciente do quão necessário ele era e que não poderia viver sem ele, mas Jimin lhe deu a opção de ir. Obviamente, ele não foi.
Quando a segunda barreira caiu, não soube o que fazer. Eram ameaças vazias que nunca cumpriria e agora Jimin estava pagando pra ver, e por mais que cada fibra de seu ser gritasse para por um fim naquilo, para matar o garoto que lhe dava tanto antes que não sobrasse nada, antes que o mundo o tirasse tudo, foi incapaz de matá-lo.
Na terceira barreira, não soube o que pensar, Jimin acreditava mesmo que não o salvaria? Que ficaria ali, assistindo alguém o machucar? Ele não entendia que por mais que não pudesse admitir, não queria o menino morto? Já havia provado de inúmeras formas o quanto prezava por Jimin, e ele continuava ali, esperando por algo que nunca viria.
Mas aquela, a quarta barreira, era a principal, a única coisa que impedia Jungkook de enlouquecer Jimin, de matá-lo de dentro para fora. Era a principal regra dos mestres de demônios, nunca derrubar a barreira mental, e Jimin havia a derrubado, havia lhe entregado de mão beijada, como um presente inesperado. E Jungkook não sabia o que fazer com isso.
Um sentimento desconhecido parecia entorpecer sua mente, de uma forma fugaz e devastadora. Seu peito se enchia, seu estômago se contorcia e sentia seus olhos ardendo de uma forma estranha que nunca havia sentido antes.
— O que é isso? — Murmurou com a voz falhada, chamando a atenção de Jimin, que se assustou ao ver os olhos do demônio transbordando.
— Você está chorando? — Perguntou surpreso, mas Jungkook negou.
— Demônios não choram. — Foi firme, como se Jimin estivesse sendo bobo, mas ao ver o sorriso terno do feiticeiro, sentiu tudo com ainda mais intensidade.
— Acho que agora você chora. — Sorriu, se esticando para lhe dar um beijo simples em sua bochecha. — Como é a sensação? — Questionou com genuína curiosidade, mas Jungkook apenas sorriu, um sorriso bambo e frágil.
— Eu não sei... — Murmurou sem saber o que dizer. Nunca havia sentido nada parecido, não sabia o nome daquilo, mas era assustadoramente bom, como se fosse o consumir. — Sua mente tem muitas informações e coisas desconhecidas pra mim. Não consigo... entender. E agora estou chorando.
— Você está triste? — Jimin questionou com um sorriso, porque era claro que Jungkook não estava infeliz naquele momento.
— Não.
— Então talvez esteja chorando de felicidade.
— Felicidade? — Questionou como se o termo fosse confuso e abstrato em sua mente.
— Eu me sinto feliz agora. — Jimin lhe contou como se não fosse nada demais. — Estamos aqui, juntos, conversando de forma sincera e sinto que nunca estivemos tão próximos e ligados, mesmo que tudo o que nos sustenta seja o acordo final. Você se importa e quis me dar o que eu quero e... eu estou feliz por estar com você agora.
— Você já se sentiu assim antes? Comigo? — Perguntou com a voz baixa, como uma criança assustada, com medo da resposta.
— Claro que já. Sempre que você está de boca fechada ou sendo um idiota com outra pessoa que não comigo. — Brincou, vendo o demônio rir, quase sem ar, como se o sentimento estivesse o consumindo.
— Porra, como você pode viver assim? Parece que estou morrendo. — Jimin sorriu com a afirmação. Jungkook estava sentindo o que ele sentia. Todo o amor transbordando de um para o outro. Se soubesse antes que seria assim, teria derrubado aquilo muito antes.
Era por isso que os mestres se recusaram a descer essa barreira? Para que os demônios nunca compartilhassem de seus sentimentos? Aquilo era cruel, mas tinha seu sentido em uma realidade onde mestres prezavam torturar seus demônios.
— Eu quero testar uma coisa... — Jungkook murmurou abafado antes de puxar Jimin para um beijo repentino. Suas mãos deslizando pela pele quente do feiticeiro, tentando o devorar o quanto podia.
Suas bocas pareciam sincronizadas, perfeitas uma para a outra, o momento parecia leve e apaixonado, e o que transbordava de Jimin era o mais puro amor.
— Porra, porra, porra... — Jungkook resmungou colando sua testa na do feiticeiro. — Você é meu. — Afirmou, da mesma forma como havia feito tantas outras vezes, mas sem deixar espaço para discussão, não era uma pergunta, nunca havia sido uma pergunta. Era uma afirmação. — Você é meu pra caralho, Jimin.
— Eu sou. — Respondeu com um sorriso fragilizado, perdido em tudo o que estava acontecendo. Jungkook parecia intenso e apaixonado, explorando tudo o que não conhecia antes. — Sempre fui seu.
Ao escutar a afirmação, sentiu seu corpo ser entorpecido por um tipo de alívio que nunca havia sentido antes, seu corpo ficou mole e relaxado, e sem pensar muito, afundou seu rosto contra o pescoço de seu homem.
Não sentiu a hora em que apagou, mas Jimin notou o corpo relaxando contra o seu. Aquilo parecia algo surpreendente e uma mudança grotesca no relacionamento que tinham. Jungkook agora tinha acesso a sentimentos que nunca havia tido antes. E Jimin se sentiu estupido por não ter feito isso antes.
//~//
— Onde está Jungkook? — Jacky Monroe questionou ao ver Jimin e Will zanzando sozinhos em sua loja pela manhã.
— Dormindo, imagino. — Respondeu com as bochechas coradas.
— Isso não é do feitio dele. — Exclamou com surpresa e curiosidade, Jungkook perseguia Jimin o tempo todo. — Algo aconteceu?
— Talvez... — Respondeu Jimin, desviando o olhar, mas Jacky era astuto e já havia vivido séculos o bastante para saber quando desconfiar de algo. — Eu posso ou não ter quebrado a nossa barreira mental.
— Jimin? — Exclamou alarmado. — Ficou louco? Ele lhe matará. — Disse com certeza. Era tudo o que todos sabiam sobre vinculações com demônios. A barreira principal e mais poderosa era a mental.
Era o que impedia o demônio de manipular seu mestre, de o enlouquecer ou de o atormentar. Ou pior ainda, de o forçar a usar seus poderes como bem entendesse.
— Você quebrou a regra principal. Pensei que um veterano como você, não cometesse erros como esse. O que aconteceu?
— Não acho que tenha sido um erro. — Afirmou pensativo. — Na verdade, isso abriu uma nova porta de informações para mim.
— O que quer dizer? — Will se meteu na conversa, curioso e interessado.
— Bom, por medo, nenhum feiticeiro nunca quebrou tal barreira. Até mesmo eu, tinha medo do que aconteceria se Jungkook tivesse tanto poder e acesso a mim, mas... acho que isso era uma forma de os punir.
— O que? — Jacky questionou, ainda mais confuso com aquela afirmação.
— Acho que essa barreira me permite compartilhar sentimentos com ele, sentimentos que ele não tem acesso por ser o que é. — Desviou o olhar, sem saber como explicar da forma certa. — Ouvi certa vez que demônios da escuridão eram incapazes de ter sentimentos bons.
— Isso não pode ser sério. — Will resmungou incrédulo. Tinha certeza de que o demônio sentia algo pelo feiticeiro, havia os observado de perto. Não tinha como aquilo ser verdade.
— Eu também tive minhas dúvidas, mas com o passar dos anos, ficou claro que Jungkook não sentia as coisas da mesma forma como um humano sente. Talvez ele até tivesse um padrão do que era humor, felicidade ou até... bom, até amor. Mas não chega aos pés da intensidade com a qual nós sentimos isso. — Respirou fundo. — Eu achei que fosse medo por tudo o que ele havia passado, anos e mais anos de tortura e dor, mas ontem, quando eu quebrei a barreira, ele sentiu parte do que eu sinto. E foi... emocionante, para dizer o mínimo.
— Se isso é verdade, então porque...
— Parte de ser um mestre de demônios consistia em tortura-los até que eles obedecessem cegamente. Dar o direito de sentir algo bom, não fazia parte do processo. — Explicou suspirando. — Mas fico feliz de ter confiado nele o suficiente para fazer isso.
— Contanto que vocês estejam bem, eu fico feliz por vocês. — Jacky respondeu com um sorriso, logo se voltando para a porta que abria, anunciando a entrada de um novo cliente. — Bom dia, em que posso ajud... — Jacky parou a frase no meio, notando o olhar escuro do homem à sua frente.
A loja ficou fria e o ar pesado, difícil de respirar.
— Estava te procurando, Jimin. — O homem afirmou com humor na voz, e Jimin engoliu em seco ao reconhecer Milleuir.
| SWEET DEMON |
Oq estão achando???
Já deixo avisado que no proximo capítulo vai ter gente chorando, cachorro latindo e criança fazendo birra.
Boa noite!
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