⊹ Capítulo Um.

Notas do Autor: Olá, estrelinhas! Sejam todos bem vindos ao primeiro capítulo de Sweater!

⠀⠀Lembrando que, por favor, leiam o capítulo de introdução e avisos antes de enbarcarem nesta leitura! A fanfic tem uma narrativa que aborda conteúdos sensíveis e mais "pesados" que ainda são vistos como tabus no meio das fan fictions, portanto, a saúde e bem estar psicológico de vocês devem vir em primeiro lugar!

⠀⠀E, caso se interessem, a playlist da estória está disponível no meu perfil. Boa leitura a todos!

Como você pode sentir falta de
alguém que nunca conheceu?
Porque eu preciso de você agora,
mas ainda não te conheço.

- IDK You Yet; Alexander 23.

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Setembro.
Seul, Coréia do Sul.

⠀⠀Amarelo é uma cor intensa, não acham?

⠀⠀Que transpira otimismo e criatividade, contando também com a veracidade de que algumas tonalidades até nos dão certa sensação de serenidade. E é inegável o fato de que o amarelo é uma cor com muito brilho.

⠀⠀Uma cor energética e chamativa.

⠀⠀Mas, como tudo que reluz demais, ela pode, similarmente, se tornar difícil de observar com o tempo. Como o sol.

⠀⠀E é dessa forma que nossa história começa: em uma tarde ensolarada. Na qual o brilho amarelado do sol era tão bonito de se registrar e apreciar, mas tão difícil de se contemplar com os próprios olhos...

⠀⠀Os raios desse reluzente astro acariciavam às partes descobertas da pele já dourada do intercambista francês, que, mesmo um pouco incomodado pela pequena ardência presente nos locais atingidos, não demonstrava nenhum tipo de desconforto na face sorridente e genuinamente feliz.

⠀⠀E guardando as chaves de seu Porsche vermelho no bolso da calça, Kim Taehyung rumou para a entrada do campus da grandiosa universidade repleta de diversas e belas árvores de cerejeira.

⠀⠀Estava submerso, o encanto transbordava em suas orbes enquanto observava o enorme gramado recheado de estudantes; admirando a diversidade que estava presente em cada parte do local.

⠀⠀ De certa forma, se sentia acolhido.

⠀⠀E ao perceber que passara mais tempo do que o esperado olhando para tudo aquilo, logo tratou de seguir com passos firmes e confiantes ao que parecia ser a entrada do prédio da universidade.

⠀⠀Estava tão absorto em sua própria euforia que nem percebia os olhares julgadores e avaliadores que recaiam sobre si a cada passo que dava. Talvez fosse o azul chamativo de suas mechas onduladas, ou a vestimenta peculiar e aparentemente bastante cara que trajava; o rosto simétrico, nariz afilado, sobrancelhas grossas e lábios rosados; a pele caramelada e as várias bijuterias espalhadas pelo corpo. Tudo no Kim era bonito e chamativo.

⠀⠀E, quanto mais o jovem se aproximava do que parecia ser o seu destino, mais pessoas se acumulavam perto de si. Pareciam ocupadas e apressadas, imersas em suas próprias realidades.

⠀⠀Tanto que, quando percebeu, aquela multidão já tinha lhe desnorteado, fazendo-o se perder no mar das dezenas de pessoas que transitavam por ali.

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⠀⠀— Sinceramente, Jeon? Eu esperava mais comprometimento da sua parte — O coordenador geral suspirou pesadamente voltando seu olhar para o garoto em sua frente —, tenho certeza que acompanhar um único aluno em uma tour informativa não lhe atrapalha em nada.

⠀⠀— Me desculpe, Senhor Chan, mas eu realmente não tenho tempo livre a ponto de ficar de passeio com um riquinho fútil qualquer. Além de isso ser o seu trabalho, não meu. — Jeongguk soltou as palavras de maneira irritada, contraindo o maxilar e trancando seu armário escolar, batendo a porta com força para logo em seguida ajustar a alça de sua bolsa transversal no ombro, fazendo uma breve reverência ao homem que falava consigo no intuito de sair logo dali.

⠀⠀Este que, parecendo diretamente ofendido, retrucou:

⠀⠀— Bem... Caso não vá, sua sala pode, ocasionalmente, perder pontos no campeonato de final de ano. É uma escolha sua, não estou lhe obrigando a nada. — O coordenador deu sua cartada final, sorrindo de lado ao perceber os ombros de Jeongguk tensionarem minimamente enquanto folheava as páginas da pasta que estava em suas mãos.

⠀⠀O universitário prendeu o olhar na face do homem que exalava deboche, sentindo um leve tremelique em um de seus olhos ocasionado pela raiva que tentava conter. Não era de hoje que o coordenador de traços ocidentais usava desse tipo de argumento para conseguir as coisas de si, e isso estava o aborrecendo cada vez mais.

⠀⠀Fechou os olhos rapidamente, suspirando fundo, tentando normalizar seus batimentos cardíacos que já se encontravam alterados.

⠀⠀"Sem violência Jeongguk, sem violência", repetiu como um mantra mentalmente, repreendendo-se logo após: "Por que diabos estou dizendo isso? Não é como se eu soubesse ao menos socar alguém!".

⠀⠀Sacudiu a cabeça de forma momentânea, tentando afastar os pensamentos intrusivos que tinham lhe tirado o foco, voltando outra vez o olhar para o homem que estava a sua frente olhando-o de forma estranha ao mesmo tempo que segurava as pastas em sua mão contra o peito.

⠀⠀"Garoto estranho" este pensou quando viu, de forma repentina, o rapaz que já parecia inerte em seu próprio mundinho arregalar os olhos redondos olhando diretamente para algum ponto do chão por alguns poucos segundos.

⠀⠀Jeongguk revirou as orbes castanhas e estendeu sua mão em direção ao homem, mantendo uma expressão insatisfeita em sua face. Terminando por bufar zangado quando o anexo de folhas foi posto com certa rapidez e brutalidade em sua mão estendida.

⠀⠀— Boa sorte garoto, sei que irá se sair muito bem. Tudo o que você precisa saber está aí — complementou, direcionando um sorriso amarelo para o estudante, deixando assim o corredor da universidade, que já começava a encher de alunos, com passos rápidos e confiantes, algumas vezes checando o terno de seu paletó enquanto lançava piscadelas para algumas moças.

⠀⠀Jeon apertou os papéis em sua mão de forma que não os amassasse tanto, seguindo com passadas rápidas para o campus da escola, passando pelos grandes corredores que tinham uma estrutura moderna e bem conservada, esbarrando algumas vezes em estudantes que estavam quase tão apressados quanto si, até mesmo recebendo algumas expressões reprovatórias no processo.

⠀⠀Estava concentrado demais xingando o Senhor Chan em sua própria cabecinha, que mal percebeu que já se encontrava na entrada do campus da universidade, parando de maneira brusca quando viu a quantidade de pessoas acumuladas ao seu redor.

⠀⠀Deu alguns passos vacilantes para frente tentando esgueirar-se das dezenas de pessoas que lhe imprenssavam ao passar por si naquele momento.

⠀⠀Era um dia comemorativo da instituição, as visitas turísticas foram liberadas e os universitários estavam livres de suas respectivas aulas, então isso significava que a universidade estava um verdadeiro formigueiro com tantas pessoas transitando por ali e acolá.

⠀⠀Ou seja, um péssimo dia para realizar a tarefa para a qual fora designado.

⠀⠀E enquanto passava com certa dificuldade pelo grande imprensado de pessoas, pensava corriqueiramente como seria quase que impossível levar alguém para uma tour de apresentação em um ambiente tão lotado e barulhento.

⠀⠀Então foi aí que Jeongguk começou a se sentir estúpido por ceder tão fácil às investidas do coordenador que, em qualquer oportunidade que tivesse, jogava as suas próprias responsabilidades para si, usando alguma chantagem ou desculpa esfarrapada que o deixava sem saída.

⠀⠀E talvez Jeongguk estivesse disperso demais em seus próprios pensamentos, tentando sair daquele espaço quase que sufocante, que acabou não percebendo o intercambista francês perdido em meio a multidão próximo de si, pelo menos até o momento que ambos se esbarraram minimamente e umas das pulseiras com bijuterias do Kim ficou enganchada no suéter de lã preta do Jeon.

⠀⠀— Droga — praguejou de forma quase inaudível quando percebeu o que tinha acontecido, fazendo logo em seguida a primeira coisa que lhe veio à mente.

⠀⠀Taehyung se assustou com o pequeno solavanco o puxando para trás de repente, ao mesmo tempo que, percebendo agilmente o que havia acontecido, Jeongguk pegou o braço do desconhecido que estava com a pulseira enganchada em sua roupa e simplesmente o arrastou para fora do aglomerado de pessoas. O universitário já estava com a cara emburrada e andava nervosamente, puxando o braço da pessoa que sequer havia visto, apenas para se livrar daquela pequena confusão logo.

⠀⠀O jovem francês arregalou os olhos surpresos quando sentiu seu braço ser puxado sem aviso prévio, e não dando tempo de virar-se, começou a andar de ré, quase tropeçando em seus próprios pés enquanto era levado pelo desconhecido de forma apressada.

⠀⠀E quando pareceu que tinham se desvencilhiado de onde estava a maior concentração de pessoas no local, Taehyung tomou coragem para virar-se para frente, quase caindo no processo ao tropeçar em uma pedrinha antes não vista. Um pouco assustado, fitou a pessoa que estava o levando para o que percebeu ser uma das poucas cerejeiras mais isoladas do ambiente.

⠀⠀O rapaz à sua frente andava de forma apressada, segurando sua mão próximo ao lugar que a pulseira estava presa para não correr o risco do tecido puxar mais ainda, e foi assim até chegarem a tal cerejeira, na qual, comparado ao resto da universidade, tinha pouquíssimas pessoas por perto. E ao pararem no local, Jeon torceu um pouco o pano de seu suéter para o lado, ficando frente a frente de Kim, mas ainda sem olhá-lo, concentrado demais em desvencilhar a delicada bijuteria de seu suéter com receio de causar mais algum dano em sua costura tricotada.

⠀⠀— Desculpe por isso, se esse suéter rasga, a minha avó acaba comigo — Jeongguk disse pela primeira vez com as bochechas coradas e voz vacilante, mas ainda concentrado em sua tarefa árdua, franzindo o cenho em frustração quando viu mais um fio ser puxado no processo. Aparentando esquecer momentaneamente de seus compromissos e frustrações.

⠀⠀Taehyung nada respondeu, afinal, estava absolutamente compenetrado em observar e admirar os belos traços do homem jovem à sua frente de maneira devota. Desde a pele bem cuidada com algumas sardas tímidas salpicadas aqui e acolá até os bonitos e adoráveis olhos que podiam assemelhar-se a duas brilhantes jabuticabas; cada pequeno detalhe de seu rosto sereno e angelical tinha cativado o francês de maneira singela. Era adorável e estranhamente familiar.

⠀⠀A beleza do rapaz tinha conseguido deixar Taehyung boquiaberto.

⠀⠀Literalmente.

⠀⠀E em meio a tudo isso, o homem de fios azulados acabou não percebendo de primeira que Jeongguk já tinha conseguido desvencilhar sua pulseira que estava presa ao suéter, apenas quando sua mão pendeu para o lado de seu corpo quando foi solta. Então, quando o universitário finalmente levantou o rosto já um pouco zangado e envergonhado por toda essa confusão, não pode evitar de mudar sua expressão em pouquíssimos segundos ao ter seu olhar preso aos vibrantes olhos verdes oliva da pessoa a sua frente.

⠀⠀Taehyung sentiu as bochechas esquentarem em timidez no mesmo momento que sua bolha de imersão foi estourada. Desviando o olhar rapidamente para seus sapatos enquanto de relance viu o outro rapaz levar uma das mãos à nuca, a mesma que estava segurando seu braço, quase tão envergonhado quanto ele.

⠀⠀— Bem... é... Foi mal aí, por, sabe... Te arrastar até aqui... Não se-sei o que deu em mim, desculpa mesmo. — O universitário de fios negros tomou coragem para dar continuidade a sua fala, dando longas e atrapalhadas pausas enquanto falava por estar enrolado com as próprias palavras. Maldita dicção que falhava nas horas que mais precisava.

⠀⠀— Não precisa se desculpar, mon chéri — A voz carregada de um sotaque marcante e um timbre grave e bonito chegou aos ouvidos de Jeongguk, fazendo todos os pelos de sua nuca arrepiarem por um motivo que ainda era desconhecido para si —, foi apenas uma recepção inesperada. Nenhum guia havia me abordado dessa forma antes — Taehyung riu nasalado, esboçando um pequeno sorriso à medida que via os olhos da pessoa a sua frente se arregalarem em confusão, mas logo o desfez quando percebeu, por fim, o semblante confuso ganhar um brilho de irritação.

⠀⠀— Recepção... Inesperada..? — indagou mais para si mesmo do que para qualquer outro alguém, dando um pequeno passinho para trás, levando a mão esquerda que estava em sua nuca para a frente de seu peito, segurando o ombro direito. — Ok, eu realmente não tô entendendo o que tá acontecendo.

⠀⠀Ainda meio incerto com o significado da fala do rapaz, já que não era fluente na língua do país, o Kim voltou a falar:

⠀⠀— Então, Jeon Jeongguk, certo? Um dos homens que trabalha na coordenação me passou sua foto e o seu nome no dia de ontem, ele disse que você seria o meu guia informativo. — Taehyung concluiu com rapidez sua fala, um pouco nervoso pois parecia que pelas claras expressões de revolta, o seu suposto guia não havia aprovado nem um pouco a informação dada por si. — E então, você... — Gesticulou desinquieto, tentando interpretar o que havia acontecido, puxando seu próprio braço como exemplo. — Me puxou até este local.

⠀⠀Finalizou sua fala e abriu seu sorriso retangular para mascarar o nervosismo.

⠀⠀Pois Jeongguk estava zangado. Muito zangado.

⠀⠀E isso estava bem explícito pela sua expressão enraivecida. Estava cansado de ser usado por aquele homem oportunista.

⠀⠀Mas apenas suspirou e tornou a falar:

⠀⠀— Olha... — Interrompeu-se por um instante para checar o nome do rapaz a sua frente na pasta que por todo esse tempo se encontrava debaixo de seu braço e, depois de poucos segundos, retornou: — Kim Taehyung, certo? — afirmou de forma interrogativa observando o rapaz a sua frente assentir acanhado. - Então, eu de novo te peço desculpas por essa situação inconveniente e... Se você ainda quiser, eu posso ser seu guia e-

⠀⠀— Oh, non, non. Não precisa se preocupar com isso, está tudo bem. Eu realmente acho que não seria de muito proveito uma tour com todas essas pessoas aqui. — O francês interrompeu-o de forma exasperada, gesticulando com as mãos agitado e forçando agora sorrisinho amarelo no final para reforçar simpatia. — Então, eu meio que tive uma ideia quando soube dessa comemoração, me permitindo estudar a planta baixa da universidade enquanto estava vindo para a Coréia. — Deu de ombros. — Creio que você está livre de suas obrigações.

⠀⠀O sotaque forte e o jeito formal de falar do rapaz deixaram Jeongguk desnorteado por um instante, causando-o até certa estranheza pela pronúncia meio embolada do outro. Se sentia perdido; muitas informações foram jogadas em cima de si de uma só vez e logo sua mente entrou em colapso pela quantidade absurda de pensamentos intrusivos que vieram após a fala de Taehyung.

⠀⠀— Você quer ir tomar um café? — soltou sem pensar direito, se culpando logo depois pela sua impulsividade descontrolada que surgia em momentos totalmente aleatórios. Querendo desaparecer quando deu-se dê conta da face confusa do intercambista; que era um intercambista, e se era um intercambista, logo, provavelmente, não sabia se ele era fluente ao ponto de entender expressões informais.

⠀⠀Ainda confuso com a ordem e coerência de seus raciocínios, tratou de "corrigir" sua fala.

⠀⠀— A-a cafeteria que eu trabalho serve ótimas bebidas, sabe, como café. — Interpretou uma xícara sendo levada a seus lábios com a mão livre. — Q-quer ir lá comigo? — convidou outra vez de forma insegura, abraçando a pasta em seus braços e torcendo os dedinhos dentro do sapato. Por que diabos estava chamando um cara que conheceu há alguns minutos para um café e ainda informou que trabalhava lá?

⠀⠀Torcia para que ele não fosse nenhum rico sádico que perseguia suas vítimas e as sequestrava, caso contrário tinha acabado de facilitar seu trabalho. Ainda dava tempo de correr?

⠀⠀Ansiava para que ele negasse ao mesmo tempo que se sentia cativado para conhecê-lo melhor, mesmo que não apreciasse socialização com outras pessoas.

⠀⠀— Oh, entendi. Eu adoraria! — exclamou simpático, achando uma graça o jeitinho desajeitado do outro de falar. Colocando uma mecha de seu cabelo azul atrás da orelha, apenas para deixar as mãos inquietas entretidas.

⠀⠀E de acordo com a lógica cientificamente comprovada de Jeongguk há exatos trinta segundos: são poucas as possibilidades de pessoas bonitas serem criminosos procurados. Resolveu tentar a sorte.

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⠀⠀O caminho para o local desejado foi de certa forma constrangedor para o Jeon, pois Taehyung era extremamente extrovertido e falante, e temendo soltar algo impulsivo e vergonhoso, optou por ficar calado; o que pareceu não ser exatamente um problema para o francês que se contentava apenas com os acenos de cabeça e expressões de compreensão do outro enquanto relatava e comentava os mais variados assuntos, parando às vezes apenas para indagar sobre qual caminho deveriam prosseguir, já que não conhecia a cidade.

⠀⠀Nesse meio tempo, Jeongguk ficou sabendo de várias coisas, como, por exemplo, que a França tem aproximadamente 40.000 castelos e o secador de cabelo foi inventado lá. Além de receber uma enxurrada de informações pessoais do próprio Taehyung, que parecia não estar nem um pouco preocupado de sair contando sobre metade de sua vida para pessoas que acabara de conhecer.

⠀⠀Em suma, o rapaz tinha 20 anos e era o filho adotivo de um casal de mulheres magnatas, ceo's de uma grande marca de jóias que se estendia por toda a Europa. Contou também que veio cursar moda, um curso reprovado pelas mães, já que desejavam que o filho assumisse o legado da família, e essas informações vieram acompanhadas de várias outras de forma intercalada, como o fato dele amar café e odiar queijo, e que seu sabor preferido de sorvete era morango.

⠀⠀Jeongguk estava encantado.

⠀⠀Os rapazes chegaram à fachada da cafeteria de arquitetura simplista, e antes de abrir a porta dupla, Jeongguk excitou com a mão no trinco após ver uma figura conhecida, mas não querida, pela porta de vidro do comércio: Josh.

⠀⠀As sensações de desconforto e ansiedade inundaram seu corpo, fazendo sua respiração descompassar e o estômago grunhir. Não que Josh fosse uma pessoa ruim ao seu ver, mas a forma como ele lhe olhava, lhe julgando pelos corredores da universidade fazia-lhe sentir algo parecido com uma sensação de sufocamento.

⠀⠀A curta situação durou apenas alguns poucos segundos até Taehyung realmente estranhar aquele feito, começando a estalar os dedos por ficar um tempo considerável parado.

⠀⠀— Está tudo bem? — questionou genuinamente.

⠀⠀E parecendo voltar a realidade com as vibrações suaves e melódicas da voz de Taehyung chegando a seus canais auditivos, Jeongguk abriu e empurrou a porta, finalmente entrando no local junto ao francês, mas não antes de murmurar um curto e doce "sim" de forma audível em resposta.

⠀⠀Procurou sentar-se em uma mesa afastada em relação a do grupo de amigos que avistou antes, logo em seguida pegando o cardápio e o levantando em frente ao rosto; o Kim observou tudo aquilo meio confuso, tentando criar cenários e hipóteses criativas sobre o que poderia ser, mas logo voltando a puxar conversa para tentar afastar o clima estranho.

⠀⠀Já do outro lado da cafeteria, Josh e seus amigos riam de piadas de humor ácido, não se importando com mais nada ao seu redor. E um pouco distante dali, na entrada do corredor que levava ao banheiro, Shena observava a cena com aflição, se questionando se voltava para a mesa que o namorado estava ou se apenas informava que não estava bem por mensagem e ia direto para casa.

⠀⠀Colocou uma mecha do seu cabelo crespo e castanho atrás da orelha, pondo logo em seguida as mãos dentro do bolso único e frontal de seu moletom vermelho - este que tinha uma cor que contrastava perfeitamente bem com sua pele bem pigmentada.

⠀⠀E com o estômago revirando, suspirou fundo e se pôs a andar até a mesa retangular onde estava o grupo de jovens, sentando ao lado de seu namorado na primeira oportunidade e se encolhendo em seguida.

⠀⠀E enquanto tentava disfarçar o tremor de suas mãos estalando os dedos de forma compulsiva para tentar aliviar o desconforto, mesmo que minimamente, há algumas mesas de distância, Jeongguk imitava o mesmo gesto, mas não porque estava desconfortável com a presença do rapaz simpático e cativante a sua frente, uma vez que a ação era na verdade uma das inúmeras formas físicas que seu cérebro encontrava de externar sua ansiedade neurótica, que era abastecida pelo medo constante da reprovação por qualquer coisa que dizia ou fazia. Era sufocante.

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⠀⠀Em passos lentos e mente absorta em diversos pensamentos, Jeongguk se encontrava na rua de sua casa depois do momento com o Kim na cafeteria, este que nas últimas horas era o centro da maioria dos pensamentos do Jeon. E foi pensando no aperto de mãos dos dois como despedida e no pequeno papel com o número do francês no bolso de sua calça que Jeongguk abriu a porta de casa sorridente, totalmente alheio a tudo e a todos.

⠀⠀— Deixou a educação lá fora, moleque? — O tom grosseiro de seu padrasto fez com que pousasse novamente com os pés no chão, logo expressando uma careta confusa ao ver as diversas sacolas de compras jogadas pelo chão e pelo balcão da cozinha americana.

⠀⠀— Como conseguiu comprar isso tudo? — indagou, suspeitando logo de cara, se aproximando do homem calvo em passos curtos, de modo acanhado.

⠀⠀Sua mãe tomou a frente da fala, se pondo atrás de seu padrasto e o abraçando pelos ombros.

⠀⠀— Querido, seu pai arranjou um novo emprego! Isso não é ótimo?!

⠀⠀Um "ele nunca vai ser meu pai", foi a primeira coisa que veio a sua mente. Porém, ficou pensativo por alguns segundos sem saber o que falar, enquanto de relance observava Jonghyun se remexer desconfortável nos braços de sua mãe, tentando sair daquele gesto carinhoso como se a mulher fosse algum tipo de praga.

⠀⠀— E como arranjou um emprego sendo um viciado? — pronunciou como um sussurro enquanto deu uma última olhada para o pseudo-casal que conversava baixinho enquanto olhavam de relance para si, seguidamente virando as costas para sair dali.

⠀⠀Travou seus músculos quando ouviu passadas pesadas logo atrás de si.

⠀⠀A fala não tinha sido baixa o suficiente.

⠀⠀E quando percebeu, já estava contra a parede enquanto o homem um pouco mais alto que si e com barba para fazer lhe prensava segurando seu pescoço, tentou buscar sua mãe com o olhar pelo recinto, mas não conseguiu encontrar nenhum vestígio da mulher magra de cabelos loiros tingidos, ela tinha fugido outra vez.

⠀⠀— Olha pra mim seu boiola de merda. — Apertou ainda mais seu pescoço, fazendo Jeon olhar de novo para si. — Sou eu que sustento a porra dessa casa enquanto você não faz mais que sua obrigação ajudando com a merdinha que você ganha, então eu exijo respeito.

⠀⠀E chegando mais perto de sua face, Jonghyun sussurrou a seguinte frase acompanhada de um bafo terrível de bebida alcoólica:

⠀⠀— E eu acho bom que da próxima vez você esconda seu dinheiro melhor. — Sorriu mostrando os dentes tortos. — Não teve graça procurar uma coisa tão fácil.

⠀⠀Travou ali mesmo.

⠀⠀Suas economias. Aquele drogado de merda tinha pegado suas economias.

⠀⠀Porra de emprego nenhum, aquele homem asqueroso havia lhe roubado!

⠀⠀E com a respiração ofegante, se remexeu com pressa, já em pânico. Aquilo não podia estar acontecendo. E ao ver sua reação, o homem riu e afrouxou o aperto, dando uma brecha para Jeongguk se soltar.

⠀⠀Com a mente a mil e uma descarga de adrenalina instantânea, Jeon empurrou o padrasto com agressividade, se arrependendo logo em seguida.

⠀⠀— Você não tinha esse direito! — bradou entre dentes, sentindo as lágrimas salgadas de raiva escorrerem pelo rosto.

⠀⠀Pego de surpresa, não percebeu quando um soco forte foi desferido contra a sua bochecha direita, fazendo bater as costas contra a parede novamente pela força do impacto.

⠀⠀Esperou o próximo soco que acabou não vindo, já que sua mãe resolvera aparecer gritando com o homem de roupas desleixadas, intervindo a próxima agressão; a mente de Jeongguk tinha ficado nublada desde que se deu conta que havia sido roubado novamente.

⠀⠀Cada ação e fala de terceiros tinha retardado em seu processamento, como se estivessem distantes, em um segundo plano. Não conseguia prestar atenção no que estava sendo discutido ou o que exatamente estava acontecendo, pois tudo estava rodando em sua cabeça de uma forma confusa.

⠀⠀Quando pareceu despertar do seu transe, já estava subindo as escadas cambaleando, com as mãos trêmulas tentando encontrar algum apoio, e ao chegar no corredor, tateou as três portas até sentir a maçaneta específica de seu pequeno quarto.

⠀⠀E quando Jeongguk se deu conta, já tinha se sentado na cama com a cabeça entre as pernas, nem prestando atenção nas gavetas abertas e algumas coisas reviradas no seu espaço pessoal, ele nem tinha se dado o trabalho de disfarçar.

⠀⠀O sol se punha lá fora quando Jeon se revirava na cama enquanto transpirava, estava juntando aquelas economias a mais de seis meses, sempre tirava um parte do seu salário para juntar o dinheiro necessário para conseguir sair dali, já que todo resto tinha que ser dado a sua mãe para pagar as contas da casa e comprar alguns suprimentos, ficava apenas com o suficiente para transporte e alimentação enquanto estava fora.

⠀⠀Mas, agora, tinha voltado à estaca zero, outra vez.

⠀⠀O aperto no coração que se tornava mais evidente a cada segundo o afligia, fazendo-o se encolher em posição fetal enquanto sentia as mãos e pés tremerem em uma ansiedade nada benigna. Os lábios tremiam à medida que os seus olhinhos amendoados se enchiam de lágrimas salgadas outra vez, e quando a primeira delas escorreu pela sua bochecha direita, pôde sentir uma leve ardência no local.

⠀⠀Crispou os lábios enquanto se deitava de bruços com as pernas ainda encolhidas e tensionadas, sentindo cada vez mais lágrimas encharcar seu braço de apoio e o travesseiro que se encontrava embaixo deste.

⠀⠀Mais e mais pensamentos destrutivos rondavam a sua mente, ficando cada vez mais altos e mais conviventes.

⠀⠀"Por que eu continuo tentando?"

⠀⠀"E se eu tentar desistir de novo?"

⠀⠀"Mas e se eu falhar de novo?"

⠀⠀E quando julgou não aguentar mais a dor psicológica dilacerante que lhe machucava a alma, abriu a boca em um grito mudo que fez todo o seu corpo tremer em uma sincera e desesperada súplica de socorro, o fazendo fechar e apertar os olhos com cada vez mais força conforme tentava abafar seus soluços mordendo o metacarpo de sua mão.

⠀⠀Não suportava mais passar por situações como aquela praticamente todo os dias, e por mais que o que tinha acontecido a pouco não pudesse se comparar com as coisas que já presenciou, aquele foi apenas o gatilho que precisava para desabar completamente.

⠀⠀Todo o seu corpo tremia quase que por inteiro, e o suor frio escorrendo por sua nuca e têmporas conseguia deixá-lo ainda mais angustiado.

⠀⠀Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia.

⠀⠀"Talvez eu mereça".

⠀⠀E com o corpo encolhido e chorando de forma compulsiva, ao mesmo tempo que seus músculos se contraiam em espasmos involuntários, Jeongguk adormeceu desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo.

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Betado por httpvantae; agradeço imensamente o trabalho incrível que você fez!

Me deixem saber o que vocês acharam do capítulo!

Comentem aqui ou postem no twitter com a tag #CasaquinhoDaDiscordia. 💙

Até breve. <3

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