Capítulo 4
Capítulo 4 - All the Strange Answers
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Is this just my conciousness?
Free will jailed by evil's nest
Exemption in a mindfullness
Ressurrection before my end
Isso é apenas minha consciência?
Livre arbítrio encarcerado pelo ninho do mal
Isenção em uma atenção plena
Ressurreição antes do meu fim
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— Você só pode estar brincando.
— Eu bem que gostaria de estar.
— Felicia, isso não faz sentido nenhum.
— Você sabe que faz.
— A Nadine está plantando ideias demais na sua cabeça.
— Não é a primeira vez que espíritos ajudam a polícia, Andrei. Deixa de ser cabeça-dura. — Felicia passou a mão pelos cabelos, exausta. — Não tem problema nenhum ter medo disso, eu também tenho, mas negar o que nós dois vimos todo esse tempo é idiotice. Você não pode bloquear os-
— Eu não tenho poder nenhum! Já conversamos sobre isso.
— Você vai se arrepender depois.
— Vocês dois vão continuar brigando assim aqui também? Se continuar, terão que ir pro estacionamento — ralhou Barbara, aparecendo parcialmente na porta.
Dentro da sala da chefe, Katterina era ouvida com o apoio de Tania Maddox, psicóloga infantil consultada pelo departamento sempre que o caso envolvia crianças como vítimas ou testemunhas de qualquer crime. Alexander ficara como representante legal da filha, mas Felicia e Andrei iniciaram uma discussão que forçara Barbara a retirá-los de lá para não perturbar a menina.
Felicia se sentou e respirou fundo.
— Certo, chefe — foi Andrei quem respondeu. — Paramos.
— Acho bom!
E fechou a porta logo em seguida.
Evitando contato visual com o colega a qualquer custo, certa de que recomeçariam a brigar se o fizessem, Felicia se limitou a encostar a cabeça na parede logo atrás e fechar os olhos.
As últimas horas haviam mudado todo o caso e lançado uma nova perspectiva sobre a morte de Hilary.
Estiveram olhando as peças certas, as pistas certas, mas da maneira errada. Felicia fez uma anotação mental para não só desenvolver mais suas habilidades sensoriais, como também descobrir formas efetivas de aplicá-las em seu trabalho.
Reabriu os olhos ainda a tempo de ver Andrei se levantar e ir em direção à cafeteira ao lado da recepção.
Se ele não fosse tão teimoso, quantos casos não teriam resolvido antes? Quantos erros bobos não teriam sido evitados? A pior parte era saber que, se já não tivesse começado e ele estivesse disfarçando muito bem, logo os efeitos físicos dos bloqueios mentais apareceriam.
Ele sequer a havia dito quais eram suas verdadeiras habilidades. Felicia sabia que ele era levemente intuitivo também — algo bem suave, uma vez que aquele poder era raro em homens —, mas era uma capacidade muito genérica para definir sua especialidade.
Felicia, ao que tudo indicava, era uma bruxa energética, capaz de captar fluxos de energia de pessoas e lugares, identificar sentimentos e estados mentais apenas com concentração e boa observação. Nadine dissera que, se ficasse suficientemente forte, poderia fazer coisas extraordinárias capazes de auxiliar bastante seu trabalho.
Seria engraçado vê-lo como bruxo da natureza — ela só não sabia se era mais divertido vê-lo cozinhando em meio a ervas, como bruxo verde, ou erguendo ondas gigantes do tamanho da Estátua da Liberdade como mago da água. Se fosse transmorfo, a única palavra para definir o momento em que ele mudasse de forma para um animal era "bizarro".
Se fosse sensitivo ou necromante é que teria problemas, especialmente no último caso — em que não se apenas recebia mensagens dos mortos e só se era capaz de vê-los quando eles permitiam. Andrei seria capaz de invocá-los e forçá-los a se manifestar. Perigoso, mas com a vantagem de que, se fosse o caso, pelo menos logo ela descobriria e poderia tomar suas providências.
Aquele não era o tipo de poder que se escondia por muito tempo das pessoas mais próximas. Fatalmente, tal como acontecera com Katterina, alguém perceberia algo errado.
E a mera possibilidade de que aquele portal estivesse, então, permanentemente aberto para sua filha a assustava. Já enfrentava problemas lidando apenas com sua percepção aguçada. Não fazia ideia de como administraria a possível mediunidade da menina. Restava torcer para tudo estar acabado após a meia-noite e preparar Kat ao longo do ano seguinte para estar mais tranquila para o próximo Samhain, apenas para o caso de o evento se repetir.
Andrei retornou, alheio ao que se passava em seus pensamentos, e ela o viu se sentar novamente, mas antes que pudesse dar mais um gole no copo de café, a porta se abriu, deixando passar o grupo que se fechara lá dentro uma hora antes.
Katterina passou primeiro e correu para o colo da mãe.
— Já temos elementos suficientes para a mudança do rumo das investigações — começou Barbara. — O depoimento da Katterina foi extremamente útil. Mas se puderem conseguir uma confissão, tanto melhor. Sabem o que fazer.
Em vários estados, a justiça ainda não aceitava evidências não-científicas. Outros o faziam com muitas ressalvas. Felicia entendeu prontamente a preocupação da chefe. A maneira totalmente incomum de como haviam recebido a dica poderia deixar margem para alguma contestação, embora a nova pista estivesse correta.
— Ok — Andrei terminou o café. — Vamos lá.
— Amanhã, Walsh — Barbara pontuou, fazendo os dois detetives esquecerem momentaneamente a pequena rixa e se entreolharem, voltando os olhos para ela logo depois. — Simples: ninguém mais sabe o que sabemos. Quem estamos prestes a pegar não faz ideia de que seu plano de crime perfeito ruiu e não vai a lugar nenhum. Vamos para casa e descansar antes da ação. Além do mais... — ela pontuou com o sorriso misterioso: — Temos novas provas a coletar. Amanhã será um longo dia.
Andrei ainda estava irritado na manhã seguinte, quando chegaram à delegacia.
— É serio que vamos fazer isso?
Felicia parecia devidamente empenhada na tarefa de ignorá-lo enquanto olhava o celular.
— Se tiver alguma ideia melhor, juro: adoraria ouvir.
Às vezes, se sentia o único sóbrio em uma festa estranha e quase no fim em que todos já estavam em coma alcóolico há tempos.
— Se a Kat está falando a verdade...
— Não venha você de novo chamar minha filha de mentirosa!
— Felicia, seja racional! O que te leva a crer que a garota não ficou impressionada com o que viu? Com todo esse universo esquisito que você mesma levou pra dentro de casa?
— Agora a culpa é minha?
— Não foi o que eu disse.
— Foi o que pareceu.
Suspirou, cansado. Aquelas brigas exauriam mais de suas forças do que ele se permitiria admitir.
— Só estou dizendo que ela é muito pequena pra distinguir real e ficção, Felicia. Não devia estar exposta a esse tipo de coisa. E crianças pequenas têm amigos imaginários, é normal.
— Desculpe, pulei a parte que você fez psicologia infantil e está disposto a ignorar até o parecer da Dra. Maddox. Ela garantiu que a Kat falou a verdade e deu detalhes que não tinha como saber sozinha, e se você vier dizer que eu contei pra ela algo daquela cena terrível que encontramos, sinto muito, mas nossa amizade acaba aqui porque vou ter que te dar uns tapas.
O final o pegou desprevenido e ele parou a frase que ia começar a dizer, encarando-a com os olhos arregalados.
Fechou os dedos ao redor dos braços da cadeira.
— Ok, vamos fingir que acredito em tudo isso: quem garante que essa fantasma, seja lá quem for, está falando a verdade? Que não quer só vingança por algo além de nossa compreensão?
— Por que ela protegeria o próprio assassino, se fosse o Robert?
— Não faço ideia, talvez pela mesma razão que leva mulheres que sofrem com violência doméstica a permanecer com seus agressores? — ele devolveu, com ironia. — Só uma hipótese.
— Você está sendo cego e teimoso.
— E você está sendo supersticiosa e crédula.
— E vocês dois estão sendo barulhentos e chatos pra cacete no meio dessa briga eterna — interrompeu Jenkins, abrindo a porta bruscamente. — A chefinha tá chamando.
— Ela não gostava de mim — respondeu Anne, com os olhos vermelhos. — Acho que nunca gostou. Só que eu não me importava, sabe? Achava que era o jeito dela, de dar mais atenção pros amigos que pra gente.
— E como era o comportamento dela em casa?
— Antes ou depois da faculdade?
— Ambos — respondeu Andrei. — Conte tudo o que conseguir se lembrar.
— Antes ela parecia só entediada, sei lá, como se tudo fosse chato. Mas depois, cada vez que ela voltava das férias parecia ainda pior. Brigava com o papai por ele ser muito grudento e com a mamãe por ser muito quieta.
— E com você? — Felicia indagou, quase roubando a pergunta de seus lábios. — Como vocês duas estavam se relacionando nesses períodos.
Anne deixou a tristeza tomá-la:
— Ela nem me via direito. Era como se eu não existisse.
— E como você se sentia sobre isso? — Ele voltou a assumir o controle.
A moça deu de ombros:
— Bem, o que eu podia fazer? Só deixei ela pra lá e fui viver minha vida como dava. Como você pode obrigar alguém a gostar de você? Não 'sou como o Robert.
— O namorado? — Felicia perguntou e ela concordou com a cabeça. — Eles se davam bem?
— Mais ou menos, viviam brigando. Ele era um grosso com ela às vezes.
— Algum episódio de agressão? — ele perguntou.
Aquela história só ficava melhor a cada resposta.
— Não sei, mas não duvido. Ela jamais o denunciaria.
— E contaria a alguém da família se isso acontecesse?
A moça soltou um sorriso triste.
— Com certeza, não pra mim, detetive Walsh. O que sei dela com o namorado é o que ouvia ela falando ao telefone com as amigas.
— Ele teria algum motivo para isso?
— Em casos assim... — Andrei lutou contra a impressão ruim, contaminada de pessimismo e pesar, que os olhos de Anne lhe causaram. — Morte é só uma questão de tempo, detetive.
As palavras de Barbara ainda ecoavam em sua cabeça quando desceram na frente da casa.
"Calma, não se precipitem".
Seria difícil, mas ela bem que ia tentar.
Colocar os olhos naquela fachada de novo a fez voltar a sentir todas aquelas vibrações ruins. Antes que pudesse evitar, se perguntou se aquilo seria na casa, nos habitantes ou se o espírito de Hilary permanecia a maior parte do tempo ali para atormentar a família.
Será que, depois de tudo, ela iria mesmo embora?
Desde que deixasse Katterina em paz, podia ficar onde bem entendesse.
Ainda naquele silêncio tenso desde que haviam saído da delegacia após as últimas orientações da capitã, Andrei avançou e bateu na porta.
Junto ao clima ruim do ambiente, Felicia sentiu a cabeça rodar ao se ver em meio ao turbilhão de emoções do amigo. Raiva, descrença, medo... Tudo junto. Quase podia sentir a aura de sentimentos negativos pesando ao redor dele e percebeu que precisaria se fortalecer muito ainda, antes que absorvesse mais do que podia suportar de tudo aquilo.
Já se preparava para dizer alguma coisa — qualquer coisa, desde que aquela fase ruim dos dois se desfizesse — quando a porta se abriu.
Rose estava ainda mais abatida do que ela se lembrava de ter visto na delegacia no dia do depoimento. Mais magra e com olheiras profundas, parecia ainda menor que o 1,60m que tinha.
— Bom dia, detetives. Estivemos esperando por vocês.
Antes de sair da delegacia, ela havia telefonado para a mulher informando que desejavam conversar com a família reunida. Haviam dado tanta sorte que até mesmo Anthony estava ali naquela manhã.
— Obrigada, Rose.
A mulher deu passagem aos dois, que a seguiram pelo hall e se acomodaram diante dos quatro pares de olhos curiosos, tristes e apreensivos.
Andrei foi quem começou:
— Viemos até aqui para informar que temos o suspeito sob custódia. — Um breve murmúrio de aprovação entre os presentes, que ele esperou que se acalmasse antes de prosseguir: — E também para esclarecer alguns detalhes que ficaram em aberto na investigação. Assim que tudo estiver resolvido, teremos elementos suficientes para apresentar Robert Bentley como principal acusado pela morte da Hilary.
A palavra ainda tinha o peso, como se não tivesse caído a ficha por completo.
— Em que podemos ajudar, detetive Walsh? — perguntou Rose, com o tom de voz ainda mais desanimado que antes.
Felicia não conseguia sequer imaginar a dor que ela devia sentir por perder uma filha daquela forma. Quase havia enlouquecido só de ver sua menina sofrendo naquela noite, não conseguiria encontrar nenhum motivo para continuar vivendo se o mesmo lhe acontecesse algum dia
"Que todos os deuses me ouvindo evitem isso", desejou em pensamento, temendo que o mero imaginar tivesse poder de concretizar o fato.
— Uma testemunha nos procurou para relatar ter visto uma silhueta saindo da casa da Hilary pela porta dos fundos poucos minutos antes do Robert ir embora.
— Então viemos esperando que vocês nos contassem se suspeitam de mais alguém. Algum amigo dele, parente, ou alguém que tivesse motivos para ver a Hilary morta.
Os quatro se entreolharam. Rose parecia chocada com a revelação. Henry lutava contra o choro — ainda mais inconformado com o caso. A expressão nos olhos de Anne era de completa incredulidade e Anthony alternava o olhar entre um e outro, como se não entendesse bem o rumo da conversa.
— Está me dizendo que o canalha teve ajuda para matar minha princesinha? — Henry rosnou.
Felicia tinha certeza de que ele pularia no pescoço de Robert se pudesse.
— É o que parece, senhor Ford. — Andrei revelou o conteúdo de um envelope que levara nas mãos. — Conseguimos pegar isso com uma câmera de segurança nas redondezas.
A quantidade de detalhes oferecida pelo espírito de Hilary através de Kat dera margem a muitas provas. Após a conversa junto com a psicóloga, Barbara conseguira extrair pontos importantes dos eventos da noite do crime. Descobriram cada passo dado naquela noite por todos os envolvidos na cena e começado o trabalho de procurar as provas necessárias. Aquelas imagens eram apenas uma parte delas.
O que mais a irritava era precisar fazer parte daquele teatrinho, mas não tinha escolha.
— Parece familiar — respondeu Henry, olhando detidamente a imagem de uma pessoa coberta com capuz escuro com mechas de cabelo aparecendo por baixo.
— Porque a pessoa está sentada nesta sala, senhor Ford — sentenciou Andrei.
— De onde você a conhecia, Anthony? — perguntou Felicia ao rapaz franzino de cabelos negros que evitava encará-la a qualquer custo.
— Da casa da família dela — ele respondeu simplesmente.
— Eram amigos? — Ele negou e Felicia tornou a perguntar: — Tinham algum contato, mesmo que meramente social, ou não se falavam?
— Ela era distante. Conversava pouco com a gente. Quando vinha de férias, passava mais tempo no computador ou falando ao telefone com alguém.
— Quem? — foi Andrei quem o interrogou. Igualmente, Anthony evitava olhá-lo nos olhos.
— Não faço ideia. Namorado ou amiga da faculdade, talvez.
— Como era a relação da Hilary com os pais, a seu ver? — Felicia mal desviava os olhos dele, sabendo que mesmo o menor e mais inocente detalhe poderia revelar a verdade por baixo de suas palavras.
E seu sexto sentido indicava que havia alguma boa dose de mentira ali.
Tentava não deixar sua percepção inicial de alguém dominar seus julgamentos e ver todos os que se sentavam diante dela como meros repassadores de informações a princípio. Não era porque alguém emitia vibrações ruins que, necessariamente, havia matado, roubado ou estuprado alguém.
O primeiro caso verdadeiramente mágico de que cuidara mostrara que, muitas vezes, quem mais parecia disposto a ajudar e colaborar era capaz de atitudes extremas pelo que julgava correto.
— Estranha. Eles pareciam devotados a ela, como se ela fosse uma deusa ou algo assim, mas ela era indiferente. Não parecia gostar deles.
— E com a Anne?
— Ela era uma puta com a Anne — ele respondeu, de chofre. — A menina corria atrás dela como um cachorrinho desde sempre, e a vadia ficava ignorando ou maltratando a pobrezinha. Dava raiva de ver aquilo. A Anne era muito tonta.
— Vocês namoram há dois anos, certo?
— Sim, mas conheço as duas desde os meus treze, acho.
— Certo — Felicia tornou a perguntar: — E sua relação com ela, Anthony? O que nos diz disso?
Ele deu de ombros.
— Nada que valha a pena contar. Quando percebi que só valia a pena pra ela quem tinha dinheiro e posição, deixei pra lá.
— Você parece amar muito a Anne — Andrei fez a observação como quem não queria nada.
— Muito, detetive. Muito mesmo. Faria qualquer coisa por ela. Qualquer coisa.
— Até matar?
Então, Andrei virou os olhos para o rapaz:
— Anthony Grimes, você está detido por ser cúmplice no assassinado de Hilary Ford. Tem o direito de permanecer calado, porque tudo o que disser pode, e será, usado contra você no tribunal.
Os outros três encararam a cena com reações diferentes e tão conflitantes que era complicado permanecer no recinto. Tantas energias diferentes lançadas em um mesmo momento fizeram Felicia se sentir tonta mais uma vez.
Rose encarava o genro sem acreditar no que acabara de ouvir. Henry, tão raivoso antes, fora pego em cheio pela surpresa e, a despeito do ódio nos olhos, estava imóvel, parecendo incapaz de agir. Todo o sangue de Anne parecia ter fugido do rosto, deixando-a com uma aparência ainda mais cadavérica.
Felicia quase sentiu pena deles.
Quase.
Ainda havia trabalho a fazer, aquilo era apenas o começo.
De todos os resultados que Andrei esperava, nenhum foi o que se seguiu.
Rose permaneceu no mesmo lugar, olhos arregalados e pele ainda mais pálida que o normal. No rosto de Anne, lágrimas silenciosas corriam. Anthony permaneceu imóvel mesmo quando Henry avançou para cima dele, gritando xingamentos e ameaças, e Andrei precisou contê-lo.
Felicia se aproximou do rapaz e estava prestes a levá-lo para interrogatório quando um grito cortou a quietude do ambiente. Em seguida, Anne avançou, se pondo entre a detetive e o namorado.
— Não! Por favor, não faça isso.
As lágrimas corriam com mais intensidade e a voz, rouca, denunciava os sentimentos em turbilhão.
— Anne, sinto muito que precise passar por isso — começou Felicia, e Andrei teve vontade de indicá-la ao próximo Oscar. — Mas temos provas suficientes. Ele terá a oportunidade de se defender no tribunal.
— Não!
— Anne, fica quieta — ele pediu. — É melhor assim.
— Aqui, vocês precisam me prender também. — Anne esticou os pulsos para Felicia.
— Anne, para com isso — Anthony pediu, tentando puxá-la pelo braço.
— Não acredito que você vai ficar do lado do assassino de sua irmã, Anne — exclamou o pai.
— Ele não matou ninguém! — ela devolveu, aos gritos.
— Não é possível! — Henry devolveu. — Que decepção!
— Ele não matou aquela vadia.
— Não vou admitir que você fale assim dela!
— Você não precisa admitir ou não coisa alguma. Eu odeio você! — A intensidade na voz e os olhos carregados de ódio fizeram Andrei se preocupar com o andamento dos eventos. Se algo desse errado... Alheia a seus pensamentos, a garota continuou aos gritos: — O Anthony cuidou do outro idiota. Quem teve o prazer de ver aquela escrota morrendo fui eu! Eu! Eu matei a vagabunda. Eu! Ela pagou por todos os dias de sofrimento que me causou. Teve o que mereceu! Eu a odiava, e odeio vocês também.
Por um segundo, nada aconteceu. O ar estava parado, mesmo respirar custava um esforço extra. A tensão era tão densa que podia ser tocada.
Então tudo aconteceu ao mesmo tempo.
Henry se soltou das mãos de Andrei, que precisou se colocar em movimento para impedir que ele fizesse algo, dessa vez contra a filha caçula.
Anne continuava a contar como Hilary havia sido péssima com ela todos aqueles anos e como fomentara seu ódio enquanto gritava "eu, eu" com gargalhadas macabras de satisfação.
Anthony, que havia se levantado para tentar impedi-la de confessar o crime — talvez, disposto a assumir toda a culpa sozinho — desabou sobre a poltrona que ocupara minutos antes.
Rose, por sua vez, fez o impensável. Aproximou-se da filha mais nova, ergueu o braço e desferiu um tapa tão forte no rosto da moça que a vez cair sobre o sofá, calando seu discurso de como os pais sempre a haviam preterido em favor da irmã e também pagaram por aquilo ao perder a mais velha.
A atitude não pegou apenas Anne de surpresa. Todos os presentes na sala encararam a mulher com os olhos arregalados.
Ela começou, a um fio de voz, mas ainda completamente audível:
— Isso é o que eu devia ter feito com vocês duas muito antes. Aliás, com todos vocês. Casei com um idiota grosseiro, tive uma filha fútil e outra criminosa, e quase deixei um maluco e um drogado serem meus genros. Que vergonha de vocês! Vocês, todos vocês, só me deram motivos pra tristeza e decepção até hoje. Mas não mais!
Então, sob os olhares atentos dos outros cinco, ainda tentando se refazer do furacão de sentimentos, ela entrou no quarto e bateu a porta.
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EEEEEEITA, essa revelação, hein? O que acharam?
Ainda não acabou, tem mais. Segurem-se nas cadeiras hahaha
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