Capítulo V - Um breve capítulo de tensão antes da morte certa

 — Você ficou louco?

Lawrence não sabia responder à pergunta do padre. Talvez ele estivesse mesmo. No entanto, sentia que somente dessa forma conseguiria entender o que estava acontecendo naquele vilarejo.

Ele seguiu seu caminho rumo ao lado de fora, mas Josué o interceptou.

— Espere! — O padre pôs as mãos em seu ombro. — Você não pode fazer isso.

— Já estou fazendo. — Ele se desvencilhou e continuou a andar, mas o padre se pôs em sua frente novamente.

— Você vai morrer se entrar lá, escute o que eu digo. Quer mesmo jogar sua vida fora assim?

Lawrence suspirou, cansado da insistência do homem.

— Estarei seguro — garantiu ele. — Você não disse que os policiais saem ilesos?

Mesmo tentando parecer tranquilo, Lawrence estava uma pilha de nervos e não conseguia disfarçar isso. E sabia que Josué sabia disso.

— Na verdade, não. — Ele estava certo de que não havia dito aquilo. — Além do mais, você não é policial.

— É a mesma coisa.

Larousse balançou a cabeça ao ver o detetive tornar a ir em direção às portas da igreja.

— Eu não posso permitir que você faça isso, senhor Knopp. Prometi isso a mim mesmo vários anos atrás. Foi a missão que Deus me incumbiu e pretendo segui-la até o fim.

— Você não quer mesmo que eu entre, não é? — perguntou o detetive, se virando. Já havia aberto a porta e estava parado sob o batente. — Não se preocupe, eu vou ficar bem.

O detetive saiu da igreja. Estava decidido sobre o que estava para fazer, ainda que a parte sã de sua mente o alertasse que era uma péssima ideia. Gostaria, gostaria de verdade de seguir os conselhos do padre, que não lhe pareciam tão ruins assim. Pelo menos, estaria seguro.

Mas não fazia parte de seu trabalho desistir.

— Lawrence!

Knopp olhou para trás. Josué estava na porta, olhando para ele. Segurava seu crucifixo com mais força do que o detetive supunha que ele tivesse.

— Você pode não acreditar, pode pensar que tudo é apenas um boato bobo... Mas confie em mim. — Ele apontou para as árvores que cresciam do outro lado da vila. — O que quer que esteja dentro daquela floresta — disse ele —, confie em mim, está fora dos domínios de Deus.

Lawrence engoliu em seco. Tentou pensar em alguma resposta para dar ao homem, algo irônico que ele normalmente diria, mas não lhe veio nada. Talvez fosse melhor simplesmente dar as costas e ir embora — e foi o que fez.

Deu as costas para a igreja, ignorando as súplicas do padre e seus próprios pensamentos.

• • •

Talvez fosse melhor não ter dito seus planos em voz alta.

Lawrence se encontrava agora de frente à enorme floresta de Manoury, equipado com uma lanterna e uma filmadora que havia trazido consigo em sua bagagem, acopladas uma à outra com várias voltas de fita adesiva, e as segurava com a mão direita. Uma garrafa de água estava estrategicamente colocada no enorme bolso do casaco. E, para que não se perdesse, deixou um rolo de barbante no bolso esquerdo da calça. Tudo o que iria precisar.

Ele não estava dentro das árvores, não exatamente: estava a dois passos de distância da árvore mais próxima. Não, ele não havia entrado ainda, queria dar uma olhada antes.

Como suas impressões lhe sugeriram assim que ele e Thomas chegaram ao vilarejo, era, de fato, impossível ver qualquer coisa dentro da mata a mais de oito metros de distância. Mesmo com a lanterna ligada, não era fácil distinguir se aquela planta era, de fato, uma planta e não uma mão prestes a lhe puxar para as profundezas do Inferno. Torcia para que fosse uma planta.

Pelo menos, não viu nenhum demônio. Ainda.

Aguçou os ouvidos, tentando ouvir os sussurros sobre os quais o padre falara. Larousse fora o único a lhe contar sobre isso, então não tinha tanta certeza se deveria confiar nele. Queria ouvir por conta própria, porém não conseguiu. Os murmúrios de curiosidade dos cidadãos atrás de si não o permitiram.

Talvez fosse melhor não ter dito seus planos em voz alta. Para alguém acostumado a ouvir os pecados das pessoas, o padre não deveria sair por aí espalhando coisas.

Pouco mais de uma hora havia se passado desde sua conversa na igreja, tempo suficiente para boatos correrem em um vilarejo como aquele. Praticamente toda a Dancourt estava sabendo do que o detetive estava prestes a fazer — e os que não sabiam saberiam nos próximos minutos. Nem todos da cidade se encontravam ali, mas Lawrence podia estimar cerca de sessenta pessoas, o que se aproximava de dois terços da população.

Lhe incomodou o fato de ninguém fazer o mínimo esforço para impedi-lo. Ninguém ali prezava por sua segurança?

Ele viu o padre. Os Grandis. A mãe de Giselle... mas Knopp não viu nem sinal da filha por ali. Talvez não estivesse sabendo sobre o que ia acontecer, pensou, mas, se fosse o caso, não faria muito sentido que sua mãe estivesse ali. Não, mais possivelmente ela não possuía esperanças de que aquilo fosse dar algum resultado. Nem ele as tinha, para ser sincero, mas não poderia desistir, não depois de um discurso motivacional na frente do padre Larousse.

Por falar em discurso, aquele seria o momento perfeito para fazer um, falar que tudo ficaria bem e para não se preocuparem, ou algo assim, mas Lawrence não tinha certeza se o que falaria era verdade. Além disso, Knopp não era bom em fazer discursos.

Pegou o barbante no bolso e o amarrou na árvore mais próxima. Deu sete voltas ao redor do tronco, muito o mais que o necessário, mas Lawrence não queria arriscar. E se o barbante de soltasse? Era melhor prevenir que remediar.

Ele respirou fundo. Estava na hora. O detetive ligou a lanterna e deu um passo para dentro da floresta.

— Lawrence!

Todos se viraram para ver de onde vinha o som. O ruivo também o fez, pensando ser Giselle, mas era outra pessoa. Era uma garota morena, de cabelos pretos e alguns centímetros mais baixa que Giselle. Ela vinha pela sua esquerda, correndo em sua direção.

O detetive não a conhecia, mas sentia que a havia visto em algum lugar. Ela lhe era estranhamente familiar, e, de alguma forma, sabia quem ele era. "Talvez seja assim que as celebridades se sentem", pensou, mas continuou confuso com a situação. Ele não era famoso, portanto isso era uma novidade.

Antes que ele pudesse esboçar qualquer reação, a menina pulou em cima dele.

— Lawrence! — A menina passou os braços em volta do pescoço do detetive, assustando-o ainda mais. — Você não pode fazer isso! Você vai morrer!

Knopp reparou que as pessoas ao redor começaram a se afastar deles, como se não quisessem chegar perto da menina. Ele franziu a testa. Aquilo era estranho.

"Eu nem sei quem você é", pensou em dizer, mas não seria a coisa mais educada a se fazer. A menina parecia preocupada de verdade com ele, a única a tentar impedi-lo de entrar ali. Se desse ouvidos à sua mente sã, faria exatamente isso, no entanto, estava em uma situação que não lhe permitia voltar atrás.

— Não se preocupe, garota — disse, tentando se soltar. A menina tinha um abraço forte. — Eu vou ficar bem.

— Não, não vai!

Ela o abraçou mais. Lawrence revirou os olhos. "Me larga, peste", ele pensou em dizer mais uma vez. Já não queria mais que se preocupassem com ele, só queria acabar logo com tudo aquilo.

Depois de um minuto de muitas lágrimas por parte da garota e muito esforço por parte de Lawrence, o detetive finalmente conseguiu se livrar dela. Ele tentou tranquilizá-la, dizendo que tudo ficaria bem, mas só conseguiu fazê-la chorar ainda mais e correr de volta por onde veio.

Enquanto via a menina se afastar cada vez mais, ouvia os comentários curiosos e zombarias dos cidadãos e repensava suas decisões mais recentes, ele enfim percebeu por que ela lhe parecia tão familiar: ela era a terceira garota que viu na fotografia na casa dos Grandis, abraçada a Laura e a Giselle.

Lawrence, ainda um tanto atordoado, deixou um bilhete mental para averiguar melhor essa situação e se virou para a floresta mais uma vez.

— Agora sim, está na hora — murmurou, mais para si mesmo que para os demais.

Ele olhou para trás, para ver se seria interrompido novamente, mas ninguém parecia querer prolongar aquele momento. Tampouco ele gostaria. O céu já estava escurecendo e, se demorasse mais, logo estaria de noite, e entrar em uma floresta amaldiçoada à noite não estava na sua lista de coisas para fazer antes de morrer. Afinal, não conseguiria fazer muita em sua vida após riscar esse item da lista.

Ele deu mais um passo para dentro das árvores. O detetive tomou coragem, ligou sua filmadora e entrou de vez na floresta de Manoury.

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