CAPÍTULO 53







— Muito bem, Júlia! Perfeita execução — elogiei minha aluna, que havia acabado de fazer um plié exatamente da maneira como eu havia demonstrado minutos antes. Estávamos caminhando para o fim de mais uma das minhas aulas de balé no centro comunitário e eu estava polindo os pequenos erros que as meninas cometiam em passos fundamentais, como o plié, por exemplo. Era de extrema necessidade que elas praticassem o plié da forma correta, porque ele ajudava muito na execução de saltos e piruetas, além de outros movimentos de transição. — Annabel, mantenha a postura. Isso, agora sim. Ótimo alinhamento. Vamos fazer uma última série de dez. Sem careta, vocês conseguem! — falei, batendo palmas.

A minha turma infantil de balé se apresentará em um recital organizado por toda a equipe do centro comunitário dentro de duas semanas, e quero que elas estejam lindas no palco. Será uma apresentação feita especialmente para que representantes de academias de dança e investidores do centro comunitário assistam o progresso das meninas enquanto bailarinas, uma prova de que elas merecem o dinheiro que está sendo investido nelas.

Entreguei pessoalmente o convite para o recital delas na mão de cada um de seus responsáveis, na esperança de que viessem assisti-las. O balé é um estilo de dança caro e elitizado, então eu tenho consciência de que na maioria das vezes não se trata da vontade dos pais de querer investir nelas, mas sim de ter condições de investir. É por isso que trabalho aqui: para fazer com que crianças sem tantas oportunidades possam se desenvolver como bailarinas e talvez conseguir apoio de instituições que ofereçam bolsas para que elas continuem estudando a dança.

— Vocês se saíram muito bem hoje, meninas! Continuem praticando o que fazem aqui em casa e ficarão ainda melhores. — Me despedi, retribuindo o aceno delas e dando um tapinha carinhoso nas costas das últimas a sair do estúdio, que haviam parado para me dar um abraço antes de irem embora. Vê-las rindo entre si e saltitando pelo corredor até a saída em seus trajes de balé me trazem vários níveis de nostalgia e gratidão.

— Quando comecei a ensinar balé aqui no centro comunitário, eu não achei que gostaria tanto, sabe? — conto a Zaden mais tarde, depois que ele sai do seu encontro semanal no clube de leitura infantil e nós dois entramos em seu carro para voltarmos para a Mansão LeBlanc. — Eu nunca me vi como alguém que sabe lidar com crianças. Foi uma surpresa para mim quando percebi que não precisava me esforçar para me dar bem com as meninas. Elas são tão dedicadas e engraçadas. E apesar de algumas implicâncias corriqueiras, são muito companheiras. Quando eu fazia balé na idade delas, o ambiente era tão competitivo que eu nunca tive nenhuma amiga na minha turma. — Suspirei, sentindo um nó se formar de repente em minha garganta. — Vai ser duro dizer adeus para elas. Quero encontrar alguém de confiança para ficar no meu lugar quando eu for embora.

A mão de Zaden encontra a minha sobre o console do carro, seus dedos se entrelaçando suavemente nos meus. Olho para ele, com o coração cheio de calor e gratidão. Eu estava trabalhando em mim mesma para ser mais aberta quanto às minhas emoções, mas mesmo quando eu não falava diretamente sobre elas, ele entendia. Zaden via através de mim. O quão raro é encontrar alguém que enxergue como você realmente é?

— Eu sei que você odeia despedidas, ma belle. Mas não é um adeus. Você pode visitá-las — ele fala, tentando me animar com a possibilidade.

— Elas são muito novas, Zay. Daqui a algum tempo não vão nem se lembrar de mim — eu disse, me forçando a rir para espantar o fantasma da voz embargada. — Mas eu vou me lembrar de cada uma delas. Por isso quero encontrar alguém bom de verdade para me substituir. Assim não fico tão preocupada quando não puder acompanhá-las de perto.

— Alison — ele chama, e eu olho em sua direção. Zaden fica tão lindo quando está dirigindo. O seu perfil é realmente uma coisa a ser admirada; é como se o contorno do seu nariz e maxilar tivesse sido desenhado a mão por um lápis extremamente afiado. — Não seja ingênua. Minha namorada não é o tipo de pessoa de quem os outros conseguem se esquecer.

Sorrir é inevitável. Balanço a cabeça, rindo enquanto acaricio com o polegar o relevo das veias no dorso da mão dele.

— Aham, com certeza eu sou inesquecível — concordei, me inclinando para depositar um beijo em seu ombro. — Pelo menos para você.

Zaden desvia o olhar da estrada por um segundo, seus olhos azuis se voltando para mim com surpresa e satisfação brilhando dentro deles.

— Lembra quando eu disse ao Loren que já tinha me acostumado a estar com você? — ele pergunta, e eu faço que sim. — Foi uma puta mentira. Toda vez que você chega perto de mim desse jeito, eu nunca consigo fingir costume. Acho que é porque eu sou alguém que ama toque físico e você é o tipo de pessoa que se sente desconfortável até se um abraço dura tempo demais. Então eu nunca vou parar de pensar que ter essa sua versão carinhosa só para mim é um tremendo privilégio. Ainda fico meio chocado às vezes.

— Ei. Eu não me sinto mais desconfortável se o seu abraço dura "mais do que o esperado". Acho que grande parte do motivo de eu me sentir assim antes era porque não queria correr o risco de ficar muito perto e acabar deixando óbvio o quanto eu gostava de você — confessei, fixando o olhar em nossas mãos entrelaçadas. — Na verdade, eu amo o fato dos seus abraços serem excepcionalmente longos. E apesar de eu ser alguém que gosta de demonstrar afeto passando um tempo de qualidade ao lado das pessoas, não me importo nem um pouco de ter você me tocando ou de tocar você. É só que eu fico um pouco tímida por estar na sua casa.

Zaden me olha de lado, achando graça.

— Isso eu já sei. Você tem vergonha de demonstrar afeto por mim na frente da minha mãe e das minhas irmãs — ele ri, e eu sinto meu rosto arder de constrangimento com a constatação. — Mas não precisa. Você é minha namorada. Pode tentar parecer distante de mim quando elas estiverem por perto, mas não é como se elas não soubessem que nós dois beijamos na boca ou imaginem que ficamos nos agarrando por aí quando elas não estão vendo.

Me sinto empalidecer.

— Zaden, pelo amor de Deus. Então quer dizer que é isso o que elas pensam que estamos fazendo todas as vezes em que ficamos sozinhos? Que vergonha. Nossa, que horror. O que elas devem pensar de mim? — indaguei, mortificada. — É por isso que eu hesitei em ficar na sua casa. Porque cedo ou tarde, todo mundo ficaria comentando. E quem sai mal falado nessas histórias nunca é o homem.

— Alison... — Zaden tenta me interromper, mas eu continuo falando:

— Será que a sua mãe pensa que estamos... fazendo sexo todas as noites desde que eu fui para a casa de vocês? Meu Deus. Tomara que não. Quer dizer, olha para mim. Eu tenho pavor só de pensar na palavra gravidez. Eu juro, Zaden. Você não está entendendo o nível de terror que...

— Alison, respire! Elas não pensam nada disso! Eu só estava brincando! — ele diz, olhando para mim com uma expressão que é cômica e assustada ao mesmo tempo. — Jesus. Se eu soubesse que você iria entrar em curto-circuito desse jeito, não teria brincado sobre isso jamais.

— Você jura que é brincadeira mesmo? Jura por mim mortinha que não é verdade e que nenhuma delas nunca fez algum comentário insinuando algo do tipo? — insisto, sem acreditar.

— Sim. Eu juro. Eu só estava mexendo com você. Foi só uma piada... Ai! — ele exclama, tentando segurar a risada quando eu dou um soco em seu braço. Olho para ele com raiva, virando a cabeça para o lado da janela para não ter que encará-lo se divertindo às minhas custas. — Alis, não seja assim. Me desculpe. Eu não sabia que era um tema sensível. Você sabe que eu adoro te provocar. Pensei que ia ser engraçado. Eu não quis te chatear. É que nunca conversamos sobre isso, então...

Respiro fundo, tentando me acalmar e me reconectar com o meu lado maduro. Afinal, ele tem um ponto válido. Nunca conversamos sobre isso.

Solto o ar lentamente, cruzando as mãos sobre o meu colo.

— Ok. Você tem razão. Nunca conversamos sobre isso. Podemos conversar agora — digo, pigarreando antes de perguntar algo que acho que sei a resposta, mas que não posso evitar querer ouvir da boca dele: — Bom. Acho que depois do que o Loren disse sobre o Charles e as inúmeras garotas aleatórias com as quais ele já dormiu, informação que me recuso a acreditar, mas que suspeito ser verdade, o que eu vou dizer agora deve parecer bobo para você, mas... você também foi como eles?

Zaden franze a testa, tirando os olhos da estrada por menos de um segundo para olhar para mim.

— Como assim?

— É que... Você sabe. Até o Sebastian, que sempre foi apaixonado pela Amélia, namorou outra garota por um tempo para tentar esquecê-la. Loren dispensa explicações; é um cafajeste assumido. E o meu irmão... Eu achei que ele fosse diferente, mas pelo visto não. E vocês estão sempre cercados de opções, então...

— Então o que você quer saber é se já me envolvi com alguém em um pós-show ou se tive minha cota de sexo casual com pessoas que só vi uma vez na vida — ele completa, erguendo uma sobrancelha. — É isso?

— Sim. É isso, sim — confirmo, apertando meus dedos com a inquietude de ainda não ter ouvido uma resposta. Não sei porque estou nervosa. Não é como se fosse realmente importante com quem ele ficou antes de estarmos juntos. Só que, de alguma maneira, ainda importa. Pelo menos para mim. — E aí? Sim ou não?

— Antes do meu aniversário, quando você me beijou no parque, eu já tinha ficado com outras garotas.

— Ah, mas é claro — resmungo, revirando os olhos de ciúme só de pensar nele com qualquer outra que não seja eu. — Eu sei que não fui o seu primeiro beijo, Zaden. Devo ter sido, sei lá, o décimo quinto ou até pior. Não precisa me lembrar de todas as garotas com as quais você já ficou. Foi idiota perguntar.

— Tenha calma, ma ballerine. Antes de você, eu beijei outras pessoas, sim, mas foi só isso — ele continuou, estendendo a mão para tocar minha bochecha. — Depois de você, não houve mais ninguém. Então, não. Nunca fiz sexo. E você pode não ter sido o meu primeiro beijo, mas foi a minha primeira melhor amiga, minha primeira paixão, meu primeiro coração partido, minha primeira namorada e vai ser a minha primeira vez. Espero que esses pódios sejam o suficiente para Vossa Alteza Exigente, Ciumenta e Possessiva.

Faço menção de dizer alguma coisa, mas sou pega tão desprevenida com a declaração dele que sinto minha boca secar e as palavras desaparecerem por completo.

— Alis? Tudo bem, mon cher? — Zaden questiona, com um sorriso de puro deleite por ter realizado a façanha de me deixar estarrecida. Abro e fecho a boca como um peixe, ainda sem saber o que responder, e ele percebe, porque desata a rir. — De verdade, Alison, não sei porque você está tão chocada. Nos três anos em que passamos brigados, você alguma vez me viu com alguém?

— Você estava sempre recebendo atenção de um monte de garotas, então eu achei...

— Receber não é o mesmo que dar atenção — ele me corta, suavemente. — Não beijei mais ninguém desde você. Não tive interesse por ninguém. Estava muito ocupado acompanhando cada passo seu e tentando me fazer presente na sua vida através de Charles. Ou escolhendo os comentários mais impertinentes possíveis para que você prestasse atenção em mim e me desse uma daquelas suas réplicas ácidas das quais eu tanto gosto. Também estava muito ocupado ficando puto da vida vendo você beijando outros caras na minha frente e me segurando para não ir até lá e te arrancar de perto deles — completou, girando o volante na última curva do trajeto antes que pudéssemos avistar os portões da casa dele.

— Eu nunca senti nada por nenhum dos caras que beijei depois de você — confessei, finalmente sendo capaz de verbalizar alguma coisa. — Só estava tão desiludida que achei que tentar encobrir a memória do nosso primeiro beijo ficando outras pessoas funcionaria. Eu fui tão idiota. Nunca vou ser capaz de pedir desculpas o suficiente por ter magoado você — lamento, alcançando a mão dele.

— Nós dois fomos idiotas, Alis. Você já se desculpou, eu já me desculpei. Agora é página virada. Estamos juntos agora. E nós dois somos ciumentos, então vamos nos poupar da experiência desagradável de lembrar das pessoas com quem já estivemos antes de começarmos a namorar e pensar só na gente, ok? — Zaden pede, beijando meus dedos e seguindo em frente na estrada de cascalho conforme os portões da Mansão LeBlanc se abrem lentamente para que o carro dele passe. Há uma guarita ocupada por um guarda logo na entrada e câmeras de segurança em todo lugar. Entrar aqui sem ser convidado é praticamente impossível. — E sobre o seu pavor só de pensar na palavra "gravidez"... Bem, eu não sei se você faltou a essa aula de educação sexual, mas existem inúmeros métodos contraceptivos.

— Haha, engraçadinho — eu zombo, lhe dando um peteleco no braço. — É óbvio que eu sei disso, mas o melhor método de se prevenir ainda é não fazendo sexo. — Ele dá uma risadinha, não levando a sério. — Aposto que você nunca deve ter assistido nenhum filme ou documentário retratando a vida das garotas que engravidam na adolescência.

— Nunca assisti a nenhum mesmo — ele admite, me olhando de esguelha. — Mas você se sente desconfortável com a ideia de fazer sexo? Como se, caso fizesse, fosse algo contra a sua vontade?

— Não é que eu não queira fazer ou me sinta desconfortável com a ideia. Para ser sincera, é bem difícil lutar contra o impulso de simplesmente deixar acontecer — respondi, tentando ignorar o calor que ameaçava incendiar o meu rosto. — É que sei lá, eu só... Não sei, fico nervosa de fazer as coisas pela primeira vez. Fico sempre pensando que algo vai dar errado. Ai, parece besteira, não é? Eu sei que parece. Esqueça o que eu disse sobre conversarmos sobre isso.

— O modo como você se sente nunca é besteira para mim, Alison — ele diz, parando o carro na vaga que sempre ocupa na garagem interna de sete lugares da Mansão. — É normal ficar nervosa. Eu também fico. Mas, caso queira minha opinião, não me parece que você conseguiria fazer algo errado nessa atividade em específico. Pelo que eu sei, é algo meio instintivo entre os seres humanos...

— Pelo amor de Deus, Zaden.

Ele estava simplesmente adorando tirar sarro de toda aquela situação; seu peito tremia com a risada que ele havia falhado em conter.

— Por que perturbar você é tão divertido? Parece que nasci para isso.

Bufei. Não é como se eu pudesse contradizê-lo. Parecia mesmo que ele tinha nascido para me irritar.

— Não sei o que estava pensando quando aceitei namorar com você — comentei, desafivelando o cinto de segurança.

— Estava pensando a mesma coisa que está pensando agora — o loiro pontuou, desligando o motor e desativando as travas do carro.

— Ah, é, sabichão? — indaguei, saindo do carro ao mesmo tempo que ele, que fechava a porta do lado do motorista e travava o veículo apertando um botão que havia na chave em sua mão. — E o que eu estou pensando agora?

Zaden me dedicou um sorriso maroto, que veio acompanhado por duas covinhas que beiravam a indecência antes de responder:

— Está pensando que eu sou o amor da sua vida.

— Errou — murmurei, abaixando o rosto com a desculpa de conferir as unhas quando na verdade só não queria que Zaden me visse sorrindo como uma boba.

— Então está pensando que eu e você faríamos filhos lindos — ele sugeriu, contornando o veículo e parando bem diante de onde eu estava, tão perto que a ponta dos seus sapatos tocava a ponta dos meus. — Ou que o meu sobrenome ficaria ótimo em você — continuou, se inclinando sobre mim, fazendo com que o meu quadril fosse pressionando contra a lateral do carro. — Alison Reyna Walters LeBlanc. Soa bem — sussurrou, beijando a pele atrás da minha orelha.

Percorri os músculos das costas dele com as mãos, sentindo a rigidez do seu torso coberto pela camisa e subindo lentamente até os seus ombros e pescoço, puxando-o contra mim em um abraço tão apertado que seu peito esmaga o meu, nossas coxas roçam uma na outra e nossa respiração se mistura. O ar fica quente e pesado, e estar pressionada contra ele assim é tão gostoso que não consigo pensar em outra coisa que não seja isso quando os lábios de Zaden encontram os meus, famintos e exigentes.

Uma das mãos dele agarra a minha cintura com força, nos aproximando ainda mais enquanto a outra toca o meu rosto, erguendo o meu queixo para que ele tenha melhor acesso à minha boca. Quando sua língua encontra a minha, sinto como se meus ossos se tornassem feitos de geleia, como se eu de repente estivesse prestes a me desmanchar nos braços de Zaden. Eu levo as mãos até o rosto dele, beijando-o com tudo o que sinto, mergulhando na sensação do calor do seu corpo, do seu cheiro e do gosto tão particular e intoxicante da boca dele contra a minha. Suspiro de prazer quando sinto os dentes dele na minha pele, mordendo meu lábio inferior uma vez antes de descer para o meu pescoço.

J'ai tellement envie de toi — ele balbucia, mas não consigo raciocinar o suficiente para entender por causa da sua língua na minha pele. — Você não imagina o quanto eu quero. Mas não precisa se preocupar. Eu vou esperar você superar esse seu nervosismo — diz, antes de me dar outro beijo forte nos lábios e então recuar alguns passos para longe de mim, na intenção de se recompor.

Fico estática por alguns segundos, atordoada enquanto tento fazer a minha mente entrar em consenso com todas as partes do meu corpo que estão formigando com a vontade de trazê-lo de volta para perto de mim.

— Vamos entrar? — Zaden pergunta, estendendo a mão na minha direção. Sinto o impulso incontrolável de rir ao vê-lo com a boca inchada e vermelha, a camisa amassada e o cabelo bagunçado, mas me contenho e aceito sua mão, porque não quero fazer piada da situação decadente na qual sei que também estou. — Então, você lembra da aposta que nós fizemos no dia em que te pedi em namoro? Quando estávamos andando de skate?

Assenti com a cabeça.

— É claro que me lembro. Eu perdi, afinal de contas. Não é todo dia que isso acontece. "O perdedor tem que pagar seja qual for o preço definido pelo vencedor." — Repeti os termos da nossa aposta, empurrando meu ombro contra o de Zaden. — Você está tocando no assunto porque quer cobrar a dívida. Manda bala. O que você quer de mim?

— Eu quero muitas coisas de você — ele respondeu, apertando seus dedos entre os meus. — Mas o pedido que vou fazer agora é para uma ocasião exclusiva.

— E qual é a ocasião? — perguntei, curiosa.

— A festa beneficente da família do Loren. Você ouviu o que ele disse; todos devem usar uma fantasia. E como você está ocupada com o Instituto, o recital das meninas e os seus ensaios, eu tomei a liberdade de mandar fazer as nossas — revelou, olhando para mim com expectativa. — Mas é surpresa. Então não posso te dizer o tema ou mostrar sua fantasia até que esteja pronta.

— Você... — comecei, totalmente surpresa com a declaração dele. — Mas você nem...

— Você vai usar, né? Eu prometo que não é nada que vá te fazer passar vergonha.

— Eu vou usar, mas... não é nada feio ou brega, é? Posso pelo menos saber a cor? — pedi, ávida por mais informações. — É uma coisa de casal, não é? Ai, meu Deus, só pela sua cara eu já sei que é. Jura que não é nada tosco ou muito óbvio?

— Eu juro. Confie em mim. Eu tenho bom gosto — ele me assegurou, passando o braço ao redor dos meus ombros. — E qualquer cor fica ótima em você.

— Nisso eu tenho que concordar. Mas como foi que você conseguiu minhas medidas? — questionei.

— Pedi ao Charles que me mandasse as suas medidas. Ele comentou uma vez que a sua mãe tem uma agenda com as medidas de vocês dois atualizada, então foi fácil conseguir — respondeu, antes de pigarrear: — Ele também disse que a sua mãe tem tentado falar com você.

Não respondo de imediato.

Na minha primeira noite na Mansão LeBlanc, mandei uma mensagem para o meu irmão contando tudo sobre a briga com a nossa mãe – apesar de ter descoberto mais tarde que ele já estava por dentro de grande parte do que acontecera por ter esbarrado com Zaden antes que ele deixasse o estúdio fotográfico no dia da sessão de fotos. Charles havia dito que tirar um tempo para esfriar a cabeça seria bom para mim, mas que eu não deveria me preocupar porque logo tudo se resolveria e eu voltaria para casa.

A questão era que eu não sabia se queria voltar.

Aos poucos tenho construído minha própria rotina dentro da Mansão LeBlanc: levanto antes do sol nascer para me aquecer e ensaiar, tomo café com a senhora LB e as meninas e depois vou para o Instituto com elas. Nos primeiros dias, Zaden fez questão de nos levar pessoalmente até lá, mas eu pedi para que fosse apenas de vez em quando – estava na cara que ele só estava tendo aquele trabalho todo por minha causa e eu não queria que ficasse parecendo que eu o fazia ir e vir de acordo com a minha vontade. Além disso, quanto mais vezes Zaden aparecia no Instituto, mais pessoas ficavam sabendo e se reuniam nas proximidades para conseguir vídeos, fotos ou autógrafos. Já havia saído matérias em vários sites de revistas e jornais virtuais com imagens dele dentro do carro acenando na minha direção ou na de uma de suas irmãs e a última coisa de que ele precisava era de mais exposição.

Obviamente, eu não pretendia abusar da boa vontade da família de Zaden em me hospedar. Ficar morando com ele, por melhor que fosse, era uma situação temporária que tinha data para acabar. E por mais que Zaden insistisse, a última coisa que eu queria era ficar na casa dele por tempo o bastante para me tornar um incômodo.

O meu plano era gravar uma quantidade considerável de material dançando para enriquecer o meu portfólio como bailarina quando eu fosse realizar as inscrições para as academias de dança nas quais queria estudar. O meu perfil no Instagram era basicamente dedicado aos meus vídeos dançando e eu tinha um canal no YouTube onde postava minha rotina de ensaios, exercícios e apresentações de balé. E tudo bem que havia um número grande de seguidores que eu só havia ganhado por ser irmã e amiga próxima dos integrantes de uma banda famosa, mas ainda assim, toda visibilidade era bem vinda.

Eu também estava atrás de algum emprego de meio período que pudesse me dar algum nível de independência financeira para que eu não tivesse que usar o dinheiro de outra pessoa para comprar as coisas de que eu precisava. Claro que eu não tinha ilusões de conseguir bancar o estilo de vida que eu levava quando só precisava me preocupar em colocar o meu cartão de crédito na bolsa, mas ter algum dinheiro já era melhor do que não ter dinheiro algum. Além disso, Charles podia me ajudar com algumas coisas. Não era como se ele dependesse da boa vontade da nossa mãe e pai. Diferente de mim, ele trabalhava fazendo o que gostava e ganhando muito além do que precisava para se bancar.

— Minha mãe chegou a fazer algumas ligações, sim. Enviou umas três mensagens perguntando se podíamos conversar, mas não respondi. Para que eu iria querer conversar com ela? Para ouvir mais sobre como eu sou uma fracassada que desperdiça seu tempo correndo atrás de um sonho que nunca vai se realizar? — eu ri, balançando a cabeça. — Ela tirou tudo de mim esperando que eu me curvasse à vontade dela ou que continuasse à própria sorte. Foi tão fácil para ela me descartar, Zaden. Seja lá o que ela tiver para falar, eu não quero ouvir. Meu pai também me mandou algumas mensagens de texto. "Volte para casa, filha." Tão preocupado. Eles provavelmente nem teriam se dado conta de que fui embora se Charles não estivesse lá para chamar a atenção deles para a minha ausência.

— Você tem todo o direito de não querer falar com ela agora, Alis, mas acho que deveria considerar a possibilidade quando estiver menos magoada. Todo mundo diz coisas da boca para fora no calor do momento. Nada justifica o que ela disse para você ou a forma como tentou te manipular, mas acredito que conversar com ela quando a poeira tiver baixado mais um pouco seria uma boa ideia — Zaden disse, cuidadosamente. — Eu também vou conversar com o meu pai. Não sei quanto ao relacionamento dele com a minha mãe, mas não quero continuar sem falar com ele.

— Eu acho que essa é uma ótima decisão, Zay. O seu pai pode ter desconstruído a imagem de marido perfeito que vocês tinham dele e decepcionado a família com a descoberta da traição e do filho que ele manteve escondido, mas querendo ou não, sempre foi um pai excelente para vocês. Pode ter cometido seus erros, mas no fim sempre apoiou e esteve presente nos momentos em que você e suas irmãs precisaram — falei, esfregando as costas dele carinhosamente. — Fico feliz que você tenha decidido resolver as coisas com ele. Eu sei o quanto você o ama.

— Obrigado. Mas não aja como se também não amasse os seus pais. Eu sei o quanto você se importa com eles — ele falou, me abraçando de lado enquanto nós dois subíamos os degraus até a porta da frente da Mansão.

— Eu me importo muito com eles, sim. Só é uma pena que eles não se importem tanto assim comigo — murmurei, com um sorriso resignado, ignorando a pontada de dor que ressoou no meu peito.


🩰


Minha semana segue tão metodicamente preenchida de obrigações que o dia da festa beneficente chega sem que eu nem mesmo tenha tempo para ficar ansiosa. Agora, a poucas horas de todo o plano ser posto em prática, me vem à mente todas as precauções que vamos ter que tomar durante o evento para que consigamos entrar no quarto de Gianluca e reunir provas sobre o seu envolvimento no esquema de falsificação das notas dos alunos do Instituto sem que sejamos pegos.

Para não levantar suspeitas de que estávamos tramando alguma coisa, o combinado foi que Sebastian, Amélia, Charles e Loren vão passar na Mansão LeBlanc antes de irmos para a festa para que possamos repassar as funções de cada um na nossa busca por evidências que comprovem a participação de Gianluca nos negócios sujos da Professora Brunet. Inicialmente, não fui muito fã da ideia de envolvê-los nisso tudo por minha causa, mas tinha que admitir que era bem melhor estar nessa com eles ao meu lado do que sozinha. Além do mais, ainda teríamos o bônus das fantasias – o que, para o bem ou para o mal, faria com essa fosse uma noite memorável.

Meus pés estavam formigando de vontade de ir até o quarto de Zaden para espiar o conteúdo por trás dos enormes trajes cobertos por capas pretas de proteção que haviam sido entregues hoje cedo no nome dele. Eu já tinha tentado me esgueirar por lá para dar uma conferida neles, mas tinha sido duramente rechaçada por Zaden, que disse que eu só estaria autorizada a ver quando fosse me vestir para a festa.

— Tenho certeza de que ele escolheu algo lindo para você — Amélia disse, enquanto me ajudava a pintar as unhas com um esmalte prateado cintilante. Ela tinha chegado mais cedo esta manhã para que nós duas nos arrumássemos juntas para a festa e imediatamente tinha feito amizade com Zoe e Zaya, que acharam o máximo o fato de ela ter sido intercambista de um curso de escrita criativa na Inglaterra. Acredito que Zara também a teria adorado, mas ela só foi sair do quarto para comer depois que todos nós já tínhamos almoçado.

— Eu não acho que ele escolheu algo feio — falei, tentando o meu melhor para não tremer a mão e atrapalhar o trabalho minucioso de Amélia ao deslizar o pincel do esmalte pelas minhas unhas. — Mas juro que uma fada morre a cada minuto que passa sem eu saber qual fantasia estarei usando para a festa. Acho que eu estava fora de mim quando concordei em seguir os termos dele da nossa aposta. Onde já se viu eu deixar que ele escolha o que eu vou vestir? Não que ele se vista mal, é óbvio, mas ainda assim.

Amélia riu, achando o meu desespero genuinamente engraçado.

— Alison, acho que você está uma pilha de nervos à toa. Zaden nunca te faria vestir algo que te deixasse desconfortável — ela pontuou, sempre a voz da sensatez. — E pelo que você me disse, como o lado perdedor da aposta, você não tinha outra escolha a não ser concordar com os termos dele. Mas eu me solidarizo, sabe. Sebastian e eu também tínhamos ideias diferentes de quais fantasias usar.

Foi minha vez de rir.

— Como assim? Quer dizer então que Sebastian Dubrov uma vez na vida não baixou a cabeça e se submeteu às vontades e desejos de sua musa inspiradora, Amélia Ruschel? Estou em completo choque.

Ela revirou os olhos.

— Eu disse a ele que não tinha problema se fôssemos fantasiados de personagens de universos diferentes, mas ele bateu o pé dizendo que não tinha graça se não usássemos algo de casal. Você sabe como ele é. Então eu sugeri que fôssemos de Elizabeth e Darcy, de "Orgulho e Preconceito".

— Eu adoro esse filme!

Amélia sorriu, erguendo os olhos castanhos para o meu rosto uma vez antes de voltar a se concentrar em suas pinceladas.

— Eu também adoro. E Sebastian até gostou da ideia, mas acho que ele tinha outra coisa em mente, porque apesar de ter concordado, não pareceu tão animado assim — ela suspirou, dando de ombros. — No fim, para ser justa, eu tive a ideia de que nós dois escrevêssemos cinco papeizinhos com nomes de casais que gostaríamos de nos fantasiar e deixássemos a sorte escolher por nós. A sorte, no caso, foi a vovó.

Eu estalei a língua, balançando a cabeça em desaprovação.

— Por que você sempre tem que apelar para a diplomacia? Ele teria dito sim para a ideia de "Orgulho e Preconceito"! Era só você ter insistido com um jeitinho!

— Eu sei que ele teria dito sim. Mas essa é a questão, sabe. Eu não quero que ele faça tudo do meu jeito — minha amiga disse, passando uma última camada de esmalte no meu dedo mindinho antes de fechar o frasco. — Estamos sempre entrando em consenso sobre como fazer as coisas. Por exemplo, se dependesse de Sebastian, a conta do Instagram dele seria lotada de fotos de nós dois juntos, mas ele não posta nada que mostre diretamente o meu rosto por minha causa. Não que eu tenha esperanças de continuar no anonimato por muito tempo, porque sei que namorar um cantor famoso é aceitar estar sob os holofotes também, mas... — ela hesitou, sem saber como continuar.

— Mas é normal precisar de um tempo para se acostumar com a ideia. Afinal de contas, quando vocês começaram a namorar a banda não tinha a proporção que tem hoje — eu completei sua linha de pensamento. — E você é uma pessoa muito reservada. Eu sei o quanto deve ser difícil aprender a lidar com a exposição. E tenho certeza de que Sebastian não quer que você se sinta pressionada quanto a isso. Leve o tempo que precisar, Ames. O artista famoso é ele, não você.

— Você tem razão, Ali. — Amélia assentiu, a ruguinha de preocupação entre suas sobrancelhas desaparecendo conforme a expressão dela foi relaxando. — Enfim, como eu estava dizendo, foi a vovó quem tirou o papelzinho com o casal tema das nossas fantasias. E você não perde por esperar.

— Como assim, não perco por esperar? Você também vai fazer suspense? — indaguei, me sentindo ultrajada.

— Sim e você vai adorar. O esmalte que eu vou querer é esse aqui — ela disse, gesticulando na direção de um frasco vermelho-rubi. — Porque a minha personagem tem unhas vermelhas bem marcantes — cochichou, em tom de conspiração e ares de mistério.


🩰


Depois de estar com unhas, cabelo e maquiagem prontos, eu finalmente fui liberada para vestir a minha fantasia surpresa. Fiquei um pouco decepcionada porque, mesmo quando vi a roupa fora da capa de proteção, não soube identificar a que personagem fazia referência. Vesti-la foi um pouco trabalhoso, mas não tanto quanto seria sem a ajuda de Amélia, que tinha ido vestir sua própria fantasia logo depois de me ajudar com a minha.

Diante do espelho, pude contemplar de corpo inteiro o belíssimo vestido preto que Zaden havia escolhido para mim. A parte de cima era tomara que caia, feita de um corpete de couro que abraçava o meu torso perfeitamente, não deixando dúvidas de que havia sido feita sob medida. A saia descia justa nos quadris e coxas e se abria em um tecido esvoaçante nas pernas, toda coberta com pequenos pontinhos prateados de luz ao longo de seu comprimento. A fantasia – se é que eu podia chamar assim algo que parecia um figurino produzido pela mais alta costura – também vinha acompanhada de luvas de couro que cobriam os meus braços até as palmas das minhas mãos, mas deixavam uma abertura para que todos os meus dedos estivessem à vista.

Me virei de lado no espelho, admirando como a musculatura da parte superior das minhas costas havia sido valorizada no modelo daquele corpete. Coloquei as mãos na cintura, encarando o meu reflexo de frente e abrindo um sorriso satisfeito. Até os meus seios minúsculos pareciam maiores naquela roupa.

Uma batida na porta me tirou do meu momento de autoavaliação, e tão logo eu autorizei a entrada, a inconfundível cabeleira loira de Zaden apareceu na porta, seu corpo ocupando quase toda a entrada. Antes que ele pudesse abrir a boca para dizer algo, seus olhos encontraram os meus no espelho e qualquer coisa que estivesse prestes a falar simplesmente desapareceu da sua mente.

Deixei o espelho para trás, caminhando na direção dele o mais rápido que podia com o peso da saia justa do vestido.

— Zaden! Ainda bem que você está aqui! Veio uma echarpe com o vestido, mas eu não sei ao certo como usá-la — falei, agarrando a mão dele e trazendo-o em direção à cama, onde a echarpe estava estendida cuidadosamente. — Devo vesti-la como um xale para os ombros ou...

— No pescoço. — Ele respondeu, com a voz grave, retirando a echarpe de renda preta salpicada de brilho prateado de cima da cama e pousando-a suavemente ao redor do meu pescoço, seus dedos resvalando na minha pele vagarosamente enquanto fazia um laço com o tecido e o posicionava com delicadeza sobre o meu decote. — É assim que você deve usá-la, ma princesse. No pescoço — repetiu, me encarando fixamente por alguns segundos antes de engolir em seco, só então lembrando de voltar a piscar. — Puta merda, Alison. Você está tão... tão... Esse vestido foi um erro terrível. Coloquei meus olhos em você vestida nele e imediatamente tive um milhão de ideias. Todas elas indecentes e inapropriadas para o horário.

Eu não fui capaz de segurar a gargalhada, apesar de me sentir estranhamente quente de repente.

— Não exagere, Zaden. Eu sei que estou linda, mas também não é para... — parei de falar, franzindo a testa por um momento conforme avaliava a roupa dele e começava a associá-la com a imagem de um personagem extremamente familiar que, assim como o meu namorado, também era loiro. — Hmm, Zaden. É impressão minha ou a nossa fantasia é inspirada em algum casal de...

Ele dá um passo para trás e tira da cintura um bastão de metal que, com um movimento ágil das suas mãos, se abre em um sabre de luz azul que ilumina metade do quarto.

— Eu estava esperando você adivinhar — ele diz, com um sorriso de orelha a orelha. — Eu sou Anakin Skywalker e você é Padmé Amidala, de Star Wars.

— E eu sou Mortícia, da Família Addams! — Amélia surge de repente, usando uma peruca preta tão realista que faz com que eu e Zaden saltemos para longe dela de tanto susto. Nossa amiga abre um sorriso pintado de batom vermelho, parecendo uma pessoa completamente diferente da garota de cabelos castanho-claros e rosto angelical que conhecemos. — Calma, pessoal. A Mortícia é do bem!

— Até o final dessa noite, eu vou ter um ataque — digo, com o coração acelerado, sabendo que provavelmente é verdade.

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