CAPÍTULO 51





Alison adormeceu em meus braços tão silenciosamente que quase não percebi o momento em que ela pegou no sono. Com a cabeça apoiada sobre o meu braço e a palma da mão descansando sobre o meu peito, ela de repente parecia tão pequena que chegava a ser desarmante. Eu estava genuinamente fascinado, evitando até mesmo respirar alto demais para não acordá-la: a versão adormecida de Alison era serena e vulnerável; não tinha nada da postura impecável e intimidante da garota que ela era quando acordada.

Depois de mais alguns minutos de admiração silenciosa, retiro com cuidado a cabeça de Alison de cima do meu braço – que já tinha começado a ficar dormente – e envolvo suas costas com uma mão e as pernas com a outra, erguendo-a suavemente pelo colchão até que a base de sua cabeça esteja perfeitamente posicionada sobre o travesseiro no início da cama. Sem despertar do seu estado de inconsciência, Alison murmura algo que não entendo e então suspira baixinho, ficando completamente imóvel a não ser pelo subir e descer tranquilo de seu peito.

Resvalo as costas da minha mão em seu rosto, sentindo a textura aveludada da sua pele marrom e perfeita. Assisto com atenção cada detalhe de sua face, desde o arco escuro de suas sobrancelhas e o comprimento dos seus cílios até o contorno de seus lábios cheios e a curva de seu queixo.

Bonne nuit, ma belle — sussurro, puxando o edredom suavemente sobre o corpo de Alison, ajeitando o cobertor ao redor dela para que ficasse o mais aquecida possível durante a noite. — Ma belle princesse ballerine — me despeço, depositando um beijo sobre a ponte de seu nariz antes de me encaminhar para a porta.

Contudo, antes que meus dedos possam sequer tocar a maçaneta, paraliso no lugar. Apesar de saber que Alison está segura aqui, parte de mim ainda quer ficar ao seu lado, velando seu sono para que ela não corra o risco de acordar no meio da noite confusa ou assustada por estar sozinha em um quarto estranho. Alison sempre foi uma pessoa extremamente fiel à rotina. A súbita mudança de ambiente afetaria seu físico tanto quanto o psicológico.

Ao me dar conta de que eu não seria capaz de deixá-la, vou até o canto do quarto e ergo a poltrona que fica próxima da janela, carregando-a através do cômodo sem emitir nenhum ruído até posicioná-la ao lado da cama onde Alison estava dormindo. Pescando um dos muitos travesseiros que haviam sobre o colchão, me sentei na poltrona e acomodei meu pescoço na almofada do melhor jeito que pude, cruzando os braços sobre o peito. Não era o mais confortável dos leitos, mas tudo bem. Era bom estar perto dela.

— Olha só para você — murmurei para Alison, mesmo tendo total consciência de que não seria ouvido. — Como é possível que alguém fique tão bonita enquanto dorme? Acho que ser teimosa e cabeça dura deve fazer bem para a pele — resmunguei, com um sorriso, antes de abafar com a mão o bocejo que ameaçava escapar da minha boca.

A última coisa em que penso antes de cair no sono é no par de tênis que deixei fora do closet no meu quarto e no fato de que amanhã eles provavelmente estarão parcial ou totalmente destruídos por intermédio do meu adorável, porém implacável cachorro, Loki.

E então eu apago.

🎸

Acordo com um sobressalto, como se eu tivesse piscado e então a noite houvesse se tornado dia. Sei que é muito cedo pela manhã porque o sol ainda não nasceu completamente; tudo o que há lá fora são tímidos indícios dos primeiros raios solares do dia. Apesar de ainda estar longe do horário em que Alison deveria se levantar para começar a se aprontar para o colégio, a cama onde ela dormiu está perfeitamente forrada e vazia.

— Deus do céu — balbucio, ainda grogue de sono. — Onde ela se meteu?

Levanto da poltrona, só percebendo que o lençol com o qual eu havia coberto Alison ontem à noite havia sido estendido sobre mim quando o sinto cair aos meus pés. Eu me alongo e ouço minhas articulações estalando com o movimento. Ao que parece, dormir numa cadeira realmente não foi uma boa ideia.

Sem perder tempo, apanho o lençol do carpete sobre o chão e o dobro rapidamente antes de deixá-lo debaixo da montanha de travesseiros sobre a cama. Se aquele fosse o meu quarto, eu não me importaria em arrumar a roupa de cama mais tarde, mas como era Alison quem estava ocupando o recinto, eu sabia que tudo deveria religiosamente retornar ao seu lugar assim que eu acordasse.

Saio do quarto dela e vou até o meu, com o propósito de ao menos lavar o rosto e escovar os dentes antes de ir procurá-la. Assim que entro pela porta, me deparo com um Loki semi-adormecido em sua enorme casinha de dormir no chão logo ao pé da minha cama, descansando tranquilamente com um dos meus tênis todo roído entre suas patas. Mas não tenho nem meio segundo para lamentar a perda, porque meu cachorro logo fareja o meu cheiro no ar e desperta de seu sono, abanando o rabo ao me receber.

— Bom dia, garotão — eu o cumprimento, me abaixando para afagar suas orelhas peludas com carinho antes de seguir para a porta que levava até o banheiro do meu quarto. — Você adora dar prejuízo para o seu pai, né? Aquele tênis era caro.

Loki me respondeu com um latido nem um pouco arrependido. Para ser sincero, pela expressão de ousadia em seu rosto canino, eu aposto que ele quis dizer algo como "não sou cachorro de morder sapato barato" ou coisa do tipo. Crianças. São sempre assim: você as mima e elas se tornam verdadeiros monstrinhos.

Assim que lavo o meu rosto e escovo meus dentes, saio pela casa em busca de Alison. Desço as escadas em uma corrida leve para ir aquecendo o meu corpo, estranhando o profundo silêncio daquela hora da manhã. Normalmente, quando eu acordo, a mansão está toda iluminada e a mesa lotada de comida para o café da manhã, com as meninas já de uniforme prestes a saírem para o Instituto. Penso em como o meu pai deve estar agora, sozinho em um quarto de hotel. Apesar de ainda estar ressentido por causa do filho bastardo que ele escondeu de nós e de toda a sua mentira, sinto muita falta dele. Eu descobri tudo da pior maneira possível e fiquei magoado e com a cabeça quente demais para pensar em conversar com ele, mas agora sei que devo procurá-lo. Como pai, ele havia sido duro comigo muitas vezes ao longo da minha vida, mas sempre me apoiou no fim. Merecia a chance de ser ouvido.

Dou uma olhada na sala de jogos, na sala de leitura e na biblioteca, sem obter sucesso na minha missão de encontrar Alison. No entanto, ao passar pela sala de yoga onde minha mãe costuma se exercitar, consigo ouvir o volume baixo de uma melodia que conheço muito bem.

É Tchaikovsky.

"O Lago dos Cisnes."

Abro a porta suavemente, sem fazer barulho. E lá está ela: collant preto, saia branca, meia calça e sapatilhas de ponta. Se move com leveza, quase pairando pela sala, seus pés tocando o piso com tanta fluidez que é quase como se flutuasse. Alison está de costas para mim; os músculos de seus ombros e braços estão em evidência, belos, definidos e cobertos com o brilho de suor inconfundível de quem precisa ter força e um enorme controle muscular para manter o equilíbrio enquanto rodopia em piruetas perfeitas sobre a ponta dos pés. Seus braços acompanham o crescendo da música, ondulando em movimentos que simbolizam com clareza a mobilidade das asas de um cisne. Ela move a cabeça tão delicadamente, seu pescoço longo acompanhando a música com tanta elegância que é como se estivesse conectado à sinfonia.

Sem que eu preveja, Alison salta. Uma vez e então outra vez após essa e mais uma depois dessa. São saltos difíceis, mas ela pousa com precisão, como alguém que poderia fazer aquilo à beira de um penhasco sem nem mesmo pensar na possibilidade de cair. Brava. Majestosa. Confiante. Bela, belíssima.

Às vezes, sinto meu coração doer um pouco quando olho para Alison, de tão linda que ela é. Achei que oficializar o nosso relacionamento faria com que eu relaxasse um pouco na presença dela, mas ainda me sinto nervoso como se fosse um garotinho observando de longe o seu amor platônico. Simplesmente não consigo evitar me apaixonar por ela todos os dias.

Cedo demais, a música termina e Alison pontua o seu fim com uma pirueta grandiosa.

Ma belle princesse ballerine.

Assisti-la dançando sempre termina comigo lhe prestigiando com aplausos barulhentos.

— Ah, meu Deus, Zaden! — Alison exclamou, quase sem voz de tão ofegante, com a mão sobre o peito. — Há quanto tempo está aí? Eu não vi você chegando. E por favor, pare com essas palmas. A sua mãe e irmãs ainda estão dormindo e não quero que elas acordem porque você é indiscreto e não respeita a etiqueta do horário.

Eu ergo as mãos em rendição com a sua alfinetada e logo depois fecho a porta da sala de yoga atrás de mim, atravessando o recinto para chegar até ela, que está de pé no centro do cômodo com as mãos na cintura, ainda tentando estabilizar a respiração. Algumas gotículas de suor brilham em sua testa junto à raiz de seu cabelo, que está preso em um perfeito coque de bailarina.

— Desculpe. Eu não queria assustar você e nem desrespeitar a etiqueta do horário — digo, tocando seu rosto e então envolvendo-a pela cintura. Seu corpo está quente e trêmulo de esforço. — E devolvendo a sua pergunta: há quanto tempo você está aqui?

— Desde as quatro da manhã. Me aqueci durante meia hora e então comecei a praticar. Ainda vai dar sete horas, então não faz muito tempo — ela respondeu, segurando o braço que eu mantinha ao redor dela, como se para se firmar. — E já estou cansada, você acredita? Estou tão fora de forma. Preciso treinar mais quando voltar da aula. Ou quem sabe acordar mais cedo amanhã.

— Você tem dançado sem parar desde as quatro e meia da manhã e acha que não deveria estar cansada? — indaguei, com a testa franzida de indignação. — Alis... Meu bem. Por favor. Não é assim que funciona. Você sabe.

Ela pressionou os lábios, desviando o olhar do meu, querendo discordar, mas segurando a língua. Teimosa. Que mulher teimosa.

— Você não precisa se preocupar comigo. Eu sei o que faço. Bom dia, aliás — disse ela, abrindo um sorriso luminoso que quase serviu para me fazer esquecer da sua evasiva. — Você ficou dormindo do meu lado. Obrigada, Zay. Eu acordei uma vez meio atordoada durante a noite, mas me tranquilizei quando te vi. Só não precisava ter dormido sentado, sabe. Eu não ia te chutar para fora da cama se você tivesse deitado comigo lá.

— Fiquei receoso de atrapalhar o seu sono de algum jeito. Mas da próxima vez me deito junto com você — falei, erguendo o queixo dela para perto do meu, na intenção de beijar sua boca. — E não diga que não preciso me preocupar com você, porque você sabe que eu vou me preocupar o quanto eu quiser. E você sabe o que faz, sim, mas eu também sei como tomar conta da minha namorada. Agora me dá um beijo. Não tem como ser um bom dia se ainda não recebi um beijo seu.

— Eu te beijo outra hora — ela respondeu, abaixando o rosto antes de caminhar até o canto da sala para pegar sua toalha de rosto e garrafa de água que estavam ao lado do seu celular, que há pouco tempo atrás estava reproduzindo "Lago dos Cisnes" em cima de um banco de ginástica. Suas pernas tremiam a cada passo. Ela estava visivelmente esgotada. — Agora eu estou completamente grudenta de suor.

— Eu não me importo se você está grudando de suor, contanto que grude em mim — digo, abraçando-a por trás, juntando suas costas contra o meu peito. — Na verdade, você ficaria surpresa com o quão atraente eu acho que você está agora. O que acaba comigo é você rejeitando me dar um beijo de bom dia. Se as coisas estão assim no primeiro mês de namoro, imagina daqui a um ano? Coitado de mim. Cadê a Alis carinhosa de ontem, que me beijou até cair no sono? Estou sentindo falta dela.

Alison dá uma risada, e é como se o som vibrasse em meu peito.

— Você deveria ser coroado como o rei do drama — ela se vira em meus braços, segurando meu rosto entre as mãos e colando os lábios nos meus. Fecho os olhos, puxando seu quadril de encontro ao meu, segurando-a com firmeza contra o meu corpo. Sinto o contorno sutil dos seus seios através do collant, a calidez de sua pele macia, o cheiro de morango que é dela e só dela. Agarro sua coxa coberta pela meia calça, levantando sua perna para que circunde a minha cintura, na intenção de que estejamos o mais próximos possível um do outro. — Zaden — Alison geme, me beijando outra vez, sua língua tocando a minha enquanto as mãos dela sobem e descem pelos meus braços, peito e pescoço. — Zaden, por favor.

— Eu sei — murmuro contra a boca dela, ainda segurando-a contra mim. — Me dá só um minuto. Porra, isso foi uma má ideia. Agora você vai se aprontar para a aula e eu vou ficar aqui excitado igual a um adolescente passando pela puberdade.

— A culpa disso tudo é sua — ela falou, depositando um beijo em meu ombro antes de se afastar, ajustando o collant que havia ficado torto e quase permitido que um dos seus seios ficasse à mostra. Azar o meu de ser um cavalheiro e não ter aproveitado a minha chance. — Eu disse que era melhor não.

— Sim, mas eu só tive que insistir um pouquinho e você veio me agarrou — falei, me virando de costas para ela a fim de disfarçar o tamanho da ereção em minhas calças. Não que fosse necessário. Era impossível que ela não tivesse sentido. — Daí do que adianta? Se eu tenho ideias como essa em momentos inoportunos, você tem que, sei lá, me mandar cair na real ou me dar um tapa. Não, um tapa não. Um empurrão é melhor — decido.

Alison olhou para mim, achando graça.

— Tá bom. Da próxima eu te dou um empurrão — concordou, colocando a toalha de rosto sobre o ombro e pegando o celular e a sua garrafa de água. — Mas quando eu fizer isso, não venha choramingar fazendo drama no meu ouvido. Porque aí sim eu te bato.

— Fechado.

— Eu vou tomar um banho agora. Ah, e a propósito — ela começou, apontando na minha direção com o dedo. — Se eu fosse você, só sairia daqui quando esse volume na sua calça diminuísse de tamanho. Imagina se você dá de cara com algum empregado pela casa e deixa alguém traumatizado com a cena? Melhor não arriscar. Até mais tarde — se despediu, com um sorriso sacana.

— Sua engraçadinha. Você não parece ter ficado traumatizada — retruquei, enquanto ela se direcionava para a saída da sala.

— É porque eu sou diferenciada, meu bem — ela devolveu, soprando um beijo para mim antes de fechar a porta atrás de si.

Eu ri, balançando a cabeça. A garota não perdia a chance de dar a última palavra.

E eu estava mais do que disposto a deixar que ela a tivesse todas as vezes.

🎸

— Daí eu sempre tenho que usar essas roupas feias quando fico sem diamantes — Zoe disse para Alison, erguendo seu tablet para conseguir mostrar o avatar do jogo interativo que ela tanto amava. — O Zaden me dá dinheiro para eu comprar mais diamantes às vezes, mas já faz um tempão desde a última vez em que ele me ajudou, por isso a minha boneca virtual está usando esse look humilhante.

— Nossa, mas que crime contra a moda! E você teve que ir para o baile de gala do seu jogo vestida assim? — Alison perguntou, franzindo a testa. — Coitadinha. Deve ter passado a maior vergonha.

— Eu passei mesmo! Mas o Zaden nem se importou! — minha irmã mais nova exclamou, aumentando o tom de voz para soar mais incisiva.

— Zoe, mon chéri. Não precisa gritar. A minha audição está perfeitamente bem, obrigado — respondi, encarando o ponteiro do relógio em meu pulso. — E não se faça de boba na frente da Alison. Você e eu sabemos que eu não te dou mais dinheiro para comprar esses diamantes idiotas porque da última vez você extrapolou e comprou mais do que eu disse que podia no meu cartão de crédito.

— Mas não chegou nem perto do limite! — ela argumentou, ultrajada.

— O problema não é o dinheiro, mas sim o fato de você ter passado por cima do nosso combinado e comprado mais do que eu disse que podia — expliquei, provavelmente pela milésima vez. — Você quebrou o nosso trato. E sem trato, sem empréstimos para a compra de diamantes. Agora eu gostaria muito de saber onde a Zara está e o porquê de ela ainda não ter aparecido aqui. Já está passando da nossa hora.

— Ela deve estar vindo — Alison disse. — Parece que perdeu a hora e dormiu demais. Nem desceu para tomar o café da manhã.

— Ela é uma dorminhoca chata e preguiçosa — Zoe resmungou, voltando a focar no aparelho eletrônico em suas mãos. — Deveríamos ir embora sem ela.

— Zoe — adverti. — Não fale assim da Zara. Você sabe que está sendo difícil para ela lidar com a ausência do papai e tudo o que aconteceu.

— Eu também sinto falta do papa. Você sente falta dele. A mamãe também. Ela vive entrando no escritório dele por engano, como se esperasse encontrá-lo lá — minha irmã disse, com o rosto adquirindo um tom intenso de vermelho. — Mas nem por isso estamos agindo igual a Zara, que mal sai do quarto ou fala com a gente. Por isso que digo que ela é uma chata. Uma chatona. A rainha da chatice. E tenho. O dito.

E com isso, abriu uma das portas traseiras do meu carro e deslizou pelo banco de trás, se trancando lá dentro e desaparecendo da minha vista.

— A Zoe tem uma personalidade forte, hein? — Alison comentou, sem esconder a admiração. — Defende o próprio ponto de vista para o irmão oito anos mais velho sem hesitar. Isso é bom. Sei que agora parece que ela está se comportando mal, mas acho que é só o jeito dela de mostrar o que está sentindo. E ela tem razão: todos vocês estão sentindo falta do pai. Não adianta tentar controlar as suas emoções ou as delas em relação a isso — abro a boca para respondê-la, mas antes que eu possa dizer alguma coisa, Alison anuncia: — Zara está vindo. E com um visual bem emo-gótica-rockeira. Achei que você estivesse exagerando, mas agora vejo que não.

— Eu nunca exagero — digo, contemplando minha segunda irmã mais nova vir em nossa direção com meias pretas até os joelhos, lápis de olho escuro sob os olhos, bandana vermelha sobre a cabeça, brincos de caveira e batom roxo nos lábios. — Quem a olha vestida assim pensa que ela é a integrante da família que faz parte de uma banda de pop-rock e não eu.

— Até que esse estilo combina com ela. Mas esse batom aí... — Alison estala a língua em reprovação. — Não a valoriza em nada. Coitadinha. No futuro vai olhar para as fotos de agora e se arrepender amargamente dessa fase.

Eu olho para Alison por cima do ombro, sem evitar o sorriso incrédulo que sinto se abrir em meu rosto.

— Só você mesmo para me fazer rir numa hora dessas.

Ela dá de ombros, sorrindo de volta.

— Ao seu dispor.

— Desculpem o atraso — Zara disse, correndo os últimos metros que as separava de onde estávamos. — Não ouvi o despertador tocando. Alison, oi!, ouvi que você vai ficar com a gente por um tempo. É bom ter você aqui.

— Obrigada, Zara. Eu queria ter falado com você assim que cheguei, mas você já estava dormindo, então não foi possível. Apesar das circunstâncias um tanto desagradáveis, também fico feliz por passar um tempo com vocês e agradeço muito por me receberem tão bem — Alison respondeu, com um sorriso. — Gostei dos seus brincos, aliás.

— Ah... Sério? Obrigada. — Zara agradeceu, tocando as próprias orelhas. — Estou tentando dar uma repaginada no visual. Cansei de ser aquela Zara sem graça.

— Você não é sem graça; é linda. Não precisa ficar usando essa maquiagem pesada para mudar o seu visual — eu disse, olhando para ela com a testa franzida. — E outra coisa: você não é a única a ir para o colégio. Zoe tem um horário a seguir e agora que Alison está com a gente, temos outra pessoa que também precisa chegar cedo. Por favor, tente não se atrasar mais. Você tem perdido a hora a semana inteira.

Ela bufou, caminhando até o carro.

Desculpe. Vou acordar mais cedo de agora em diante — resmungou, seguindo para o seu lugar no banco de trás. — Mas sinceramente não sei porquê você ainda insiste em nos levar para o colégio. Nós temos um motorista por um motivo. Não precisamos que você seja a nossa babá. Já está enchendo o saco — pontuou, batendo a porta.

Olhei para Alison, tentando encontrar nela alguma parcela da paciência que estava me faltando.

— Eu sei. Essa fase é um saco — ela disse, tocando minha bochecha. — Mas deixe-a em paz, Zaden. Não vale a pena esquentar a cabeça com esse tipo de atitude. Você só vai se desgastar tentando resolver algo que nem é responsabilidade sua. Agora venha, vamos embora. Diferente da Zara, eu gosto que você seja o meu motorista — confessou, se inclinando para me dar um beijo no canto dos lábios antes de contornar o veículo até o lado do passageiro.

Respirei fundo o ar ameno da manhã, tentando abstrair o estresse. O melhor a fazer era seguir o conselho de Alison e deixar toda a questão comportamental da minha irmã para depois. Não era algo que eu conseguiria resolver agora, de todo modo.

Durante o caminho até o Instituto, eu dirigi em completo silêncio, numa tentativa de ofertar a paz. Felizmente para mim, minhas irmãs pareciam muito mais interessadas em Alison, perguntando sobre como ela tinha dormido, se ela tinha gostado do quarto, como ela conseguia acordar tão cedo e se ela havia aceitado namorar comigo para quitar alguma dívida de jogo – essa pergunta obviamente tinha vindo de Zara, que parecia estar decidida a me atacar de todas as maneiras possíveis. Como o irmão mais velho e maduro, engoli quaisquer réplicas ácidas ao comentário dela e me mantive calado.

— Tchau. Até mais tarde, meninas — me despedi delas, sendo deliberadamente ignorado por Zara e recebendo um aceno de Zoe antes que ela fechasse a porta do carro atrás de si. — Bom, acho que é isso. Pelo menos a Zoe ainda reconhece a minha existência. Você precisava ver o dia em que eu voltei de Nova York. Ela e a Zara literalmente correram para me abraçar. Acho que esse é um sinal para que eu volte para lá mais cedo.

Alison ergueu as sobrancelhas enquanto passava a alça da bolsa pelo ombro.

— Uau. Você deve estar louco pra se ver livre de mim, hein? — ela riu, balançando a cabeça enquanto alcançava a maçaneta interna do carro para abrir a porta.

— Estou louco para me ver livre delas. Uma ou duas visitas por ano para essas pirralhas é mais do que o suficiente. Já você, se for boazinha, eu acho que posso levar comigo — falei, enrolando um dos longos cachos escuros de seu cabelo em meu dedo. O cabelo dela era tão bonito. Eu adorava cada fio e curvatura.

— Você gosta de mim mesmo quando sou malvada com você. Acho que ser boazinha não é necessário — retorquiu, com a língua afiada como sempre, só então se virando para me encarar com lindos e sérios olhos castanhos: — Mas antes de ir, queria te dizer que Bryan e Peter me contaram do plano mirabolante de vocês para tentar encontrar algo que provasse que a Brunet fraudou os meus testes de francês para que eu ficasse de fora do Festival de Arte do Instituto. O que significa que você foi procurá-los mesmo depois de eu ter te dito para ficar fora disso.

— Alison, escute. Eu não quis passar por cima da sua vontade de maneira alguma — começo a me explicar, sentindo um nervoso no peito com a possibilidade de tê-la deixado chateada comigo. — Eu só...

— Eu sei que tudo o que você fez foi com a melhor das intenções e não estou com raiva — ela me interrompeu, a suavidade em seu tom de voz fazendo com que os ânimos dentro de mim se acalmassem. — Mas não faça mais nada pelas minhas costas, está bem? Estou te pedindo do fundo do coração.

— Não, nunca mais. Eu prometo — segurei a mão dela, olhando em seus olhos para que ela não tivesse dúvidas de que eu estava sendo sincero. — Me desculpe mesmo, Alison. Juro que não vai se repetir.

Ela assentiu, expirando lentamente antes de dizer:

— O que eu esqueci de comentar com você é que quando eu estava conversando com a Amélia sobre toda essa história a respeito da falsificação, ela me estimulou a não desistir de tentar obter provas. Por causa disso, eu meio que invadi a sala dos professores e fucei a mesa da Brunet em busca de algo que pudesse incriminá-la. Bryan e Peter tiveram a mesma ideia e nós três acabamos nos encontrando lá ao mesmo tempo. Foi assim que acabei descobrindo do plano de vocês — ela admitiu, com uma expressão levemente constrangida.

Eu ri, em parte surpreso pela atitude dela e também satisfeito por Bryan e Peter não terem revelado o nosso combinado a troco de nada, mas sim por causa de circunstâncias inesperadas.

— Mas não é só isso: enquanto estávamos na sala dos professores, nós três quase fomos pegos — Alison continuou, me fazendo arregalar os olhos com a revelação. — Por sorte, conseguimos nos esconder debaixo da mesa a tempo de entreouvir uma conversa muito interessante entre a Brunet e um aluno misterioso que ameaçava expor o esquema dela de falsificações caso ela não desse um jeito de reprovar uma aluna em particular.

— Puta merda, Alison. Vocês gravaram a conversa? — indaguei, dando um soco no ar de pura alegria ao vê-la fazer que sim com a cabeça. — Isso é exatamente o tipo de prova que a gente precisava para poder articular uma contra-acusação embasada em algo concreto. A Brunet não vai ter como se livrar dessa.

— E tem mais, Zaden: a aluna que eles estavam negociando para que fosse reprovada não era uma desconhecida — ela disse, em tom conspiratório. — Era a sua irmã. A Zara. Tem alguém querendo prejudicá-la no colégio.

— A Zara? Mas... mas por quê? — balbuciei, perplexo com o rumo que as coisas estavam tomando. — Ela mal tem amigos na escola. Quanto mais inimigos.

— É por isso que a nossa busca por suspeitos se torna mais restrita — Alison explicou, guiando as coisas para um ponto de vista mais lógico. — Temos que descobrir a identidade do dono da voz que conversa com a Brunet no áudio. Peter, Bryan e eu não conseguimos distinguir porque o som estava meio abafado, mas eu fiquei ouvindo a gravação repetidas vezes esta manhã e cheguei a um suspeito. O melhor de tudo é que eu conheço a pessoa perfeita para nos ajudar a confirmar se é ele ou não. E para isso, vou precisar que você arranje o nosso encontro na sua casa depois da aula.

— Muito bem. Sou todo ouvidos — falei, ao passo em que Alison começava a narrar detalhadamente cada etapa de seu plano para comprovar a culpa de Brunet no esquema da falsificação das notas dos alunos de uma maneira que ela não tivesse como escapar.

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