CAPÍTULO 48



É quarta-feira e Bryan chega atrasado para o almoço no refeitório por uma razão que eu conheço muito bem: com a data do Festival cada vez mais próxima, todas as equipes artísticas do Instituto focam nos projetos que irão ser apresentados durante o evento e intensificam suas atividades o máximo possível. Se eu não tivesse sido suspensa do meu posto como capitã da equipe de dança, provavelmente ainda estaria no estúdio fazendo com que o pessoal repassasse a coreografia mais uma vez. No entanto, aquela responsabilidade já não me pertencia e eu confiava em Bryan o suficiente para não ficar lhe dando palpites sobre o que ele deveria ou não fazer como líder do grupo. Eu o havia indicado para ocupar a posição, afinal. Era minha obrigação apoiá-lo.

— Como você está? — perguntei, assim que o meu amigo sentou diante de mim com sua bandeja de comida repleta de uma variedade de salada, um espelho de como a minha estava antes de eu ter comido quase tudo. — Está correndo tudo bem nos ensaios?

— Bom, eu estou cansado. E irritado — ele respondeu, encaixando seu canudo de metal no copo de suco de laranja que havia colocado na mesa. — E sobre os ensaios, tenho a dizer apenas que não entra na minha cabeça como bailarinos treinados podem saber toda uma coreografia e ainda cometer erros bobos. É irritante assistir. Eu avisei que não servia para liderar um grupo grande de pessoas. Não tenho a paciência necessária. Mais alguns dias comigo no comando e todo mundo vai estar falando mal de mim pelas costas.

— Ninguém está falando mal de você pelas costas — Peter disse, chegando de repente e puxando uma cadeira ao lado de Bryan para poder sentar e almoçar conosco. — Eu sou um integrante popular entre a nossa equipe. Se estivessem planejando o seu cancelamento ou coisa parecida, eu saberia. Além disso, pare de falar besteira. Você está fazendo um ótimo trabalho.

Com isso, Peter virou para mim e me deu uma piscadela, na clara intenção de complementar sua declaração anterior com um "mas não melhor do que você". Eu sorri para ele, voltando o meu olhar para Bryan, que não parecia muito convencido quanto ao elogio que havia acabado de receber de seu parceiro:

— Bry, pare com essa expressão de "até parece" e me escute — pedi, dando um tapinha em sua mão por cima da mesa. — Ser líder não é para ser fácil. Na verdade, ser o responsável por assumir a frente de um grupo de pessoas só é uma posição glamurosa na teoria. Na prática, significa passar por um perrengue infinito para deixar todo mundo satisfeito, se descabelar para achar um caminho que todos se sintam aptos a seguir e reunir toda a paciência dentro de si para ensinar o jeito certo de se fazer algo quantas vezes for preciso. É a sua primeira vez como capitão e estar estressado não faz de você um tirano. Não seja tão duro consigo mesmo; tenho certeza de que está indo muito bem.

Ele solta uma longa respiração, esvaziando seus pulmões e enchendo-os novamente enquanto assente com a cabeça.

— Ah, que se dane. Pra variar, você tem razão. Estou fazendo o melhor que posso e é isso o que importa — o rapaz de pele negra disse, dando de ombros para mostrar que não estava nem aí. — E se tudo der errado, pelo menos eu tenho você e o Peter do meu lado.

— E quem disse que eu estou do seu lado? — Peter indagou, erguendo uma sobrancelha escura.

Bryan revirou os olhos.

— Você está literalmente sentado do meu lado. Pare de fingir que não faz parte do meu fã clube — ele rebateu, espetando uma fatia de maçã.

— Você iria adorar que eu realmente fizesse parte — Peter desdenhou, antes de enfiar uma garfada generosa de salada na boca.

Abri um sorriso contido, olhando de um para o outro com uma nova perspectiva enquanto tirava um dos meus cookies integrais de dentro do saquinho a vácuo. Tem alguma coisa rolando entre esses dois, pensei, enquanto dava uma mordida no biscoito.

— Alison! Graças ao bom Deus eu te achei! — Caitlin exclamou, ocupando o assento ao lado do meu em um furacão de cabelo ruivo e perfume adocicado. — Eu estava te procurando para te dar uma notícia simplesmente fa-bu-lo-sa! Tirei nota máxima na prova de cálculo! — ela soltou um gritinho empolgado, balançando a prova diante dos meus olhos.

— Sério?! Meus parabéns, Caitlin! — eu disse, erguendo a mão para acertar a dela em um "toca aqui". Aquela era realmente uma notícia fabulosa. — Eu disse que você conseguiria se continuasse praticando. Arrasou!

Eu sei! — ela gritou mais um pouco, antes de perceber os olhares de julgamento de Bryan e Peter – duas pessoas tentando comer uma refeição em paz, – e então se recompor, pigarreando antes de prosseguir: — Mas foi tudo graças à sua ajuda, né? Porque vamos ser sinceras: eu não teria conseguido sem você. Muito obrigada pelo apoio e pela paciência durante as nossas aulas. Você me salvou.

— Ah, disponha. Eu fico muito feliz por ter contribuído de alguma forma, mesmo que o esforço para melhorar tenha sido todo seu — respondi, sinceramente. Eu estava feliz por ela. Apesar de já estudarmos juntas há alguns anos, Caitlin e eu nunca tínhamos sido mais do que colegas de classe; ela sempre havia parecido ser fútil e do tipo que só falava comigo por causa da banda do meu irmão, o que me chateava bastante. No entanto, ter me aproximado dela durante esses meses fez com que eu conhecesse uma garota muito diferente daquela que eu achava que ela era.

A realidade era que Caitlin também enfrentava seus próprios problemas e inseguranças e lutava para realizar um sonho assim como eu. E sim: ela continuava sendo meio sem noção, mas quem nunca perdeu um pouco a linha ao menos uma vez na vida?

— Ok, querida mestra. Já que você insiste, eu vou me dar um pouco de crédito — Caitlin sorriu, jogando seu rabo de cavalo por cima do ombro convencidamente e logo depois se inclinando na minha direção como se fosse contar um grande segredo: — Mas a verdade é que estou feliz mesmo porque fiquei sabendo que Charles, Loren e Sebastian estão de volta à cidade e que Zaden não está mais com o braço engessado, o que significa que eu posso ter esperanças de que a The Noisy faça algum show por aqui antes que eles voltem à Nova York. Em uma escala de 0 a 10, o quão provável que aconteça você acha que é?

Revirei os olhos enquanto dava a mordida final no meu cookie integral. Alguns hábitos nunca vão embora por completo, pensei, analisando a expressão de pura ansiedade no rosto de Caitlin.

— Hm... Numa escala de 0 a 10, eu acho que 5. Os meninos acabaram de voltar de uma turnê pelo país, então provavelmente não vão querer se desgastar com outro show. E Sebastian estava bem rouco semana passada. Não acho que esteja 100% bem para cantar — ponderei. — Mas ao mesmo tempo em que digo isso, sei que eles iriam adorar se apresentar por aqui antes de irem embora. É Davens County, afinal. A banda nasceu aqui.

— Pobre Sebastian — Bryan murmurou, enquanto mastigava sua salada. — Ele é só mais uma prova viva de que os bonitos também sofrem.

— Então basicamente pode ser que sim, mas também pode ser que não — Caitlin murmurou para si mesma, tamborilando as unhas pintadas de vermelho cereja sobre a beirada da mesa. — Eu queria muito que tivesse um show deles aqui. Mas também entendo o cansaço; viajar todos os dias de um lado para o outro para cantar e tocar durante horas é sem sombra de dúvidas uma rotina exaustiva. E com o Sebastian meio mal da garganta, é melhor não arriscar. Mas e os outros, como estão?

— Estão do mesmo jeito que você se lembra. Loren continua metido, preguiçoso, sarcástico e só fazendo o que quer. E Zaden está ótimo, melhor impossível — falei, afastando quaisquer migalhas de biscoito do meu blazer. — Ele passou dois meses inteiros de folga, então não é para menos.

A ruiva assentiu, antes de me dar um olhar de expectativa. Franzi a testa, sem entender o que mais Caitlin queria que eu dissesse. Com um suspiro baixo de frustração, ela indagou:

— Ora, Alison, é sério mesmo que você vai se esquecer do seu próprio irmão? Eu também quero saber do Charles.

— Charles? Ah, o Charles está bem. Voltou de viagem todo bronzeado. E você lembra que ele era magrinho igual o Loren, né? — Caitlin prontamente balançou a cabeça em confirmação. — Pois então. Acho que ele estava treinando pesado em Nova York, porque ganhou um pouco de peso e está bem musculoso. Está um gato. Obviamente, a genética boa é de família — eu ri, sem perder a oportunidade de me gabar.

Peter e Bryan se entreolharam, estabelecendo uma possível conversa mental onde tiravam sarro da minha falta de modéstia. Em outro momento eu tinha que interrogar Bryan sobre o que estava havendo entre os dois. Não tinha como esse climinha ser só coisa da minha cabeça.

— Que bom que o Charles está bem. Ele sempre foi muito gentil comigo — Caitlin disse, com o rosto em formato de coração adquirindo uma tonalidade rosada tão forte que a deixou quase da cor do esmalte em suas unhas. — Só de pensar que já tropecei e derramei bebida nele, sinto vontade de cavar minha própria cova com uma colher de sobremesa. Charles está sempre tão elegante. Dá para ver que ele realmente se importa com o que está vestindo.

— Nós meio que não temos escolha quanto a isso. Fomos criados por uma estilista de moda, afinal — eu disse, secamente. — O que me lembra que tenho que ir embora mais cedo por causa de um compromisso com a minha mãe. Vejo vocês amanhã?

— Não é como se pudéssemos simplesmente ignorar o colégio e faltar aula, então, sim — Peter respondeu, sempre muito direto.

Fiz careta para ele, acenando para Bryan e Caitlin antes de tirar da mesa a bandeja semi-vazia do meu almoço e levá-la para o balcão onde a louça era deixada para limpeza. Depois de lavar as mãos brevemente em uma das pias na lateral do refeitório, me direcionei para as portas duplas que davam para a saída do corredor e conferi a hora no relógio em meu pulso. Ainda restava quinze minutos para o fim do horário de almoço, o que significava que a sala dos professores muito provavelmente ainda estava vazia. Era a oportunidade perfeita para estudar as chances que eu tinha de conseguir encontrar alguma prova contra a Professora Brunet a respeito da falsificação dos meus trabalhos de francês.

Antes de adentrar na ala dos professores, espio seu interior pela janelinha de vidro que havia na lateral da sala, na intenção de verificar se havia alguém lá dentro. Eu sabia que a Professora Brunet não estaria aqui a essa hora por causa de Kimmie, que tinha aula de francês com ela no próximo horário e já havia reclamando inúmeras vezes sobre o quanto Brunet costumava se atrasar por conta das voltas que dava atrás do estacionamento do Instituto logo depois do almoço para fumar. Eu não sabia como era a rotina dela nos outros dias, então essa era definitivamente a ocasião perfeita.

Cuidadosamente, entro na sala dos professores e fecho a porta atrás de mim, meus olhos percorrendo toda a extensão do cômodo a procura de alguém indesejado. Quando tenho total certeza de que estou sozinha, não perco tempo em correr para a longa mesa repleta de computadores localizada no canto da sala. Cada computador é isolado por uma cabine projetada para a mesa, com uma etiqueta identificando o nome do professor que o usava. Ando por cada cabine, lendo os nomes nas etiquetas até encontrar aquele de quem estou procurando.

Marianne Brunet, Professora de Francês

Na cabine de Brunet, há uma pilha com cinco pastas repletas de folhas. Desvio o olhar para a porta só para confirmar que ninguém está vindo e então agarro a primeira pasta. É uma lista de presença das turmas para as quais ela dá aula. Sem me demorar muito, deixo a primeira pasta de lado e passo para a seguinte: são redações escritas pela turma do primeiro ano, ainda sem correção. A terceira pasta é uma série de impressões de textos e poemas em francês e a quarta é mais uma lista de presença. Abro a quinta pasta já impaciente, mas finalmente encontro algo que pode ser útil: as avaliações que ela havia passado para a minha turma há duas semanas atrás.

Abro a pasta por cima da mesa com um sorriso em meus lábios, feliz por ter sido batizada com um nome com a letra "A" na inicial. Se fosse Zaden ou uma das irmãs dele na mesma situação, também teriam facilidade na missão; só precisavam ir direto para a última página. Viro a folha da avaliação de Adriana, já esperando dar de cara com a minha, mas sou recebida por Bianca. Franzo a testa, sem entender, mas sem parar de girar as páginas à procura da minha avaliação. Chego à letra "F" ainda sem sucesso, xingando baixinho.

— Tem que estar aqui em algum lugar... — digo, tentando não me desesperar. Ao mesmo tempo, há uma vozinha no fundo da minha mente que me diz que Brunet nunca deixaria algo que a incriminasse em um local de tão fácil acesso como uma pasta em cima de sua mesa. — Que droga, tem que estar aqui...

Paro de falar quando escuto passos se aproximando do lado de fora da sala dos professores e fecho a pasta em minhas mãos à velocidade da luz, colocando-a por baixo de todas as outras e endireitando a pilha o melhor que posso antes de correr para me esconder debaixo da mesa. Eu mal tinha conseguido engatinhar para meu esconderijo quando ouço a porta se abrindo e se fechando logo em seguida.

Em meu limitado campo de visão embaixo da mesa, vejo dois pares de pernas masculinas, mas não consigo relacioná-las a nenhum de meus professores. Me encolho para mais longe da beirada da mesa conforme eles vão se aproximando, a fim de não ser descoberta. Contudo, meu esforço se mostra em vão quando o telefone no bolso do meu blazer começa a vibrar.

Afobada para desligá-lo, enfio a mão no tecido e tiro o aparelho do bolso, só tendo tempo de visualizar no nome de Charles na tela antes de ignorar a chamada no terceiro toque. Prendo a respiração, o coração martelando dentro do peito enquanto desligo o celular e faço menção de colocá-lo de volta dentro do bolso, ação que não consigo concluir, pois fico paralisada quando vejo dois olhos me encarando por debaixo mesa.

— O que diabos você está fazendo aí embaixo? — Bryan pergunta, mas estou chocada demais para responder, um grito de susto ainda sufocado em minha garganta.

— B-Bryan... — gaguejo, desnorteada. — O que você está fazendo aqui? Eu quase morri de susto!

Outro par de olhos escuros se junta aos dele conforme Peter abaixa a cabeça para entrar na minha linha de visão.

— Sem essa, Alison. Nós perguntamos primeiro — ele disse.

Revirei os olhos, sem acreditar em tudo aquilo.

— Eu estou aqui procurando alguma prova de que a Professora Brunet adulterou as minhas avaliações de propósito para que eu não pudesse me apresentar no Festival de Arte, está bem? — admiti, ainda sussurrando. — Sei que eu disse que estava cansada disso tudo, mas é injusto que eu esteja passando por isso.

— Nós também achamos que é injusto — Bryan disse. — E é por isso que estamos aqui. Também viemos procurar provas de que ela armou para você.

Arregalei os olhos, ainda mais chocada do que quando pensei que tinha sido pega.

— Mas vocês podem ser pegos e se prejudicarem por minha causa...

— Nós não nos importamos. E o Zaden também está nisso — Peter falou, o que só aumentou o meu estado de completa perplexidade. — Ele só não está aqui agora, porque Bryan e eu decidimos vir antes do dia combinado para testar se eu conseguiria driblar o sistema de segurança virtual do computador da Brunet sem maiores problemas. Viemos hoje porque o meu professor de física pediu para que eu pegasse um pendrive em cima da mesa dele, então seria o álibi perfeito caso fôssemos pegos, já que aqui dentro não tem câmeras.

— Então vocês simplesmente vieram aqui planejando invadir o computador da Brunet? Vocês perderam totalmente o... — a frase morreu em meus lábios quando, pela segunda vez em um pequeno intervalo de tempo, passos se aproximaram do lado de fora da sala. — Era o que faltava. Venham logo para debaixo dessa droga de mesa — resmunguei, enquanto me arrastava mais para o lado para abrir espaço para Peter e Bryan, dois bailarinos de membros longos e estatura nem um pouco pequena.

Quando os dois se juntaram a mim no apertado debaixo da mesa, a porta se abriu, vozes conhecidas vindo até os nossos ouvidos, a primeira delas pertencente a ninguém menos ninguém mais do que a própria Brunet:

— Eu já cansei da sua petulância. Eu sou uma professora que trabalha aqui há anos e você é um mero aluno que acabou de entrar, com notas medíocres e reputação questionável — ela disse, seu sotaque francês dando ênfase a cada palavra.

— Um mero aluno? — o rapaz respondeu, com uma risada debochada que fez a testa de Bryan se franzir. Parecia que ele estava tentando identificar de quem era a voz. — Com notas medíocres e reputação questionável? Não me faça rir, Brunet.

— Pode ter certeza de que diverti-lo está em último lugar na minha lista de prioridades — ela respondeu, ainda mais incisiva. Toquei o braço de Peter para chamar sua atenção, formulando a frase "grave isso" com os lábios. Aquela conversa parecia algo que eu poderia usar a meu favor. Uma professora falando daquele jeito com um aluno? Será que ele era mais uma vítima da educadora abusiva que Brunet era?

— Pois para mim parece que estou em um show de comédia — o estudante continuou. — Eu te ajudei a falsificar os trabalhos de todos os alunos de que você não gostava. Adulterei as avaliações que me pediu de um jeito tão profissional que ninguém pensaria duas vezes em duvidar da veracidade. E quando te peço um pequeno favor em troca, você recusa? Só pode ser piada.

— Cale a boca, délinquant — ela rosnou. — Eu já dei nota máxima para o teste daquele seu amigo, mesmo com o péssimo desempenho dele. Eu não posso reprovar uma aluna só porque você quer. Principalmente uma que é filha de um investidor do Instituto e fala francês fluentemente. Eu estaria comprometendo o meu emprego.

— Eu estou pouco me fodendo para o seu emprego. Reprove Zara ou vai todo mundo ficar sabendo dos seus negócios sujos — o rapaz disse, seus passos se direcionando para a saída da sala. — E mero aluno? Fique sabendo que a minha família é tão rica quanto a dela. Uma pobretona como você deveria saber o seu lugar e nunca falar comigo desta maneira. Terminamos aqui. Depois não diga que não avisei, professora.

— Pirralho maldito — Brunet xingou, pisando forte com seus saltos na direção da mesa e parando bem diante de sua cabine, provavelmente para pegar as pastas que havia deixado ali em cima. — Isso não vai ficar assim — ela murmurou, antes de se afastar e sair batendo a porta da sala furiosamente.

Bryan, Peter e eu nos entreolhamos, completamente estáticos. O que tínhamos ouvido por acaso tinha sido algo muito mais incriminador do que qualquer outra coisa que pudéssemos ter encontrado na mesa dela. Era praticamente uma admissão de culpa. E Peter tinha conseguido gravar todas as partes importantes.

— Vamos dar o fora daqui — Bryan disse, sendo o primeiro a se arrastar para fora da mesa. Peter saiu logo atrás dele e eu fui a última, esfregando a poeira que havia ficado em meus joelhos.

— Quem diria, hein? — Peter indagou, contornando a mesa até chegar na cabine do seu professor de física, onde estava o pendrive que ele havia vindo buscar. — A Brunet sendo chantageada por um aluno. Por essa a gente não esperava.

— Um aluno que ainda por cima pediu para que ela reprovasse a irmã do Zaden. Qual a probabilidade de isso acontecer? — perguntei, tentando me esforçar para estabelecer alguma conexão. — Mas por que a Zara? Ela nunca fez mal para ninguém. Não é nem mesmo popular no Instituto. É difícil acreditar que ela tenha conseguido um inimigo desse tipo.

— Talvez o inimigo não seja dela — Bryan disse, pensativo. — Mas isso não vem ao caso no momento. Temos que ir embora daqui. Vamos ter tempo para discutir isso com cuidado mais tarde. Agora Peter e eu precisamos ir para a aula e você precisa se apressar para o compromisso com a sua mãe.

— Meu Deus, Bryan, é mesmo! Com tudo o que aconteceu, eu já tinha até esquecido — falei, tirando o celular do bolso para ligá-lo novamente. Peter foi na frente e abriu a porta da sala para que eu passasse, com ele e Bryan vindo logo atrás. — Vejo vocês depois. Tentem pelo amor de Deus não se meterem em confusão na minha ausência.

— Pode deixar — Peter assentiu.

— Vá com cuidado — Bryan se despediu, acenando uma vez antes de seguir com Peter na direção oposta do corredor.

Aceno de volta e então me encaminho para a saída do Instituto, desbloqueando o telefone enquanto ando para mandar uma mensagem para Charles perguntando o motivo de ele ter me ligado. Vejo que ele me ligou mais duas vezes enquanto meu celular estava desligado e começo a me preocupar. Decido retornar sua ligação ao invés de mandar mensagem.

Ele atende no segundo toque.

— Alison, onde você está? Faltam quinze minutos para a nossa sessão de fotos começar e você não mandou notícias sobre estar chegando. Mamãe está subindo pelas paredes querendo saber de você — meu irmão diz, seu tom de frustração deixando mais do que claro que nossa mãe já havia descontado parte do estresse dela em cima dele. — Eu disse que não queria fazer parte disso. Não me deixe na mão agora.

— Charles, respire fundo, ok? E fique calmo, eu não vou deixar você na mão. Eu estou a caminho. Aguente só mais um pouco — pedi, apressando os passos. — Vou tentar chegar o mais rápido possível.

— Ok — ele suspirou. — Zaden também está aqui, a propósito. Ele chegou uns minutos atrás, porque parece que mamãe o convidou para assistir. Ele está tentando distraí-la para que ela não foque tanto no fato de você ainda não estar aqui.

— Bom saber que ele está cumprindo com suas obrigações de namorado — murmurei, com um meio sorriso. — Diga a ele que mandei um beijo. E não se preocupe, logo mais estarei aí. Vamos tirar fotos tão boas para promover a nova coleção da mamãe que ela nem vai ter do que reclamar.

— Eu espero. Até daqui a pouco — ele disse, desligando.

Eu também espero, penso, decidindo não perder mais tempo e ir correndo para o estacionamento.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top