CAPÍTULO 46
Passei todo o restante do meu sábado analisando as gravações que eu havia feito do meu último ensaio com a equipe, buscando pequenos erros na execução dos passos ou quaisquer pontos a serem melhorados para fazer com que os movimentos se tornassem o mais harmônicos possível quando estivessem sendo apresentados no palco. Eu podia estar suspensa das minhas atividades como líder da equipe de dança do colégio, mas ainda assim iria fazer um trabalho minucioso para que os outros brilhassem lindamente durante o Festival de Arte Anual. Fiz uma série de anotações com algumas sugestões do que poderia ser aperfeiçoado e adicionei algumas frases individuais de motivação para que cada um lembrasse aquilo o que fazia de melhor.
Com o trabalho terminado, uma inevitável sensação de vazio me atingiu. Eu havia estudado e me dedicado muito para conseguir fazer com que esta apresentação – aquela que marcaria minha última performance como aluna do Instituto St. Davencrown – fosse inesquecível. Horas de alongamento pré-ensaio, dores musculares e noites insones pensando no tema ideal, na música perfeita e nos figurinos que mais representariam os pontos centrais de todo o espetáculo de dança, tudo isso para que no fim eu ficasse de fora do show que eu mesma havia coordenado.
A injustiça era tanta que chegava a doer.
Suspirei, descansando a cabeça na escrivaninha do meu quarto por um minuto, meus olhos ardendo com as lágrimas que eu me recusava a continuar derramando. Eu podia ter adicionado uma dose extra de esforço ao discurso que havia feito para Zaden sobre como eu era forte, independente e estava lidando bem com toda a situação, mas a verdade era que eu tinha passado bem perto de simplesmente me jogar nos braços dele e cair no choro. E apesar de ter rejeitado a sugestão moralmente questionável dele quanto a usar a influência da sua família no Instituto para demitir a professora Brunet e cancelar minha suspensão da equipe, era reconfortante saber que havia alguém que faria qualquer coisa para me ajudar.
Além disso, ter conversado com Zaden a respeito me fez enxergar várias possibilidades que eu ainda não havia considerado: eu me apresentava como bailarina muito antes de sequer ter entrado para o Instituto. Havia sido a protagonista em boa parte dos balés nos quais havia participado e até mesmo saído em jornais por ser considerada um prodígio. Eu tinha uma experiência que oferecia muito mais do que apenas o posto de líder da equipe de dança de um colégio de elite, o que significava que eu não necessariamente dependia do Festival de Arte do Instituto para conseguir uma vaga em uma das renomadas academias de dança nas quais eu tanto sonhava em estudar.
Mantendo isso em mente, decidi que já estava na hora de parar de sentir pena de mim mesma e começar a seguir em frente. Eu amava a minha equipe do fundo do coração, mas era um trabalho que exigia muito de mim. Talvez houvesse algum aspecto positivo em ter sido suspensa das minhas obrigações nesses últimos meses de aula que me restavam; quem sabe assim eu teria a oportunidade de me dedicar mais às aulas de balé no centro comunitário infantil e de curtir a escola de um jeito mais leve. E para ser sincera, era bom ter alguma disponibilidade na minha rotina antes tão regrada: eu teria tempo para aproveitar melhor a companhia do meu irmão, voltar a sair com os meninos como antigamente (ao menos enquanto eles estivessem aqui) e para fazer com Zaden todas as coisas mais divertidas e idiotas possíveis.
Além do mais, havia uma pessoa especial cuja chegada estava prevista para daqui a três dias, o que significava que uma festinha de boas vindas precisava ser organizada imediatamente. Apesar de estar um pouco em cima da hora, eu não estava preocupada: já possuía os parceiros perfeitos para aquela missão. Sorri com o pensamento, só então criando forças para sair da escrivaninha e apagar as luzes antes de ir para a cama. O dia havia sido repleto de emoções, e uma delas em específico não parava de surgir em minha memória, como se fosse o replay da minha cena favorita de um filme muito querido.
"Quero que você se apoie em mim. Que me veja como seu único parceiro de dança, seu melhor amigo e seu namorado. Quero ser a metade da qual você nunca vai abrir mão. Eu só quero que você me diga que sim."
Fechei os olhos, sentindo o rosto quente e as bochechas doloridas conforme meu sorriso crescia lentamente em meio a penumbra do quarto. A felicidade que eu sentia por Zaden e eu estarmos juntos era maior do que qualquer frustração ou sentimento de raiva causado pela armação da Professora Brunet. Era só visualizar o sorriso nos lábios dele e o calor de seus braços ao redor da minha cintura que tudo o que restava em meu coração era gratidão por ter a sorte de tê-lo ao meu lado – me apoiando, me fazendo rir, me entendendo e me...
Meu estômago gela com o rumo tomado pelos meus pensamentos, e me obrigo a empurrá-los para o fundo da mente. Essa era uma questão um pouco assustadora demais para se levantar tão tarde da noite. Quer dizer... como podíamos ter certeza de que éramos amados por alguém sem que o alguém em questão nos dissesse? Não que apenas palavras pudessem ser provas de amor, porque eu... eu me sentia amada por Zaden. Cada toque e sorriso... O jeito como ele olhava para mim... Deveria ser impossível não saber, certo?
Ainda assim, parte de mim se questionava. As pessoas costumavam gostar de mim, mas amar era forçar um pouco a barra. Eu não era alguém fácil de lidar – era rígida, focada e crítica demais. E com Zaden, em especial, eu vinha sendo uma grande chata briguenta e cabeça dura. Eu no lugar dele pensaria duas ou até três vezes antes de amar alguém como eu.
Me revirei debaixo do edredom, debatendo a questão internamente.
E mesmo que ele realmente me amasse, como eu poderia julgá-lo por nunca ter dito com todas as letras quando eu mesma sempre fui uma completa medrosa no que se tratava de assuntos do coração? Só de lembrar que alguns anos atrás eu tive coragem suficiente para tomar a atitude de beijá-lo primeiro, eu me imaginava derretendo em uma poça de vergonha. Parecia que parte da confiança que eu tinha em mim mesma naquela época tinha escorrido e se perdido para sempre no ralo do banheiro da Mansão LeBlanc, no instante em que ouvi os comentários maldosos que aquelas garotas idiotas estavam fazendo a meu respeito, me julgando alguém digna somente da pena de Zaden.
Eu sabia que elas estavam erradas. Eu sabia no dia em que as ouvi proferindo aquelas palavras e sabia disso hoje ainda melhor do que antes. Então por que eu ainda duvidava de mim mesma?
Talvez a questão não fosse sobre se Zaden me amava ou não. Talvez fosse sobre mim. Sobre esses resquícios de insegurança que vinham à tona por causa de um trauma ou complexo de inferioridade mal resolvido e sobre como eu faria para superar. Sobre eu reencontrar a Alison corajosa de antes e me abrir primeiro sobre os meus sentimentos. Por que só levar em consideração o que Zaden sentia ou não sentia por mim? Eu também tinha minhas próprias emoções e a liberdade de me abrir sobre elas. Não importa se eu confessar o que sinto e acabar ouvindo uma resposta diferente em troca. O que importava era que eu respeitasse o meu próprio coração e começasse a ser honesta com ele e comigo mesma.
Mas apesar do meu aparente choque de determinação, parte de mim ainda congelava de puro terror só de pensar em expor minhas emoções daquela maneira.
Fecho os olhos, encolhendo os ombros sob as cobertas. Eu tinha que parar de ocupar minha cabeça com pensamentos que só me fariam perder o sono durante à noite. Em outro momento, eu voltaria a pensar nisso.
Uma batida suave ecoou do lado de fora do quarto, e um feixe de luz minúsculo invadiu o ambiente antes imerso em escuridão. Charles colocou a cabeça para dentro do cômodo, seu olhar se voltando para onde eu estava, deitada na cama.
— Alison? — ele hesita por um segundo, e eu ergo minha cabeça do travesseiro. — Me desculpe, eu acordei você?
— Não, eu ainda não estava dormindo. O que houve? — perguntei, franzindo a testa de preocupação.
— Ah, não é nada. Eu só queria ver como você estava — ele respondeu, com um sorriso discreto no rosto. — Eu ouvi quando você chegou. Estava cantando. Parecia estar feliz. Algum motivo especial?
Ergui uma sobrancelha no escuro, um tanto desconfiada.
— Preciso de motivo para cantar? Não posso simplesmente cantar só porque estou com vontade?
— Pode, é claro. — Charles deu de ombros, com a mão ainda sobre o trinco da porta. — Só estou perguntando porque...
Respirei fundo, não caindo naquela conversa fiada nem por um minuto.
— Zaden contou pra você, não foi? — indaguei, apesar de já saber a resposta.
— Não só para mim como para Sebastian e Loren também. Em uma chamada de vídeo. Loren tirou alguns prints da cara dele enquanto contava — meu irmão deu uma risadinha, como se lembrando da cena. — O seu namorado estava parecendo a personificação daquele emoji sorridente com o rosto corado. Aquele com as bochechas vermelhas e super inchadas, sabe? Claro que sabe. Voocê deve estar bem mais familiarizada com os traços faciais dele do que eu para ter aceitado esse pedido de namoro. Enfim, eu só vim desejar felicidades ao casal...
Arremessei um travesseiro diretamente na altura do rosto dele, na esperança de acertá-lo em cheio e apagar de uma vez aquela expressão cheia de presunção que ele tinha na cara. Para minha infelicidade, Charles foi mais rápido e conseguiu se safar da almofada, fechando a porta antes que meu golpe o atingisse.
Bufando de descontentamento, afofei o travesseiro que me restava e me aconcheguei, pensando em onde eu estava com a cabeça para ter concordado em namorar alguém tão besta e tentando o meu máximo para não sorrir ao imaginar o quão fofo Zaden devia estar quando deu a notícia do nosso namoro para os meninos.
Aquele bobão servo do capitalismo, pensei, enquanto fechava os olhos e caía num sono tranquilo.
🎸
Na segunda-feira, após o final das minhas aulas, reuni toda a equipe de dança no estúdio para comunicá-los da minha suspensão e deixá-los a par de como os ensaios para a apresentação do Festival de Arte iriam progredir a partir de agora. Foi um discurso para o qual me preparei muito para fazer, treinando minha expressão facial para não transparecer nada além de confiança e mantendo o sorriso controlado em meus lábios para não passar a impressão de nenhuma outra coisa que não fosse contentamento.
— Eu não tenho muito mais o que dizer — falei, assim que entreguei a última pasta com dicas de aperfeiçoamento e observações motivacionais para último o integrante que faltava recebê-la. — Não vou poder me apresentar com vocês durante o Festival, mas ainda vamos gravar o nosso Flash Mob, já que será publicado no meu canal de dança pessoal e não no do Instituto. Sei que tudo isso é muito repentino, mas vocês não precisam se preocupar: com ou sem mim, a apresentação será um sucesso. Vocês formam uma equipe incrível. Eu fui uma guia que não apenas compartilhou conhecimento, como também aprendeu muito com seus pupilos. Só tenho a agradecer a cada um de vocês por terem me dado a honra de ser sua capitã e coreógrafa por todo esse tempo que passamos juntos nessa jornada desgastante, imprevisível, extraordinária e extremamente recompensadora que é o mundo da dança.
Por um momento, há uma troca de olhar cheia de significado entre cada um de nós. Como bailarinos, sabemos que é necessário sacrificar muitas coisas antes de realmente conquistarmos algo, e que a estrada é dura e cheia de altos e baixos para aqueles que pretendem fazer disso uma carreira. É difícil se manter no universo do balé, porque ele tende a ser elitista e a fechar suas portas muitas vezes antes de se abrir para alguém que está começando de baixo. No entanto, também há beleza e uma espécie de conexão mágica na dança, e para aqueles que a amam do fundo do coração, cada sacrifício vale a pena.
— Não tenham medo de se arriscarem e nem de mostrarem no que são bons — acrescentei, olhando para cada um daqueles rostos familiares e encontrando força em cada sorriso compreensivo e expressão de admiração que se voltava para mim. — E eu sei que não preciso dizer isso para vocês, mas acho que é sempre válido lembrar: nunca fujam da oportunidade de serem aplaudidos. Muito obrigada.
O final do meu discurso é pontuado com uma salva de palmas fervorosa, e me sinto energizada pelo som. Ainda me sinto triste por estar deixando a equipe antes do planejado, mas ao mesmo tempo tenho a sensação de que meu dever com eles foi cumprido.
— Isso é tão injusto. Não vai ser a mesma coisa sem você — Natalie veio ao meu encontro, segurando minhas mãos entre as dela. — Bryan é um ótimo subcapitão, mas não tenho certeza de que ele vai servir como líder oficial.
— Com inveja porque a Alison não te escolheu para substituí-la, Nat? — Bryan indagou, estalando a língua. — Não se preocupe, na eleição para capitão do ano que vem você vai ter sua chance.
Natalie riu, cheia de zombaria.
— Cale a boca, Bryan. Eu não preciso e nem quero ser capitã da equipe de dança. Acho que é um peso grande demais para carregar, e eu já tenho muitas responsabilidades sobre os meus ombros — disse ela, me dando um olhar de solidariedade antes de se virar para o nosso amigo e adicionar, com uma pitada de deboche: — Dito isso, boa sorte para você. Ou melhor dizendo: quebre a perna.
— Pois saiba que agradeço! — Bryan respondeu, enquanto Natalie lhe dava as costas.
— Alison, eu estou tão triste por você! — exclamou Olivia, a garota que havia sido uma das últimas a passar nos testes do semestre passado para se juntar à equipe. Ela estava conosco há pouco mais de três meses. — Sei que não pudemos passar muito tempo juntas, mas queria dizer que foi um prazer ser sua pupila enquanto durou. Eu também queria te dizer para não desanimar, ok? A vida é feita de ciclos, e esse chegou ao fim para você. Não deixe que isso te entristeça demais, certo? — e com um tapinha no meu ombro, ela foi embora.
Bryan dedicou um olhar fuzilante às costas dela, antes de se virar para mim e despejar todo o veneno que eu sabia que ele estava guardando:
— Eu juro por Deus, você não faz ideia do quanto essa fedelha de tutu encardido e péssima postura me irrita. Vou fazê-la pagar trinta flexões sempre que flagrá-la com aqueles ombros caídos e a coluna torta — Bryan murmurou, cruzando os braços. — Quem ela pensa que é? Você que deveria estar dizendo a ela para não desanimar por já estar no ballet há mais de seis anos e não conseguir realizar um fouetté decente.
Eu ri baixinho.
— Péssima postura é paga passando cinco minutos de pé no canto da sala com aquele álbum enorme de ballet sobre a cabeça. Caso o álbum penda mais para um lado do que para o outro ou escorregue e caia no chão, mais um minuto é acrescentado — eu o lembrei das regras, como uma sábia mestra faria com seu aprendiz. — Erros de coreografia ou de tempo da música é que são pagos com flexões, pranchas ou abdominais.
— Não posso prometer cumprir nada disso. Se a Olivia continuar me irritando, pode ser até que eu invente um novo castigo só para ela. — Bryan resmungou, impaciente. — Mas isso não vai ser necessário, porque você não vai continuar suspensa por muito tempo.
— Eu até gostaria de ter essa esperança, Bry, mas a apresentação do Festival de Arte acontece duas semanas antes do fim das aulas, e para mim não há sentido em voltar a liderar a equipe depois disso. Apesar da fala da Olivia ter sido completamente desprovida de noção, ela está certa; todo ciclo tem seu fim.
Bryan franziu a testa, sem entender.
— Eu sei que você teria que abrir mão da liderança da equipe de qualquer forma por causa da formatura, mas por que você parece tão conformada com tudo isso? — ele questionou, sua voz exalando insatisfação mal contida. — Fala sério, Alison. O que fizeram com você foi uma puta injustiça. Você ajudou a fundar o clube de dança do Instituto. Você não merece ser suspensa da sua posição por causa de um suposto mau desempenho em uma única matéria.
Respirei fundo, balançando a cabeça.
— Eu sei que é injusto, Bryan. E eu estou com raiva. Mas mais do que qualquer outra coisa, eu só estou... cansada. — Fiquei de frente para o meu amigo, sem saber ao certo como explicar o que eu estava sentindo dentro de mim. — Você sabe como é cansativo ter sempre que lutar para conseguir ocupar um lugar que deveria ser seu por direito. E você entende quando eu digo que não lutar nunca é uma opção para pessoas como você e eu. Sempre temos que dar suor, sangue e lágrimas para conseguir chegar onde queremos e provar que somos dignos da posição que ocupamos, enquanto pessoas menos talentosas conseguem isso sem esforço algum só por serem brancas. Eu amo ser capitã da equipe e amo poder compartilhar a minha dança com vocês, mas eu não preciso continuar fazendo isso para chegar aonde eu quero. Eu não preciso implorar ou ficar procurando mil e uma razões pelas quais eu mereço estar no palco do Festival de Arte do Instituto. Se a Diretora optou por me suspender da equipe e não permitir que eu me apresente com vocês, então o azar é dela, não meu. Simples assim.
Bryan olha para mim em silêncio, mas mesmo que ele não diga nada, encontro em seus olhos o entendimento e compreensão de que preciso, e ao receber o apoio dele, tenho ainda mais certeza de estar tomando a decisão acertada. Com um suspiro resignado, meu amigo toca meu ombro, e sem que tenhamos que dizer uma palavra sequer, trocamos um abraço repleto de companheirismo e irmandade.
— Obrigado por tudo. — A voz de Bryan soa embargada, e imediatamente sinto um bolo se formar em minha garganta. Durante todo o discurso de despedida, não senti um pingo de vontade de chorar, mas um curto abraço com esse idiota aqui e já me encontro a beira das lágrimas. Era a mesma coisa quando eu conversava com Amélia. Ah, o infeliz poder dos melhores amigos. — Você foi a primeira amiga de verdade que fiz aqui. A primeira pessoa que me acolheu e fez com que eu me sentisse querido. Vou estar do seu lado sempre, não importa o quê. E foda-se o resto.
Pisco com força para afastar as lágrimas, esfregando as costas de Bryan enquanto o abraço.
— Eu que agradeço, Bry. E para falar a verdade, não estou nem triste; sei que deixei a equipe nas melhores mãos. Você é um bailarino incrível. Apesar de ainda precisar ralar muito para chegar ao meu nível, é claro — alfinetei de brincadeira, só para deixar o clima mais leve.
Ele deu uma risada carregada de ironia, beliscando meu braço. Recuei alguns passos, esfregando o local do beliscão com um sorriso dolorido no rosto.
— Você não tem jeito. Vamos, leve esse traseiro convencido para fora daqui — ele me enxota, e eu dou uma corridinha até a saída do estúdio de dança. Parada junto à porta, encaro aquele espaço cheio de barras e espelhos com carinho, observando os rostos dos bailarinos que ajudei a instruir com gratidão. Inesperadamente, Peter dá um passo adiante, põe a mão sobre o peito e inclina seu corpo elegantemente na minha direção, em uma clássica reverência de balé. Em uma sincronia e delicadeza que preenche cada canto do meu ser com orgulho, todos os demais bailarinos do corpo de balé atrás dele reproduzem o gesto, reverenciando a mim como sua professora.
Posiciono meus braços na frente do corpo, erguendo-os delicadamente para contemplar a sala de dança de uma ponta a outra. Dou alguns passos à frente, colocando um pé atrás do outro, as sapatilhas em meus pés conhecendo aqueles movimentos à perfeição. E então, com uma mão sobre o coração, dobro os joelhos e me abaixo na mais profunda reverência.
Os aplausos e assobios que recebo em retribuição vibram em meus ouvidos mesmo depois que deixo o estúdio de dança do Instituto St. Davencrown para trás.
🎸
— Eu simplesmente adoro esses infladores de balões. Quando eu era criança, lembro que papai e mamãe contratavam uma empresa para organizar todo o salão de festas do meu aniversário, e várias pessoas da equipe se juntavam para encher as bolas que... — e então, parecendo se dar conta de ter deixado escapar algo que não deveria, ela interrompeu a si mesma: — Oh, não! Por que fui dizer isso? Acabei por revelar o quão velha eu sou! — exclamou a doce e perspicaz senhora de 62 anos, que na minha opinião estavam mais para 52.
— Ah, pare com a modéstia. Com um rostinho como o que a senhora tem, pode se gabar da idade à vontade que só vai ganhar elogios! — falei, com um sorriso de quem sabia das coisas. — Além disso, olhe só para o seu marido: está mais do que claro que ele continua perdidamente apaixonado mesmo depois de todos esses anos.
— É mesmo, não é? — ela jogou uma onda de cabelos platinados por cima do ombro, olhando para o homem que estava sentado na poltrona do lado oposto da sala. O senhor em questão, ao perceber estar sendo observado, desviou sua atenção do livro que estava lendo para dar à esposa uma piscadela cheia de adoração. — Ele é dono de muita sorte! — ela riu, corada como uma adolescente.
O convencimento em seu tom de voz é tanto que não tenho escolha a não ser rir junto, contagiada pelo seu entusiasmo. Para a minha infelicidade, meus avós maternos haviam morrido quando eu ainda era muito nova para sequer lembrar deles e os paternos viviam em outra cidade, o que limitava nosso contato apenas às férias e feriados. Nessas circunstâncias, Melody Ruschel, a avó de Amélia, é sem sombra de dúvida a mulher mais feliz e bem resolvida que conheço. Era bom ter alguém como ela por perto; Melody era capaz de espantar a tristeza de qualquer ambiente só de estar presente e também era dona dos melhores conselhos. Tê-la conhecido era mais um dos inúmeros motivos pelos quais eu era grata pela amizade de Amélia.
— Terminamos! — anunciei, ao dar um nó na última bexiga lilás que restava e então prendê-la ao imenso arco de balões nas cores branco e lilás, que ficaria bem na divisão da sala de estar para a cozinha. Nós duas estávamos usando infladores de bexigas para dar conta de encher todas, mas felizmente havíamos terminado bem mais rápido do que o esperado.
Sebastian colocou uma cabeça para fora da cozinha, um saco de confeiteiro cheio de glacê lilás firme em suas mãos.
— Terminaram com os balões?
— Neste exato segundo. E você, já terminou com os cupcakes? — perguntei, gesticulando para o saco de glacê que ele estava segurando.
— Só faltam cinco deles para serem confeitados, então basicamente já está tudo pronto — ele encarou o relógio em seu pulso, deixando o saco de confeiteiro em cima da ilha da cozinha e vindo em nossa direção. — Estamos no horário. O voo de Amélia está previsto para chegar daqui a uma hora e dezoito minutos. Vai dar certo — disse ele, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa.
— É claro que vai dar certo — concordou Gerald, o avô de Amélia, rindo baixinho ao se levantar de sua poltrona e caminhar até onde estávamos para ajudar Sebastian a pendurar o enorme arco de balões nos suportes que ele havia fixado na parede hoje mais cedo.
— Um pouco mais para a esquerda, senhor — orientou Sebastian, erguendo os balões no alto da parede. — Eu sei que vai dar tudo certo. Só estou ansioso.
— Tenha calma, rapaz. Você começou a contar os minutos desde o instante em que minha neta embarcou naquele avião para a Inglaterra, e isso foi meses atrás. Tente aguentar mais um pouco, está bem? Também estou ansioso para vê-la — disse Gerald, assim que eles dois posicionaram o arco perfeitamente sobre os suportes.
— Acredite em mim, senhor Ruschel, eu sei que não parece, mas estou dando o meu melhor — meu amigo disse, limpando as mãos na frente do avental azul que estava vestindo. — É que estou vivendo o dia de hoje como se fosse parte de algum sonho do qual posso acordar a qualquer minuto. É idiota, eu sei — Sebastian riu, olhando o relógio novamente e então franzindo a testa. — Vou correr para terminar de confeitar os cupcakes que ficaram faltando e então vou para casa tomar um banho. Não quero deixar Amélia esperando por mim quando for buscá-la no aeroporto — dito isso, ele desapareceu cozinha adentro.
Melody suspirou, envolvendo a cintura do marido em um abraço carinhoso ao mesmo tempo em que me dedicava um olhar sonhador:
— Ah, o amor. Ele nos deixa uma pilha de nervos. Pobre Sebastian.
— Ele está morrendo de saudades dela — respondi, com um sorriso involuntário crescendo no rosto. A verdade que eu tanto tentava esconder era que eu não passava de uma romântica incurável; fiquei tão feliz quando soube no ano passado que Amélia e Sebastian tinham finalmente começado a namorar que até me emocionei. Ele era apaixonado por ela há tanto tempo. E ela merecia muito alguém como ele. Podia ser clichê, mas era inegável: haviam sido feitos um para o outro.
— Mal posso esperar para vê-la — comentou Melody, fungando. — Ela diz que está se alimentando direito, mas como vou saber até que veja com meus próprios olhos?
— Também estou com saudade — digo, tentando pensar no sentimento de ausência não com tristeza, mas sim com felicidade, pois ele está prestes a terminar. — Aposto que ela vai ter um monte de aventuras para contar.
— Quando se trata de Amélia, até uma visita à biblioteca pode se tornar uma aventura — Gerald sorriu, as rugas ao redor de seus olhos se aprofundando com o movimento. No ano passado, ele havia realizado uma cirurgia de emergência para tratar de um câncer no pulmão – condição que ele havia omitido da família de propósito – e graças ao bom Deus vinha se recuperando sem complicações. Apesar de estar muito bem, o avô de Ames ainda fazia terapia respiratória duas vezes na semana, para garantir que sua recuperação ocorresse da melhor maneira possível.
O som da campainha tocando me arranca dos meus pensamentos, e Melody corre imediatamente para olhar a tela com visão da câmera da porta da frente da casa antes de atender, exultante de felicidade:
— Olá, meninos! Entrem, entrem! Cuidado com a cabeça, vocês são tão altos! — ela foi dizendo, cada vez mais enérgica. — Você deve ser o Loren, reconheço você por causa do cabelo. Ah, e você é o irmão da Alison! Charles, não é? Prazer em conhecê-los. Zaden, querido, quanto tempo! Fiquei sabendo do seu braço. Amélia me enviou o vídeo da sua queda. Assisti com o coração na mão. Graças a Deus você está bem!
— Senhora Ruschel, está linda como sempre. Obrigado pela preocupação, mas estou novinho em folha. Um braço quebrado não é capaz de me derrubar — ouvi a voz de Zaden.
— Ele tem razão. Não precisa de tudo isso — foi a réplica de Loren. — O fio de uma extensão fora do lugar já é mais do que o suficiente para fazê-lo tropeçar e cair de cara no chão.
— Ora, seu...
A gargalhada divertida de Melody preenche o recinto no exato segundo em que ela e as três cabeças masculinas aparecem na entrada da sala de estar, fazendo com que o cômodo antes espaçoso se torne repentinamente menor. Enquanto os meninos vão cumprimentar o avô de Amélia, eu digo:
— Não liguem para eles, pessoal. São como crianças em corpos que cresceram demais. O meu irmão é o único que ainda se salva. Nos dias bons — acrescento, com um sorriso sarcástico na direção de Charles. — Loren ainda está lutando para sair do jardim de infância. E Zaden é um caso perdido, mas disso vocês já sabem.
— Então não é à toa que as equações matemáticas que não tinham solução sempre foram as suas favoritas, não é? — ele disse, sua voz tão próxima do meu ouvido que os pelos da minha nuca se arrepiaram. — Sua espertinha — murmurou, antes de me abraçar por trás e me erguer do chão tão rápido que fez com que eu sufocasse um gritinho de surpresa. Zaden me girou no ar uma vez, depositando um beijo na minha bochecha antes de pousar meus pés novamente no chão.
Senti meu rosto queimar de vergonha, sem saber ao certo se era por estar na frente dos meninos e dos avós de Amélia, ou por não conseguir esconder o sorriso de felicidade em meu rosto.
— Bregas — Loren revirou os olhos, antes de olhar para Melody e perguntar: — Onde eu posso colocar isso? — questionou, erguendo a torta de mirtilo que carregava nas mãos.
— E isso? — Charles acrescentou, erguendo o bolo decorado com flores violetas que Sebastian tinha pedido para ele buscar na doceria.
Apesar da pergunta ter sido feita à Melody, foi Gerald que indicou o caminho da cozinha para os dois, porque ela estava muito ocupada encarando a mim e a Zaden totalmente boquiaberta:
— Vocês dois... vocês dois estão... NAMORANDO?! — ela mais exclamou do que indagou.
— A senhora sabe como Zaden pode ser insistente. Eu fui literalmente vencida pelo cansaço — admiti, com falso pesar.
— Sei — ela cruzou os braços, não acreditando em uma palavra.
— Na verdade, senhora Ruschel, Alison e eu gostamos um do outro desde muito tempo atrás, sabe? Tipo o Sebastian com a Amélia, sendo que a única diferença era ser recíproco...
— Eu ouvi isso, Zaden! — Sebastian gritou da cozinha, fazendo com que Melody e eu segurássemos o riso.
Zaden me olhou de lado, abrindo um sorriso astuto de quem tinha acertado o alvo. Não pude evitar sorrir em reflexo; tínhamos exatamente o mesmo senso de humor perverso.
— Mas a senhora já imagina, né? — ele seguiu contando sua versão da história, ainda me abraçando pela cintura. — Um casal bonito como Alison e eu causa inveja em muita gente, por isso tentaram nos separar inventando mentiras sobre mim que essa bobona aqui acabou acreditando. Por causa disso ela começou a fingir que não gostava mais de mim, acredita?
— Ela nunca conseguiu fazer um bom trabalho — Melody balançou a cabeça em desaprovação.
— Pois é. Ela também nunca me enganou — ele assentiu, o descarado. — Apesar da atuação ruim, Alis passou anos me esnobando, até que me viu caindo do palco e quebrando o braço; isso foi demais para ela. Me ver ferido daquele jeito fez com que essa teimosa aqui finalmente percebesse que sem ela do meu lado, eu ia acabar morrendo bem mais cedo do que deveria — concluiu tristemente o seu discurso.
— Nisso aí eu vou ter que concordar — eu disse, me inclinando para Melody com uma mão ao redor da boca, como que para lhe confiar um segredo: — Ele não é nada sem mim.
Nós caímos na risada, ao passo em que a voz de Loren vinda da cozinha sai como plano de fundo:
— Agora eu vou ter que perguntar onde é o banheiro. Mais um minuto ouvindo esses dois e eu juro que vou vomitar.
— Aquele ali certamente não deve ter namorada — Melody comentou baixinho, para que só nós dois escutássemos. — Homens solteiros estão sempre com dor de cotovelo.
Zaden e eu nos entreolhamos em silêncio por exatos três segundos antes de cairmos na risada mais uma vez.
🎸
— Você está vendo ela? — pergunto a Zaden, conforme as primeiras pessoas a desembarcarem do voo de Amélia começam a atravessar o portão do aeroporto.
— Ainda não — ele respondeu, me puxando pela mão para que eu ficasse na frente dele. — Fique aqui. Assim você consegue ver melhor.
Abri um sorriso para ele, apertando sua mão em agradecimento.
No fim de tudo, Melody e Gerald decidiram esperar para receber Amélia em casa, sem ter que passar por todo o tumulto e afobação do aeroporto. Charles e Loren também decidiram ficar, afinal, toda a nossa festa de boas vindas era surpresa, e ter a todos nós esperando por ela no aeroporto iria dar muito na cara. Sendo assim, apenas Sebastian, Zaden e eu viemos recepcioná-la, e é claro que, assim como eu havia feito para Zaden, eu também tinha personalizado uma plaquinha de identificação para Amélia. Dizia o seguinte:
A NOSSA GAROTA DOS DIÁRIOS
— Você está vendo ela, Seb? — indaguei, já que ele era o mais alto entre nós.
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Não — balbuciou, esticando o pescoço para conseguir ver além da multidão que se espalhava pelo portão de desembarque. Acho que na ponta dos pés e com o pescoço esticado daquele jeito, Sebastian conseguia facilmente medir dois metros de altura. — Não estou vendo, mas ela já está chegando.
Zaden franziu a testa em confusão.
— E como você sabe? Pode ser que ela tenha algum imprevisto com a bagagem e se atrase um pouco.
E é então que, entre o enorme fluxo de pessoas circulando por aquela área do aeroporto, como se apenas para pontuar a afirmação feita por Sebastian, uma familiar cabeça de cabelos castanho-claros surge em nosso campo de visão. A franja cobrindo sua testa continua a mesma de sempre, mas seu cabelo, que costumava estar pouco abaixo dos ombros, agora está batendo na cintura. Amélia está vestindo calça jeans azul, camiseta e tênis brancos e uma jaqueta preta que fica tão grande nela que tenho certeza de que só pode ser de Sebastian. Ela traz consigo uma bolsa de mão e uma mala metálica de rodinhas que possui uma aparência tão pesada que não sei como ela está dando conta de carregar sozinha.
— Amélia! — eu grito, tentando atrair a atenção dela para a placa em minhas mãos. — Aqui!
Percebo que ela me escuta da primeira vez, mas não consegue me localizar no meio da multidão e fica olhando para os lados sem saber de onde foi chamada, procurando sem sucesso pela origem do som. No entanto, quando estou prestes a chamar por ela novamente, vejo que seus olhos parecem ter encontrado algo familiar, pois se arregalam ligeiramente, acompanhando o sorriso crescente em seu rosto. Só então me dou conta de que Sebastian já não está mais ao meu lado, mas sim driblando o montante de gente ao nosso redor para conseguir chegar até Amélia. Ela também acelera os passos para chegar até ele, e quando eles finalmente se encontram, bolsa de mão e mala são completamente deixadas de lado para que ela possa abraçá-lo com tudo; mãos em volta do pescoço de Sebastian e pernas ao redor da cintura dele, um agarrando-se ao outro como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento caso soltasse.
— Aposto dez dólares que ele vai voltar pra cá chorando — Zaden sussurrou atrás de mim, e pude sentir o sorriso na voz dele.
— Aposto vinte que ela também vai chorar — dupliquei a aposta, confiante.
— Amélia? Chorando? Acho difícil. Ela é tão controlada. Eu vi eles se despedindo no aeroporto da primeira vez e ela não derramou uma lágrima. Sebastian é o emotivo dos dois — Zaden apontou com o queixo na direção do nosso amigo, que segurava Amélia nos braços com tanta força que a coitada provavelmente devia estar ficando sem ar. — Ele já deve estar soluçando no ouvido dela, dizendo: "senti tanto a sua falta que achei que fosse morrer! Minha vida é tão vazia sem você!" e então mais um soluço de choro, lágrimas e amor verdadeiro.
Eu gargalhei, sem aguentar.
— Você é tão... tão...
Ele ergueu uma sobrancelha que desapareceu sob as mechas loiras que cobriam sua testa.
— Lindo? Incrível? Engraçado?
— Hipócrita — completei, apontando o dedo indicador para o peito dele. — Você também choraria se eu fosse passar seis meses em outro país.
— Claro que eu choraria. Só não na sua frente — explicou, como se fosse óbvio.
— Você já chorou na minha frente antes — pontuei.
— Não, eu já fiquei triste e derramei algumas lágrimas na sua frente. Chorar é uma palavra forte demais — abri a boca para argumentar, mas ele foi mais rápido: — Se você fosse selecionada para uma companhia de balé em outro país, eu ficaria feliz demais pela sua conquista, mas triste pra caralho por te ver indo embora. Mas eu não choraria na sua frente. Já é difícil o bastante ter que ir embora, você não precisa de mim chorando e piorando tudo. Não que seja errado chorar; eu só acho que não gostaria que você embarcasse num avião para outro país tendo como visão o meu rosto vermelho e inchado de choro por você estar indo. Eu não ia gostar da possibilidade de te fazer sentir culpada por ir atrás do que você quer, nunca mesmo.
Encaro Zaden em silêncio, seus olhos azuis presos aos meus por um momento antes que ele desviasse o olhar e começasse a se retratar:
— Não que eu esteja insinuando que Sebastian faça Amélia se sentir culpada por ter ido para a Inglaterra, porque eu sei que ele foi o primeiro a apoiar a ideia dela, só estou dizendo que...
Eu segurei seu rosto, fazendo com que ele olhasse para mim novamente.
E então o beijei.
Porque Zaden era um idiota por criar uma situação hipotética onde ele teria que guardar a tristeza que estava sentindo por me ver indo para longe só para não fazer com que eu me sentisse mal por perseguir meus sonhos. Só para não ter a mínima possibilidade de me fazer sentir culpada. Só para que eu fosse embora sem dúvida alguma de que ele estava feliz por mim. Eu o beijei porque ele era um bobo por pensar tudo aquilo e porque eu o amava do fundo do meu coração, de um jeito que nunca achei que fosse capaz de amar alguém. Eu o amava tanto que era ridículo tentar dizer a mim mesma que não era verdade quando o sentimento estava ali, ardendo e consumindo o meu peito por inteiro.
Afastei os meus lábios dos dele lentamente, respirando uma vez antes de falar:
— Você não precisa se explicar. Eu entendo o que você diz aqui — toquei sua boca. — E aqui também — pousei minha mão sobre o seu coração.
Zaden soltou o ar, parecendo tão surpreso que quase beirava a incredulidade. Mas quando seus olhos encontraram os meus, vi verdadeira compreensão dentro deles, do tipo que não precisa de palavras para se afirmar. Ele segurou a mão que eu mantinha sobre seu coração e a levou até a boca, depositando um beijo suave em meus dedos.
Eu sorri timidamente para ele antes de me virar para tentar achar Sebastian e Amélia entre as pessoas – e talvez para também esconder a súbita umidade em meus olhos.
Felizmente para mim, não precisei procurar muito, pois meus dois amigos já estavam caminhando diretamente na nossa direção. Eu abri um sorriso de orelha a orelha, balançando a placa para que Amélia visse, provocando nela uma gargalhada.
Me virei rapidamente para Zaden:
— Você me deve vinte dólares. Os olhos de Amélia já estão inchados de tanto que ela chorou — declarei, triunfante, antes de ser envolvida pelo abraço quente e familiar da minha melhor amiga, que estava finalmente de volta pra casa.
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