CAPÍTULO 30
Após o final da aula de economia financeira, eu, Bryan e Peter estamos caminhando lado a lado enquanto dou uma pequena explicação sobre as opções de investimentos que têm mais chances de serem lucrativas a longo prazo e quais fatores devem ser observados antes de se investir em uma empresa, quando Bryan solta um bocejo descaradamente alto – uma clara demonstração de tédio.
Eu o ignoro:
— Não é tão difícil. Na verdade, os números dizem tudo. A única coisa que você precisa fazer é analisar os investimentos que serão mais rentáveis e que melhor se encaixam no seu perfil de investidor, porque assim você vai estar sondando a sua área de...
— Alison, pelo amor de Deus! — ele choramingou, interrompendo o meu discurso. — Tente ao menos fingir que você não é uma total fissurada em matemática e pare de falar em números quando a aula já terminou há mais de dez minutos!
Peter riu baixinho, ao mesmo tempo em que cruzei os braços, parando de andar.
— Não venha bancar o rei do drama, Bry. Tudo o que estou tentando fazer é facilitar o assunto. Você pareceu estar completamente perdido na hora em que a professora estava falando, então eu achei que podia te dar uma mãozinha, sabe? — eu disse, dando um tapinha solidário no ombro dele. — Só para te ajudar a encontrar uma linha de raciocínio que faça com que...
— Ah, confie em mim — Bryan se adiantou novamente, fazendo de tudo para que eu não continuasse a explicação. — Se esse papo é a sua maneira de me ajudar a encontrar a linha de raciocínio do assunto, não me leve à mal, Ali, mas eu prefiro continuar perdido.
Abro a boca para retrucar que ele deveria procurar se esforçar mais para não reprovar na matéria, mas as palavras não encontram o momento para serem ditas a tempo de um trio de meninas barulhentas passar correndo e empurrar Bryan, Peter e eu para extremidades opostas da parede, na intenção de obterem passagem direta pelo corredor.
— Existe uma coisinha chamada "licença", suas pirralhas mal educadas! — esbravejei, passando a mão pelo blazer do meu uniforme e jogando as tranças por trás do ombro.
— Mas que tempos são esses em que estamos vivendo, hein? Agora corro o risco de ser atropelado até mesmo em ambiente escolar — Peter disse, tirando o elástico preto de seu pulso com os dentes e amarrando seu cabelo preto encaracolado logo em seguida. — Bem que hoje de manhã eu tive o pressentimento de que deveria ter ficado em casa dormindo.
Eu balancei a cabeça em concordância, me virando para dividir minha frustração com Bryan, que está estranhamente em silêncio enquanto observa Peter prender o cabelo. Franzi a testa, tentando captar algo a mais na interação repentina, mas Bryan desata a falar antes que eu possa tirar alguma conclusão:
— E você ouviu os gritinhos de animação? — ele zombou, indignado. — Quem vê até pensa que estão correndo pro evento da vida delas.
— E elas realmente acreditam que estão fazendo isso — Kimmie diz, caminhando a passos largos pelo corredor com o tablet oficial do jornal da escola em mãos. O aparelho eletrônico já era quase uma extensão dela. — Alguém saiu espalhando o boato de que um ex-aluno gato do Instituto estava conversando com um professor no estacionamento e agora todas as meninas estão correndo feito loucas para ver quem é. Cochichos mais detalhados dizem que ele é um dos integrantes de uma banda bem famosa... — ela deixou no ar, olhando de esguelha para mim. — Alguma ideia de quem seja, Alison?
— Ah, fala sério, Kim. Você está querendo me dizer que as meninas que acabaram de passar correndo pela gente estavam fazendo aquele estardalhaço todo só por causa do Zaden? — indaguei, descrente. — Ele já veio aqui no colégio umas duas vezes desde que voltou de Nova York e ninguém nunca percebeu. Como ficaram sabendo dessa vez?
Como se em resposta, o som de uma notificação preenche o ar ao nosso redor e Bryan checa o telefone despretensiosamente. Erguendo as sobrancelhas levemente, ele volta a tela do celular na minha direção e a imagem do estacionamento do Instituto sendo transmitida em tempo real ocupa toda a minha visão. Curiosos, Peter e Kimmie se aproximam um de cada lado para conseguirem ver melhor.
— Isso é uma live? — ele pergunta.
— Obviamente. Mas quem está gravando? — ela contrapõe.
— Oizinho, galera! Aparecendo aqui com essa live surpresa para dizer para todos aqueles que, assim como eu, são fãs fervorosos da The Noisy e não puderam ir vê-los pessoalmente nessa primeira turnê...
— É impressão minha ou essa é a voz da Caitlin? — indaguei em busca de confirmação, mesmo já sabendo que era ela.
— A própria — Bryan anuiu.
— Como ela pôde conseguir esse furo primeiro que o jornal da escola? — Kimmie perguntou, mais para si mesma do que para qualquer um de nós. — Isso é inadmissível! Nada disso estaria acontecendo se a Pamela estivesse aqui. E onde diabos o fotógrafo substituto se meteu? — ela vociferou, indo na direção contrária, provavelmente em busca do mais novo e incompetente membro de sua equipe de do Davencrown's Journal.
— Eu não entendo muito disso, mas... não é meio que errado expor o Zaden e toda a escola desse jeito sem nem pedir permissão primeiro? — Peter argumentou, em tom de dúvida.
— É bem errado e pode dar muito problema — respondi, entregando o celular para Bryan. — Mas como esperado, a Caitlin não está pensando antes de agir, o que significa que eu vou ter que ir lá pra fora impedi-la de passar vergonha e de acabar arrastando o Zaden junto para esse fiasco.
— Awn... — Bryan grunhiu, cruzando o polegar e o indicador em formato de coração. — Olha só pra isso, Peter. Não é lindo o jeito como a Alison corre para proteger o branquelo dela do assédio das fãs?
— Ele não é o meu branquelo — eu revidei, no exato segundo em o rapaz negro ao meu lado dizia:
— Fala sério, Bryan. Lindo? — Peter inquiriu, duvidoso. — É muito mais que lindo. É um gesto admirável!
Bufei, revirando os olhos, ao passo que os dois caíram na gargalhada.
— Vocês são ridículos e têm um senso de humor extremamente inoportuno — anunciei, só para o caso de isso já não estar claro. — Agora vamos indo, ok? — gesticulei na direção deles, assumindo a dianteira pelo corredor.
— Não tema, Alison! O Zaden vai sobreviver! — Peter exclamou, seguindo atrás de mim.
— É isso aí! Há mais força naqueles fios de cabelo loiro do que você pensa! — Bryan continua, e dessa vez não tive outra alternativa a não ser rir junto com eles.
Era impossível manter a seriedade com aqueles dois.
🎸
Quando Peter, Bryan e eu chegamos ao estacionamento do Instituto, a localização de Zaden é um ponto inteiramente demarcado por um círculo de aproximadamente quinze meninas e meninos saltitantes e ansiosos à espera de uma foto. Vê-lo cercado de gente disputando sua atenção nunca foi algo fora do comum para mim, mas saber que agora tudo aquilo era fruto do sucesso que ele estava fazendo como guitarrista enchia meu peito de felicidade e orgulho. Como alguém que havia acompanhado de pertinho todo o seu esforço e dedicação durante a jornada da construção da banda, eu sabia que aquele reconhecimento era muito mais que merecido.
No entanto, ao observar Caitlin quase enfiar o celular dela no rosto de Zaden, me dou conta de que a fama realmente pode ter seus aspectos negativos.
— Com licença — peço, enquanto Peter e Bryan vão me ajudando a abrir espaço delicadamente entre nossos logos colegas de escola para que eu consiga chegar até o centro do círculo. — Licença. Só um minuto, é rapidinho — repeti, já conseguindo um lugar melhor para ouvir as perguntas da entrevista louca que Caitlin estava fazendo com Zaden.
— Mas qual é a previsão para que você retire o gesso? — ela perguntou, parecendo surpreendentemente jornalística.
Zaden, usando jeans e um suéter azul-porcelana com três listras brancas no braço esquerdo e a tipoia bem ajustada no direito, abriu um de seus largos sorrisos para ocasiões sociais.
— Para a minha felicidade, a previsão é daqui a menos de um mês. Cada dia que passa é um alívio, porque eu não vejo a hora de poder tocar guitarra de novo.
Os dois continuam conversando descontraidamente, e Bryan inclina a cabeça na minha direção, sussurrando em meu ouvido:
— Contrariando as nossas expectativas, a Caitlin está se saindo bem. Até agora ela não fez nenhuma pergunta inconveniente.
Assenti em concordância. Ela estava mesmo sendo bem polida.
— Mas então, Zaden, agora o que todo mundo da live está morrendo pra saber: é verdade que você está solteiro? — Caitlin questionou, com a câmera do celular posicionada especificamente na direção de Zaden. — E não vale ficar sem responder, hein?! Um gato como você tem ao menos que dar uma oportunidade para quem estiver interessado.
— Ops. Acho que eu falei rápido demais — meu amigo fez uma careta.
Fechei os olhos por um segundo, a vergonha alheia me corroendo por dentro.
Meu momento de exclusão não dura muito, porque o som da risada de Zaden faz com que eu automaticamente volte a prestar atenção no diálogo:
— Essa é uma boa pergunta — ele diz, ainda sorrindo. Me pergunto de onde Zaden tira tanta paciência para não simplesmente inventar uma desculpa qualquer e dar o fora dali, mas o pensamento some da minha mente quando percebo que ele está com os olhos fixos em mim. Dessa vez, noto o tímido cintilar prateado do pingente com nossas iniciais gravadas pendendo de seu pescoço, e sou tomada por um conhecido frio na barriga. — O que posso dizer é que não estou comprometido no momento, mas que planejo ficar em um futuro bem próximo.
Caitlin arqueja de empolgação, e um burburinho cresce com a agitação do grupo ao nosso redor.
— Nossa! Você falou de um jeito que até parece que a pessoa com quem você quer se comprometer está aqui — ela comentou, olhando por cima do ombro à procura de uma possível suspeita. — É alguém que eu conheço?
— Vai, Alison, é o seu momento — Bryan cutucou minhas costas.
— Fecha essa matraca — devolvi, lhe dando uma cotovelada no estômago.
Zaden desviou o olhar de mim para Bryan, seu sorriso esmaecendo ligeiramente nas pontas. Franzi a testa, sem entender o motivo daquela reação.
— Se é alguém que você conhece? — ele retomou a pergunta de Caitlin, se virando na direção dela. — Bem, talvez. Quem sabe? Eu diria até que...
— Oh, meu Deus, Zaden! — eu exclamei, dando um passo adiante. — A sua irmã me ligou cinco minutos atrás perguntando se eu sabia onde você estava. Ela disse que tinha marcado uma consulta no ortopedista para examinar a fratura no seu braço, mas que não conseguia te encontrar. Como foi que você veio parar aqui? — perguntei, em seguida me voltando para a garota de pé ao meu lado, com um quê de desculpas na ponta da língua: — Acho que a sua live surpresa vai ter que terminar mais cedo, Caitlin. Urgências médicas.
Ela baixou o celular no ato.
— Ah, eu entendo totalmente! A saúde em primeiro lugar — disse, seu rabo de cavalo balançando conforme ela assentia em concordância. — Obrigada pela entrevista, Zad. Vou salvar tudinho depois. Sei que foi no improviso, mas ficou tudo! Você é um amor. Temos que marcar mais vezes!
Contive um suspiro de impaciência.
— Disponha, Cait. — Cait??? Que troca de apelidos aleatória era essa? — Foi bom te ver de novo. Se cuida, hein?
— É. Tchau, Caitlin — acenei, puxando Zaden para o meu lado.
— Zaden! Por favor, tira uma foto com a gente antes de ir embora! — uma garota pediu, acompanhada de duas outras meninas. Semicerrei os olhos para as três, identificando-as imediatamente como o trio mal educado que havia empurrado os meninos e eu somente alguns minutos atrás.
— É, Zaden. Elas saíram passando por cima de todo mundo no caminho até aqui só para conseguirem uma foto com você — alfinetei.
A menina do meio entortou o nariz, me medindo de cima a baixo. Ergui uma sobrancelha, encarando-a de volta. Ela devia ser uns quinze centímetros menor que eu.
— Deixa de ser intrometida, garota — bufou. — Você não vê que está atrapalhando?
Estou mais do que pronta para dar uma resposta à altura, mas Zaden fala primeiro:
— Na verdade, ela não está atrapalhando — ele sorri. — Eu estou atrasado para um compromisso médico, então infelizmente não vou poder ficar para a foto. Quem sabe na próxima, hum? — diz, e então sai me levando na direção contrária à delas.
O sabor da vitória de ter visto Zaden colocar aquelas metidinhas no lugar delas é tão doce que mal me dou conta de que estamos de mãos dadas até sentir seus dedos se firmando ao redor dos meus.
— Opa — eu solto um riso constrangido, separando nossas mãos. — E aí, faz muito tempo que você chegou?
— Só meia hora. Quis chegar cedo para te esperar e acabei encontrando o professor de história saindo do Instituto. Nós dois ficamos conversando um tempinho, mas ele teve que ir embora. Uma menina do primeiro ano veio me pedir uma foto depois de passar quase dez minutos só me olhando de longe, o que aliás foi levemente assustador, e depois dela o estacionamento começou a encher de gente — ele respirou fundo, me dando um olhar reprovador. — Pensei que você não ia chegar nunca.
— Eu me atrasei um pouquinho, mas você não teria passado tanto tempo me esperando se não tivesse chegado tão cedo. Teria se livrado de dar entrevista para Caitlin, pelo menos — comentei.
— Pfft. Dar entrevista para Caitlin foi a parte mais legal — Zaden disse, divertido. — Ela é engraçada. Fez um super anúncio dizendo que vinha me entrevistar, mas das dez perguntas que ela fez, só três foram sobre mim. Você tinha que ter visto. As outras perguntas foram todas sobre o...
— Ah, você está aí! — Bryan exclamou, vindo até mim acompanhado de Peter, que cobria a boca para esconder um bocejo. Ri comigo mesma. Ele estava sempre na vibe de um cochilo. — Só vim entregar a bolsa que você esqueceu e confirmar o horário do ensaio de amanhã. Às quatro, né?
— Exato. E obrigada — eu agradeci, pegando minha bolsa das suas mãos e passando-a pelo ombro. — Até amanhã meninos. E não se atrasem. Especialmente você, Peter.
— Eu entendi o recado — ele anuiu. — Tchau, Alison. Até amanhã. Tchau, Zaden.
— Tchau, Peter.
Bryan estalou a língua.
— Bom assistir a sua entrevista hoje, LeBlanc — ele falou, sem disfarçar o tom de zombaria.
— Valeu, Herbie — Zaden devolveu, sua frase pingando de tanto sarcasmo.
Assim que Peter e Bryan viram as costas, eu lhe dou um beliscão na cintura.
— Ai!
— O que é que você tem contra o Bryan? — pergunto, realmente querendo saber. — Toda vez que vocês se encontram você fica todo estranho.
— Impressão sua. Eu não tenho absolutamente nada contra o Bryan — desconversou. — Onde você estacionou o seu carro?
— Alguns metros à frente, do lado esquerdo — respondi, seguindo atrás dele de braços cruzados. — Agora você pode me contar o que tem contra o Bryan?
Zaden continuou andando, sem me encarar.
— Só acho que ele é um grudento.
Arfei.
— Mas ele mal fala com você!
— É, mas está sempre no seu pé. Desde o ano passado, naquela festa que eu dei na minha casa — ele disse, chateado. — Todo mundo viu que ele só ficou dançando com você o tempo todo. Mal te deixou falar com a gente. Fala sério. O cara não tem outros amigos, não?
Ergui as sobrancelhas, surpresa.
— Nossa, Zaden. Eu não sabia que você era assim.
— Assim como?
Não respondo, tirando a chave do carro da bolsa e destravando as portas do veículo.
Zaden suspirou, finalmente parando para olhar para mim.
— Assim como, Alison?
— Assim, desse jeito. Nunca tinha percebido que você era do tipo ciumento — falei, abrindo a porta do lado do motorista.
— Eu não... — ele engoliu em seco, provavelmente procurando alguma desculpa para substituir o óbvio. Coloquei minha bolsa no banco de trás, esperando pacientemente que ele se justificasse. — Ok, tudo bem. Negar seria muito infantil. Eu admito.
— Admite o quê? — pressionei.
Zaden olhou para o outro lado, a cabeça pendendo ligeiramente para baixo.
— Eu admito que sinto ciúmes do Bryan — disse, a ponta de suas orelhas ardendo em vermelho. — Você passa muito mais tempo com ele do que comigo, então... Sei lá, só parece que ele é o seu novo melhor amigo agora.
— Zaden, isso não é...
— Relaxa. Eu vou começar a tratar ele melhor de agora em diante.
Um sorriso involuntário nasce em meus lábios, e eu não faço a menor questão de escondê-lo. Suspirei.
— Você é tão fofo que às vezes dá vontade de te encher de beijo.
— Sério? — ele indagou, erguendo o rosto de imediato, com o semblante cheio de esperança. Estava mais vermelho que tomate maduro.
Não segurei a gargalhada enquanto assumia o meu lugar dentro do carro.
— Do que você está rindo? — ele perguntou, abrindo a porta do lado passageiro e entrando logo em seguida. — Você estava falando sobre me encher de beijo. Podemos voltar a esse tópico, por favor?
Balanço a cabeça negativamente.
— Põe o cinto, Zay — eu aviso, ainda rindo.
— Vou ganhar um beijo por isso? — ele abre um sorriso maroto.
Paro de rir.
— Agora você já está abusando do meu bom humor — alerto.
— Não custava tentar, né? — diz, prendendo o cinto. — Prontinho, Alis. Nós podemos ir agora.
E com isso, eu dou partida.
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