𝐁𝐄𝐓𝐑𝐀𝐘𝐀𝐋
❝Quando você dança com o diabo, a
música pode ser doce, mas o fim da melodia
é sempre amargo. ❞
— Autor desconhecido.
(Esse capítulo acontece um
dia antes de Kenzie ser enviada para o labirinto,
algumas coisas estão confusas,
pois ao longo dos próximos capítulos terá os flashbacks)
Eu estava sentada, amarrada àquela cadeira de metal frio, minhas mãos apertadas contra as cordas, que se enroscavam nos meus pulsos, machucando a pele a cada movimento.
A sala era pequena e as paredes brancas refletiam a luz fluorescente, que parecia pulsar a cada segundo que passava. A única interrupção naquele ambiente claustrofóbico era um grande vidro negro à minha frente, que não me permitia ver quem ou o quê estava do outro lado. O ar estava carregado com o cheiro metálico do sangue e algo químico — um resquício amargo do remédio que me forçaram a engolir.
Ainda podia sentir seu gosto, misturado com o do sangue seco em meus lábios.
Meu olho direito parecia mais pesado que o normal. Havia um latejar constante, como se estivesse prestes a explodir. Piscar fazia com que eu sentisse cada batida do meu coração, ecoando pela cabeça. Foi assim que acordaram, me jogando de volta na consciência, mas não completamente.
A dose do sedativo não foi suficiente para me apagar, apenas para me manter vulnerável, tonta.
Fraca.
Dessa vez, Janson e Ava Paige não estavam de brincadeira. Eu sabia que o que quer que fosse acontecer aqui não seria um jogo, nem uma tentativa de extrair respostas com ameaças vazias.
Não dessa vez. Eles queriam algo de mim, e pelo gosto metálico na boca e a dor constante no meu corpo, eles fariam de tudo para conseguir.
Por um momento, tentei me lembrar de como cheguei ali. Tudo estava embaçado — uma confusão de rostos, sons, gritos. Havia luta, eu lembrava disso. Tentei resistir, tentei fugir, mas alguém, provavelmente Janson, tinha conseguido me pegar de surpresa. Eu estava distraída.
Como sempre, o caos foi a minha ruína.
Minhas tentativas de soltar as mãos foram inúteis. As cordas estavam apertadas demais, e qualquer movimento me fazia sentir uma dor aguda. Mas o que mais me preocupava era o silêncio. Um silêncio opressor, pesado. Eles estavam me observando, eu podia sentir. Do outro lado daquele vidro preto, olhos desconhecidos acompanhavam cada respiração minha, cada mexida involuntária dos meus músculos. Estavam esperando que eu falasse algo. Ou talvez estivessem me testando, esperando que eu entrasse em pânico.
Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a náusea e o medo que ameaçavam me dominar. Eu sabia que, independentemente do que quisessem, ceder não era uma opção.
Janson e Ava Paige jogavam um jogo perigoso, e se eu desse o que eles queriam, não restaria nada de mim depois.
— Não sou como você — consegui murmurar, minha voz mais fraca do que eu gostaria, mas firme. — E morro tranquila, sabendo que vou levar o seu legado sujo junto comigo. Vou acabar com qualquer resquício dessa "familiaridade" que você tanto se orgulha.
Meu pai ergueu as sobrancelhas, claramente mais interessado na audácia das minhas palavras do que na verdade nelas. Ele soltou uma risada baixa, áspera, que ressoou pela sala.
— Oh, Kenzie — ele murmurou, aproximando-se mais uma vez, seus olhos brilhando com um cinismo cruel — sempre cabeça dura, sempre achando que pode mudar o mundo. Mas a verdade, minha filha, é que o mundo não muda. Ele é moldado pelas mãos de pessoas como eu, enquanto sonhadores como você se destroem na tentativa de resistir.
Ele retirou uma faca pontiaguda de dentro da jaqueta, o brilho frio da lâmina refletindo a luz da sala. Meus olhos foram imediatamente atraídos para o objeto, e o medo que eu vinha segurando até aquele momento começou a latejar no fundo da minha mente. A lâmina era fina, precisa, a arma perfeita para alguém que gosta de causar dor controlada. Ele deu um passo para trás, mancando um pouco, ainda com a coxa ferida pela tesoura que eu tinha cravado nele na nossa última luta.
— Você sabe... — ele disse, ajeitando a faca casualmente em sua mão, como se estivesse segurando um brinquedo qualquer — eu até poderia ter ficado orgulhoso de você, Kenzie. Se não fosse por essa sua insuportável rebeldia. Seguindo o seu próprio sistema, como se as regras não valessem nada. E agora... você ajudou Lawrence e nosso principal inimigo, braço direito, não foi?
A menção de Lawrence e da rebelião fez meu estômago revirar. Ele sabia. Ele sabia de tudo, das fontes... dos garotos...
Meu pai sorriu ao perceber a minha reação. — Ah, sim... você achou que poderia manter isso em segredo? Eu sei tudo, Kenzie. Sei que você passou informações. Sei que você foi o elo fraco dessa corrente.
Antes que eu pudesse reagir, senti o impacto da sua mão aberta contra o meu rosto. A dor irradiou pelo lado da minha cabeça e um som agudo reverberou nos meus ouvidos. Meu corpo foi jogado contra a cadeira, e por um momento, eu só podia ouvir o zumbido e sentir o gosto metálico do sangue preenchendo minha boca novamente.
Ele abaixou-se, sua respiração pesada perto da minha orelha, enquanto apontava a faca para minha garganta. A ponta fria da lâmina roçou na minha pele, como uma ameaça silenciosa.
— Você pensa que pode destruir tudo o que construímos? — ele sussurrou, sua voz gélida e cheia de raiva contida. — Você acha que a rebelião vai ganhar? Não, Kenzie, você só vai ser mais um exemplo do que acontece com aqueles que ousam se opor a CRUEL. Você não vai morrer como uma heroína. Vai morrer como uma traidora.
Eu sabia que ele falava sério. Meu coração acelerou, mas, mesmo assim, forcei um sorriso, cuspindo sangue antes de murmurar:
— Se você pensa que vai me matar, vai ter que tentar bem mais do que isso.
— Já chega, Janson! — a voz firme da Dra. Paige ecoou pela sala, interrompendo o silêncio pesado. Ela entrou com a habitual compostura, o coque impecável, os óculos descansando na ponta do nariz, e o mesmo semblante inabalável de sempre, como se nada pudesse penetrar sua armadura de frieza calculada.
Meu pai, Janson, recuou ligeiramente, ainda segurando a faca próxima ao meu pescoço. Mas havia um respeito, quase medo, na forma como ele olhava para ela. Dra. Ava Paige. A mulher que comandava a operação com mãos de ferro, a mente estratégica por trás de cada movimento sombrio da organização. Se havia alguém que ele obedecia sem questionar, era ela.
— Prepare a sala para a incisão, não temos tempo a perder — ela continuou, sem nem me lançar um olhar. Eu era apenas mais uma peça na operação. Não havia lugar para emoções ou dramas familiares aqui.
A faca foi lentamente retirada da minha garganta, e Janson, embora claramente contrariado, acatou as ordens dela. Ele soltou um grunhido baixo, se afastando e guardando a lâmina de volta no bolso da jaqueta.
— Ela é sua agora — murmurou, cruzando os braços enquanto lançava um último olhar de desprezo em minha direção. — Mas não se preocupe, Kenzie. Vou estar lá para ver você morrer, lentamente. E estarei feliz por estar por trás disso.
Dra. Paige não reagiu às palavras dele, apenas caminhou até a mesa diante de mim, ajustando alguns papéis e instrumentos com uma precisão quase cirúrgica. Tudo nela era meticuloso, controlado, como se cada movimento fosse parte de uma coreografia que ela já havia ensaiado milhares de vezes.
— Você ajudou o braço direito e ajudou o nosso querido Lawrence — ela finalmente disse, sua voz serena, sem nem olhar para mim. — E agora vai nos ajudar de uma forma mais... prática. Não tente resistir, Kenzie. Isso vai acontecer com ou sem sua cooperação.
Ela levantou os olhos, e por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Frieza. Determinação. Eu não era uma pessoa para ela. Era um experimento, um meio para um fim.
Meus punhos apertaram contra as cordas enquanto uma onda de pavor e revolta percorria meu corpo. A incisão. Eles iam me usar de alguma forma — me transformar em algo ou extrair algo de mim. Seja lá o que fosse, eu sabia que perderia mais do que apenas sangue nessa sala.
— Vocês nunca vão conseguir descobrir a cura! — consegui sussurrar, com o pouco de força que me restava.
Dra. Paige inclinou a cabeça levemente, como se estivesse ouvindo uma criança ingênua.
— A cura não é o que importa, Kenzie. O controle, sim.
— Infelizmente, não queria que fosse assim... — a Dra. Paige disse, a voz hesitante, quase dolorida. Ela me observava com um olhar distante, um raro vislumbre de humanidade. — Seria mais fácil se você fosse como a Teresa.
Ela não falou isso.
Ela engoliu em seco, como se estivesse tentando digerir as palavras antes de dizê-las em voz alta. Mas eu sabia, no fundo, que ela sempre soube: eu e Teresa éramos fundamentalmente diferentes. Teresa amava tudo o que eles representavam. Ela abraçou o sistema, o controle, as manipulações, acreditando cegamente que tudo isso levava a um bem maior. Eu, por outro lado, odiava cada pedaço dessa estrutura.
Eles me tiraram tudo. Minha infância, minha inocência, e... Thomas. Quando perdi ele, não sobrou mais nada em mim para eles corromperem.
No entanto, ironicamente, eles mesmos me transformaram em uma arma — uma arma que agora temiam. Sabiam que não podiam me controlar, e isso os aterrorizava. Eu era imprevisível. E, nesse jogo, imprevisível era perigoso.
— A incisão não vai doer, Kenzie — a Dra. Paige disse, quase como se estivesse tentando me confortar. Sua voz era suave, mas completamente falsa. — Vai ser rápida e vai nos ajudar com algo maior. Algo que o braço direito quer roubar, assim como Lawrence. Eles não são seus amigos, Kenzie...
Mentira. Mentira, mentira, mentira.
Cada palavra dela era veneno, tecendo dúvidas e desespero em minha mente, tentando me fazer questionar meus aliados, minha luta. Mas eu sabia a verdade. Lawrence, o braço direito, todos eles estavam do meu lado. E ela estava desesperada, jogando suas últimas cartas.
— Cruel é bom, lembre-se disso. — Ela sorriu de canto, aquele sorriso vazio, frio, que nunca alcançava seus olhos. Em seguida, passou a mão pelo topo da minha cabeça, um gesto quase maternal, mas tão repulsivo quanto as suas palavras.
Ela se levantou, juntando sua papelada com a precisão de alguém que sabia exatamente o que estava por vir. Eu a observei, impotente, com o ódio fervendo nas minhas veias, enquanto os guardas entravam. Sem dizer uma palavra, eles começaram a me desamarrar.
Minhas pernas estavam fracas, meus músculos dormentes, mas a adrenalina tomou conta de mim. Quando senti as cordas caírem no chão, lutei com tudo o que me restava. Eu gritei, me debati, chutando e socando qualquer um que se aproximasse, mas eram muitos. Os guardas me agarraram com força, me arrastando para fora da sala, enquanto meu corpo se contorcia, minha voz rouca ecoando nos corredores.
— Vocês não vão vencer! — gritei, minha garganta ardendo. — Eu nunca vou parar de lutar!
Mas eles não responderam. Apenas me levaram, cada passo mais pesado que o anterior, em direção ao que quer que fosse a próxima etapa do inferno que haviam planejado para mim.
Os guardas começaram a me desamarrar, mãos ásperas e impacientes. Meu corpo, fraco e debilitado, tentou resistir, mas foi inútil. Eles me agarraram com força, me puxando para fora da cadeira. Senti meus pés arrastando no chão frio enquanto eu lutava inutilmente, o desespero crescendo a cada segundo.
Dra. Paige não fez nada, apenas observou com aquele sorriso cínico. Ela realmente acreditava em tudo aquilo, nas mentiras que contava, no controle que exercia. Mas eu sabia, de alguma forma, que ela também era uma prisioneira desse sistema, assim como eu, assim como Teresa havia sido.
Enquanto eles me levavam para fora da sala, com meus gritos se tornando mais roucos e impotentes, olhei para ela uma última vez, forçando as palavras a saírem de minha boca ensanguentada:
— Quando você desfaz o acordo com o diabo, você acaba comendo o pão que ele amassou, Ava. — Sorri de uma forma que nunca sorri antes.
Eles vão pagar por tudo.
Por um breve segundo, algo brilhou nos olhos dela. Dúvida? Medo? Não pude dizer ao certo, mas a fissura na fachada inabalável estava lá. Mesmo que por um instante, eu soube que havia plantado uma semente de incerteza.
Logo, fui arrastada para longe, onde meus ouvidos foram preenchidos por um som perturbador. Os gritos e grunhidos ecoavam pelos corredores, o som metálico das correntes arrastadas pelo chão — os Cranks, famintos, aguardando.
Eu sabia que estavam à espera, que o inferno que me aguardava estava a apenas algumas portas de distância. A proximidade da ameaça fazia minha pele arrepiar, e o cheiro de podridão invadiu minhas narinas, misturado ao meu medo.
O pavor se enroscava em meu peito como uma serpente venenosa, apertando mais a cada segundo. Mas, em vez de me paralisar, ele alimentava algo dentro de mim, algo primitivo e indomável.
Eu não era apenas uma vítima do destino — eu era a tempestade que eles não conseguiam conter. Mesmo quando o inferno estava à minha espera, pronto para devorar cada pedaço de mim, eu sabia que, se fosse cair, cairia lutando até o último suspiro.
001. Ok... Quem é vivo sempre aparece.
002. Eu dei uma pausa significativa
na escrita devido à carga de trabalho escolar.
Vou manter a escrita como
um hobby ent vou postar quando der,
mas ficarei feliz de responder
qualquer mensagem q enviarem.
003. Capítulo longo pois fiquei
mega afastada por aqui!!
Estava com saudades.
004. Teresa está a caminho 😈🤘.
XOXO
yas.
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