Capítulo 7: Confiável
- A pressão sanguínea estabilizou. - ouço uma voz feminina.
Abro meus olhos que são invadidos por três pontos brancos de luzes. Minha visão é direcionada para o teto e a iluminação incomoda minha vista. Por isso, pisco várias vezes para tentar assimilar onde estou. Viro meu rosto levemente e vejo uma silhueta com roupa e touca azul.
- Ela acordou. Sedem ela de novo.
Acordei no mais completo silêncio. A iluminação fazem meus olhos arderem. Quando presto atenção no que há a minha volta apenas vejo uma parede branca de azulejos encardida, estou deitada de lado com uma mangueira de soro na veia. Bom, acho e espero que seja.
Tento me mover lentamente, parece que um caminhão passou por cima de mim, mas paro quando sinto algo quente escorrer da minha nuca.
- Não se mexa, por favor. - Meu coração acelera quando ouço uma voz de mulher.
Assim que ela vem a minha frente, consigo ver um braço coberto por um jaleco branco sendo estendido com um pano e sinto-o ser pressionado na minha nuca, fazendo-me resmungar de dor. Levanto os olhos focando-os nos cabelos loiros da enfermeira, eu a conhecia: Ann. Ela dá um sorriso leve para mim, como se quisesse me reconfortar de algum jeito. Mas quando pergunto a ela o que tinha acontecido comigo, Ann engoliu seco e demorou a responder.
Estava dormindo há três dias. Segundo Ann, sempre que tentava abrir meus olhos eles aplicavam mais doses de sedativo. Ela não disse o motivo do porque isso, mas contou que estavam planejando muitas coisas nos últimos meses.
Ainda sinto um desconforto no abdômen, mas não como antes. E agora uma ardência na nuca. No meu pulso um 'x' feito com um corte de bisturi, um corte profundo que deixaria uma cicatriz grossa. Ann diz que Emmett Baxton marca suas mercadorias assim. Quando Ann diz a palavra 'mercadoria' passo a entender: fui vendida.
Já estava pensando em como sair dessa situação, bolando um plano mental que poderia funcionar. Mas Ann conta que foi implantaram em mim um controlador neural, diferente do que estava no meu abdômen, mais evoluído, capaz de dar choques no meu cérebro toda vez que desobedecer uma ordem.
Chego a perguntar a ela se pode ser retirado, mas não tenho a chance de ouvir a resposta já que a porta é aberta. O mesmo homem branco que estava na pista de patinação entra, agora com um jaleco de médico.
Ann dá um suspiro antes de se virar e ver o homem na nossa frente nos observando com a testa franzida.
- O que aconteceu? - ele pergunta apontando para o pano na mão de Ann e vindo atrás de mim na maca.
- Estava sangrando um pouco. - Ann responde e a olho - Mas deve ter parado.
O homem concorda soltando um som da garganta. Percebo quando ele coloca uma luva por causa do barulho do látex enquanto pergunta algumas coisas para Ann, coisas de médicos que simplesmente não entendo. Compreendo apenas a parte que disse que irá trocar meu curativo e assim o faz.
- Ok. - o tal homem fica de frente comigo me observando enquanto retira luva por luva as descartando num lixo. Ann havia sumido da minha vista, mas estava num canto com as mãos juntas na frente do corpo e de cabeça baixa. - Meu nome é doutor Fox, mas pode me chamar de Magnum. Eu vou cuidar de você enquanto estiver aqui.
- Uau, ganhei plano de saúde grátis - debocho - Se eu soubesse disso teria vindo antes. - reviro meus olhos fazendo Magnum dar uma risada pelo nariz.
- Entenda como quiser, Amelie. - Magnum sorri. Um sorriso perturbador, ou melhor, debochado. - A senhora Parker é muito exigente e o senhor Emmett é o dobro dela. Eu tenho ordens para cuidar de você, Amelie, mesmo que seja um arranhão. Então, por favor - Magnum junta as duas mãos e sorri novamente - Independente do que seja, venha aqui. Não quero ter a minha cabeça a prêmio.
- O que vocês fizeram comigo? - apoio meus braços no colchão da maca para tentar levantar. Magnum resmunga alguma coisa e estala a língua antes de segurar meu braço e, por instinto os afasto, mas Magnum levanta as mãos e tomba a cabeça como se dissesse que não fará nada. Deixo ele me ajudar a sentar, apenas isso, já que me impede de ficar em pé. - Vai responder minha pergunta, doutor?
- Ann já contou sobre o controlador. - Magnum dá de ombros colocando as mãos nos bolsos do jaleco - E respondendo sua outra pergunta, não, não pode ser retirado. É um local muito sensível, uma coisa errada que puxar você morre.
- Você colocou, então sabe tirar.
- Não, não fui eu. - Magnum senta num banco - Minha especialidade é clínico geral e pediatra, não sou cirurgião. A pessoa que te operou fez a força, foi morto e o corpo foi jogado no oceano. - abro minha boca surpresa e olho para Ann, que balança a cabeça como resposta.
- Magnum é confiável, Mel. - Ann responde. - Ele vai cuidar de você e eu sempre vou estar aqui.
- E como você sabe disso?
- Eu era pediatra do irmão de Ann. - Magnum responde me fazendo encará-lo - Sei que está se perguntando o que estou fazendo aqui. A resposta é simples, minha clínica faliu quando os Tanners abriram suas clínicas chiques de quinze salas de frente para a minha. Pelo menos aqui, mesmo que eu odeie esse lugar, posso cuidar de pessoas feridas.
- Devo te parabenizar então?
- Não, deve me deixar ajudar. - Magnum enfatiza estendendo sua mão em minha direção.
- E por que confiaria em você?
Magnum não responde minha pergunta, apenas vira as costas e sai andando deixando nós duas no quarto. Queria saber o que estou fazendo aqui exatamente, mas parece que nem Ann tem 100% de certeza nas suas respostas. Ann não parece querer ficar de muita conversa, e está acanhada no canto do quarto enquanto fica me encarando.
Minutos se passam no mais pleno silêncio. Eu também não quis conversar ou fazer mais perguntas, estava pensando em Daya, em como ela está depois do que viu. Nunca em sã consciência mataria uma pessoa na sua frente, muito menos uma criança. Minha mente começou a ficar perturbada montando histórias sobre como ela me vê nesse momento, e todas elas acabam com Daya me chamando de monstro. Mas, principalmente, gostaria de saber se ela está bem e com quem ficou. Amberly está fora, Peter não tem condições alguma de cuidar dela e não ter certeza me deixa apavorada.
Sou tirada dos meus pensamentos com o barulho da porta sendo aberta. Magnum entra agora vestindo uma blusa de manga curta revelando uma cruz tatuada no braço direito.
- Ann chegou aqui há três meses. - Magnum se senta - Quando você fez aquele show com Leonard no parque para todo mundo ver, Ann aproveitou para fugir. - sempre havia me perguntado o que tinha acontecido com ela. Porém tanta coisa aconteceu que não tive tempo de realmente procurar saber - Mas sabe o que aconteceu? Ann foi para Chicago e advinhe onde estamos.
- Chicago. - respondo, fechando meus olhos.
Claro, faz todo sentido. Leonard tinha um império em Chicago há alguns anos. Tyler me contou que Leonard tomou posse dos bens do chefe de uma gangue, executou seus capangas e terminou de construir a organização aqui, em Chicago. Há vários esconderijos nucleares onde ele guardava armamentos. A boate do chefe da gangue que foi executado foi para o nome de Leonard, até o nome da boate havia sido mudado e parou de envolver apenas sócios, virou o ponto de tráfico e prostituição para todos que tivessem ousadia e dinheiro para entrar.
Megan soube de Ann, por isso mandou homens para sequestrá-la e a trazerem para trabalhar no novo negócio. A machucaram para fazer isso, tiveram a audácia de a espancarem. Quando Ann chegou, Magnum a reconheceu e pediu para cuidar dela porque ninguém mais queria. Duas semanas depois, Ann já estava curada e implorou para trabalhar com Magnum porque era a única pessoa que confiava. Ann escutou a conversa da minha mãe com Emmett na qual diziam que eu viria para cá em breve, querendo ou não. Por isso, fez Magnum prometer que cuidaria de mim assim como fez com ela, porque sabia que mais ninguém faria. Magnum aceitou e convenceu minha mãe a deixar com que ele fosse meu médico.
Mesmo não confiando em Magnum aceitei sua proposta, na verdade não teria muita opção. Ou seria deixá-lo cuidar de mim ou voltar morta de onde quer que eu vá.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top