Capítulo 2: Café
Alguns dias são de mais movimentação na cafeteria. Esse é um dos dias. Clientes insatisfeitos, exigentes e alguns pervertidos. Principalmente bêbados que saem da arruaça de madrugada e vem tomar um café forte. Desses tento me manter o mais afastada possível, mas não posso me recusar a atendê-los.
- Parece que todos os moradores de Nova York resolveram vir para cá hoje. - Hayley, uma das minhas colegas resmunga quando me aproximo colocando a bandeja em cima do balcão. - Pelo menos estamos faturando.
- Tirando os dois bêbados que saíram sem pagar, sim estamos. - digo, e ambas damos risada.
- Chegou cliente na sua mesa - Hayley aponta com a cabeça mostrando dois caras de terno. O de pele negra está com um chapéu e o mais branco com uma boina, os dois com estilo de gangster. - Odeio que fiquem fumando aqui dentro. Boa sorte.
Hayley me deixa sozinha enquanto desaparece pela cozinha. Quando me aproximo dos dois homens perguntando o que vão pedir, eles se entreolham e dão um aceno de cabeça um para o outro. O de pele branca retira a boina revelando seus cabelos negros e exibindo mais seus olhos azuis, junto com um sorrisinho medíocre enquanto me analisa. Me sinto uma presa novamente.
- Vão querer algo ou não? - pergunto, tentando fingir que aquela atitude não estava me incomodando nenhum pouco. - É proibido fumar aqui dentro. Cigarro da porta pra fora. Então, se puderem apagar, não vou perder meu emprego por causa de dois cigarros.
Não sei como ou da onde surgiu essa coragem de falar alguma coisa. A maioria dos clientes que entram aqui fumando são grossos quando pedimos para apagar. Semana passada, um deles jogou o copo em uma das garçonetes. Ela só não se machucou porque a puxei antes que os vidros se estraçalhassem nela. Foram dois longos minutos até os cavalheiros apagarem o cigarro e pedirem um café forte, e mesmo que eu me afastei indo para trás do balcão o de pele branca cujo nome escutei ser Emmett, ainda mantinha os olhos em mim enquanto conversava com seu amigo.
- Um café sem açúcar e um pão com manteiga na chapa, por favor. - Peter encosta no balcão com um sorriso maroto no rosto.
- Não devia estar no trabalho? - sorrio, dando um beijo em sua bochecha e anotando seu pedido. Isso chama a atenção dos dois brutamontes sentados.
- Meu dia de folga. - ele senta cruzando os dois braços em cima do balcão - Algo me diz que você queria que alguém conhecido aparecesse. - o olho depois de entregar o pedido a Hayley, Peter dá uma risadinha e olha para trás por cima dos ombros. - Eu te conheço, também tenho o arrepio do Peter. Então, quem são?
- Já olhou para eles. - cruzo meus braços em cima do balcão - Os dois pintas de gangster.
- Acha que pode ser problema?
- Não sei. - dou de ombros e giro a aliança no meu dedo novamente - Devem ser só mais dois clientes idiotas, aqui vem muitos. Eu já volto. - pego a bandeja que Hayley deixa na janela da cozinha e vou até os dois homens. - Dois cafés fortes. - digo, colocando uma xícara na frente de cada - Vão querer mais alguma coisa? Panquecas, pão...
O tal de Emmett me dispensa apenas com um sinal com a mão sem me olhar nos olhos, uma atitude grosseira no meu ver. Quando volto ao lado de Peter, o mesmo está devorando um pão com manteiga na chapa e tomando seu café.
A clientela havia parado de entrar e os que estão sentados agora aproveitam seus cafés conversando calmamente com seus companheiros ou usando celular ou computador. Fiquei observando as pessoas. Algumas parecendo bravas, outras relaxadas e felizes. Finalmente eu posso ficar no meio de tanta gente sem me sentir sufocada ou receosa de não me aceitarem. Elas nem se importam comigo mais.
Flashback
- Você espera que eu deixe uma criminosa trabalhar no meu estabelecimento?
August, o dono da cafeteria e conhecido de Matt, praticamente surtou quando me viu entrando aqui acompanhada com ele.
- Por favor, August. - Matt diz. Fico parada com as mãos entrelaçadas atrás das costas apenas ouvindo o homem resmungar - Você viu o resultado. Ela foi absolvida e precisa recomeçar a vida. Amelie tem uma filha da mesma idade da sua neta.
- Minha cafeteria é uma das mais movimentadas, Matthew. - o homem aponta para os clientes sentados as mesas - Meu negócio vai falir assim. Ela ao menos sabe fazer uma panqueca?
- Eu posso aprender - respondo, cortando Matt quando ele abre a boca para falar - Eu faço o café da minha filha. Posso aprender como vocês fazem aqui. É só uma chance, por favor. Pode me despedir se o senhor não ficar satisfeito.
Flashback
Comecei já no dia seguinte mesmo o senhor August não gostando muito da ideia. Ele colocou Hayley para me ajudar, ela me ensinou algumas receitas. Agora quando Daya pede donuts de chocolate consigo fazer sem muitas dificuldades.
- Como ela está? - Peter pergunta, se referindo a Daya. Ele limpa o canto da boca com um guardanapo e dá uma mordida grande no pão.
- Bem, tristinha, mas bem. - dou um sorriso leve e me sento - Pensei em fazer algo com ela para animá-la um pouco. Mas, como eu não sou a mulher das ideias, não faço a mínima ideia do que seja esse algo.
- Sua sorte é que você tem um primo muito inteligente e Daya, um tio muito animado. - dou risada quando Peter arqueia as sobrancelhas se gabando. Por mais que sejamos primos, Daya sempre o chama de tio, isso já virou costume. E Peter a trata como uma sobrinha, cuida dela como se estivesse cuidando de sua própria filha que um dia ele terá, talvez. - Brincadeira. Por que não leva Daya no abrigo? - Peter pergunta e o olho - Eu sei que você não quer que Daya sofra mais do que já está sofrendo com esse sumiço da Amberly e com a morte do Joe. Mas talvez visitar seja bom para ela e para você.
- Você acha?
- Ela nunca vai superar se encarar os fatos. E nem você, Mel. - Peter se levanta e beija minha bochecha. - Eu vou com vocês se quiser. - balanço minha cabeça levemente como resposta. - Tenho certeza que vai ser bom para as duas.
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