Capítulo 13: Mal necessário

- Mel, levanta. Você tem que reagir.

O pedido do meu pai se torna distante nos meus ouvidos. Meus tímpanos vibram e o próximo soco vem me derrubando. O gosto metálico aumenta significativamente na minha boca e cuspo uma quantia considerável de sangue.

Tinha tentado escapar quando o guarda finalmente veio me dar comida, mas fui surpreendida por outro no começo do corredor. Agora estou aqui tomando uma surra dos dois como se eu fosse uma boneca de pano.

Meu corpo é virado bruscamente de barriga para baixo e por estar apenas de roupas íntimas acaba facilitando quando o guarda abaixa minha calcinha e, logo em seguida sinto uma dor descomunal. Eu queria gritar, chorar alto e xingar, mas acabei apanhando tanto que sinto minhas forças se excederem cada vez mais junto dos meus olhos que pesam parecendo que vou desmaiar a qualquer momento. Um segundo atrás do outro parece cada vez mais insuportável e eu apenas consigo deixar as lágrimas silenciosas caírem sobre minhas bochechas.

Sou 'acordada' quando um barulho de tiro preenche o ambiente e o corpo do homem cai em cima de mim ficando imóvel, mas logo em seguida é tirado. Sou virada de barriga pra cima com cuidado e a última coisa que vejo é o par de olhos azuis.

..

Sabe quando você acorda, mas ainda sim sente seus olhos pesados de canseira e não consegue mantê-los abertos? Essa sou eu nesse momento. Acordei há algum tempo, porém ainda não consegui olhar direito onde estou. Pela iluminação que insiste em invadir meus olhos, tenho certeza que não é o porão.

O porão. Aquele lugar sujo, fechado e fedido!

- Melhor não se mexer muito, Amelie. - a voz de Emmett preenche o ambiente. Quando abro meus olhos por completo, o vejo sentado numa poltrona de frente para onde estou deitada - uma cama. Emmett está diferente da última vez que o vi, está sem aquela pose de chefe com uma camiseta pólo e calça jeans, o cabelo levemente bagunçado como se tivesse acabado de lavar. - Sofreu vários ferimentos e perdeu muito sangue também. Sinto muito pelo guarda, ele não vai mais machucar e nem abusar de você, os dois estão mortos.

Tiro o cobertor do meu corpo. Estava com roupas novas só que um pouco mais largas. Senti um incômodo no meio das pernas assim que movimentei meu quadril para me ajeitar. E agora a ficha tinha caído. O que eu mais temia acontecer de novo. O passado tinha acabado de invadir e o medo do que poderia ser a consequência tomou conta.

- Não se preocupe com uma gravidez - Emmett me faz encará-lo. - Eu sei que está pensando nisso e eu lhe garanto que foram feitos todos os exames. Não tinha sêmen em você e demos as devidas medicações para evitar. Quero lhe mostrar uma coisa.

Suspiro aliviada. Pelo menos isso eu estaria livre. Nessas condições, colocar outra criança no mundo agora seria como um homicídio. Ainda não sei exatamente meu papel nisso tudo, um bebê só pioraria mais as coisas.

Emmett tinha saído quando terminou de falar e agora volta com uma cadeira de rodas. Fico observando cada movimento que esse cara faz, com medo da sua intenção nesse momento. Afasto minhas pernas quando suas mãos tocam minha coxa e costas.

- Eu só vou te ajudar a sentar na cadeira. Eu prometo.

Permito que Emmett me pegue no colo, e ele parece fazer com cuidado para que eu sinta menos dor possível. Ou ele está extremamente preocupado ou ele é um bom ator. Ainda com cuidado, sou colocada na cadeira de rodas.

- Você disse que queria saber os termos do contrato, Amelie. Eu sou um homem de palavras.

Emmett empurra a cadeira para fora do quarto. Entramos num corredor com paredes de vidro e a vista do Jardim é de tirar o fôlego. Vários empregados trabalhando do lado de fora mantendo o jardim impecável. É uma área verde muito bonita e é justamente para lá que Emmett me leva parando a cadeira perto de um banco onde ele se senta de frente para uma fonte com pedras brancas e água cristalina.

- Eu ajudei sua mãe a fundar a organização Blake há alguns anos. Leonard era um forte concorrente, sua mãe queria estar sempre um passo à frente dele. - Emmett apoia os braços nos joelhos enquanto encaro a fonte.

- E qual é o meu papel nisso? - não havia percebido o quanto minha voz estava arrastada e rouca.

- Quero que me ajude. - Emmett me encara - Megan roubou dinheiro e outros recursos da organização. Pela minha fonte, ela está ajudando outro cartel e está esperando o momento certo para tomar a Blake. Ainda não tenho completamente certeza dessa informação, mas é melhor prevenir do que remediar, não é mesmo? - me ajeito desconfortavelmente na cadeira e respiro fundo com a ardência. - Eu sei que tem raiva da sua mãe.

- Ela não é a minha mãe.

- Eu sei e entendo perfeitamente. Se eu tivesse saído de uma puta igual a ela e descobrisse coisas que poderiam mudar minha vida pra pior, eu também a deserdaria. - dou uma risada nasal leve e vejo Emmett se divertir com isso - Se me ajudar a parar a sua mãe eu te dou o que você mais quer.

- Que seria?

- Vingança e por fim a liberdade. - encaro Emmett que me olha com a expressão relaxada - Esse contrato só foi um meio de enganar a sua mãe. O que eu quero mesmo é sua ajuda para impedir que ela tome a Blake.

- Você me trancafia num porão sem comida e sem água, me entope de drogas e agora quer a minha ajuda?

- Foi um mal necessário. - Emmett vira minha cadeira para que eu possa ficar de frente para ele - Precisava fazer sua mãe acreditar que você é minha propriedade e minha prisioneira. Agora, que está fora, quero que treine, se reerga e me ajude. E quando estiver tudo acabado vai poder viver sua vida com sua namorada e filha. É só isso que peço.

..

A proposta de Emmett não para de rodear minha mente. Liberdade é o que mais quero, mas meu maior desejo é me vingar da minha própria mãe e, se tudo o que Emmett disse for verdade, eu estou no lugar certo e há poucos passos para conseguir. Porém, se ele estiver mentindo, estarei completamente ferrada e provavelmente nunca mais verei Daya novamente e minha vida estaria sendo controlada por um Leonard mais novo.

Como ele acabou me prendendo num porão por dias, fica mais complicado em acreditar nas palavras dele, mas Emmett estava com uma linguagem corporal bastante convincente para estar falando asneiras. Ele me deu algumas horas para dar uma resposta a sua proposta.

- Você vai aceitar a proposta daquele homem? - papai está sentado na beirada da cama me encarando.

- Eu não sei. - respondo, olhando minha aparência desastrosa no espelho do quarto. Meu lábio inferior está inchado, meu olho esquerdo roxo e minha bochecha com um corte perto da minha cicatriz. Já imaginava que estaria magra demais, mas olhando meu reflexo agora é assustador. Minhas costelas estão aparecendo e minha clávicula parece que pode se quebrar a qualquer momento. - A ideia de me livrar disso tudo depois é boa.

- Lembra do que Leonard te ofereceu quando procurou emprego? Que te ajudaria e olha no que deu, Mel.

- Eu sei. - respiro fundo. Meu pai, a minha consciência fala a mais completa verdade. - E se for verdade, pai? E se isso for a última prova que o destino tá me fazendo? For a última peça do xadrez.

- Nunca vai saber se não tentar. - papai responde agora encostado na porta - Sabe que eu apoio você em todas as suas decisões, princesa. Só tome cuidado. Se for aceitar, faça suas propostas a ele.

- Que propostas?

- Você vai saber o que.

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