Capitulo 2: Confiança
Dois dias já se passaram e até que o episódio do hospital não me atormentou até então. Amberly está no banho e eu deitada olhando o teto.
Flashback
— Vamos, Mel. – papai diz — De novo.
— Pai, eu não consigo. – resmungo. — Já foram seis vezes que a bola foi pra minha cara porque você não tem pontaria.
Deu na ideia louca do meu pai ensinar o esporte que ele mais gosta: beisebol. Mas, sou uma menina 13 anos braços magrelos e quem me olha, acha que sou desnutrida.
— Você é muito mole – ele ri e franzo a testa.
— Vou te mostrar quem é o mole, coroa.
Preparo a posição com o taco de beisebol pra esperar a jogada do meu pai, mas ela não acontece.
— Pai? – vou até ele enquanto está tossindo com a mão na barriga. — O senhor tá bem?
— Lincoln. – mamãe também vem — Eu disse que não era uma boa ideia, querido.
— Eu estou bem, garotas.
Papai é teimoso. Desde quando descobriu o câncer ele não para quieto. O médico disse pra ele não fazer tanto esforço, principalmente agora no começo do tratamento, mas o coroa não escuta.
— É melhor irmos pra casa. – digo.
— Isso, vamos – Mamãe diz — Aproveitar e passar na farmácia pra comprar o remédio.
.
Nossa renda diminuiu bastante depois que papai parou de trabalhar. Minha mãe não ganha o suficiente pra pagar os remédios e a quimioterapia, tanto é que não conseguimos comprar o remédio dele. Se pagamos os remédios e a quimio, ficamos sem pagar as contas de casa e comprar comida.
— Eu vou arrumar um emprego. – digo.
— Querida, não precisa. – mamãe diz.
— Claro que precisa. – digo — Eu tenho que ajudar. Papai não pode ficar sem comer direito e nem sem os remédios. – eles se olham — E se cortarem nossa luz e água ai sim vai ficar bom. Eu sei fazer muita coisa, posso ser até garçonete.
— Querida, eles não aceitam menores de 16 anos pra trabalhar. – papai diz.
— Eu os convenço. – digo. — Por favor, me deixa tentar. Não posso ficar parada sem fazer nada por vocês.
Flashback
Fiquei parada em pensamentos e só parei quando percebi Amberly passar por mim de cabelo molhado indo pra sala.
Passados alguns minutos, um oficial de justiça veio até nosso apartamento entregar uma intimação para que Amberly fosse testemunha do meu caso junto com Peter que, aliás, entra no meu apartamento seguido de Tyler e Matt. Tyler irá depor como culpado também levando em conta que quase todos os nossos crimes cometemos juntos.
— Mesmo se Amelie e Tyler forem condenados, vocês dois vão ter sua liberdade. – Matt diz a Amberly.
— Não vão ser. – Amberly diz, já jogando os cachorros em cima.
— Vai depender do júri. Eu só vou ajudar, mas a sentença final é deles e o juiz determina a pena. – Matt responde calmamente e Amberly se aproxima com um sorriso falso.
— Você é assim por que seus clientes foram presos?
— Não sei. – ele vira a cabeça para Peter — Você foi preso, Peter? – Peter nega.
— Então, ele só tem o Peter. – Amberly debocha.
— Não, senhorita VanCite. – Matt diz firme, mas ainda calmo — Meus outros clientes vivem suas vidas normalmente, com emprego, família.
— Se a gente depender dele, vamos todos parar numa cela – Amberly ri baixo.
— Bom quem decide isso é a Amelie. – Matt responde — Mas não vão achar outro advogado que queira defender uma criminosa do nível da Amelie sem querer receber por isso. Meu serviço está sendo de graça e se forem atrás de outro advogado, é bom preparar o bolso.
Amberly bufa e a conversa se encerra com Tyler beijando minha testa e os três indo embora. Pra tentar acalmar os nervos desse assunto, pego uma frigideira, óleo e ovos na geladeira pra fritar. Eu fiz isso uma vez, mas há muito tempo então lembro pouco.
— Nunca vi você cozinhar. – Amberly diz.
— Minha cabeça está girando. – respiro fundo — Preciso me distrair com algo. – digo e Amberly se afasta indo pra sala. — Não, fica. Você ajuda a distrair.
— Ajudo? – ela me olha.
— Se eu estivesse sozinha, já teria feito besteira. – coloco o ovo no prato — Só estou aqui por você, senão já tinha acabado com tudo.
— Só por mim?
— Por Daya também. – encosto na bancada — Mas prometi pra você e eu vou cumprir.
— Existem muitas pessoas que te amam, Mel. Elas também te querem aqui.
— Você, Peter, Tyler e Daya. E dessas só você, Ty e Daya me importam. Peter eu já amava mesmo, ele não conta. – digo. — Ainda vai querer aturar meus surtos?
— Com prazer. – ela responde — Nos dois sentidos. – dou um sorriso fraco sem graça e olho pra baixo e Amberly se aproxima — Só se você deixar.
— Deixo – a olho.
— Eu posso fazer você pegar o jeito rapidinho. – ela diz e concordo com a cabeça tirando uma risada dela. — Você é fofa.
— Eu sou tímida e medrosa – faço careta — Não acho isso fofo.
— Mas comigo você é.
— Preciso fazer você gostar de mim, né? – dou uma risada fraca.
— Você não precisa fazer com que eu goste de você. – ela responde — Eu sempre vou gostar. Não precisa fazer esforço. Eu sou fácil de conquistar. – ela diz — Só os que realmente chamam minha atenção conseguem me ter.
A conversa se encerra e Amberly prova o primeiro ovo que fiz depois de nove anos.
— Cuidado com o veneno – digo brincando e Amberly me olha.
— O que? – ela pergunta e sorrio — Que susto, Amelie.
Dou uma risada fraca e lavo a louça. Não tinha percebido que engordurei tanto o fogão pra fritar um ovo.
O aniversário de Daya está chegando e não sei mais o que dar. Amberly até se oferece para pagar, mas não posso deixar que faça isso sendo que tenho meu próprio dinheiro guardado. Pra mostrar que tenho essa condição, peço para Amberly teleportar no meu galpão. Entramos e a levo direto para uma sala que tenho com um cofre cheio de dinheiro: dólares, euros, reais, etc.
— É seu? - Amberly me olha.
— Meu, meu não é. Mas é..
— Parece que tem bastante coisa que eu não sei né? – ela pergunta e respiro fundo.
— Era o dinheiro que Leonard me pagava por trabalho. O tratamento do meu pai foi um sucesso – dou um sorriso fraco — Então eu guardava aqui pra emergência. – ando pela sala — Eu consegui ajudar o Joe assim. Foi o acordo: eu ajudava e ele cuidava da Daya. E.. Caso meus pais precisassem fugir, bom, eles teriam dinheiro.
— Mas não deu certo.
— Não precisa me lembrar disso. – respiro fundo e pego uma mochila.
— O que pretende fazer com isso agora? – Amberly pergunta colocando as mãos nos bolsos.
— Não sei. Talvez.. Abrir uma conta pra Daya e deixar pra ela no futuro.
— É uma boa maneira de se investir. – Amberly diz e concordo.
Pego um pouco de dinheiro e abro meu armário de armas colocando uma na mochila por.. Precaução. Tranco todo o cofre e peço pra Amberly teleportar pra outro lugar. Pego a chave do bolso, olho envolta e abro a porta rapidamente puxando Amberly pra dentro e trancando-a.
— O que é aqui?
— Minha casa. – acendo as luzes.
— A sua.. Sua casa? Dos seus pais? – ela pergunta surpresa.
Balanço a cabeça concordando e olho para o chão, vendo uma mancha de sangue enorme dos dois lados da sala. A dor daquele dia volta e o que eu mais queria agora é que tudo voltasse como era antes.
— Preciso pegar algumas coisas aqui, antes que invadam ou a polícia leve. – digo.
— A casa está no seu nome?
— Não. Da minha mãe.
— Eu não vejo problema em comprá-la – Amberly diz, olhando a casa.
Realmente, é uma bela casa. Com suítes e um quarto de hóspedes que meu pai fez no porão quando fizemos uma reforma. Uma cozinha americana e uma sala de jantar média com um jardim nos fundos.
— Nós reformamos. – Amberly diz — Pintamos as paredes, mudamos tudo. Seria uma casa nova, sem seus antigos demônios.
— Eu.. Não sei. – respiro fundo — Já não estou me sentindo bem aqui só de vir buscar as coisas. – subo as escadas indo para o quarto dos meus pais. — Se você quiser comprar, à vontade. Mas eu não volto pra cá. – pego um porta retrato da cômoda, onde estão meu pai e eu com um boné de beisebol.
— Eu compraria pra você.
— Amberly – viro pra ela e penso em medir minhas palavras pra não ser grossa. — Obrigada. Mas eu não posso voltar. Eu os matei aqui, não posso lidar com isso. Já estou pegando as coisas pra não ter que voltar.
Parece que agora ela entendeu como me sinto, Amberly abaixa a cabeça e concorda dando por encerrado esse assunto. Pego outro porta retrato com uma foto minha e da minha mãe. De repente, a lembrança daquela mulher na porta do apartamento me assombra de novo, deixo de lado o quadro e Amberly olha.
— Parece.. A mulher que eu atendi aquele dia. – ela diz e fecho os olhos.
— Porque era ela. – digo e Amberly me olha desconfiada.
— Mas.. Ela morreu. – ela diz e nego.
— Aquele dia, eu surtei por isso. Foi por isso que comecei a chorar. – sento na cama empoeirada — Mas o choque foi tão grande que isso sumiu totalmente da minha mente. Por isso não contei. Agora que estou aqui.. Lembrei. Enfim, acabe expulsando ela. Devia ter continuado morta, não faria diferença. – pego uma mala do guarda roupa.
— Achei que gostasse dela.
— Leonard me contou coisas que era melhor era ter ficado morta. – falo sentindo uma pontada no coração — O que importa agora é o meu pai. – abro a mala do meu pai vendo sua coleção de Star Wars: todos os filmes, camiseta, bonés, bonecos, tudo..
— Meu irmão adora isso. - Amberly sorri fraco.
— Ele tinha todos os filmes – junto os dvd's — Dá para o seu irmão. Eu gosto, mas não muito.
— Não, pode ficar. – Amberly deixa na cama — Andy já viu todos mesmo.
Coloco os filmes de volta na mala e vamos embora. Chego em casa já colocando a mala no guarda roupa e me troco, colocando apenas um blusão do meu pai.
— Eu acho que essas roupas são um pouco maiores que você. – Amberly diz me observando.
— Pior que é. – dou uma risada fraca, me sento e deito pra trás na cama. — Obrigada por ir comigo.
— Eu iria mesmo se fosse só o meio de transporte. – dou um sorriso e abro meus braços, Amberly entende, sorri e deita em cima de mim, e a prendo com as pernas. — Estou presa.
— Não pediu liberdade.
— Quem disse que eu queria?
Amberly diz me olhando e dou um sorriso fraco. Perdendo um pouco da minha timidez que sempre aparece quando estou com ela e a beijo.
— E essa prisão tem algo mais? – Amberly pergunta.
— A prisioneira decide também.
— Prisioneiros não tem voz.
Até tentei enrolar pra ver se Amberly dizia algo. Eu não vou tomar iniciativa mais nem ferrando. Então, apenas pra mostrar o que eu quero já que eu me sinto.. Pronta, dou um beijo seu ombro e como resposta, Amberly segura meu pescoço de leve me beijando.
A sensação "borboletas no estômago" nunca foram tão presentes como agora. Amberly passa a mão no meu corpo por baixo da camiseta e automaticamente aperto seu braço, não por medo, mas por estar gostando de tudo o que está acontecendo agora. É diferente de qualquer coisa que já senti. Como se fogo estivesse me queimando por dentro, me corrompendo. Eu quero tanto me permitir sentir isso, sem receio nenhum, que a deixo comandar tudo.
Amberly tira sua camiseta e me livro da minha também jogando em qualquer canto por ai, logo ela ataca meu pescoço com beijos apaixonados e sedentos me fazendo rapidamente arranhar suas costas de leve fazendo-a gemer baixo e me olhar.
— Que foi?
— Da última vez que tentamos fomos interrompidas. – ela diz.
— Aproveitar então.
.
Amberly deita ao meu lado e nós duas estamos assim: vermelhas, suadas e ofegantes. Sinto os olhos de Amberly me queimando e a olho.
— Ninguém interrompeu.
— Sorte nossa. – ela diz, dou um sorriso sem graça e olho pra baixo recebendo um beijo na bochecha.
— É bom ficar assim. – deito mais próxima.
— Só você e eu?
— Uhum. – a olho.
— E gostou? – ela pergunta e balanço a cabeça concordando tirando uma risada dela — Eu disse que era ótima no que fazia.
— Eu lembro quando disse - dou risada.
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