Capítulo 11: Brincadeira de criança.
Amberly trancou o apartamento e seguimos para o prédio do abrigo. Por sorte, parou de chover, porque decidimos ir andando ao invés de teleportar. Não toquei mais no assunto sobre a filha de Amberly, percebi que ela ficou aérea por ter me contado e também pela invasão na sua casa. Não quero chateá-la mais.
Chegamos ao prédio e o silêncio é predominante. Ele está enfeitado com alguns enfeites estranhos, obras das crianças provavelmente. Do nada, um vulto passa por nós, Daya de fantasia e Lucas correndo atrás dela com uma espada de madeira.
— Você vai morrer!!! – Lucas grita.
— Eu prefiro morrer do que perder a vidaaaaa – Daya grita pulando em cima do menino, tirando gargalhadas de mim e Amberly.
No fim, foi ótimo deixar Daya vir. Eu sei que ela sentia falta desse lugar, falta dos seus amigos, falta de ter crianças com quem brincar já que a diversão desse lugar não acaba.
Guio Amberly para o terceiro andar e entramos num quarto com uma cama de casal, o guarda-roupa, poltrona, mesinha redonda com uma cadeira e cortinas nas janelas.
— Sinto muito pelo seu apartamento.
— O que importa é que está de pé. – ela diz colocando a mochila no canto.
— Mesmo assim, sinto muito – respiro fundo — Eu devia ter dito pra irmos pra outro lugar pra não correr esse tipo de risco.
— Ué – Daya entra correndo no quarto.
— E aí? – Amberly sorri — Pegou aqueles moleques?
— Peguei – Daya ri.
— O que estão fazendo? – pergunto arrumando o tapa olho dela que já estava na bochecha.
— Pirata – ela aponta pra roupa — Espada. Vamos, vamos.
Daya nos apressa dando duas espadas de madeira para nós. Damos risada correndo atrás dela para o primeiro andar direto para o pátio onde estão as outras crianças. No ar, o cheirinho de chocolate quente e marshmallow invadem nossas narinas.
— ATACAAAAARRR – Daya grita pulando em cima das minhas costas. De repente, umas cinquenta crianças saem do escuro nos atacando.
— Sai de cima da minha namorada – Amberly ri e pega Daya jogando-a nos ombros.
— Ataquem, ataquem!!! – Daya ordena entre gargalhadas.
As crianças, com roupas de pirata, pulam em cima de Amberly e uma delas grita "morte aos inimigos". Ficamos num duelo de espadas de madeira e chutes falsos. Pego Laura nos braços e dou risada quando a menina me da soquinhos leves nas costas.
— Fui abatida!!! – ela grita.
Quando ela diz isso, Tommy, um menino fofo que sempre brincava com ele vem e me apunhala com a espada. Caio no chão resmungando.
— Estou morrida! – digo e finjo morte.
— Vamos sortear as coisas dela. – Louis diz e dou risada.
— Eu vou vingar a Amelie – Amberly anuncia e continua duelando com Daya e mais.. Quarenta crianças.
Linda pula em cima das costas de Amberly e tenta derruba-la no chão. Amberly segura à menina pelas pernas pra dar apoio a ela enquanto 'luta'. E eu? Estirada no chão com dor de barriga de tanto rir da cena.
— Quem dá um dólar pelo anel?? – Elijah anuncia segurando minha mão e outra menininha levanta o braço. — Dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido pra Sam.
— Vai vender meu anel não. – Amberly diz, tirando Linda das costas.
— Renda-se ou será morrida – Daya aponta a espada.
— Eu nunca me rendo.
Taylor vem ao meu lado tentando levantar minha cabeça devagar, mas em vão.
— Levanta à cabeça, tia – ela cochicha pra mim — É pesada.
Pra ajudar, faço o que ela pede e delicadamente, Taylor segura meu cabelo como que mantendo o peso da minha cabeça, além de colocar a espada de madeira no pescoço.
— Vai morrer pela.. – Taylor conta nos dedos.
— Segundaaa!!! – Daya grita.
— Segunda vez!!!!!! – Taylor repete.
— Nããããooooo – Amberly vem duelando até chegar em Taylor e tirar a espada das mãos dela. Taylor levanta os braços em rendição fazendo com que minha cara bata no chão só me tirando mais gargalhadas.
— Taylor! – Daya grita e apunhala Amberly, que cai no chão.
Uma gritaria de criança começa pela comemoração delas da batalha. Amberly e eu rimos tanto que choramos de alegria. Estávamos precisando disso pra voltar a animação da noite.
— Perdemos. – Amberly diz rindo e Daya pula em cima de nós duas.
— Sua traidora – digo cutucando a barriga de Daya e ela fica toda convencida rindo da nossa cara. — Foi injusto.
— Foi uma emboscada – Amberly ri.
— Completamente justa. – Daya diz.
Rimos, levantamos e ficamos mais algum tempo desfrutando da companhia das crianças e dos outros adultos aqui do abrigo.
Débora como sempre cuidando do bem-estar dos garotos, Levi, um dos senhores, com um violão alegrando a noite de todos. Dança, música, histórias de terror, crianças brincando. Eu senti tanta falta disso. E depois da noite de hoje, do encontro... Perdido, da história triste de Amberly.. Estávamos precisando dessa companhia hoje. Foi à primeira vez em três meses que a vi sorrir e rir desse jeito. É uma sensação perfeita de alívio à maneira como tudo se encaixou nessa noite mesmo não sendo tudo as mil maravilhas.
— Assim tá bom? – pergunto a Daya que está sentada nas minhas pernas esperando que eu faça um coque meio desajeitado por causa dos cabelos mais curtos.
— Não to vendo. – ela diz. Pego meu celular e ligo na câmera para ver. — Ficou bom – ela sorri.
— Me dá. – pego o celular de volta e tiro uma foto detrás da cabeça dela e mostro o meio penteado.
— Ficou bonito. – ela ri — Bem desajeitado.
— Do jeitinho que você pediu – digo rindo.
— Mãe.. – Daya diz e arregalo os olhos. É a primeira vez desde que ela descobriu a verdade que me chama de mãe. Não sei se dou risada ou choro de alegria.
— O-oi. – gaguejo e ela se vira de frente pra mim.
— Você me perdoa? Por te tratar diferente. – ela diz baixo — Eu fiquei com raiva quando descobri a verdade. Mas eu não devia ter agido daquele jeito, te.. Deixando de fora das coisas. Você me perdoa?
— Eu não tenho que te perdoar de nada, meu amor. – digo e ela deita a cabeça em meu peito me abraçando — Me desculpa ter te enganado assim. – passo a mão em sua cabeça — Eu só precisava te proteger minha vida não era o paraíso como você pensava. Não queria te decepcionar assim.
— Não decepcionou – ela me olha — Nunca fez isso. — Daya começa a chorar e limpo seu rosto — Você só cuidou de mim.
— Shii – passo o dedo na sua bochecha e limpo uma lágrima que escorre de mim agora — Tá tudo bem. Nós estamos bem.
— Eu não quero que me tirem de você. – Daya envolve os braços no meu pescoço e deita a cabeça no ombro chorando — Não deixa, por favor. Eu quero crescer com você. É minha mãe, eles não podem fazer isso. Não é justo.
Olho envolta vendo os olhos de algumas pessoas em nós. Os que não perceberam mais foram Joe e Amberly que estão mais nos fundos do pátio se divertindo com as crianças. Me levanto com Daya no colo e subo com ela para o seu antigo quarto.
— Olha pra mim agora, meu bem – coloco-a sentada na cama, me ajoelho na sua frente e limpo seu rosto — Não vão tirar você de mim, eu prometo. Eu demorei muito pra ter esse momento com você. Não vou deixar. – digo e Daya dá um sorriso leve — Eu te amo tanto, Dada. Eu daria minha vida por você, pra te ver crescer e ser a mulher forte e amorosa que eu sei que vai ser. Você é e sempre vai ser minha princesinha.
— Mãe.. – ela pula no meu pescoço de novo e a abraço.
Deixo as lágrimas rolarem a vontade sem me importar com nada. Depois de um tempo, Daya se acalma e agora dorme serenamente com a cabeça no meu colo, mas agarrada na minha mão.
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