capítulo 6 • something in the way

Cooper

Ele balançava a perna compulsivamente. É verdade que ele sempre foi hiperativo, mas eu sabia que, naquele momento, ele o fazia só para me irritar. Eu mal conseguia prestar atenção na explicação da professora com o barulho irritante que o joelho dele fazia toda vez que batia contra o encosto da minha cadeira. Também não entendia o porquê dele ter sentado atrás de mim naquele dia, era como se ele tivesse calculado tudo antes.

Bufei, nervosa. Eu não podia dar uma de louca no meio da sala novamente, a não ser que quisesse arrumar um castigo muito pior do que fazer um trabalho com Carter.

Ele percebeu que sacudir a perna incansavelmente não resolveria, mas, ainda sem medo de tomar um soco na cara, vasculhou o estojo até encontrar uma caneta que ativasse a ponta ao apertar o botão na extremidade e, como quem não quisesse nada, começou a apertar o botão rapidamente, ativando e desativando a ponta diversas vezes por segundo.

Como ele consegue ser tão chato?

A professora virou-se para nós, cruzando os braços. Apoiou seu peso sobre a mesa e afastou os óculos de seus olhos, nos encarando por cima da armação. Ela era jovem e deslumbrante, a maioria dos garotos babava nela como se ela fosse algum tipo de divindade estudantil, apesar de sempre soar como se estivesse gemendo enquanto recitava alguns poemas. Talvez ela fizesse aquilo para chamar a atenção dos alunos para a aula, o ruim era que a atenção não era da forma que ela achava que prestassem.

Os olhos esverdeados da mulher pousaram sobre o garoto atrás de mim, suas sobrancelhas arquearam-se ironicamente e ela sorriu amarelo.

— Daniel Carter, ao menos uma vez em sua vida, você poderia, quem sabe, deixar de ser você? — ela franziu o cenho, seus seios sendo apertados entre os braços cruzados prendiam a atenção de toda a sala, que não ousava abrir a boca — É irritante!

— Não acho que seja possível — ele lançou um olhar malicioso.

— Eu imaginei que não — virou-se para a lousa para voltar a escrever, mas parou logo em seguida. Virou-se novamente para o garoto, com uma feição mais curiosa estampada em sua cara — A propósito, o que exatamente você está fazendo sentado atrás da Allison?

Ele hesitou por um instante, mas eu sabia que a resposta estava se formando na ponta de sua língua.

Seus braços envolveram meu pescoço, me puxando para trás em um abraço nada confortável que, a princípio, achei que fosse me matar. Encarei a professora, assustada, e ela ergueu uma de suas sobrancelhas, querendo saber onde ele queria chegar com aquilo.

— Queria passar mais tempo com a minha amiga! — sorriu, sarcástico.

— Vocês não se suportam. — Suas sobrancelhas ficaram ainda mais arqueadas, como se ainda estivesse tentando assimilar aquela cena, embora soubesse que Carter sempre faria alguma piadinha para encobrir o que estivesse fazendo.

— Já reparou como fazer trabalhos em dupla aproxima as pessoas? — ele sorriu largo — Não consigo mais ficar longe.

A professora desistiu, revirando os olhos e virando-se novamente para a lousa. Ela anotava bilhares de informações novas pela lousa, deslizando o giz rapidamente.

Seus braços não suavizaram a pressão até que tivesse certeza de que a professora não se viraria novamente. Toquei sua pele com a ponta dos dedos, sentindo uma intensa corrente elétrica percorrendo minhas veias, arrepiando todos os meus pelos. Estremeci, apertando levemente o braço do garoto. Ele finalmente me soltou, recostando-se novamente na cadeira e esticando as pernas, o que fez com que seus joelhos se apoiassem novamente no encosto da minha cadeira.

— Qual o problema? — virei sutilmente para trás, e ele parou de mexer a perna automaticamente.

— Tenho que falar com você. — Sussurrou de volta, encarando a professora mais a frente para ter certeza de que ela não olharia para ele.

— De repente você precisa falar comigo? — franzi o cenho.

— Não saia da sala no fim da aula! — disse, fechando seu caderno e levantando-se rapidamente.

Aproveitando a distração da professora, ele atravessou a sala correndo para voltar para seu lugar ao lado do melhor amigo, que riu baixo quando Carter e sentou ao seu lado, exasperado.

Olhei para o caderno novamente. Eu não gostava da ideia de ter que ficar depois da aula só para ouvir qualquer coisa que Carter tinha a dizer, mas me parecia importante o suficiente para despertar minha curiosidade, e eu sempre fui uma garota curiosa. Encarei-o novamente, e ele gesticulou para que eu não saísse da classe. Revirei os olhos, frustrada, pensando que Miles teria de me esperar um pouco mais naquele dia.

Peguei a caneta e marquei meu caderno com cada palavra depositada na lousa e com alguns comentários da professora. Definitivamente, eu detestava Composição Textual, apesar de saber que era importante estudar aquilo, cultura nunca é demais.

O barulho do giz riscando a lousa era rápido, enquanto as canetas eram trocadas vez ou outra para destacar algo mais importante em meu caderno. Mordi o lábio inferior, lendo a bagunça de anotações que tinha feito no caderno. Eu mal sabia mais onde estava o começo quando a professora largou o giz na sala, juntou suas coisas, tocou a maçaneta da porta e, segundos depois, com o toque que indicava o fim da aula, atravessou depressa, deixando-nos para trás sem abrir a boca para falar qualquer coisa.

Olhei para a fileira que Carter se sentava, o encontrando de braços cruzados, aparentemente ele estava irritado.

— Cara, eu já falei, eu não vou te levar para a festa do Noah! — revirou os olhos verdes — Se quiser ir, arruma outro cara. Não sou motorista particular!

— Mas a gente vai logo depois do primeiro jogo! — insistiu — É mais fácil!

— Eu não me importo, gata — com um sorriso malandro, foi guiando a menina para a saída da sala — Aproveita e pergunta para o Robert se ele quer te levar! — puxou o outro garoto, que estava sentado arrumando as coisas na primeira carteira ao lado da porta, empurrando-o para fora da sala.

Fechou a porta na cara dos dois, que não entenderam nada.

Carter era um dos poucos caras que não queriam ter uma chance com a deslumbrante Rebecca Hall e seus lábios carnudos, sempre tapados por um batom vermelho. Era compreensível, ela não fazia o seu tipo de garota, mas, ainda assim, era estranho, porque ela era o tipo de garota de todos os caras.

— Se quiser que ela continue caidinha por você, deveria tratar ela melhor — comentei para ele, que bufou, irritado.

— Não quero que ela continue caidinha por mim — sentou-se na mesa em minha frente.

Dentro daquela sala, tinham restado apenas Ethan, Carter e eu. Nos entreolhávamos como se nenhum de nós soubesse o motivo para estarmos ali. Mas Carter não ficaria quieto por muito tempo, ele era incapaz de permanecer em silêncio. Ethan parou ao lado do amigo e, se Ethan não fosse tão gentil, eu me sentiria intimidada em estar trancada com dois caras em uma sala de aula.

Ethan levou as mãos aos bolsos da calça, vasculhando para lá e para cá, a procura de algo que rapidamente foi encontrado: um pacotinho de balas de hortelã. O loiro magro e nada atlético, abriu o pacote e levou algumas balas à boca, em seguida esticou o braço em minha direção, indicando-me o pacote.

— Pegue algumas. — Ofereceu, sorrindo gentil — O Carter odeia e eu não vou aguentar o pacote todo sozinho!

Franzi o cenho com a ação repentina, sabia que Ethan costumava se drogar em festas, mas, mesmo assim, peguei algumas balas e levei à boca também, sem medo de consequências desastrosas. Carter revirou os olhos, parecia não querer perder tempo.

— O pessoal do grupo D já fez a prova de matemática — Carter disse rapidamente, como se aquelas palavras fossem agulhas em sua garganta — Ninguém anotou o gabarito, porque ninguém conseguiu acertar muita coisa, e isso significa que a gente tá fodido.

— Por quê? — estreitei os olhos, confusa.

— Porque eu não entendo matemática! — foi mais como uma pergunta irônica que uma afirmação.

— Você sabe a matéria inteira — encarei-o desviar o olhar, desconcertado.

— Eu falei isso pra ele, mas ele não me escuta — Ethan comentou.

— A prova é em dupla, se não conseguir fazer alguma coisa, eu faço e você anota com a sua letra — continuei, mas ele não parecia convencido.

— Allison, se a gente não conseguir uma nota maior que B, eu não vou jogar nessa temporada — ele disse entre os dentes —, sabe quais as chances do meu time vencer sem mim? — neguei com a cabeça — Pois é, eu também não sei. Eles colocam muita fé em mim, então eu não posso ficar fora dessa temporada!

Eu tinha entendido o recado, ele precisava de suporte na prova e eu quem teria que dar a ele esse suporte, mesmo que eu não estivesse com vontade de ajudá-lo. Eu sabia que o Futebol Americano era uma das coisas mais importantes pra ele, e sabia que o título daquela temporada estadual era importante para a escola.

Seu olhar pedinte caia sobre mim perfeitamente arrebatador, os olhos verdes se mostrando verdadeiramente preocupados com algo pela primeira vez na vida, e os dedos nervosos se entrelaçavam ao tecido de seu moletom surrado.

Eu queria entender o porquê de gente tão bonita quanto ele se esforçarem tanto para serem tão babacas.

Eu mantinha os olhos focados em suas mãos inquietas, analisando o nível de seu nervosismo, ele fazia questão de me encarar da forma mais intensa possível para que eu fosse capaz de sentir cada centímetro do que ele sentia, em tamanho e profundidade. Ele conseguia fazer aquilo com maestria, e eu não sabia se outras pessoas também sofressem com aquele efeito, ou se apenas eu fosse a premiada com aquela maldição.

— A gente estuda na sexta... Depois de terminarmos o trabalho — disse, depois de pensar em uma solução rápida.

— Ótimo! — Ethan sorriu, triunfante com a proposta.

— Carter? — perguntei, voltando meus olhos para o moreno, que estava mais alto que o melhor amigo, esperando uma resposta.

Ele confirmou com a cabeça, sem dizer mais nada, sem agradecer, sem sequer sorrir. Seus olhos pousaram sobre a porta e instintivamente caminhou naquela direção a passos pesados e, quando chegou ao local, não saiu de imediato, nem olhou para trás como achei que faria. Ele parou, segurando a maçaneta com força, encarando o corredor com o cenho franzido.

A sensação que ele passava era de completo nervosismo e ânsia por alguma ação, mas ele não fez nada além de abrir a porta e seguir seu rumo, desaforado.

— Obrigado! — Ethan disse, abrindo mais um sorriso gentil para mim — Você é uma garota incrível, e as pessoas deveriam ver mais isso.

Sorri de volta para o garoto que pegava o isqueiro de dentro do bolso da mochila, o colocando no bolso da calça para ficar mais fácil de alcançá-lo mais tarde. Ele passou por mim e, ao chegar na porta, acenou para trás. Ethan era um menino cuidadoso e gentil, e eu adorava isso, porque ele sempre acabava consertando algumas coisas que o melhor amigo fazia.

Atravessou a porta sem muitos rodeios, deixando-me para trás com um sorriso bobo estampado no rosto. No fundo, eu os considerava algo como amigos, ou coisa assim.

Peguei minha mochila, a colocando sobre os ombros. Tinha que ter ao menos alguns minutos de intervalo longe daquela sala. Suspirei ao pensar no tanto de trabalho que ajudar o Carter a estudar daria, mas não de uma forma ruim.

Caminhei em direção à porta, com o mesmo sorriso no rosto, pensando em como eu me sentia mais em paz depois de ter ouvido de Ethan que eu era incrível. Eu me sentia mais útil e, pela primeira vez em tempos, senti que eu estava brilhando sozinha, sem ser a sombra da minha irmã. Abri a porta e saí para o corredor, ainda presa em meus pensamentos, tentando aproveitar ao máximo a sensação.

— O Carter e o amiguinho idiota dele estavam te enchendo o saco? — a voz de Miles invadiu meus ouvidos, me trazendo de volta para a realidade.

— Não! — sorri para ele, que não sorriu de volta — A gente só tava resolvendo umas coisas do trabalho e da prova de matemática.

— Resolver coisas de trabalhos te deixa assim tão feliz? — ergueu uma de suas sobrancelhas, desconfiado.

— Na verdade, não. Eu detesto ter que fazer trabalhos, mas, é, eu estou bem feliz!

— Sei... — estreitou os olhos para mim.

Sorri para ele, tentando afastar o clima desconfortável de perto de nós dois. Ele era difícil, parecia inseguro demais para confiar em qualquer pessoa que não fosse ele mesmo e seus "instintos", como ele vinha dizendo nos últimos dois dias depois do jantar que ele aparecera em minha casa.

O sinal tocou, indicando o fim do intervalo, eu mal tinha comido e sentia meu estômago roncar. Dei de ombros, conformada com o fato de que eu teria que adiar o almoço para depois da última aula.

— Eu tenho aula de geografia agora. — Disse, apertando minha mochila contra meu corpo — Te encontro na saída, então!

— Pode ter certeza! — sorriu, juntando nossos lábios rapidamente e se afastando para a sua respectiva aula.

Coloquei a outra alça da mochila sobre o ombro, indo para o meu armário só para trocar os livros da mochila. Miles era complicado, mas ainda era o meu namorado, e eu tinha que aprender a lidar com isso.

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