45. busted

PETER SOMENTE DESPERTOU quando a luz do sol abateu-se sem piedade sobre o seu rosto. Exausto, o menino apertou os olhos como se fosse conseguir espantar a claridade que os incomodava. Entretanto, com as cortinas do quarto escancaradas e nada que pudesse impedir a luminosidade de infiltrar-se pelo cômodo, não foi preciso muito mais para que ele, a contragosto, acabasse acordando.

A primeira coisa que ele processou, além do rosto quente graças ao sol, foi a dor no pescoço; ele estava esparramado de qualquer jeito, a cabeça jogada para trás em um ângulo que poderia ser um pouco esquisito demais para qualquer espectador desavisado. O resto de seu corpo também doía: ele encontrava-se sentado sobre uma superfície dura e desconfortável e havia algo contra o seu peito, embora esta última sensação estivesse longe de incomodá-lo.

Lutando contra o cansaço, o rapaz por fim abriu os olhos, para então dar-se conta de que não estava em seu quarto. Seu cérebro sonolento demorou apenas alguns segundos para relembrar que ele estava na casa de Savannah, e, a partir daí, Peter entendeu rapidamente o que acontecia.

Ele e a amiga haviam passado a noite inteira conversando; eles pediram comida chinesa e então desataram a falar por horas a fio. Savannah lhe contara sobre a conversa com Tony, sobre ser apadrinhada e ganhar um novo uniforme. Peter já imaginava que aquilo pudesse acontecer — afinal, quando sr. Stark lhe pedira o contato da garota, ou era para avisar que a havia dedurado para o Máquina de Combate ou era para dizer que iria patrociná-la. Considerando o interesse que o herói havia demonstrado na Major semanas atrás, muito antes de descobrir que ela era a afilhada de seu melhor amigo, o Homem-Aranha tinha quase certeza de que seria a última opção. Ainda assim, ele havia ficado calado para não estragar a surpresa, e vibrara ao descobrir o que havia acontecido, de qualquer forma. Savannah estava tão animada em ganhar um novo traje e em ter o apoio do Homem de Ferro que Peter, mesmo sabendo que ela não precisava de nada daquilo para ser uma vigilante, não conseguia evitar ficar contente por ela. Embora ela fosse muito capaz com suas habilidades por si só, ele sabia muito bem como era empolgante ter Tony Stark ao seu lado, independente de quem você era ou do que conseguia fazer.

Eles também conversaram sobre Kyle, com quem Savannah estava furiosa. Conversaram sobre a escola, sobre seus dias e sobre o caso em que vinham trabalhando. A garota até mesmo lhe mostrara o quadro de investigação que ela havia montado, no qual escrevera tudo que sabia até o momento a respeito da rede de crimes que atormentava a cidade; havia anotações sobre Montgomery e sobre seus capangas, sobre todos os esquemas em que eles estavam envolvidos até onde sabiam: o roubo e distribuição das armas do Abutre, gasolina adulterada, tráfico de drogas. A Major lhe contara também o que o irmão dissera mais cedo sobre a Gata Negra, e explicara a teoria de que a ladra estava sendo coagida de alguma forma a participar daqueles planos.

Em meio a todos esses assuntos — e a alguns pequenos beijos também —, eles acabaram pegando no sono. Peter não tivera a intenção de passar a noite na casa da amiga, mas nem mesmo havia percebido que tinha dormido até acordar ali. Os dois estavam tão cansados que simplesmente apagaram onde se encontravam: sentados no chão, as costas escoradas na lateral da cama e as cabeças inclinadas sobre o colchão.

Bem, a cabeça do rapaz, pelo menos, pois a de Savannah estava apoiada nele. A garota dormia tranquilamente, a bochecha repousando no peito dele e os cabelos caindo sobre o rosto como uma cortina. Seu braço envolvia o tronco de Peter como se ele fosse um travesseiro, ao passo que ele próprio abraçava com suavidade a cintura dela. Suas pernas se entrelaçavam em cima do tapete, e os fiapos da meia felpuda que Savy usava faziam cócegas nos pés descalços do herói.

Com um bocejo, Peter girou o pescoço na tentativa de aliviar um pouco a dor que o afligia. Ele se remexeu no lugar o mais cuidadosamente possível para não acordar Savannah; apesar da posição desconfortável e do travesseiro não-convencional, ela dormia tão serenamente que o garoto preferia ficar congelado onde estava a acordá-la. Ele não fazia ideia de que horas eram, mas ele poderia ficar daquela forma por quanto tempo fosse necessário somente para não perturbar a amiga.

Após coçar o olho na tentativa de espantar o sono reminiscente, o Homem-Aranha esticou-se para pegar o celular, largado ao seu lado no carpete, a fim de ver o horário — entretanto, antes que ele pudesse alcançá-lo ou sequer fazer qualquer outro movimento, a porta do quarto foi aberta.

— Acorda, Savannah, ou você vai se atra...

A voz de Kyle morreu de imediato ao olhar para dentro do cômodo. A cena com a qual ele se deparou não era nada além de inocente: Savannah e Peter esparramados no chão, abraçando-se com ternura enquanto dormiam. Ainda assim, aquele era um cenário que, o vigilante imaginava, perturbaria qualquer irmão mais velho superprotetor. Então, por um instante, tudo que ele e Kyle fizeram foi encarar um ao outro em um silêncio pesado, ambos petrificados demais para fazer algo.

Peter, entretanto, foi o primeiro a se livrar do choque, e ele reagiu instintivamente. Sem nem pensar no que fazia, ele empurrou Savannah para longe de si e se empertigou no lugar, tentando parecer o menos suspeito possível. Ele somente percebeu que havia literalmente jogado a amiga no chão quando ouviu o baque de seu corpo contra a madeira; ela soltou um resmungo ininteligível e se remexeu, definitivamente desperta agora.

O herói inclinou-se na direção da garota para ver se ela estava bem, esquecendo-se por completo de Kyle, ainda parado no batente da porta com uma expressão atônita.

— Desculpa! — Peter exclamou, culpado, enquanto ajudava Savannah a se reerguer.

— O quê...

A jovem se calou ao perceber o que acontecia. Ela estava novamente sentada no chão, a mão de Peter em seu cotovelo para ajudá-la a se ajeitar e os olhos arregalados voltados para o irmão, cujas feições se contorceram em uma carranca antes de ele dar meia volta e ir embora. Os adolescentes ficaram para trás sem sequer uma palavra ou bronca, e o Aranha não sabia o que seria pior: ouvir um sermão ou aquele silêncio carregado com o qual foram deixados.

Merda — Savannah praguejou, então começou a se erguer com certa dificuldade. — Merda, merda, merda!

A menina impulsionou-se para cima com o auxílio da cama, para em seguida disparar em direção à porta. Mal ela havia chegado ao batente quando deu uma freada tão brusca que Peter achou que ela fosse cair; ele estava quase esticando o braço e preparando o lançador de teias, oculto pelas mangas compridas de sua blusa, ainda bem, para segurá-la, mas não foi necessário. O equilíbrio de Savannah não parecia nem um pouco afetado conforme ela olhava por cima do ombro como quem havia acabado de se lembrar de algo.

— Bom dia — ela disse para ele. — Preciso de um minutinho. Não saia daí.

Peter fez menção de levantar.

— Vou com você...

— Não! — ela disparou com uma careta. — Isso não vai ajudar. Fique aí, eu já venho. 

Sem esperar por uma resposta, ela enfim passou pela porta atrás de Kyle, fechando-a ao sair. Peter, por sua vez, ainda estava um pouco atordoado com a sequência tão repentina de acontecimentos logo após ter despertado. Uma parte de si, porém, sentia-se aquecida pelo simples fato de a amiga ter parado somente para lhe dar bom dia. Um bom dia meio atrapalhado, meio afobado, mas que o fazia sorrir sem motivo agora. O rapaz teve vontade de bater em si mesmo. Como ele poderia ficar tão bobo com apenas um simples cumprimento como aquele? Não fazia o menor sentido.

Em vez de se dar um tapa na cara como almejava, ele somente balançou a cabeça e se levantou do chão. Cada uma de suas células pareceu gritar com aquilo, tanto que ele quase achou graça. Quer dizer, ele aguentava receber murros e fazer acrobacias, mas o seu corpo ficava dolorido e manhoso só de dormir de mau jeito no chão? Talvez contribuísse para o seu desconforto o fato de ele ter, claro, feito acrobacia e recebido murros no dia anterior e no anterior a ele, e no anterior do anterior também. Sim, aquilo certamente estava relacionado, mas seu corpo também tinha de colocar suas prioridades em ordem. 

— Kyle, não é o que você está pensando!

A voz de Savannah soou abafada e distante do outro lado da porta fechada, mas Peter conseguia distinguir com facilidade a conversa. Não era preciso ser nenhum gênio para saber que a amiga havia seguido o irmão escada abaixo e agora tentava explicar a situação toda para ele, que não devia estar nem um pouco contente. Estaria Kyle em crise na cozinha, ou sentado em silêncio no sofá, tentando absorver o fato de que sua irmã mais nova havia escondido um rapaz em seu quarto?

O grunhido que o homem soltou foi tão alto que Peter o escutou do andar de cima.

— Eu não acredito que você mentiu para mim, Savannah.

— Só porque eu sabia como você ia reagir — foi a resposta dela.

O Homem-Aranha passou as mãos pelos cabelos, indeciso se deveria fazer algo. Talvez ele pudesse descer e tentar ajudar a explicar o que havia acontecido... mas era possível que aquilo piorasse tudo. Afinal, não era ele a causa da discussão entre os irmãos? Surgir para apaziguar a situação poderia, na verdade, torná-la mais complicada, e era fato que Peter se enrolava todo quando ficava nervoso. Só Deus sabia o tipo de besteira que ele poderia falar enquanto tentava livrar a cara da menina, acabando por incriminá-los ainda mais.

— E você quer que eu reaja como, por acaso?!

Kyle — a voz de Savannah soou impaciente, como se ela já estivesse cansada de não ser ouvida —, nada aconteceu!

As vozes dos Evans foram tornando-se cada vez mais distantes e indistinguíveis à medida que Peter se perdia em seus próprios pensamentos conflitantes. Ele sabia que não deveria se intrometer nos assuntos dos irmãos, mas não queria deixar Savannah sozinha para lidar com a bronca. Ainda que ela tivesse pedido para ele ficar ali, o rapaz não conseguia evitar sentir-se culpado. Se ele não tivesse caído no sono e ido embora na noite anterior... Por culpa dele, a amiga agora estava em uma situação difícil. Realmente, aparecer para se juntar à discussão não parecia ser a opção mais inteligente do momento — era provável que Kyle, já não o seu maior fã, ficasse tentado a matá-lo. E ainda assim o Homem-Aranha não ligava: ele só pensava em tirar Savannah daquela enrascada, mesmo que aquilo significasse assumir toda a responsabilidade dos acontecimentos para si.

Por fim, Peter balançou a cabeça. Ele não deixaria Savannah arcar com as consequências da mentira dos dois sozinha, mesmo que ela tivesse pedido para que ele ficasse em seu quarto. Ele estava decidido a descer e falar que fora tudo culpa dele. O máximo que poderia acontecer era Kyle odiá-lo para sempre, não era? Não era o ideal, mas era melhor do que deixar a amiga por si só. Sendo assim, o garoto abriu a porta, mas teve um sobressalto quando deparou-se com Savannah logo adiante, com a mão esticada para segurar a maçaneta e o restante da casa atrás de si silencioso. O menino, perdido em pensamentos, não havia reparado que a briga havia acabado, nem mesmo ouvira a garota se aproximar do quarto.

Ele estacou por um instante, ao passo que a ela, por sua vez, arqueou as sobrancelhas, como quem dizia "O que foi?". Peter, apesar de tudo, não pôde deixar de reparar no quanto ela estava linda. Ela havia acabado de acordar: estava com os cabelos desgrenhados, as roupas amassadas e o rosto inchado de sono, mas ela continuava bonita como sempre.

Ele percebeu que estava encarando, calado, fazia alguns segundos, então disse a primeira coisa que veio à sua cabeça:

— Bom dia.

— Já não falamos isso? — Savy espezinhou, os cantos dos lábios repuxados para cima.

— Eu não consegui retribuir — disse. — Então... bom dia.

Savannah enfim sorriu, e foi como se calor explodisse dentro do peito do rapaz. Ele mal teve tempo de processar a sensação, pois a garota apoiou as mãos no ombro dele e o empurrou com delicadeza para trás, de modo que ele deixasse de barrar a entrada e ela pudesse passar pelo quarto. A pele dele pareceu queimar sob seu toque, e ele teve de reprimir a vontade de inclinar-se para frente e roubar um beijo dela. Até porque nenhum dos dois tinha escovado os dentes, e bafo matinal não era exatamente romântico.

— Você estava fugindo, por acaso?

A provocação da menina o trouxe de volta ao presente. Peter se focou nela, nos lábios curvados para cima e nos olhos que perscrutavam seu rosto. Ela continuava com as mãos em seus ombros e, quando não fez menção de tirá-las, o rapaz enlaçou a cintura dela com o braço. Savannah pareceu surpresa por um momento, mas alargou o sorriso conforme deixava-se ser puxada para mais perto. Peter estava muito ciente de que Kyle poderia subir a escada e vê-los a qualquer instante, então tentaria ser breve. Ele queria abraçar a menina por alguns instantes, só isso.

— Indo ajudar, na verdade. Mas acho que foi um pouco tarde demais.

— É a intenção que conta, não é? — Savannah meneou a cabeça, então suspirou. — Kyle não quis ouvir muito. Ele só reclamou que eu tinha mentido e saiu para trabalhar.

Uma pontada de culpa atravessou o peito de Peter... tanto por conta da confusão que ele tinha causado, quanto por ter pensado que, sem Kyle ali na casa, ele e Savy poderiam se beijar o quanto quisessem, sem interrupções ou o perigo de serem flagrados novamente. Foco, Parker, ele ralhou consigo mesmo, quase revirando os olhos para os seus próprios pensamentos. Ele voltou ao presente, o peso em seu peito agora maior.

— Eu deveria ter ido dizer que fui eu o culpado de tudo — ele comprimiu os lábios. — Pelo menos ele não ficaria bravo com você.

Mas a Major somente balançou a cabeça conforme delineava, de maneira distraída, o ombro do rapaz em um gesto terno. Uma corrente elétrica perpassou pelo corpo de Peter, e, caso ela tenha percebido como ele estava arrepiado, não demonstrou.

— Isso seria fofo, e incrivelmente idiota — ela soltou uma risadinha. — Kyle só ficaria mais chato se ouvisse isso. E, também, ele não está exatamente bravo. Está mais para... desconcertado. — Ela enrugou o nariz em uma careta adorável. — Afinal, não é todo dia que se encontra a irmã mais nova com um garoto no quarto. Acho que essa é até a reação mais normal que ele poderia ter.

Foi a vez do herói de suspirar. Ele se afastou da garota, o que fez com que uma sensação de vazio repentino tomasse conta de si. Passando as mãos pelo cabelo bagunçado, Peter encolheu os ombros e olhou em volta; o quarto era iluminado pela luz brilhante do sol, e as coisas que os dois haviam esquecido de recolher na noite anterior continuavam espalhadas pelo chão. A máscara do uniforme do rapaz estava em cima da cama de Savannah, misturada ao edredom, e foi um verdadeiro milagre Kyle não ter visto.

Peter apanhou a peça, pensando em como poderia ter causado uma confusão ainda maior por seu descuido.

— Desculpe — ele falou. — Eu deveria ter ido embora ontem à noite.

Savannah, poucos passos à frente, permaneceu inerte por alguns segundos, como se ela sentisse o mesmo frio que ele sentia onde antes eles haviam se tocado. Então, ela estalou a língua, embora não estivesse claro para quem era direcionado tal gesto.

— Não precisa se desculpar, Peter. A gente só pegou no sono — aproximando-se novamente dele, a menina segurou o queixo dele e o virou com gentileza em sua direção, de modo que o fizesse olhar para ela. — Você não tem culpa de o Kyle não entender isso. Ok?

Quando o Homem-Aranha demorou para responder, ela deu um cutucão em seu abdômen. Peter se contorceu para fora de seu alcance com uma risada, mas cedeu, somente para poder evitar outro ataque às suas costelas. Sendo assim, ele ergueu as mãos em um sinal de rendição.

— Ok, ok...

Savannah não pareceu muito convencida pelo seu tom derrotado, embora, pelo menos, tenha se dado por satisfeita e cessado fogo. Em seguida, ela fez menção de falar, mas qualquer palavra que poderia proferir foi sufocada por um grande bocejo. A adolescente ergueu um dedo, certamente pedindo para Peter aguardar um instante enquanto ela batalhava contra o sono em seu corpo. 

— Nossa, eu preciso desesperadamente de um café — ela comentou uma vez que o bocejo chegou ao fim. Então, estendeu a mão para o amigo. — Vamos?

No final das contas, eles chegaram atrasados na escola.

A culpa fora totalmente de Savannah, ela sabia. A garota havia levado o seu tempo tomando café e se trocando, fazendo-o com uma tranquilidade que não condizia com tudo que havia acabado de acontecer. A verdade era que, apesar do flagra de Kyle e da pequena discussão que haviam tido, ela não estava nem um pouco preocupada. Talvez ela devesse estar, mas, honestamente? Savannah não ligava. Seu humor não poderia estar melhor com Peter ali ao seu lado. Nem mesmo havia despertado com o seu habitual mau humor matinal, o qual a fazia xingar o mundo inteiro por ter que sair da cama e ir para a aula. Claro, aquilo porque ela havia acordado e se deparado com uma situação urgente para resolver, mas ela estava gostando de fingir que não era aquele o caso.

De qualquer forma, a sombra da confusão de mais cedo se dissipou rapidamente enquanto Savannah e Peter tomavam café, conversando e rindo, e já não passava de uma lembrança distante quando eles deixaram a residência dos Evans e seguiram até o apartamento dos Parker a fim de o próprio Peter se trocar e apanhar suas coisas. Depois, eles pegaram o ônibus para a escola, muito embora o Homem-Aranha fosse muito capaz de levá-los até lá com suas teias em um tempo menor.

O sinal que indicava o fim do primeiro período havia acabado de tocar quando eles adentraram os corredores cada vez mais lotados da Midtown. Savannah, segurando a mão de Peter, os guiou pela multidão, abrindo caminho de forma surpreendente bem para alguém do tamanho dela. Talvez não fosse exatamente necessário estar puxando o amigo para que ele a acompanhasse, mas ela gostava da sensação da mão dele na dela, de seus dedos entrelaçados.

Para ser sincera, a adolescente estava com uma vontade absurda de levar Peter para algum canto escondido da escola para que eles pudessem se beijar, mas, considerando que eles já estavam atrasados e a culpa era dela, a ideia foi descartada com pesar. Em vez disso, ela se contentou em diminuir o ritmo de seus passos, acabando por ficar ao lado do rapaz conforme eles caminhavam para os seus armários. Os ombros deles agora se encostavam, e Peter abriu um daqueles seus sorrisos que faziam as pernas de Savannah ficarem bambas. Ela olhou para frente, tentando focar em tudo menos na assustadora necessidade que ela tinha de estar com ele.

Eles tiveram de se afastar por um breve momento quando chegaram aos seus armários, separados apenas por alguns metros de distância. Ainda assim, a mão de Savannah continuou formigando, como se Peter fosse algum tipo de anestésico que amortecia toda e qualquer outra sensação com a exceção de ele próprio.

Balançando a cabeça para voltar à realidade, a menina concentrou-se em apanhar os materiais do segundo período. Pela visão periférica, ela reparou que alguém estava parado ao seu lado, a face oculta pela porta metálica do armário. Fechando-a, Savannah, sem tirar os olhos do cadeado, disse:

— Oi, Lia.

Por fim, ela se virou para a amiga, que a encarava com uma falsa carranca.

— Quem é vivo sempre aparece, né? — provocou, e então abriu um pequeno sorriso. — Achei que fosse me abandonar mais um dia.

Savannah revirou os olhos, embora estivesse sorrindo.

— Não seja tão dramática.

Amelia a encarou com as sobrancelhas arqueadas, parecendo dizer "Eu sempre sou dramática". A heroína, por sua vez, somente riu da expressão da amiga, para então dar uma espiada por cima do ombro e ver que Ned já estava ao lado de Peter. Eles conversavam também, mas os olhares de Savannah e Peter não demoraram para se encontrar; eles sorriram um para o outro por um breve instante, o que ainda foi o bastante para que seus amigos reparassem.

— Vocês estavam juntos? — Lia perguntou.

— Como estão as coisas com Ned? — Savannah falou ao mesmo tempo.

— Não tente desviar o assunto!

— Não estou! — Ela se defendeu. Era verdade; ela não estava querendo desconversar, apenas se preocupava com a amiga. Ela não havia lhe dito mais nada a respeito daquilo depois de sua conversa por telefone na segunda-feira, logo após a Major voltar da Torre dos Vingadores, e ela queria saber se estava tudo bem. Embora soubesse que precisava daqueles dias de descanso, ela se sentia um pouco mal por deixar Lia sozinha, mesmo que a amiga insistisse que estava tudo bem. — Eu só...

— Shhhh, eu conto depois — Amelia posicionou o dedo indicador na frente dos lábios ao chiar. — Agora, cale a boca, eles estão vindo.

Quando Savannah fez menção de replicar, Lia lhe deu uma cotovelada. Embora não fosse a intenção, a ponta ossuda de seu cotovelo atingiu a região do ferimento de bala da vigilante, próxima o bastante do machucado em si para fazê-la querer chorar. Savannah perdeu o fôlego com a onda de dor que reverberou por seu corpo, ficando tão desamparada que caiu contra os armários em um estampido metálico. Ela mordeu a língua com força o bastante para sentir gosto de sangue apenas para impedir-se de gritar como queria. O que saiu de sua garganta, assim, foi um ganido engasgado acompanhado por uma náusea atordoante.

— Savy! Você está bem?! — Lia inquiriu, a preocupação encharcando sua voz e sua face. Ela apoiou as mãos nos ombros retesados da amiga. — Desculpa, eu não...

— Está tudo bem — Savannah disse entre os dentes enquanto tentava respirar fundo. O gosto metálico de sangue persistia em sua boca e o mundo parecia girar ao seu redor. — É só um machucadinho, nada demais.

Machucadinho?

Amelia soava descrente, contudo, antes que ela pudesse falar qualquer outra coisa, Peter e Ned as alcançaram. Parecia que haviam visto a cena, porque agora Peter puxava a menina com delicadeza dos armários, permitindo que ela se apoiasse contra o seu corpo enquanto se recuperava. Ele apoiou a mão nas costas dela, amparando-a enquanto ela fechava os olhos e buscava respirar fundo. O rapaz perguntou, baixo o bastante para que apenas ela pudesse escutar, se o motivo de sua reação era o ferimento de bala, e ela anuiu, a mão procurando a dele como se para se firmar no mundo que rodava. Nenhum dos dois reparou nos olhares incrédulos de Amelia e Ned, os quais pareciam chocados com a cena à sua frente.

Claro. Eles não estiveram presentes nos três últimos dias e não faziam ideia do quanto havia acontecido entre Savannah e Peter. Nem sequer sabia que a Major levara um tiro, e ela pretendia que as coisas continuassem daquele jeito. Não que não confiasse nos amigos, mas sabia que aquilo só causaria alarde. Lia entraria em desespero e provavelmente infartaria, ao passo que Ned ficaria apenas confuso. O que, na verdade, levava a outro tópico...

— Ok, o que foi isso? — Disse Lia depois de alguns minutos de silêncio.

— Isso o quê? — Peter piscou com inocência, tanto que Savannah teve vontade de rir. O que seria uma péssima ideia, considerando que qualquer movimento a fazia querer deitar em posição fetal.

— Isso — Ned complementou, apontando para os dois. — Vocês.

O Homem-Aranha somente deu de ombros, como se dissesse que não havia nada para explicar. Savannah, por sua vez, sentia-se um pouco melhor e se desencostou de Peter. Para sua sorte, a dor não a fazia se curvar sobre o próprio corpo mais e a náusea estava passando, então ela resolveu confiar nas próprias pernas para mantê-la em pé. Sua mão, todavia, continuou segurando a do rapaz ao seu lado, embora aquilo não tivesse nada a ver com ser amparada caso a dor voltasse.

— Escutem, temos uma coisa para contar a vocês — ela disse, a voz ainda meio rouca. Seu ferimento latejava e ainda doía tomar fôlegos muito profundos, mas ela estava aguentando melhor do que antes.

Savannah e Peter haviam conversado sobre aquilo: contar aos amigos sobre serem a Major e o Homem-Aranha. Claro que Lia sabia sobre Savannah, e Ned, sobre Peter — e agora que os próprios vigilantes tinham conhecimento das identidades um do outro... não fazia sentido esconder aquilo dos amigos aquilo. Seria apenas uma complicação a mais no mar de dificuldades que era manter suas identidades secretas.

Amelia e Ned trocaram um olhar cúmplice, para então encararem o ponto em que as mãos dos vigilantes ainda se entrelaçavam. Não era preciso ser um gênio para saber o que eles estavam pensando, e aquela estava longe de ser a tal novidade que imaginavam.

— Não é o que vocês estão achando — Savannah avisou rapidamente ao reparar nas expressões deles. — Vamos falar no almoço, que tal? Precisamos de um tempo para explicar tudo.

Meio contrariados, os amigos assentiram. Os corredores agora já estavam praticamente vazios, o que significava que eles tinham de ir para suas respectivas salas de aula antes que algum inspetor aparecesse e cobrasse os seus passes ou o professor malignamente proibisse que eles entrassem na classe por estarem atrasados. Savannah tinha Biologia com Amelia naquele momento, então ela arrumou a mochila no ombro, tomando cuidado com o seu ferimento, conforme Peter, que tinha Literatura, dizia:

— Vejo vocês depois.

Savannah anuiu, então inclinou-se na direção dele para dar um rápido beijo em seus lábios como despedida. Peter apoiou brevemente a mão no rosto dela, então eles se afastaram para seguirem seus respectivos caminhos. Tudo aquilo não durou mais do que cinco segundos, mas foi o bastante para deixar os seus amigos atônitos — a própria Savannah demorou um instante para processar o que tinha acabado de acontecer, mas, assim que o fez, estacou no chão.

Ela virou-se lentamente, encontrando um Peter que aparentava estar tão chocado quanto ela. Eles se encararam com expressões que diziam "Fizemos isso mesmo?", enquanto Amelia e Ned intercalavam os olhares entre os dois. O gesto em si não seria nada de importante se fosse com qualquer outra pessoa: era íntimo e casual demais, algo que um casal de verdade e com anos de hábitos fazia, para que eles quisessem que qualquer outra pessoa visse. Os adolescentes ainda estavam tentando descobrir o que havia exatamente entre eles — eles se gostavam, e muito, mas o que eles eram? —, e envolver outras pessoas com demonstrações de afeto em público somente complicaria as coisas.

Os quatro ficaram parados por um instante, apenas se observando, até Amelia soltar um grito de triunfo. 

— Pode ir pagando, Ned!

Aquilo fez com que os outros despertassem de seu torpor. Savannah franziu o cenho.

— O quê?

Leeds, que agora tirava a carteira do bolso da calça, simplesmente bufou.

— Lia e eu apostamos quando vocês finalmente iam ficar juntos. Ela deu até o fim da semana, e eu, até o fim do mês — ele explicou, para então lançar um olhar crítico a Peter conforme entregava uma nota de dez dólares à namorada. — A única vez em que você não é um lerdo...

O herói soltou um ruído indignado, para então trocar um olhar com Savannah. Os dois imediatamente começaram a protestar em uníssono, opondo-se àquela aposta dos amigos e tentando explicar que eles não estavam namorando. Eles se embaralhavam nas palavras, encarando-se como se pudessem explicar o que havia entre eles sem se exporem mais do que já haviam. 

— Nós não... estamos... — Juntos. Apesar de as palavras terem sido proferidas ao mesmo tempo pelos dois, quase como se tivessem sido combinadas, nenhum deles terminou a frase. Eles não estavam juntos, apesar de estarem juntos, afinal.

— Quer dizer que vocês não estão namorando? — Amelia ergueu as sobrancelhas, contrariada. — E o que foi isso, por acaso?

Eles não saberiam como começar a explicar, mas, felizmente, não precisaram, pois Ned exclamou:

— Você ouviu os dois, eles não estão namorando! — ele gesticulou freneticamente. — Devolve as minhas 10 pratas!

Amelia somente emitiu um ruído de desdém, ao passo que Peter soltava um grunhido revoltado.

Não acredito que vocês fizeram uma aposta às nossas custas!

Savannah anuiu em concordância. Por que todos faziam aquilo? Primeiro Tony e Happy, agora Ned e Lia. A Major e o Homem-Aranha eram tão previsíveis assim para que todos soubessem exatamente em que tipo de situação eles iam se envolver? Ela precisava realmente rever suas atitudes se aquele fosse o caso.

— E eu não acredito que eu não pedi mais dinheiro! Podia ter faturado uma boa grana com isso — Amelia sorriu, e depois bateu nas costas da mão de Ned com a nota de 10 que ele tentava pegar. — Agora, vamos, Savy, já estamos atrasadas.

E, sorridente um pouco até demais, a menina pegou o braço da amiga e começou a arrastá-la pelo corredor rumo à sala de Biologia. Savannah somente teve tempo de espiar por cima dos ombros e oferecer um olhar de "Bem, nós tentamos" a Peter antes de desaparecer pela curva mais próxima. Porém, em vez de guiá-la para a classe em que teriam o segundo período, Lia empurrou Savannah para dentro do primeiro banheiro feminino que encontrou. 

— Ok, você tem muito para me contar! — Amelia exclamou, parecendo animada e ao mesmo tempo revoltada. — Por onde você andou esses últimos dias? Você esteve esse tempo todo com Peter? Vocês estão juntos agora? E você ainda tem que me explicar o que vocês estavam fazendo segunda-feira quando acabaram não vindo para a aula e...

A porta mal havia fechado atrás de Savannah quando a amiga começou a disparar perguntas. Ela piscou, um pouco desorientada nos primeiros segundos, e então começou a rir, o que fez Lia se calar e inflar as narinas com irritação. Em vez de responder ao interrogatório, a vigilante somente deu de ombros e encaminhou-se até a pia, observando o próprio reflexo no espelho e ajeitando os fios rebeldes de seu cabelo.

— Não tem muito o que dizer. — Mentira. A questão era que, se Savannah começasse a falar, ela não pararia mais; ela perderia todas as aulas só explicando um terço do que se passava em sua mente para Lia. E, por mais que ela quisesse compartilhar tudo com a garota, ela e Peter haviam combinado em contar aos amigos juntos no almoço, e era aquilo que fariam. — Eu conto tudo depois, prometo.

Amelia bufou.

— Isso é tortura.

— Disse como se nunca tivesse feito isso comigo antes — Savannah lhe deu uma piscadela maliciosa, como quem dizia que aquela era a vingança. Em seguida, ela virou-se novamente para a amiga, dessa vez mais séria. — E quanto a você e Ned?

Lia ficou alguns segundos calada, provavelmente tentada a não responder apenas para contrariar a amiga. Entretanto, aquilo devia estar incomodando-a, pois ela soltou um grande suspiro.

— O de sempre: longos e constrangedores momentos de silêncio e uma pressão enorme para fazer isso funcionar de alguma forma — ela se apoiou na pia, parecendo genuinamente frustrada.

Savannah aproximou-se da amiga e colocou o braço ao redor de seus ombros, apertando-a de leve para lhe conferir apoio.

— Vocês vão resolver isso. Afinal, antes de tudo, vocês são amigos. Vai ficar tudo bem.

— Não sei — Lia balançou a cabeça, então suspirou de novo. — Mas não quero falar sobre o meu relacionamento decadente agora. Me dê uma boa notícia.

A Major considerou insistir um pouco mais no assunto para que elas pudessem achar uma solução para aquilo, mas achou melhor deixar para lá. No fim do dia, aquilo dizia respeito a Amelia e Ned, e, mesmo que ela desejasse ajudar, ninguém poderia resolver aquilo além deles. Ela só gostaria que os dois ficassem bem, e sabia que era melhor não pressionar a amiga. Então, Savy pensou em qual novidade boa poderia compartilhar. Levei um tiro e tive uma concussão, mas não morri, ela pensou, para então descartar imediatamente. Talvez aquilo fosse um pouco demais.

De repente, Savannah desencostou-se da pia com um pulo animado. Depois de conferir se as duas estavam realmente sozinhas no banheiro, ela girou os calcanhares e fitou a amiga com um sorriso de orelha a orelha, dizendo baixa e animadamente:

— Tony Stark vai me patrocinar.

Amelia esbugalhou os olhos.

— O quê?! — Sua voz soou uma oitava acima do normal. — Meu Deus, isso é... Uau! Como isso foi acontecer? Como ele descobriu sobre você?

— E ainda tem mais! — Savy prosseguiu, sem realmente dar uma resposta às perguntas. — Ele vai me dar um uniforme novo!

O sorriso de Lia sumiu de imediato, tão rápido que a heroína franziu as sobrancelhas em confusão.

— Que droga!

Savannah comprimiu os lábios, o entusiasmo diminuindo consideravelmente.

— Devo admitir que não era essa a reação que eu esperava.

— Não foi o que eu quis dizer. Tipo, isso é ótimo! Estou muito feliz por você. É só que... — Ela suspirou, passando a mão no rosto com, a vigilante percebeu, vergonha. — Ah, era para ser uma surpresa... eu estava para falar isso com você, na verdade... o uniforme militar já está tão ultrapassado, não acha? Convenhamos, não é nada estiloso.

Lia não estava errada. O uniforme de Angeline Evans era mais velho do que a própria Savannah e, depois de tantas lavagens às pressas e as manchas secas de sangue que não saíam de jeito nenhum, ele estava quase caindo aos pedaços. Ainda assim, ela ainda se apegava: fora com ele que começara as suas vigílias, e era de sua mãe, no fim das contas. Mas ela não podia negar que ter uma roupa nova seria bom, especialmente se feita por Tony Stark.

— Você não sabia que é assim que eu inspiro medo nos meus inimigos? — a Major brincou. — Eles veem o meu uniforme e choram por causa da feiúra.

Lia revirou os olhos com um sorriso.

— Você sabe do que estou falando. Enfim, eu estava trabalhando em um projeto novo para você. Só ia mostrar quando estivesse pronto, mas acho que Tony Stark acabou de roubar a minha oportunidade.

Dito isso, Amelia pescou o celular do bolso e o desbloqueou. Ela mexeu um pouco nele com cautela, não deixando Savannah espiar o que ela fazia, e, depois de alguns segundos, estendeu-o em direção à outra. Quando ela apanhou o aparelho, notou que em sua tela havia um desenho digital: um uniforme, para ser mais exata. Era mais simples do que o que o Homem de Ferro havia proposto, embora mais completo. Enquanto o de sr. Stark não passava de um esboço com apenas indicações de materiais e equipamentos tecnológicos, o de Lia parecia quase finalizado; ela havia feito um design moderno e prático, cujas as cores escuras, verde e preto, eram perfeitas para a vigilância noturna. A máscara revestia a parte inferior de seu rosto, e algo como um óculos escuro disfarçava seus olhos. Um capuz cobria sua cabeça, conferindo-lhe um ar ao mesmo tempo casual e misterioso, além de haver um suporte nas costas para o bastão de beisebol. 

— A ideia era fazer um novo traje para você com um tecido resistente, mas largo o bastante para que você pudesse se locomover com agilidade e usar o colete à prova de balas por baixo — Amelia explicou, apontando ocasionalmente para o rascunho. — Basicamente, seria a quase a mesma roupa que você usa, só que mais estilosa, e... Que cara é essa?  

— Lia — Savannah disse sem tirar os olhos do celular por um segundo sequer, fascinada pelo que via —, esses desenhos são incríveis.

A jovem coçou a nuca, meio desconcertada. A heroína teria rido se ainda não estivesse tão focada nos desenhos; era engraçado ver a Amelia, normalmente tão confiante, encabulada, especialmente com algo tão maravilhoso quanto aquilo.

— Tente não soar tão chocada. É meio ofensivo.

— Não estou chocada, estou impressionada — Savy finalmente ergueu o olhar para a amiga, e em seu rosto havia uma expressão que transparecia toda a emoção que sentia. — Sempre soube do seu talento para essas coisas, mas pensar que você desenharia um uniforme novo para mim...

A voz dela falhou por um instante. Savannah estava genuinamente emocionada com o fato de a amiga ter dedicado seu tempo e disposição planejando um novo traje para ela; para qualquer um poderia parecer um gesto simples, mas a Major via aquilo com um carinho especial.

— Ah, não chore — Amelia disse. Entretanto, ela parecia igualmente impactada pela reação da outra. — Você sabe que, quando você chora, eu choro, e se não vai ser bom se nós duas estivermos chorando.

Savannah soltou uma risada baixa, para em seguida puxar Lia pelos ombros para um grande abraço, o qual foi retribuído de imediato.

— Eu amei, é simplesmente incrível. Você é incrível — ela murmurou em meio ao abraço, os braços envolvendo a amiga e a cabeça apoiada em seu ombro. — Obrigada, obrigada, obrigada!

Lia afastou-se para revelar um sorriso brilhante e bochechas surpreendentemente coradas. Ela fez menção de falar mais alguma coisa, contudo, antes que pudesse fazê-lo, a porta do banheiro foi aberta. As adolescentes se calaram de imediato, recusando-se a falar qualquer coisa na presença de outra pessoa somente a fim de não deixar escapar nada comprometedor, especialmente quando elas viram quem havia entrado no banheiro: Felicia Hardy.

Ela estava com uma aparência péssima: os cabelos loiros bagunçados, olheiras grandes debaixo dos olhos e uma expressão soturna. Savannah não podia ligar menos para a ex-namorada, mas uma parte dela não pôde deixar de ficar curiosa a respeito do comportamento dela. Sempre que a via pelos corredores, Felicia parecia mal-humorada e com cara de poucos amigos, isolando-se cada vez mais. Era estranho, e fazia Savannah questionar o que poderia ter acontecido. Mas, no fim do dia, não era da conta dela, e ela ficava feliz por ficar fora do caminho. Para a sua sorte, Felicia parecia sentir-se da mesma forma, e ignorou completamente a presença das duas outras meninas conforme observava-se no espelho.

Amelia e Savannah trocaram um breve olhar antes de resolverem, por fim, deixar o banheiro e ir para a aula de Biologia. Por sorte, seu professor era sr. Harrington, e ele era tão bonzinho que não barrava a entrada de alunos atrasados; portanto, as amigas caminharam tranquilamente pelo corredor agora deserto rumo à classe. Em dado ponto, Lia enganchou o braço no de Savannah e a puxou para mais perto a fim de dizer em voz baixa:

— Esqueci de contar para você, mas sabia que Felicia também foi expulsa do time de torcida?

Savannah arqueou as sobrancelhas, um pouco surpresa, e negou com a cabeça. Ela não imaginava que o time expulsaria outra integrante de novo assim tão rápido, não quando ela mesma já havia saído recentemente.

— Pois é — Lia disse em resposta à sua expressão. — Ela conseguiu ser mais irresponsável do que você — alfinetou com certo humor, e Savannah revirou os olhos. — Ela estava faltando a ensaios, errando as coreografias... Depois de não ter ido a Boston, Maddie ficou possessa, e essa semana foi a gota d'água quando ela não apareceu no treino extra de segunda-feira.

— Uau — foi tudo o que Savannah conseguiu dizer. Ela não podia dizer que ligava muito para o que acontecia com sua ex-namorada, então aquela foi a reação mais genuína que pôde ter. Amelia deu de ombros, parecendo entender aquilo, e somente continuou o trajeto até a sala de aula. Depois de alguns segundos de silêncio, a Major voltou a falar, dessa vez com um assunto completamente diferente. — Lia, você se incomodaria se eu passasse o desenho do traje para o sr. Stark?

A menina arregalou os olhos.

— Você está falando sério?

— Claro que estou.

Afinal, por que não? Tony não tinha feito exatamente o modelo de seu traje, focando-se primeiro nas particularidades dos materiais e aparatos de assistência. Ela não duvidava que ele fosse capaz de criar um lindo uniforme para ela, mas a questão era que ela havia amado tanto o desenho de Lia que queria usá-lo também. Então ela uniria o útil ao agradável e teria o protótipo feito por sua amiga com a tecnologia Stark, se aquilo fosse possível. Ela teria de conversar com o Homem de Ferro logo, mas a ideia de juntar as duas vestimentas já a deixava animada. Amelia, por sua vez, aparentava estar lisonjeada, pois abriu um grande sorriso e anuiu com veemência. Entusiasmada, Savannah teve de conter os pulinhos que queria dar, e continuou:

— Agora, uma pergunta muito importante — ela fingiu seriedade por um momento, para então desistir e abrir um sorriso também. — Por acaso tem um uniforme para você também nos seus rascunhos?

— Com quem acha que está falando? — a amiga piscou. — É claro que sim.

Lia pegou o celular para mostrar o outro desenho conforme elas seguiam, aos risos, para a aula.

[23/03/2023]

oi, galera!!!! como estão?

posso dizer com certeza que o kyle está traumatizado depois desse capítulo. o pobi do homem não tem paz! quanto à savannah e ao peter, eles são os meus piticos e eu morreria por eles. that's it. that's the tweet.

queria, aliás, me desculpar pela qualidade do capítulo kk eu to correndo bastante com a faculdade e o meu trabalho, e estou escrevendo quando posso, como eu posso. esse cap é mais uma espécie de ponte, e prometo que os próximos serão melhores!

bem, espero que tenham gostado e até a próxima!

beijos!

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