29. trick or treat?
ERAM POR VOLTA DAS nove e meia da noite quando Savannah largou-se no sofá. Com uma vasilha de amendoins no colo e o controle remoto da televisão em mãos, a menina por fim permitiu-se relaxar. Não fazia muito tempo que chegara em casa — até então, ela havia apenas tomado um longo e quente banho e secado os cabelos. Agora, pretendia passar o resto da noite comendo em frente à TV.
Parecia um pouco deprimente, especialmente se considerasse que era trinta e um de outubro. Savannah sabia que poderia muito bem levantar-se, pegar qualquer coisa no guarda-roupa e improvisar uma fantasia para ir à casa de Gwen Stacy. Mas, para ser honesta, a jovem já havia tido o bastante de festas para um só dia; a última coisa que queria era comparecer a outra.
Sendo assim, ela tinha determinado que os seus planos para a noite seriam assistir a alguma coisa na televisão, fosse um filme de terror, fosse um episódio qualquer de uma série qualquer. Enfiando punhados de amendoim na boca, a Major ocupou-se em navegar pelos canais da TV na tentativa de achar algo bom para ver.
Savannah enfim contentou-se com um canal qualquer em que passava um especial de Halloween. Ela aconchegou-se mais entre as almofadas e ajeitou os óculos no nariz enquanto esperava os comerciais acabarem para o filme começar. Porém, naquele mesmo instante, o celular da jovem começou a vibrar; por um segundo, a menina imaginou que fosse Kyle ligando para avisar que chegaria tarde mais uma vez, ou então Lia perguntando se ela iria para a festa de Gwen. Mas, para a sua surpresa, era o rosto de Peter que o seu visor mostrava.
Tão de repente quanto havia sido iniciada, a ligação foi encerrada.
A menina franziu o cenho, confusa. Que diabos?
Deixando a televisão no mudo, ela retornou o telefonema. Poucos toques soaram antes que Parker atendesse.
— Eu realmente estava torcendo para você não ter recebido a chamada. — Foi o que ele disse.
Ao ouvir a voz do amigo, ela recordou-se brevemente do que havia acontecido na escola mais cedo; embora as coisas entre os dois tivessem se normalizado pouco depois daquele momento de súbita timidez de Peter, Savannah ainda não conseguia deixar de estranhar a maneira como o amigo ficara depois de apenas um abraço. Era esquisito, realmente, mas quem era ela para julgar?
Ignorando as lembranças, ela alfinetou com certa diversão:
— Você sabe como ligações funcionam, não sabe, Parker?
— Em minha defesa, eu meio que derrubei o telefone na minha cara e meu nariz te ligou.
Savannah cobriu a boca com a mão, em uma tentativa de encobrir a gargalhada. Foi inútil, e logo suas risadas altas estavam ecoando pela sala.
— Ei! — ele tentou soar indignado, mas logo estava rindo também. — E aí, você tá fazendo o quê?
A Major respondeu apenas depois de parar de rir, o que demorou mais alguns segundos. Ainda conseguia visualizar a imagem que criara do amigo tendo o rosto atingido pelo celular, e ela era muito engraçada, diga-se de passagem.
— Nada demais — replicou, olhos cravados na tigela de amendoim no colo. — Só matando tempo na frente da TV.
— A festa da Gwen não tá rolando ainda? Achei que você fosse para lá.
A simples menção de uma festa fez Savannah estremecer. Sim, claro, a sua missão na casa da tal Glory tinha sido um sucesso — embora não se pudesse dizer o mesmo sobre a festa em si —, mas só de pensar em ir em outra comemoração já bastava para fazer a menina querer gritar.
— Hm, talvez no ano que vem. — Disse de maneira vaga enquanto passava a girar o controle remoto nas mãos. — Você vai?
— Acho melhor deixar para a próxima. — Peter suspirou. — Não estou muito no clima para festas.
— Noite difícil?
— Um pouco — o menino admitiu com um bufo. — Quase estraguei tudo hoje na Stark. Se não fosse, hm, pelos outros estagiários, as coisas teriam dado tremendamente errado.
Savannah deixou de lado o controle remoto com o qual brincava, ajeitando-se nas almofadas.
— O que aconteceu?
— Está tudo bem — ele avisou de antemão, o que serviu apenas para fazer Evans esperar o pior —, mas... Ah, eu só... Bem, estava desatento e... quase explodi minha bancada.
Os olhos da vigilante arregalaram-se. A menina não tinha a menor ideia do que Peter fazia naquele estágio — ele sempre fora muito vago sobre o assunto, e, na única vez que ela perguntara, ele havia dado tantas voltas na explicação que ela havia se confundido completamente —, mas explodir bancadas? Que tipo de emprego era aquele?
A sua exclamação surpresa foi encoberta pelo barulho da campainha soando pela sala. A menina tirou o balde de amendoim do colo para em seguida levantar-se com um grunhido preguiçoso, do qual o amigo achou graça.
— Por favor, diga que você está brincando — resmungou conforme se dirigia até a entrada de casa.
— Acho que você nunca saberá.
A adolescente soltou uma risada, ainda que levemente preocupada. Depois, pedindo para Peter esperar um instante, abriu a porta de entrada. Diante dela, surgiu um grupo de crianças fantasiadas, todas gritando "Doces ou travessuras?!" de maneira bastante animada.
Savannah abriu um sorriso, recordando-se de como ela costumava adorar pedir doces pela vizinhança durante o Halloween. Naquela época, quando suas únicas preocupações se resumiam em comer todo o chocolate que ganhara, aquela data era bem mais fácil e tranquila.
A heroína passou a segurar o celular entre a cabeça e o ombro e esticou-se para pegar o pote de doces que Kyle havia deixado no aparador ao lado da porta (com um bilhete que dizia "Para as crianças, Savy, não para você!"). Então, ela distribuiu balas para as crianças ao mesmo tempo em que elogiava suas fantasias.
Aquilo tudo lhe rendeu agradecimentos e despedidas entusiasmados. Em seguida, Savannah fechou a porta com o pé, voltando a segurar o telefone em uma mão enquanto mantinha o pote de guloseimas na outra.
— Você estava dando doces para crianças? — A voz de Peter estava carregada de uma falsa surpresa. — Achei que fosse no máximo roubar delas.
A menina revirou os olhos conforme dirigia-se vagarosamente para a sala.
— Acredite ou não, estou me sentindo generosa hoje. — Rebateu. Após furtar um pirulito do pote de doces, ela voltou para a sala e deitou-se no sofá. — E, Pete, sobre o seu estágio... Todos temos dias ruins e momentos de distração. Não tem problema nenhum. Então, não precisa ficar se culpando por conta de um acidente — Ela observou o pirulito em formato de coração, um pouco fora da temática do dia, nas mãos. — Da próxima vez, as coisas vão ser melhores, prometo.
Se Amelia pudesse escutá-la naquele momento, provavelmente lhe acertaria um tapa e a xingaria por sua hipocrisia. Mas ela não estava ali, para a sorte de Savannah, que apenas se focaria em Peter e em fazê-lo se sentir melhor.
— Você tem razão — ele disse, por fim.
— Eu sempre tenho.
Eles riram, e o som da risada alta do amigo fez o estômago da menina pular, mas não exatamente de uma maneira ruim.
Ignorando aquele estranho frio na barriga, Savannah calou-se, os olhos cravados no pirulito que girava nos dedos. A vigilante não conseguia evitar pensar que, embora Parker estivesse rindo agora, ele continuaria a se martirizar por seu erro; afinal, ela conhecia o rapaz e conhecia aquele sentimento muito bem. Ela odiava aquela sensação de fracasso e impotência, e odiaria ainda mais que Peter passasse o restante da noite imersa nela.
— Ei, Pete, eu tive uma ideia — ela empertigou-se no sofá. — Se não estiver muito cansado, a gente pode ir pedir doces!
A garota tinha noção de que se distrair era a única maneira de impedir a mente de ficar revivendo o momento em que tudo dera errado. Então, por que não pedir doces? Ela estava nostálgica e lembrava-se do dia em que o amigo a convidara para fazer aquilo, mesmo que de brincadeira.
Claro que os seus planos muito provavelmente dariam errado. As melhores guloseimas eram reservadas às crianças, até porque não era comum ver adolescentes pedindo gostosuras de casa em casa. Talvez até mesmo batessem a porta na cara deles. Ainda assim, seria divertido e talvez a distração perfeita.
Verdade fosse dita, Savannah não ligava se iriam ou não sair no Halloween. Ela só queria fazer Peter se sentir melhor, e estava disposta a passar o resto da noite no telefone se necessário.
Quando ele respondeu alguns segundos depois, estava totalmente sério.
— Vamos nessa. — Então, sua voz suavizou, e a Major quase conseguia ouvir o sorriso dele ao prosseguir: — Só não esqueça a fantasia!
Rapidamente, os dois combinaram de se encontrar em meia hora em uma cafeteria, esta que ficava perto das casas de ambos. Depois, Savannah encerrou a ligação, desligou a TV e disparou escada acima para o seu quarto, mas não antes de jogar mais alguns amendoins na boca.
A menina arrumou-se em tempo recorde; caçou algumas coisas no fundo de suas gavetas, arranjando para si uma fantasia não muito sofisticada, mas, ainda assim, boa. Ela optou por não fazer uma maquiagem muito elaborada daquela vez devido ao tempo escasso, passando somente rímel e pintando os lábios com um batom vermelho, cujo tom combinava com as roupas que vestia. Ela prendeu os cabelos em uma trança improvisada para em seguida apressar-se para fora de casa.
Após alguns minutos de caminhada sob a luz da lua, ela enfim chegou à cafeteria. Ainda estava aberta, embora não houvesse muitas pessoas lá, e um cheiro delicioso de café escapava até a rua. A fachada do lugar estava tipicamente enfeitada para a ocasião: a porta de entrada estava repleta de falsas teias de aranhas, as mesas do lado de fora tinham pequenas abóboras decorativas.
E, bem em frente ao local, estava Peter. Ela viu o seu rosto de relance antes que ele se dirigisse para a entrada, provavelmente indo esperá-la dentro da cafeteria. Sem perder tempo, Evans correu até ele — a mão estava erguida para lhe dar um tapinha na parte de trás da cabeça. Entretanto, assim que ela estava próxima o bastante, o rapaz se virou e segurou a sua mão. Não havia força nem brutalidade alguma no gesto, mas, ainda assim, a jovem ofegou com um pouco de surpresa.
— Parece que você tem mesmo um arrepio do Peter — ela observou.
— Ou talvez eu só tenha te visto pela vitrine — Parker sugeriu com um sorriso.
Savannah soltou um ruído insatisfeito, preferindo a sua explicação. Peter balançou a cabeça com uma risada, e, então, o amigo puxou-a pela mão para um abraço rápido. Quando os dois se separaram, Evans afastou-se ligeiramente para poder observá-lo melhor: ele usava uma camisa branca e, por cima desta, um colete escuro. Além disso, havia uma pistola falsa enfiada em um coldre nos quadris dele.
Droga, como ele estava bonito!
Savannah encontrou-se sem palavras por um instante, o coração suspeitosamente acelerado. Uma pequena parte sua gritava, pois sabia que deveria falar alguma coisa, mas ela não conseguia pensar em nada. Foi preciso grande esforço para manter a expressão o mais neutra possível — tanto esforço que, concentrada como estava, a garota não notou o olhar semelhante que o amigo lhe lançava.
Foram precisos alguns segundos para que ela fosse capaz de pensar direito novamente, ainda que o coração continuasse a palpitar. Pare!, sibilou para si mesma, até porque não havia motivo para aquilo.
— Então... Star Wars, huh? — foi tudo que ela conseguiu dizer inicialmente. Mas logo ela limpou a garganta e abriu um sorriso. — Adorei a fantasia. Você é quem, o Han?
Peter piscou algumas vezes antes de sorrir também.
— Sim — a voz soou normal quando ele confirmou. — E você... o Harry Potter.
Não era uma pergunta. Afinal, a fantasia que Savannah aprontara para si não deixava muito espaço para dúvidas: por cima de uma camisa social branca e uma calça escura, ela vestia uma túnica preta de detalhes vermelhos, o emblema da Grifinória decorando o peito. Uma gravata vermelha, surrupiada do guarda-roupa de Kyle, pendia do pescoço, tão folgada que chegava até o seu umbigo. O rosto era decorado por seus óculos, bem como pela tentativa questionável de um desenho de raio na testa.
Tanto o seu casaco temático quanto a varinha que tinha em mãos haviam sido dados a ela por tio Rhodey em um aniversário nem tão distante assim. O resto havia sido puro improviso, mas ela tinha de admitir que havia gostado do resultado.
— Você está ótima — ele elogiou com um sorriso tímido, e, então, franziu o cenho. — Mas eu pensei que você não gostasse de Harry Potter.
— Eu não gosto da J. K. Rowling — esclareceu. — Para mim, Harry Potter não tem autora.
— Não posso discordar de você — o rapaz disse, aí pigarreou. — Vamos indo, senhorita Potter?
— Claro, Han.
Ela encurtou a distância entre os dois a fim de enganchar o braço no dele. Em seguida, começou a arrastá-lo para longe do café na direção da área residencial mais próxima. Logo, os dois estavam andando pelas ruas lotadas de crianças fantasiadas, alguns pais entediados e outros até mais animados que os filhos. Algumas poucas pessoas encaravam a dupla quando ela passava, e tudo que os dois fizeram foi rir. Ainda que recebessem alguns olhares tortos quando tocavam campainhas e pediam doces, Savannah só conseguia achar graça de tudo aquilo. Ela e Peter riam tanto da situação toda que suas bochechas estavam até doendo.
— Ugh, nossa sacola não está nem na metade! — o garoto reclamou em dado momento. Eles já estavam andando fazia um bom tempo: iam de porta em porta pedir doces, poucos dos quais lhes eram dados. Afinal, a maior parte das guloseimas já havia sido dada para as crianças. — O Halloween é bem menos complicado quando se é pequeno. — Ele lançou um olhar de esguelha para a heroína, e então colocou a mão um pouco acima da cabeça dela, como se estivesse medindo o seu tamanho. — Mentira. Se fosse assim, seria fácil para você também e nós estaríamos cheios de doces.
Savannah emitiu um ruído indignado diante da piada com a sua altura.
— Você é insuportável, sabia?
Ela deu um tapinha na mão que Peter mantinha acima dela, e ele somente riu. Em seguida, a jovem arriscou uma olhadela para a sacola que ele carregava, constatando que, de fato, estava consideravelmente vazia. Ela acabou grunhindo uma concordância descontente.
— Ok, não vamos desanimar! O meu arrepio da Savannah tá otimista — o amigo riu ao ouvir a provocação. — Ele me diz que a pessoa que atender a porta da próxima casa vai nos dar vários doces!
Peter mirou-a de sobrancelhas arqueadas.
— Duvido muito.
— O quê, quer apostar? — desafiou. Evans deveria saber melhor do que pular em uma aposta precipitada que provavelmente perderia, mas o seu humor estava tão bom que ela não se importava nem um pouquinho com aquilo. A sua competitividade estava sendo sufocada pelo desejo de alfinetar Parker. — Pois eu aposto uma fatia de qualquer bolo da cafeteria que estou certa.
Peter estreitou os olhos, mas não tardou a estender a mão para ela. Savannah apertou a mão dele, assim selando o acordo.
— Qual sabor de bolo será que eu escolho? Hm... — foi a vez dele de atiçá-la.
A jovem nada disse, apesar de sorrir enquanto encaminhavam-se para a próxima casa. Esta que, por sua vez, estava desprovida de toda e qualquer decoração comemorativa, além de ter todas as luzes apagadas. Claro, talvez aquilo não significasse nada — porém, Peter soltou uma risada longa ao seu lado.
— Suas habilidades de Adivinhação são péssimas!
— Palavras ousadas para um trouxa — ela balançou a varinha na direção dele, apesar de saber que o adolescente era possivelmente o maior lufano que conhecia. O gesto só o fez rir ainda mais.
O espírito competitivo de Savannah pareceu afundar, desanimado. Puxa, tudo bem, ela não se incomodava em perder a aposta naquele dia... mas esperava que pelo menos fossem ganhar doces na próxima casa que fossem! A menina suspirou, já preparando-se para a derrota.
A sacada da construção rangeu quando pisaram nela; o assoalho rangeu ainda mais ao eles se dirigirem para a entrada. Sem cerimônias, a garota tocou a campainha da casa, e a dupla ficou um tempo parada na soleira da porta, apenas aguardando que alguém fosse atendê-los. Mas, mesmo depois de cinco minutos de espera, nada aconteceu.
Savannah tentou tocar a campainha de novo. Mais alguns minutos se passaram sem resposta, e a menina estava prestes a dizer ao amigo que deveriam tentar outra casa quando a porta subitamente se abriu. Uma senhora surgiu do outro lado, encarando-os com uma carranca.
A Major pigarreou e abriu um sorriso.
— Doces ou...
A idosa fechou a porta.
Peter explodiu em gargalhadas, ao passo que Savannah permaneceu mirando a entrada, meio chocada com a falta de educação. Mas a surpresa foi substituída por indignação e irritação, e ela gritou para a madeira:
— Bem, boa noite para você também, sua velh...
Peter agarrou-a pelos ombros e a puxou para longe antes que ela pudesse terminar a frase, como se temesse que o próximo passo seria invadir a casa e tirar satisfação. Ele ainda ria, porém, quando eles alcançaram a rua, especialmente porque a menina ao seu lado não parava de xingar.
— Dá para acreditar naquilo?! — ela grunhiu.
Aos bufos, a heroína arrumou os fios de cabelo que escaparam-lhe da trança quando Parker a tirou da sacada da idosa mal-humorada. Deu as costas, então, para a casa antes que seu o gênio a fizesse atirar alguma coisa na janela mais próxima.
— Acho que o seu arrepio de Savannah tá quebrado — foi o que o seu amigo respondeu. — Você é, tipo, a pior bruxa que eu conheço!
Evans voltou-se para encará-lo. A fim de deixar de lado o que havia acabado de acontecer, ela abriu a boca e colocou a mão no peito na tentativa de fingir ultraje.
— E você conhece muitas bruxas, por acaso?
— Sim, e algumas feiticeiras também. — Ele piscou.
Savannah, balançando a cabeça, somente riu.
✶
Peter tomou um generoso gole de seu café, o amargor da bebida acentuado pelo gosto adocicado do bolo de chocolate que comia. Em frente a ele, encolhida contra a poltrona de couro, Savannah devorava uma fatia de um bolo de nozes, acompanhada por uma xícara de chocolate quente com canela.
Eles estavam na cafeteria em que haviam se encontrado previamente, atacando pedaços de bolos para compensar a falta de doces adquiridos naquela noite. As poucas guloseimas que ganharam estavam espalhadas sobre a mesa, mas eles quase não haviam tocado nelas.
Verdade fosse dita, não importava o quão errado os seus planos de irem de porta em porta pedir doces havia dado, ele havia se divertido muito. Se antes sentia-se mal por quase ter colocado em risco a operação com a Major mais cedo por desatenção, agora ele mal pensava naquilo... De fato, Savannah conseguira distraí-lo, bem como havia pretendido.
A sua xícara de café tilintou quando ele a pousou de volta na mesa, um pouco antes de levantar seus olhos para a amiga. Entretida com a sua comida, ela não pareceu reparar no olhar que recebia de Peter — assim, o menino permitiu-se observar Savannah por um momento, a mente parecendo vazia e cheia ao mesmo tempo.
Talvez ele não quisesse admitir, especialmente para si mesmo, porém, lembrava-se de ter passado boa parte do dia com a garota na cabeça. De início, porque queria se bater por ter ficado tão esquisito depois de tê-la abraçado na escola; afinal, ele não pôde evitar se sentir levemente surpreso consigo ao erguê-la do chão, o que devia ter sido estranho para ela também. Depois, não conseguiu deixar de pensar nela enquanto dançava com a Major... Uma parte de Peter queria que tivesse sido Savannah ali com ele.
Ele tinha certo receio do que tudo aquilo podia significar.
Tinha ainda mais receio do que havia sentido ao enfim vê-la, bonita como estava, mais cedo naquela noite, do lado de fora daquele mesmo estabelecimento. O estômago dele parecera revirar, mas não de uma forma exatamente ruim. Quer dizer, a sensação em si não era ruim, mas o motivo dela? Talvez fosse péssimo.
Peter não era burro. Bem no fundo, ele sabia o que aquilo queria dizer. Mas se recusava a reconhecer o sentimento, não quando aquilo poderia arruinar a amizade que ele tanto prezava.
Não, o rapaz apenas iria ignorar aquilo tanto quanto possível. É, é um bom plano.
Savannah enfim pareceu reparar no olhar que lhe era lançado, e Parker não foi rápido o bastante para fingir observar outra coisa. Como se perguntasse "O que foi?", ela ergueu o queixo para o herói. Este, que torcia para sua expressão não estar denunciando nenhum de seus pensamentos, respondeu a primeira coisa que veio à sua mente:
— Deixa eu experimentar os seus óculos?
Ele quis se bater pela desculpa esfarrapada. Savy ergueu as sobrancelhas, mas não contestou o pedido — ela já devia estar acostumada com as pessoas querendo aquilo. Então, enquanto terminava de mastigar, ela entregou a armação a ele.
Peter encaixou o acessório no rosto, os olhos doendo com o grau repentino. Fazia muito tempo desde que ele não precisava usar óculos. Ele piscou em uma tentativa inútil de acostumar-se àquilo.
— Como eu tô?
— Sabe, se eu enxergasse, poderia responder essa pergunta — a amiga replicou. Então, com uma risada, prosseguiu: — Tá lindo. Você fica ótimo com esse visual.
Peter sentiu um frio repentino na barriga com o elogio. Rapidamente, ele tirou a armação do rosto e a devolveu, os olhos ardendo.
— Acho que fica melhor em você — replicou. Antes que a menina pudesse responder, ele pigarreou. — Então, é bom?
Savannah pareceu levar um momento para perceber que ele se referia ao bolo de nozes que ela comia.
— Veja por si mesmo — foi o que disse.
Ela empurrou o próprio prato alguns centímetros na direção dele, ocupando-se em bebericar seu chocolate quente. Ela chiou quando o vapor embaçou a lente dos seus óculos, o que fez Peter rir enquanto beliscava um pedaço da comida com o garfo. Entretanto, assim que ele colocou a massa na boca, uma careta tomou conta de seu rosto. Ele emitiu um ruído de descontentamento.
— Ok, primeiro você gosta de azeitonas, e agora disso também? — ele estalou a língua. — Tô começando a achar que tem alguma coisa de errado com você.
— Ei! — Ela protestou, ultrajada. — Você que é esquisitão, isso sim!
O sorriso do Homem-Aranha foi encoberto pela xícara de café, da qual ele tomou uma longa golada para se livrar do gosto de nozes da boca. Savannah revirou os olhos, chamando-o de dramático, mas estava rindo dele.
Parker somente mirou-a. Mirou seus cabelos, agora soltos e mais ondulados por conta da trança. Mirou o jeito como os seus olhos pareciam brilhar, mirou o seu sorriso, suas covinhas, os lábios vermelhos. Tudo nela parecia fazer a mente de Peter parar de funcionar, desde a maneira como ela ria à forma como ela parecia à vontade ali. Peter desejava poder capturar aquele momento, apenas para poder apreciá-lo de novo e de novo.
Uma vez, o rapaz contara a Evans que costumava tirar fotos, do tipo que alguém via e se impressionava. Mas ele havia parado; os seus deveres como Homem-Aranha não lhe permitiam carregar uma câmera por aí para fotografar os cenários de Nova York. A menina, por sua vez, não sabendo da sua identidade secreta, respondera que ele deveria voltar. Que, se visse algo que lhe chamasse a atenção, algo bonito, algo que valesse a pena fotografar, era exatamente aquilo que deveria fazer.
E ali, mais do que nunca, o herói desejou ter sua câmera consigo. Pois aquele momento com Savannah era, sem a menor sombra de dúvidas, algo que se valia a pena fotografar e guardar.
✶
[12/06/2020]
essa foi a cara do peter provando o bolo de nozes e nada tira isso da minha cabeça
oi, gente, tudo bem com vocês?
sei que faz um tempinho que eu não posto, mas acabei ficando meio atolada com o ead, além de ter ficado com um pouco de bloqueio, mas acho que ele enfim acabou. e eu postei esse cap lindíssimo no dia dos namorados, quem amou?
desejo um feliz dia dos namorados para todos, inclusive para a savannah e o peter, mesmo que eles ainda não saibam que são namoradinhos. ned e lia apenas observam aiai.
gente, agora é sério. os casos de violência policial que estão acontecendo nos eua são simplesmente nojentos e inadmissíveis. vou disponibilizar links aqui e no meu perfil com uma série de petições que precisam ser assinadas. por favor, assinem. é muito, muito importante. não dá mais para ignorar tudo isso que tá acontecendo, toda essa brutalidade e preconceito são INACEITÁVEIS.
https://vidasnegrasimportam.carrd.co/
https://mobile.twitter.com/f00nseca/status/1268879864360206336
por favor, assinem.
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