24. the popcorn battle
AQUELA TARDE DE QUINTA-FEIRA estava surpreendentemente quente para os padrões do outono de Nova York. O vento quase não soprava, o sol brilhava no céu e Savannah apreciava o calor incomum conforme deixava a Midtown mais cedo do que de costume: devido ao seu atestado médico, ela não participaria do treino de torcida. Era o segundo ensaio que perdia naquela semana — e sabe-se lá quantos já havia perdido no mês — e sua capitã não estava nem um pouco feliz, mas não havia nada que podia ser feito. Até a menina tirar seus pontos no dia seguinte, estava proibida de forçar a perna.
O que significava que, além de não ter ido trabalhar, ela também não estava saindo em patrulha. Não só porque havia prometido a Amelia que não o faria enquanto estivesse ferida, mas também porque sabia que provavelmente se machucaria ainda mais e atrasaria a sua recuperação. Dessa maneira, Savy tinha boa parte daquela tarde livre antes que Peter fosse à sua casa para terem mais sessões de estudos.
Fora o sábado, eles haviam se encontrado mais duas vezes naquela semana. A agenda semanal de Savannah — a qual normalmente consistia em treinar às terças e quintas, trabalhar às segundas e quintas e ter as tardes de quarta e sexta livres — havia mudado drasticamente por conta do ferimento; assim, ela tivera tempo de sobra para estudar com o amigo na segunda e na quarta. E quando não se dedicava à Química, lia mais e mais relatórios surripiados da polícia. Aqueles últimos dias foram incrivelmente produtivos, mesmo que ela sentisse falta de sair em vigílias.
A garota mal havia dado dez passos para fora da escola quando alguém tocou o seu ombro. Imersa em pensamentos, com música tocando alta nos fones de ouvido e com sua atenção no mundo afora totalmente dispersa, ela tomou um susto. Sem nem pensar no que fazia, agarrou a mão da pessoa e torceu e girou.
Agora, não só pressionava o braço do desconhecido nas as costas dele como também havia o empurrado contra o muro do colégio. Resmungos de dor alcançaram seus ouvidos mesmo por cima da música, e então a heroína percebeu o que fazia. Ela largou Peter.
— Socorro, desculpa! — exclamou, meio sem graça. — Você me assustou.
Savannah deu vários passos para trás enquanto o amigo virava-se para ela, massageando a escápula. Ela mordeu os lábios em um claro sinal de culpa. Depois de arrancar os fones de ouvido, pôde escutar os murmúrios dos estudantes que haviam parado para observar a cena. Ignorou todos, focando-se no amigo.
— Tinha me esquecido totalmente de que você é propensa a dar um golpe em quem a pega desprevenida — foi o que Peter respondeu. Um leve sorriso se abriu em seus lábios.
Evans soltou uma risada nervosa.
— Você tá bem?
— Considerando que meu braço ainda tá preso ao corpo, sim.
Ele continuou a sorrir, e ela não resistiu e o acompanhou. Então, os dois afastaram-se do muro da Midtown e dos olhares curiosos e passaram caminhar lado a lado. Era bom andar, Savy pensou, sem a perna dar fisgadas de dor. Aquela era uma vitória, de fato. Seria ainda melhor quando tirasse os pontos no dia seguinte.
— O que você faz aqui? Pensei que tivesse uma reunião do decatlo — ela observou.
— O sr. Harrington nos dispensou. Algo a ver com a esposa dele, acho — o rapaz deu de ombros. Ele chutou uma pedrinha no meio do caminho, aí voltou-se para a menina. — Achei que pudéssemos começar a estudar mais cedo. Se você não quiser...
— Não, por mim tudo bem — Savannah interrompeu. — Quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminamos. Ugh, Química.
Parker emitiu um ruído descontente.
— Química é tão legal! Não sei por que todos odeiam.
— Justamente porque é Química — Savy respondeu com uma risada. — Vem, vamos.
Ela agarrou a mão dele e o puxou até o ponto de ônibus.
✶
Savannah afastou os cadernos diante de si e, com um suspiro, recostou-se no sofá. Ela e Peter estavam sentados na sala de sua casa, bem ao redor da mesa de centro, e estavam estudando fazia um tempo agora. A cabeça da menina latejava somente de olhar para os nomes dos compostos; não aguentava mais ver nada relacionado a equilíbrio químico, reações orgânicas e inorgânicas e mais uma penca de matérias que cairiam na sua prova. Não era particularmente difícil, somente cansativo. Ela tinha certeza de que teria mais facilidade se não tivesse dormido nem faltado em praticamente todas as aulas de Química dos últimos dois meses.
— Se eu vir mais uma equação — começou —, vou explodir.
Peter riu, mas também parecia cansado. Ele afastou o próprio material e se debruçou em cima da mesa.
— Se serve de consolo, você está se saindo muito bem — Savannah, que não concordava nem um pouco com aquela afirmação, soltou um bufo debochado. Parker ergueu a cabeça e a olhou como se estivesse ultrajado. — Ei, eu estou falando sério! Você pegou o jeito. Vai arrasar na prova sexta que vem!
— Vou ser arrasada — corrigiu. — Tenho a vaga impressão de que, quando minha perna melhorar, toda a correria vai recomeçar e aí... — ela fez um barulho com a boca que provavelmente significava "falharei".
A vaga impressão era, na verdade, uma certeza absoluta. Ela sabia que no momento em que retirasse os pontos, iria sair em patrulha e se ocupar com os deveres de vigilante, os quais abandonar estava fora de questão. Afinal, como poderia deixar de lado algo que envolvia a segurança dos cidadãos da cidade? Além disso, tinha suas responsabilidades com o trabalho e o time; embora, por causa do atestado, não tivesse que repor nenhum dia de trabalho na academia, Maddie decerto a faria participar de treinos extras, especialmente com o torneio de torcida vindo aí. Em meio a tudo aquilo, como arranjaria tempo para Química?
O rapaz ao seu lado meneou a cabeça. Savannah sabia que Peter entendia o seu dilema: ele tinha o estágio da Stark e o time de decatlo com os quais se preocupar.
— Às vezes penso em sair do time de torcida — ela admitiu. — Eu gosto de ser uma torcedora e gosto dos meus amigos da equipe, mas... não sei, não sinto que estou mais no clima para aquilo, sabe? E acho que toma um tempo desnecessário, um tempo que eu poderia usar para me dedicar a outras coisas.
— Então... Por que não sai?
— Porque odeio desistir. — Respondeu, simplesmente. — E porque, como eu disse, gosto de ser uma líder de torcida. — Ela soprou uma mecha de cabelo que caía sobre o olho. — Eu sei, parece idiota. É por isso que eu geralmente deixo esses pensamentos de lado. Sou uma grande teimosa, para ser sincera.
— Você é bem cabeça dura mesmo. — Ele concordou. Savannah esticou-se para pegar a borracha em cima da mesa e a jogou nele de maneira fraca. O arrepio do Peter não funcionou, e o objeto atingiu-o no peito. — Ai! Não tô mentindo, tô?
A garota mostrou-lhe a língua, apenas para brincar, pois sabia que o rapaz falava a verdade. Então, antes que ele pudesse proferir qualquer outra coisa, ela mudou de assunto:
— Você quer comer alguma coisa?
Evans não sabia se o amigo tinha percebido a sua tentativa de fugir daquele tópico, mas ele assentiu com um sorriso. Os dois levantaram-se do chão da sala para seguirem até a cozinha, onde Savannah pegou uma pipoca amanteigada de micro-ondas para fazer. Depois, com uma sinfonia de milhos estourando ecoando pelo espaço, a jovem deu um impulso e subiu em cima do balcão de granito. Parker, por sua vez, recostou-se ao seu lado de braços cruzados.
— O Halloween é daqui a duas semanas — ele comentou. — Tem algum plano?
— Além de roubar doces de crianças? — Savy brincou. — Tenho quase certeza de que vou para a festa da Gwen com a Lia e o Ned. Você vem também, não vem?
— Tenho que trabalhar no dia, então acho que não. Mas tenho uma fantasia de emergência caso precise.
— Mesmo? Qual?
Peter abriu um sorriso ao encará-la.
— Terá que esperar para ver, senhorita Evans.
Contudo, a vigilante estreitou os olhos para ele.
— É de Star Wars, não é?
O silêncio do amigo foi o suficiente para confirmar suas suspeitas. Savannah gargalhou.
— Ok, isso não é justo! — ele reclamou, fingindo estar emburrado. — Certo, e qual é a sua fantasia?
A menina somente deu um sorriso de canto e rebateu com uma piscadela:
— Terá que esperar para ver, senhor Parker. — Peter estalou a língua e esbarrou em suas pernas com a lateral do corpo. Como resposta, Savannah bateu de leve o joelho no braço dele, e depois deu um suspiro dramático, brincando: — Não acredito que vou ficar de vela na festa. Triste.
— Se você quiser, a gente pode ir pedir doces. Ou roubar de crianças, se preferir assim.
Evans inclinou a cabeça, como se ponderasse o convite. Naquele instante, o micro-ondas apitou, sinalizando que a pipoca estava pronta, e então Savannah saltou do balcão. Ela pediu para o companheiro pegar o refrigerante na geladeira enquanto se ocupava com a comida. Ela despejava a pipoca em uma tigela quando Peter soltou uma exclamação atrás dela.
— Sem chance! — ele falou. — Esse aqui é o Máquina de Combate?
A Major virou-se para o amigo e viu que ele observava de perto uma das fotos presas no refrigerador. A garota aproximou-se com um sorriso terno formando-se nos lábios, tirou a fotografia do ímã que a sustentava e a trouxe para perto. Ela ainda lembrava-se bem do dia em que a foto em que estava com sua mãe e James Rhodes foi tirada, quatro anos atrás.
— Eu só o chamo de tio Rhodey — confidenciou. — Ele é o meu padrinho.
Peter engasgou com o ar e se virou para ela de olhos arregalados. Savannah riu da reação dele, e então explicou que o herói e sua mãe conheciam-se havia muitos anos, já que serviram juntos na mesma unidade. Eles haviam se tornado amigos rapidamente e, quando a menina foi adotada, o coronel foi chamado para ser seu padrinho. Ela e sua família sempre haviam sido discretos em relação àquilo, considerando que Rhodes temia algumas pessoas irem atrás de seus entes queridos para afetá-lo, além de querer manter a privacidade dos Evans. Além disso, aquilo poupava Savannah de perguntas como "Você conhece os Vingadores?" e "Posso conhecê-los também?" — quando, para a sua infelicidade, a menina nunca tivera a chance de fazer aquilo ela mesma. O Máquina de Combate mantinha sua vida heroica bem separada de sua vida particular, embora já tivesse prometido apresentar a afilhada para Natasha Romanoff inúmeras vezes. Ela ainda esperava ansiosamente por aquele dia.
Evans, que agora tentava não pensar no acidente que tio Rhodey tinha sofrido no ano anterior, devolveu a foto para a porta da geladeira, depois seguiu para a sala com o lanche da tarde em mãos. Quando ela e Parker jogaram-se no sofá, o menino brincou:
— Uau, você é, tipo, uma celebridade por tabela. Se soubesse disso, teria me tornado seu amigo antes.
— Ei!
Savannah agarrou um punhado de pipoca e jogou em Peter. O menino abriu uma expressão exageradamente ultrajada quando a comida atingiu seu rosto; o sorriso vitorioso que a adolescente tinha aberto não durou muito, visto que o rapaz também tacou pipoca nela. Com um ruído indignado, ela retaliou — logo, os dois estavam jogando pequenas quantidades de comida um no outro, aos risos, e a batalha somente foi encerrada quando decidiram que preferiam comer o lanche ao invés de jogá-lo por aí.
Peter, que ainda ria um pouco, disse:
— Espera, tem pipoca presa no seu cabelo...
Com uma careta, a heroína apalpou os fios em busca da comida perdida. O amigo, então, inclinou-se na sua direção — a risada dela foi parando gradativamente à medida que o menino mexia em seus cachos para tirar as migalhas de lá. A boca dela secou.
Naquele mesmo instante, a porta de entrada foi aberta. Os dois adolescentes afastaram-se antes de se virarem para ver Kyle entrar na casa. Savy tentou não revirar os olhos para si mesma; ela estivera tão absorta em sua brincadeira com Peter que nem ao menos ouvira o barulho das chaves do irmão. Não ouvir as pessoas chegando estava se tornando um hábito.
O detetive, aparentemente, não esperava ver ninguém na sala quando chegasse. Ele, com os ombros caídos, largou a sua mala de viagem com um baque no chão. Ao girar e dar de cara com duas pessoas no sofá, suas feições cansadas foram substituídas por sobrancelhas arqueadas em espanto, e em seguida por um sorriso.
Savannah, de imediato, correu do sofá até o irmão. Assim, ela o abraçou com força, e ele devolveu na mesma intensidade. Depois de quase uma semana inteira sem se verem, sentiam a falta um do outro.
— Kyle! — ela, surpresa, afastou-se depois de um momento para olhá-lo. — Não sabia que você estava voltando para casa!
— Ah, bem, meu celular morreu e eu perdi o carregador. — Ele logo tratou de bagunçar seus cabelos, e Savannah chiou. Em seguida, ele olhou com curiosidade para o sofá. — Quem é o seu amigo?
— Ah. — Ela piscou. Olhou para trás, vendo que Parker já se levantava para cumprimentar o homem. Este, por sua vez, analisava-o com um olhar crítico. — Kyle, esse é o Peter. Peter, esse é o Kyle.
— Da polícia. — O Evans mais velho completou, a voz grave.
Conhecendo o homem do jeito que conhecia, aquilo não surpreendeu Savannah nem um pouco. Ainda assim, a garota revirou os olhos e lhe deu uma cotovelada não muito discreta — honestamente, não estava nem um pouco a fim de aguentar as baboseiras superprotetoras do irmão. Ela, então, lançou uma olhadela para Peter, como se pedisse desculpas pelo comportamento do outro. O rapaz, para seu crédito, não vacilou e estendeu a mão para o detetive, que a apertou.
— É um prazer conhecê-lo. Ouvi muito sobre você.
— Só coisas boas, eu espero — daquela vez, Kyle pareceu recobrar o juízo e abriu um sorriso. Ótimo, pensou a adolescente. — Bom conhecer você também, Peter.
O garoto sorriu também, mas então disse que precisava ir para casa. Embora tivesse a leve impressão de que o amigo queria escapar de Kyle e de seu olhar examinador, Savannah não falou nada conforme Parker recolhia seu material.
— Obrigada — a menina disse ao acompanhá-lo até a porta. — Até amanhã, Pete.
Peter sorriu e, após dar um breve abraço nela e um aceno para o detetive logo atrás, foi embora.
— Até amanhã, Pete — Kyle repetiu com uma voz fina assim que a garota fechou a porta.
Savannah sentiu o rosto esquentar.
— Cala a boca — ela resmungou. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa absurda sobre sua relação com o amigo, ela questionou: — E aí? Como foi em Portland?
Kyle suspirou, indo até o sofá em seguida. Ele arqueou as sobrancelhas quando viu pipocas espalhadas pelas almofadas, e Savy lhe ofereceu um sorriso inocente. Sem comentarem nada sobre aquilo, os dois caíram no estofado.
— Não muito bem. O Abutre não queria conversar com ninguém da polícia, falou que já tinha dito tudo que podia da primeira vez em que o interrogamos, no ano passado. Então, o Theo se infiltrou na prisão enquanto eu tentava encontrar alguns contatos. — Ele suspirou. — Foi intenso. E aqui?
A luta com a Gata Negra, o ferimento adquirido e a ida ao hospital piscaram diante de seus olhos. Savannah logo mentiu:
— Nada de especial. Fiquei estudando com o Peter a semana inteira, praticamente.
A expressão de Kyle tornou-se maliciosa.
— Hm... Peter. Interessante.
— Ah, nem começa! — a menina revirou os olhos. O irmão comprimiu os lábios, como quem segurava um comentário espertinho. — E, "da polícia"? Sério mesmo, Ky? Que diabos foi isso?
O detetive alcançou o balde de pipoca na mesa de centro e o observou, tal qual a coisa mais interessante do mundo.
— Pode me culpar por querer te proteger? Da última vez em que você saiu de verdade com alguém, acabou com coração mais do que partido.
Savannah soltou um grunhido descontente, pegou um punhado de pipoca e aí disse:
— Primeiro, eu e o Peter não estamos saindo. Ele é só meu amigo. Segundo, você não pode me proteger das pessoas com quem vou sair eventualmente. Nem todos são a Felicia.
Ela e o irmão encararam-se. Com base na expressão do mais velho, era claro que ele recordava-se naquele instante das noites em que a irmã passara trancada no quarto, chateada e enfurecida com as circunstâncias do término.
Por fim, ele disse:
— É, mas a Felicia não era a Felicia até se tornar a Felicia. — Até mesmo ele fez uma careta diante das palavras, e tratou de explicar: — O que quero dizer é que você também não imaginava que ela fosse te magoar... Antes, a Felicia era uma garota normal. Agora, depois do término, ela virou padrão para se referir a pessoas que quebram coração das outras. Felicia.
Savy soltou uma risada fraca ao mesmo tempo em que balançava a cabeça lentamente.
— Ky, agradeço a preocupação, mas não estou com o Peter. E, mesmo se estivesse, não iria querer que você tentasse botar medo nele. — Falou.
— É, bem, tudo bem. Você provavelmente já faria isso sozinha mesmo.
Em resposta, a heroína deu um peteleco no irmão.
✶
[21/02/2020]
olá, gente, tudo bem com vocês?
savy e pete, eu amo vocês com todo o meu coração. that's it, that's the tweet.
sim, galera. o rhodey é o padrinho da savy e eu também amo isso demais- sem condições aiai
enfim rjehufheu espero que tenham gostado! até logo!
beijos!
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