21. a smelly situation

O ODOR PUNGENTE DE PEIXE fazia as narinas de Peter formigarem. Caminhando em telhados sob a luz do sol poente, o rapaz tentava afastar as ondas de náuseas que o cheiro proporcionava-lhe à medida que avançava pelas docas, mas aquilo estava se mostrando uma tarefa quase impossível. Realmente não entendia como as pessoas nas barracas abaixo aguentavam sequer ficar ali, quanto mais trabalhar por horas.

A sinfonia de buzinas de barcos que soou ao longe fez o estômago de Parker pesar com ansiedade e culpa. Aquele lugar, a atmosfera, os sons e os aromas presentes — tudo ali lembrava-o do infeliz incidente da balsa no ano anterior. Suas mãos suavam só de recordar o dia em que colocara em risco, mesmo que sem querer, a vida de tantas pessoas. Isso tudo porque estava investigando as mesmas armas das quais estava indo atrás agora... O herói sentiu a cabeça latejar; ele realmente acreditara que as adversidades vindas com a tecnologia do Abutre haviam acabado no momento em que o homem e seus comparsas foram presos.

Se ao menos fosse fácil assim. Os problemas estavam de volta, e tudo parecia maior e mais complicado daquela vez: havia uma grande teia de maquinações e esquemas escusos rodeando aquelas armas, algo que ia além delas propriamente ditas. Algo que envolvia gasolina adulterada, explosões sem fins aparentes, drogas e uma população com medo. De fato, muita coisa havia mudado.

O Homem-Aranha, perdido em pensamentos, sentiu a cabeça pulsar de novo, dessa vez por um outro motivo. O seu sentido aranha (ou arrepio do Peter, como May gostava de chamar) foi de pouca ajuda no momento, pois o garoto não foi rápido o bastante para evitar tropeçar na amurada do telhado no qual se encontrava. Seu corpo tombou para frente, na direção do vão entre o prédio atual e o próximo, e ele teria se espatifado se não fosse pela teia veloz que lançou na parede. Peter gemeu quando colidiu contra o concreto.

Estava na hora de prestar atenção no que fazia, percebeu. Então, balançou a cabeça, tentou desligar-se de todas aquelas lembranças e sensações e escalou até o telhado da construção. Assim, ignorando os sentimentos que borbulhavam sob a sua pele, ele voltou a seguir a pista que tanto havia demorado para encontrar.

Depois da luta em Staten Island na quinta-feira anterior, Peter quase não descansara nos dias que se seguiram. Por um breve período, ele esteve completamente perdido, sem ideia do que fazer para continuar a investigação; Montgomery, Englert e a Gata Negra haviam escapado e o vigilante não fora atrás deles, já que, além de ter optado por ajudar a Major a voltar para o Queens, o carro de fuga poderia ter tomado qualquer direção, assim tornando ínfimas as chances de achá-lo. Daquela maneira, arrancar qualquer informação deles estava fora de cogitação.

Karen, para a alegria de Parker, havia sido capaz de identificar, por meio do banco de dados da polícia, a maior parte dos criminosos na indústria. Com aquilo, o vigilante tinha conseguido obter nomes, precedentes e antigos endereços — e então passara o restante da semana indo nas residências dos mais novos presidiários a fim de achar alguma pista.

A primeira casa para a qual ele fizera uma visita foi a de Tina Englert, a mulher ruiva que atirara no dono do posto. O apartamento dela não era nada além de um espaço pequeno e empoeirado, fato que havia decepcionado o Aranha. Afinal, Tina parecia ser alguém importante naquela operação, era de se esperar que houvesse algo em sua casa. Depois de uma busca meticulosa que resultara em nada, eventualmente teve de seguir em frente. Também não havia encontrado nada de relevante nas residências dos outros bandidos.

Foi somente naquela sexta-feira, após o término das aulas, que havia achado algo importante. Como não se conformava em não ter informação alguma no apartamento de Englert, o Homem-Aranha tinha resolvido voltar para o local e dar mais uma vasculhada.

A sorte estava ao seu favor aquele dia. Depois de mais uma inspeção ainda mais minuciosa, quando estava prestes a desistir por não ter achado nada novamente, ele descobrira uma madeira solta no assoalho. Ao retirar a tábua que rangia sob o peso de seus pés, havia dado de cara com um comprovante de transferência de um contêiner para as docas do Brooklyn.

(Peter devia ter adivinhado. Em filmes e séries, as docas sempre eram lugares suspeitos. Não era de se surpreender que houvesse atividades criminosas em andamento na região.)

Então, ali ele estava.

O rapaz, terminando de seguir as direções dadas por Karen, enfim chegou ao parque de contêineres. Ele conseguia ver os contentores mais à frente, distantes do restante das docas e dos píeres. Parker mal havia saltado para o chão e já corria para as grandes caixas de alumínio para procurar pelo contêiner 25J7.

Achou-o em questão de minutos; logo, estava diante de um contêiner amarelo, a identificação escrita em letras brancas esmaecidas, frio emanando do alumínio. O cadeado que trancafiava a caixa foi arrancado com um estalido e descartado. Àquela altura, o coração de Peter martelava dentro do peito, excitação percorria suas veias — ele estava mesmo encontrando, possivelmente, as armas alienígenas? Mal conseguia acreditar!

O herói abriu a porta sem cerimônias. E montes de cubos de gelo, peixes em meio a eles, esparramaram-se diante de si, cobrindo-o até os tornozelos, gelando seus pés. O cheiro de pescado, tão mais intenso agora, quase o fez vomitar.

Pior que aquilo foi somente o sentimento de decepção, pesado e inconveniente, que invadiu Peter. Não era possível que tinha trabalhado a semana inteira naquela investigação para acabar no meio de peixe. Não, aquilo era inaceitável! Por que diabos Englert teria um documento que comprovava a transferência de frutos do mar? Não fazia sentido. Era apenas uma fachada, tinha de ser!

Com aquilo em mente, ele respirou fundo — o que foi, com certeza, um erro — enquanto reunia coragem para bisbilhotar o contêiner. Não foi fácil, mas ele se viu caminhando por entre gelo e pescado a fim de adentrar a caixa.

O fedor era ainda mais insuportável do lado de dentro.

Engolindo a náusea, olhou em volta: ele encontrava-se quase que em um completo breu, a luz do sol mal chegava na metade do contentor. Pelo menos seu uniforme tinha recursos para ajudá-lo, de modo que Parker viu que a extensão inteira do local estava coberta de peixe e gelo, cujos montes ficavam cada vez mais altos conforme ele avançava.

Karen não detectou nada além de frutos do mar — isso até que ele chegasse à extremidade do contêiner. Havia uma maleta ali. Peter, com o gelo já no início das panturrilhas, não teve opção senão abaixar, e nem mesmo o uniforme foi capaz de impedir o desconforto diante do frio.

Depois de liberar espaço para analisar a mala (ele quase gritou quando acabou pegando algo que não parecia ser um peixe, mas que ele esperava muito que fosse), o Homem-Aranha enfim a abriu.

Não havia nada no interior além de um estofado no qual estava cavado a forma de uma arma, como se para guardá-la. Nenhum sinal do instrumento, porém.

Tinha havido armas ali dentro de fato, mas isso anteriormente. Elas haviam sido removidas por algum motivo, e aquela maleta fora esquecida. Agora, o contêiner não possuía nada além de pescado refrigerado. Nada, nada nada. Peter havia chegado tarde demais.

Peter espremeu-se pela multidão, lutando contra os ávidos torcedores nas arquibancadas para passar. Foi mais fácil do que teria sido em outros dias — isso porque todos que sentiam o fedor de peixe impregnado no rapaz afastavam-se de imediato. Ele tentou ignorar os olhares esquisitos que lhe eram dirigidos conforme abria caminho por entre as pessoas. Não podia julgá-las, para ser sincero.

Por fim, chegou até onde Ned estava. Em pé como todos os outros estudantes da Midtown ao redor deles, ele gritava para o campo de futebol. Quando Parker aproximou-se do amigo, este abriu um sorriso, o qual logo foi substituído por uma careta.

— Que cheiro horrível é esse? — foi a primeira coisa que disse.

— Ah, cara, tá tão ruim assim? — o herói cheirou a si mesmo, o que o fez arrepender-se no momento seguinte. Ele desabou no banco da arquibancada. — Não tive tempo para tomar banho antes de vir para cá.

Logo após o fracasso nas docas, Peter havia percebido que estava atrasado para o jogo de futebol. Não que ele fosse de acompanhar o progresso que os Tigres, o time do seu colégio, faziam nos campeonatos. A questão era que Savannah e Lia eram líderes de torcidas e portanto se apresentavam no intervalo entre os dois tempos, e ele e Ned haviam prometido irem vê-las. Como era algo que o Homem-Aranha pretendia cumprir, ele tinha corrido de volta para o Queens, conseguindo apenas arrancar o uniforme no apartamento e borrifar desodorante praticamente no corpo inteiro antes de ir para a escola.

Apesar daquilo, o odor persistira. Parecia estar agarrado à sua essência. O Aranha torcia para não ficar cheirando a peixe pelo resto de sua vida, seria o fim da picada. (Haha. Como seu humor ficava acentuado com o desgosto.) Pelo menos ele conseguira chegar na escola a tempo de ver o final do primeiro tempo do jogo, antes da apresentação de suas amigas, e era aquilo que importava.

Mas ele realmente não via a hora de tomar um banho.

— Parece que uma baleia vomitou em você — disse uma voz atrás dos meninos.

Eles viraram-se apenas para depararem-se com Michelle Jones, encolhida no banco acima, um livro aberto no colo.

— Você veio ler... em um jogo? — Ned questionou.

— Não — a menina respondeu, e voltou para a sua leitura.

O vigilante e o amigo trocaram um olhar antes que Leeds desse de ombros e se sentasse ao seu lado. Parker, então, cochichou ao amigo o que havia ocorrido. Enquanto, o primeiro tempo do jogo chegava ao fim. Logo abaixo no campo, o time de torcida vibrava, com gritos, estrelas e piruetas. O jovem olhou para os torcedores bem no momento em que algumas das meninas da equipe viravam-se para a multidão, incitando-a a torcer mais e mais.

Ele enxergou Savannah como uma delas. Como os rapazes estavam sentados em uma das primeiras fileiras e não havia muitas pessoas na frente deles, foi fácil para a garota vê-los. Quando seu olhar encontrou o Peter, ela sorriu.

Alguns fios de cabelos dela haviam escapado do rabo de cavalo e agora estavam grudados em sua testa. Suas bochechas estavam ruborizadas devido aos pulos que vinha dando. Era uma visão adorável, ele constatou sem nem ao menos perceber. Ela, ofegante, acenou para ele com os pompons azuis e amarelos que tinha em mãos. Pete sorriu e acenou de volta.

Foi quando reparou na cicatriz.

O sorriso esmaeceu da face de imediato, substituído pela boca aberta em espanto. Savy não mais prestava atenção nele, ao passo que o menino não conseguia tirar os olhos dela; sua visão permanecia focada na marca esbranquiçada que começava no umbigo da jovem e subia, desaparecendo sob o cropped. Embora não parecesse recente, Peter sentiu um aperto súbito no peito. O que havia acontecido com Savannah para que ela tivesse se machucado daquela maneira?

Parker somente desgrudou os olhos da líder de torcida quando esta deu as costas para as arquibancadas, mas a sensação de choque ainda estava presente. Junto ao cansaço, fazia seu corpo ficar pesado como chumbo e sua mente, entorpecida e distante, tanto que, quando o intervalo do jogo finalmente chegou, ele só havia conseguido prestar atenção na primeira apresentação, a da Midtown.

Não foi capaz de tirar os olhos de Savannah um minuto sequer. Observou-a dar piruetas e saltos, abrir espacates e levantar a perna tão alto que parecia que havia chance de quebrar. Ele não parava de imaginar o que podia ter acontecido com ela, seus pensamentos eram uma bagunça de criminosos e cicatrizes.

Um tempo depois, o jogo encerrou-se. Peter, de tão aéreo que estava, não teria percebido aquilo se urros e comemorações não tivessem explodido ao seu redor. Pela animação das pessoas próximas a ele, só podia supor que os Tigres da Midtown haviam vencido.

O campo, de repente, começou a ser invadido por grande parte dos alunos presentes, os quais foram comemorar e parabenizar os jogadores e os torcedores pelo desempenho. Não foi uma surpresa para o Homem-Aranha Ned saltar do assento e o puxar com ele. Assim, os dois dispararam arquibancada abaixo, na direção da equipe de torcida.

Savannah e Lia comemoravam com os companheiros de time que não haviam se juntado à balbúrdia no centro do campo de futebol. Amelia soltou um misto de grito com risada quando foi surpreendida pelo abraço de Leeds. Ela riu, depois se virou e beijou o namorado. Evans, ainda pulando com algumas de suas amigas, virou-se ao Parker cutucar seu ombro.

— Ei, parabéns pela apresentação! Você foi ótima lá!

— Obrigada! — Talvez tenha sido somente por causa da alegria de ter ganhado o jogo, mas a garota não hesitou ao agarrá-lo pelos ombros e o arrastar para um abraço apertado. Por alguns segundos, herói ficou perplexo demais para retribuir; antes que ele pudesse fazê-lo, porém, a menina largou-o, sem jeito. — Hm, foi mal. Eu tô toda suada e te abraço desse jeito, que nojo.

Peter não conseguiu dizer que estava tudo bem, que ele não se importava com estado dela nem com o fato de tê-lo abraçado, uma vez que Ned entrou em seu caminho e envolveu a garota em um aperto de urso. Ao mesmo tempo em que ela ria alto, o vigilante ia até Amelia para parabenizá-la. A menina abriu um sorriso brilhante, e, agradecendo, fez menção de abraçá-lo — entretanto, assim que se aproximou, recuou com uma careta.

— Perguntinha — começou. — Por que você tá cheirando a peixe estragado?

Antes que Peter pudesse falar o que tinha planejado — que era ter ido ao mercado e escorregado na sessão dos frutos do mar —, Ned interveio rapidamente:

— É o novo perfume dele! É o, hm, Pescador de Gatinhas.

O Aranha lançou um olhar exasperado para Leeds, que, por sua vez, mirava-o como se tivesse acabado de salvar o dia. Ao lado dele, o som da gargalhada de Savannah ecoou, acompanhado pelo riso contido de Lia. Dava para ver que a menina estava tentando não rir com todas as suas forças. Peter ficou grato pela tentativa. Quanto a Savy, ela ria tanto que estava curvada.

— Peter, pelo amor de Deus, não usa mais essa colônia. Vai repelir todas as gatinhas, isso sim — Bennett caçoou. Do nada, sua expressão de deboche deu lugar a uma animada. — Ah, Ned, quero apresentar você para a galera! Vem!

Sem dar chance para o garoto responder, ela agarrou a mão dele e o puxou para o meio do campo, onde a maior parte dos torcedores se encontrava. Tanto Evans quanto Parker riram das feições assustadas de Leeds quando este olhou para trás. Depois que o casal desapareceu na multidão, Savannah bateu o ombro no de Peter.

Pescador de Gatinhas, hein? — zombou, risonha.

O rapaz sentiu o rosto esquentar. Ah, cara, ele ia matar Ned.

— É... A May que comprou e eu não quis fazer desfeita — mentiu.

Mais uma vez, a garota soltou uma risada alta. Apesar de toda a vergonha que Peter sentia, não pôde deixar de notar em como o som parecia melódico, uma canção de alegria em seus ouvidos. Foi impossível não rir junto. Isso, todavia, não durou muito: seu olhar acabou focando-se em um ponto além da amiga, onde viu uma garota trajando o uniforme das torcedoras observando-os.

Parker a reconheceu. Quer dizer, não exatamente; embora tudo que soubesse sobre ela era que pertencia ao último ano do colégio, já havia visto aquela loira mirá-lo pelos corredores quando ele passava com os amigos. O menino remexeu-se, desconcertado sob a encarada — a qual com certeza não demonstrava interesse ou curiosidade. Era um olhar duro como aço, nada amistoso. Aparentemente, a terceiranista não gostava dele. Peter não fazia ideia do motivo.

Quando a líder de torcida percebeu que havia sido notada, arqueou as sobrancelhas e desviou o olhar. O vigilante franziu o cenho em confusão.

— O que foi?

A voz de Savannah trouxe-o de volta à realidade. Ele voltou-se rapidamente para ela, quase batendo em sua cabeça de tão próximos que estavam. Pigarreando, ele afastou-se ao mesmo tempo que ela, os lábios comprimidos.

— Nada, é que... — ele começou. Bem, Savy, sendo uma torcedora, conhecia a menina que os fitara até poucos segundos atrás. Não faria mal perguntar quem era, não é? — Quem é aquela garota que não parava de nos encarar?

Ele indicou a menina com a cabeça. Evans espiou por cima do ombro, e, quando voltou a mirá-lo, o rosto ostentava feições rígidas. A raiva emanando da amiga era palpável, bem como o seu desconforto.

— Aquela — sua voz estava ácida — é a minha ex, Felicia.

Ela, então, afastou-se a passos duros na direção do um banco onde suas coisas estavam. Peter permaneceu parado por um instante, olhando para o ponto em que a jovem estivera segundos atrás. Bem, aquilo explicava muito; as únicas ocasiões em que vira Felicia fuzilá-lo foram as que estava com Savannah. Talvez pensasse que os dois... tivessem alguma coisa? A ideia era absurda. Quer dizer, não que a menina não fosse namorável, porque era, mas eles eram somente amigos, não é? É.

Parker deu meia volta e seguiu até a adolescente. Ela contemplava a bolsa que tinha em cima do colo, a expressão indecifrável, o corpo tenso. Sem saber o que fazer, Peter sentou-se ao seu lado.

— Não terminou bem, não é mesmo?

Savannah soltou uma risada de escárnio, começando a remexer a mala. De lá, ela tirou uma garrafa de água.

— Nem um pouco. — Bufou. — Depois de três meses juntas, ela me deu um pé na bunda. Acabou que só estava me usando para fazer ciúmes na ex-namorada dela.

O Aranha sentiu os olhos arregalarem-se. Quer dizer, ele lembrava-se de Lia e Savy brincarem que os dois únicos namoros da menina, um com um garoto e outro com uma garota, não terem sido exatamente bons, mas aquilo era horrível! Mexer com uma pessoa daquele jeito, sem considerar sentimentos? Ninguém merecia aquilo, especialmente Savannah. A reação dela de repente ficou mais compreensível ainda; ele conseguia entender o porquê de todo o ódio da amiga, a tristeza por trás da amargura na voz — aquilo era mais do que orgulho ferido, era mágoa de verdade por ter sido usada. Indignação inflou em seu peito.

Ele não sabia o que dizer. "Sinto muito" ou "Que babaca!" pareciam muito pouco. Não precisou pensar mais, no entanto, já que Evans, assim que terminou de dar goladas em sua água, emendou:

— Mas não importa agora. Já superei isso, foi no ano passado — ela deu de ombros em uma tentativa de dar uma menor importância ao assunto. — A única coisa que está me tirando do sério agora é ela ficar nos encarando daquele jeito! Quer dizer, qual é o maldito motivo para isso?!

O rosto de Savy estava rubro de raiva. Ela fechou os olhos e inspirou, como se para se acalmar. O garoto, ainda sem saber o que dizer direito, colocou uma mão no ombro dela.

— A Felicia provavelmente está arrependida. Afinal, por que não estaria? Quer dizer, olha para você!

Savannah virou a cabeça para olhá-lo, a face mais uma vez uma incógnita, as bochechas ainda coradas. Peter demorou um segundo para perceber o que tinha falado. Ele abriu a boca, e nada saiu. Sua língua ficou seca, parecia uma lixa. A menina também não falou nada; eles ficaram mirando-se por um momento, quietos, e nenhum deles parecia saber o que aquilo significava.

Ela, então, começou a rir. Muito.

— Desculpa, é que esse cheiro do seu perfume... — ela cobriu a boca com as mãos, na tentativa de abafar a risada. — É horroroso!

O adolescente sorriu, depois retirou a mão do ombro da outra. O corpo dela chacoalhava agora devido aos risos; o momento estranho de silêncio desconfortável e encaradas significativas foi deixado de lado, ainda bem.

— Sabe, acho que o Pescador de Gatinhas pode até funcionar. Com certeza, é um cheiro inesquecível. — Abriu um sorriso malicioso. — Aposto que você causaria uma baita impressão se fosse na festa que um dos jogadores vai dar esta noite na casa dele. A Lia e o Ned vão.

— E você? Não vai?

Ela balançou a cabeça.

— Tenho... umas coisas para ler em casa — piscou. — Infelizmente, vou perder você empesteando a casa do Liam.

Peter revirou os olhos, apesar de sorrir.

Haha, engraçadinha — ele bateu a lateral do corpo no dela. — Mas vou para casa também. Tenho que tirar esse cheiro de mim.

Savannah lhe lançou um olhar que dizia "O Universo agradece". Parker, maduro como sempre, mostrou a língua para ela, que devolveu o gesto. Então, com os lábios curvados para cima, a líder de torcida enfiou seus pertences na bolsa, ergueu-se e passou a alça pelo ombro. Em seguida, surpreendendo o herói, ela inclinou-se e deu um beijo em sua bochecha.

— Tchau, fedido.

Com uma risada no fundo da garganta e um sorriso brincando nos lábios, Peter observou-a lhe dar as costas e se afastar.

[07/01/2020]

oi, gente, tudo bem com vocês? como passaram o final de ano?

ok só me deixem dizer que eu tô APAIXONADA por esse capítulo. a escrita tá meio bleh (perdão aliás k), mas esse final......... me fez amar o resultado.

bem, espero que vocês tenham gostado! nos vemos no próximo cap!

beijos!

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