18. patience is a virtue
SAVANNAH NÃO SABERIA DIZER POR quanto tempo ficaram daquela maneira, pulando pelos prédios, seguindo o caminhão-tanque, este que surgiu em seu campo de visão não muito tempo depois de eles darem início à perseguição. Enquanto desbravavam a noite, o coração da garota batia forte no peito e a adrenalina percorria seu corpo.
Ela precisou empurrar para longe toda a perturbação que estava sentindo em decorrência do que acontecera mais cedo. Se não fizesse isso, talvez não fosse conseguir seguir em frente. Provavelmente, caso ela se permitisse pensar no que ocorrera, no sangue seco em suas luvas e joelhos, seria obrigada a parar e vomitar. Por isso, trancou no fundo de sua mente o que havia testemunhado, como já fizera inúmeras vezes antes.
Então, ela somente se focou no que tinha que fazer. Perseguir o caminhão. Torcer para ser levada a algum lugar importante. Prender a mulher que havia tentado matar o dono do posto.
Apesar de tudo, Savannah não pôde evitar se sentir incrivelmente livre enquanto voava pela cidade com aquelas teias. Não pela primeira vez naquela noite, invejou o Homem-Aranha. Não pela tecnologia que ele tinha a sua disposição, mas pela liberdade que suas habilidades lhe conferiam. Se ela tivesse tais equipamentos... atravessaria Nova York sempre que pudesse somente por diversão.
O que jovem não imaginado era que fossem, de fato, atravessar Nova York naquele dia, entretanto, era o que parecia estar prestes a acontecer: um pouco mais à frente, a Ponte Kosciuszko, suas luzes um farol na noite, começava a se erguer acima afluente Newtown Creek. Era para lá que o caminhão seguia.
— Ela está indo para o Brooklyn! — exclamou para o companheiro, apontando para a grandiosa construção. Eles tinham que arranjar um jeito de ir atrás do caminhão, e rápido. Quando ele chegasse à ponte, não teria como persegui-lo da maneira que estavam, utilizando dos prédios para locomoção e observação. — Temos que pular!
Em poucos segundos, com o auxílio de uma teia em um poste de luz, os heróis estavam no chão, correndo por uma área verde que separava as fachadas dos edifícios da via expressa Brooklyn-Queens, a qual levava à ponte. O caminhão se dirigia para o pequeno túnel formado por um viaduto — assim que passasse por baixo da obra, estaria na ponte.
— Vamos ter que pegar uma carona — anunciou seu parceiro.
A Major assentiu quase que imediatamente. E, então, eles correram; as pernas da garota queimavam com o esforço, mas ela não parou nem por um instante, de olho no veículo no qual pulariam. (Tinha a amarga sensação de que aquela pequena perseguição lhe traria muitas dores musculares, não importava o quanto estivesse em forma.) O caminhão-tanque sumiu no túnel, todavia, não era nele que os vigilantes queriam subir — não quando aquilo talvez chamasse a atenção da criminosa atrás do volante.
Por pura sorte, havia um caminhão de carga um pouco mais atrás, também se dirigindo para a Ponte Kosciuszko. O Homem-Aranha não perdeu tempo ao lançar uma teia na lateral do contêiner, e a dupla se encontrou agarrada ao alumínio poucos segundos depois, onde tiveram de ficar até que o túnel acabasse e eles pudessem escalar para o teto.
Deitados de bruços no contentor, segurando-se em qualquer saliência que pudessem encontrar, eles esperaram. Porque era somente isso que poderiam fazer enquanto os caminhões atravessavam a ponte, os motoristas completamente alheios a quem espreitava.
Então Savannah apenas observou, maravilhada, as luzes coloridas da ponte que iluminava a noite ao redor e a água abaixo, seus sentimentos alternando-se entre apreensão e libertação depois de se dar conta de que nunca havia se aventurado para tão longe de casa como vigilante.
Deixando-se distrair pelo que era, de fato, uma visão encantadora, ela somente aguardou.
✶
Savannah descobriu que odiava esperar.
Quer dizer, ela sempre soube que paciência era uma virtude da qual não usufruía, mas sua ansiedade estava sendo realmente testada ali.
Quando os vigilantes chegaram ao Brooklyn, eles permaneceram em cima do veículo de carga até ele começar a se distanciar do caminhão-tanque. Assim, os dois saltaram para as ruas do distrito, mantendo-se em uma perseguição constante. Naquela ocasião, evitaram subir muito nos prédios, tanto para se manterem fora de vista quanto para economizarem as teias do amigo da vizinhança.
Evans não pôde conter um grunhido de frustração quando viu que a criminosa que investigavam se dirigia para a Ponte Verrazano-Narrows, a qual, ao passar pelo estreito Narrows, dava direto para Staten Island. Daquela vez, eles pegaram carona em um ônibus de viagem, mantendo-se escondidos em seu teto. E, de novo, aguardaram.
Savannah já estava ficando farta de aguardar.
Ela e o Homem-Aranha não se falavam desde que haviam concordado em não gastar teias, ainda no Brooklyn. Passaram a se comunicar através de gestos — mesmo agora, depois de pular para fora do ônibus com o término da ponte e então perseguindo o caminhão pelas ruas de Staten Island a uma distância segura, eles não se falavam. Ocupavam-se em prestar atenção e, claro, esperar. Esperar até chegarem em algum lugar.
Pela tensão que conseguia sentir no corpo do mascarado ao seu lado, a menina sabia que ele estava tão incomodado quanto ela.
A cada segundo que se passava daquela viagem, Savannah se sentia mais nervosa. Mais cansada. Os seus passos já estavam se tornando pesados quando o caminhão enfim fez uma curva para entrar em um trecho muito mal iluminado. Uma enorme construção, de aparência velha e esquecida, despontou um pouco mais à frente.
Evans sentiu o sangue pulsar nas orelhas, adrenalina a despertando mais uma vez, enquanto observava o veículo seguir para o prédio abandonado — não, não abandonado. Conforme a carreta parava, Evans teve certeza de que aquele local era palco de uma operação criminosa.
O caminhão havia parado no que devia ter sido um pátio outrora. Havia outros poucos automóveis estacionados por perto, amassando o mato que se esgueirava pelas rachaduras no concreto, mas a motorista não lançou nenhum olhar de reconhecimento aos outros veículos quando por fim saltou para fora da cabine com uma maleta em mãos. Seus cabelos ruivos balançaram enquanto ela caminhava a passos confiantes para a entrada, a qual era guardada por dois homens armados.
Savannah analisou o espaço e as possíveis opções que tinham o mais rápido que pôde. Não havia nenhum portão que isolasse aquela área, portanto aproximar-se não seria difícil. Manter-se escondida também não era uma tarefa complicada quando se tinha as sombras da noite como ajudante. (A Major realmente agradeceu ao Universo pela má-iluminação do lugar.) Já com um plano em mente — tudo bem, talvez 12% de um plano —, ela cutucou o Homem-Aranha.
— Eu vou pelo chão e você, pelo telhado — a voz que saiu de sua boca, abafada e cansada, mal parecia sua.
O rapaz assentiu. Naquele momento, algo que parecia ser um besouro muito grande voou para perto dos dois, e a menina estava pronta para dar um tapa e espantar o inseto quando ele se aproximou do amigo da vizinhança e se alojou em um espaço em seu peito.
Savannah piscou. Então aquele era o drone.
Ela não conseguiu evitar soltar uma risada, a qual tentou disfarçar com uma tosse forçada. O Homem-Aranha riu levemente também um pouco antes de informar:
— Tem sete pessoas lá dentro, sem contar a nossa motorista.
A menina assentiu em agradecimento pela informação. O Homem-Aranha sumiu logo em seguida, provavelmente para dar a volta na construção e começar a escalar paredes sem que fosse notado.
A jovem, então, aproximou-se do local a passos cautelosos, os olhos presos nos guardas na porta. Ambos pareciam entediados, como se estivessem certos de que ninguém poderia encontrar aquele lugar; talvez, se tivessem prestado mais atenção, se tivessem olhado na direção correta, teriam visto a Major espreitando, esgueirando-se para trás do caminhão-tanque. Mas não o fizeram, e Savannah agradeceu pela incompetência deles conforme se abaixava para pegar duas pedras no chão.
Encostada na traseira do veículo, ela arremessou uma das rochas para lado oposto do que estava.
O barulho que soou não foi exatamente alto, mas foi o bastante para chamar a atenção dos homens. Os dois tiveram uma breve discussão, e enfim um deles se afastou para ir investigar o som. Sem perder tempo, a vigilante deu a volta no caminhão, dessa vez parando próxima à cabine. Ela lançou a segunda pedra, que caiu perto do outro flanco do automóvel.
Daquela vez, o segurança viu a rocha. Como ela queria, ele abandonou o seu posto para ir até o cascalho. Enquanto o fazia, Savannah aproximou-se por trás.
O bandido desabou depois de a jovem atingir a sua cabeça com o bastão de beisebol. A fim de impedir o corpo de fazer barulho ao atingir o chão, ela segurou o colarinho de seu casaco e o deixou com delicadeza no asfalto. Depois de se certificar com rapidez de que o homem estava realmente apagado, ela correu na direção para qual o segundo segurança havia se encaminhado.
Àquela altura, ele terminara a sua inspeção e já voltava para o seu posto. Ou pelo menos teria voltado se não tivesse encontrado Savannah no caminho. De maneira veloz, ela o apagou antes de sequer ser percebida, e logo estava arrastando o criminoso para fora de vista. Ela também retirou a munição da arma dele — demorou um pouco para descobrir como fazê-lo, mas, assim que conseguiu, jogou as balas para longe.
Depois de voltar, desarmar o outro guarda e o arrastar para trás do caminhão, a Major passou pela porta da frente.
Savannah manteve o bastão empunhado à medida que adentrava o que parecia ter sido uma fábrica anteriormente. O interior era — pasmem — mal iluminado também, as poucas lâmpadas acesas não conseguiam compreender a grandiosidade da indústria. Uma olhada para cima e a garota descobriu que havia quatro níveis: como se o centro dos andares tivesse sido recortado, havia uma fenda que possibilitava enxergar o teto semidestruído.
No primeiro piso, onde estava, havia máquinas, grandes tanques de armazenamento — era ali que a gasolina era batizada. Savy não conseguia ver nada além dos guarda-corpos no limite dos outros andares, mas conseguia ouvir o som de conversas não muito distante. Sete pessoas além da nossa motorista, o Homem-Aranha dissera. Ela também não sabia onde ele estava.
A garota deixou que seus pés a levassem até uma escada escondida na lateral da fábrica. Tomou um cuidado especial na hora de subir os degraus de metal para que esses não rangessem, e logo estava no segundo nível. Havia uma larga viga de concreto a poucos passos, e foi lá que Savannah se escondeu para poder observar o que acontecia: oito pessoas estavam dispostas entre mesas de plástico. Algumas delas jogavam cartas, outras apenas conversavam. Havia pistolas em cima das mesas junto a latas de cerveja.
A motorista do caminhão estava sentada no canto mais afastado, uma bebida na mão, os pés em cima da mesa. Nenhum sinal da maleta que ela carregara para dentro — provavelmente com o dinheiro que Dean havia lhe dado antes de quase ser morto —, e a atenção de todos estava focada na ruiva enquanto ela contava como havia sido a negociação. Como fracassara e como havia atirado em Dean.
Como ela poderia exibir tamanha tranquilidade e diversão diante do que fizera? Savannah sentiu tanta raiva que por um momento todos os seus sentidos foram obstruídos. Ela quase não percebeu que mais alguém havia chegado para aquela reunião.
Passadas pesadas soaram pela escada, que rangeu diante do peso súbito. Savannah se prensou contra a parede, escondida pela viga, quando duas figuras surgiram. A primeira era um homem alto, robusto e careca. Ele emanava arrogância, especialmente com o terno chique que vestia e a barba por fazer. A Major o teria achado incrivelmente bonito se não fosse pelas feições sérias e cruéis estampadas no rosto.
Já a segunda figura era uma mulher. Diferentemente dele, ela usava um uniforme preto com detalhes prateados. Uma máscara, da qual despontava um longo rabo de cavalo de cor tão clara que parecia branco, cobria-lhe o rosto, deixando apenas a região da boca visível.
Depois de ver aquela figura tantas vezes em jornais, seria impossível não reconhecê-la.
A Gata Negra — uma infame ladra que começara a atacar no início do ano anterior e que nunca foi pega. Não se sabia nada a respeito dela além de que tinha um gosto particular por coisas brilhantes... tal qual um gato.
Porém, ali, ao lado daquele homem desconhecido, ela parecia mais uma guarda do que uma ladra. Altiva e ameaçadora, pronta para defender quem parecia ser seu chefe.
Os dois passaram por onde Savannah estava sem nem lançar um olhar para o seu esconderijo, ainda bem. Todos levantaram-se na presença daquelas duas figuras em um sinal de respeito.
— Não esperava vê-la aqui a essa hora, Englert. — A voz do homem soou fria quando finalmente falou.
Aparentemente, ele estava falando com a motorista com caminhão, pois foi ela quem respondeu ao questionamento implícito na frase: Não era para estar negociando a gasolina nesse momento?
— Tive um contratempo. — O tom dela, por sua vez, era despreocupado. — Dean já era.
— O que você quer dizer com isso?
— Ele quis romper o acordo — soltou uma risada de escárnio. — Atirei nele, então. Não podia correr o risco de sermos expostos.
Savannah odiou a casualidade com a qual ela proferiu aquelas palavras.
Por um momento, o silêncio reinou na fábrica, como se o chefe decidisse o que fazer. A vigilante não conseguia enxergar seu rosto já que ele estava de costas para ela, mas conseguiu vê-lo dar de ombros por fim.
— Podemos sempre substituí-lo. — Parte da tensão no ambiente pareceu se dissipar. Alguns capangas de fato ficaram mais relaxados em seus lugares. — Pegou o dinheiro antes de dar um fim nele?
— Está na sala lá em cima — como se para confirmar o que dizia, ela retirou do bolso uma chave e a balançou.
Então, havia dinheiro sujo em uma sala trancada no nível superior, onde o Homem-Aranha devia estar... Evans torceu para que ele não tentasse abrir a porta, pois tinha certeza de que faria barulho e alertaria a todos de que estavam ali.
— E a segunda fase do plano? — perguntou o chefe enquanto puxava uma cadeira de uma mesa para se sentar. Ao seu lado, a Gata Negra fez o mesmo, sendo seguida pelo resto dos bandidos.
— Está em procedimento — Englert respondeu, colocando seus pés em cima da mesa novamente. — As negociações com os outros compradores vão indo bem. Nenhum deles suspeita de nada. As listas estão na sala também, posso dar cópias a você se preferir. Mas...
A ruiva interrompeu-se. Pela primeira vez, ela perdeu aquele ar de superioridade e a face adquiriu uma expressão preocupada. Ela analisou o homem diante de si, como se com medo da reação que ele teria frente a novas informações.
— Mas o quê, Englert? — inquiriu, meio sem paciência.
A mulher não se acovardou perante o tom.
— A Major e o Homem-Aranha. — Suas feições se contorceram em nojo. — Eles podem ser um problema maior do que imaginávamos. Primeiro com a Gangue Fedora, aqueles inúteis, e agora com a gasolina. Eles sabem. Foram interrogar Dean um pouco antes de eu aparecer. — Savannah guardou aquele pedaço de informação para analisar mais tarde, ainda focada no que Englert despejava. — Nossos homens na polícia podem até atrasar e obstruir as investigações contra nós, mas aqueles vermes, Montgomery, eles não podem ser enganados dessa maneira.
Nossos homens na polícia.
Savannah não sentiu satisfação alguma ao descobrir que a sua teoria estava, de fato, correta. Pelo contrário: ela apenas sentiu raiva e preocupação borbulharem em seu interior. Rostos que ela já havia visto trabalhando com o irmão pipocaram em sua mente, quase como se ela estivesse tentando montar uma lista de potenciais suspeitos. Ela tinha ainda mais certeza agora de que não poderia confiar em ninguém lá dentro além de Kyle e Theo. E tinha certeza também de que arranjaria um jeito de desmascarar todos aqueles que faziam parte daquele esquema de corrupção; ela iria atrás de todas aquelas figuras de autoridade, todos aqueles que usavam o poder e a posição que tinham para fazer coisas ruins e se safar... todos aqueles que eram simplesmente horríveis, que preferiam controlar e julgar em vez de ajudar... e ela acabaria com todos.
A menina piscou, guardando aqueles pensamentos para depois a fim de focar-se no que se desenrolava no momento. Que, no caso, era um bando de criminosos xingando os dois heróis sem parar e planejando matá-los. A balbúrdia somente cessou quando Montgomery, com um sorrisinho de escárnio, levantou a mão. Era assustador ver o tipo de influência que ele tinha sobre o grupo.
— Garanto que vocês poderão matá-los quando a hora chegar — disse. — E as drogas?
Um minuto de silêncio.
— Eu disse que queria os relatórios hoje.
— E eu disse que precisávamos de mais tempo — foi Englert quem respondeu. Ela observava as próprias unhas em um sinal de desinteresse, mas seus lábios estavam comprimidos em uma linha fina que indicava tensão.
— Da última vez que verifiquei, quem estava no comando era eu, não você.
A mulher levantou os olhos das próprias unhas. Ela parecia fervilhar, talvez prestes a explodir com aquele homem. Ela aparentava ser a única com coragem o bastante para fazê-lo. O salão inteiro devia pressentir aquilo, pois todos ficaram tensos de novo. Todos menos a Gata Negra, cuja postura não transmitia nada além de tédio.
— Da última vez que verifiquei, isso pouco importa para as nossas operações. Precisamos de mais uma semana e você não pode mudar isso, estando no comando ou não. Algumas armas a mais no coldre e carregar essa ladra por aí como sua guarda-costas não vão acelerar o tempo de produção.
A Gata Negra soltou um grunhido de aviso, como se dissesse que ainda tinha garras que poderia usar, antes de fazer menção de se levantar da cadeira. Entretanto, parou assim que Montgomery ergueu uma das mãos, sorrindo. Savannah se pegou imaginando o porquê de ela não se defender. Certamente, não era somente pelo fato de ter sido seu chefe a tê-la impedido. O que Montgomery tinha contra ela que o permitia controlá-la daquele jeito?
O criminoso levantou-se, alisando o terno.
— Enquanto o chefe não está, vocês respondem a mim. Então, arranjem um jeito de fabricar mais rápido.
— E vocês deveriam ser mais cuidadosos com o que fazem — a Gata Negra por fim disse. Sua voz estava modulada, grossa. Ela ergueu o queixo, observando a todos com um ar de superioridade que fez Englert tremer de raiva. — A começar por melhorar a segurança. Vocês estão fazendo um trabalho desleixado.
— O que você quer dizer com isso, garota? — resmungou a ruiva entredentes.
A ladra estalou a língua e abriu um sorriso preguiçoso.
— Quanto nervosismo — debochou. — Não tinha ninguém para vigiar o perímetro nem a porta. Precisa de mais informações ou deu para entender direitinho?
— Ninguém?
Antes que Englert pudesse pegar a arma e atirar na Gata Negra, como ela com certeza devia estar se coçando para fazer a julgar pela expressão em seu rosto, Savannah saiu de seu esconderijo. Ela apoiou o corpo na viga e cruzou os braços sobre o peito.
— Isso é culpa minha, na verdade — ela falou, atraindo toda a atenção para si. Talvez ter visto a Gata Negra acobertar a própria voz tenha despertado algum instinto em Savannah, pois ela fez o mesmo. O seu tom transmitia o sarcasmo que ela desejava. — Desculpem o atraso.
De imediato, todos se levantaram, armas apontadas para ela. A única coisa que impediu as balas de voarem em sua direção foi o Homem-Aranha, o qual pulou do terceiro para o segundo nível poucos segundos depois.
— É que o trânsito estava um terror — completou.
Por um momento, os bandidos pareceram ponderar em quem atirariam primeiro; por fim, o impasse foi resolvido quando metade deles se virou para Savannah e a outra para o Aranha. A jovem se jogou novamente atrás da pilastra quando os primeiros disparos soaram, porém não foi rápida o bastante: uma das balas atingiu a lateral de seu tronco. O colete à prova de balas barrou o projétil, mas ainda assim o impacto fez a garota cambalear violentamente pelo chão, tendo de se apoiar na parede para evitar cair.
— Seus estúpidos, não atirem! — gritava Montgomery, porém. — Os químicos! Vocês vão explodir todos nós!
Bom. Melhor daquela maneira. Sem armas, somente punhos.
Savannah lançou-se à luta.
Ela avançou na direção de Montgomery, este que, acompanhado por Englert e pela Gata Negra, corria até a escada de acesso ao terceiro nível, muito possivelmente indo buscar o dinheiro e a lista de compradores mencionados antes. Um homem se colocou entre a heroína e o grupo, entretanto, e tentou lhe acertar um soco. A Major abaixou e golpeou com o bastão, atingindo o bandido na barriga no exato momento em que alguém a agarrava por trás. A menina pisou com força no pé de quem a segurava, e os braços ao redor de seu corpo afrouxaram-se o bastante para que ela conseguisse se libertar; deu, então, uma cotovelada no nariz da mulher atrás dela, e depois outra que bastou para mandar a agressora para o chão.
A vigilante mal tinha dado dois passos quando o homem que golpeara antes colidiu contra ela. Ele a impulsionou até o limite do andar, e as costas da adolescente estalaram ao atingirem o guarda-corpo, a única coisa entre ela e uma queda alta. O criminoso torceu a mão dela, fazendo com que o bastão escapulisse de seus dedos, mas o barulho do alumínio atingindo o primeiro nível foi acobertado pelo grito de dor de Savannah.
Por fim, a menina conseguiu se libertar com uma joelhada na virilha do homem. Ele urrou de dor e se curvou, e aquilo foi o que bastou para Evans agarrar o colarinho dele. Savannah jogou-o contra a grade, e ele não se ergueu depois de a cabeça acertar o ferro.
Um breve olhar na direção do Homem-Aranha lhe disse que ele estava bem, então a Major resolveu que seguiria o seu plano original e iria atrás de Montgomery. No entanto, enquanto ela corria, um tiro ecoou pelo complexo — no instante seguinte, a bala atingia as costas do colete de Savannah. Novamente, o impacto fez a garota escorregar, e daquela vez não havia nada em que se apoiar.
Caída no chão, um pouco atordoada, a menina tentou se levantar. Teria conseguido se não um pé não tivesse atingido o seu rosto com violência. Evans caiu de costas mais uma vez, o fôlego escapando de seus pulmões e o nariz latejante já não conseguindo puxar mais ar. Sua máscara foi molhada por algo quente que começou a escorrer de suas narinas.
— O seu amiguinho Homem-Aranha está ocupado demais para ajudar você agora. — O bandido que a chutara provocou. Ele, com uma arma em mãos, olhava-a com escárnio. — Pena. Ele sim é um herói pelo menos, diferente de garotinhas como você.
Savannah grunhiu — já estava farta de escutar aquele tipo de coisa — e atingiu as pernas do homem com as suas, fazendo-o cair bem na hora em que apertava o gatilho; o tiro, em vez de atingir a jovem, fez um buraco em um cano no teto, do qual jorrou vapor. Savy conseguiu se levantar para chutar a arma do criminoso, largada a alguns passos, para longe.
— Você não sabia? — Ela não precisava provar nada, mas só porque podia, só porque queria, prosseguiu: — Garotas também podem ser heroínas.
Ela atingiu o nariz dele com força duas vezes e depois acertou sua traqueia. Aquilo bastou para tirá-lo da jogada.
A menina ergueu o olhar a tempo de ver os cabelos vermelhos de Englert desaparecerem escada abaixo. Sem sombra de dúvidas, ela, Montgomery e a Gata Negra iriam escapar. Savannah estava prestes a segui-los para o andar debaixo quando viu o Homem-Aranha lutando contra dois homens — um que, na verdade, aproximava-se por trás para golpeá-lo.
Sem hesitar, a Major correu até eles. Ela saltou, agarrando-se a um cano para obter apoio, e fechou as pernas em torno dos ombros do bandido, as mãos agarrando os braços dele. O peso de seu corpo os levou para baixo, e ela rolou para amenizar a queda. Seus ossos pareceram tremer quando atingiram o concreto, mas a heroína, que prendia o pescoço do homem entre suas panturrilhas, somente apagou-o com um soco forte entre os olhos.
Sentindo-se meio entorpecida por ter conseguido executar aquela manobra, a garota ergueu-se com rapidez. Ela lançou um breve olhar para o Aranha, que já tinha derrubado o bandido contra o qual estivera lutando, e eles trocaram um cumprimento antes que ele voltasse para a briga. A jovem, por sua vez, pegou a arma no coldre do criminoso caído aos seus pés e disparou na direção do primeiro nível.
Não que Savannah fosse usar aquela arma em alguém. Ela não conseguiria nem se quisesse, afinal, nunca atirara antes. Todavia, planejava tentar acertar o pneu do carro em que Englert e Montgomery entravam naquele exato momento.
Com o coração palpitando, ela ergueu a pistola e mirou no pneu antes de apertar o gatilho. O impacto do tiro foi violento, sacudindo todo o seu corpo e a fazendo recuar vários passos. A bala, no entanto, não chegou nem perto de onde ela desejava. Savannah xingou e levantou os braços mais uma vez para outra uma tentativa.
Bem naquele instante, alguém pulou sobre seus ombros.
A arma voou das mãos da Major quando ela e a Gata Negra caíram no chão. Quase que imediatamente, a ladra desferiu um soco em no nariz já machucado de Savannah. A dor aguda fez a adolescente xingar, raiva aquecendo suas veias; ela, então, chutou a criminosa de cima de si, atirando a outra para o chão.
Ambas ergueram-se rapidamente. Atacaram ao mesmo tempo. Nas luvas que cobriam as mãos da ladra havia garras de metal, as quais ela impulsionou na direção de Savannah, tão rápido e tantas vezes que obrigou a heroína a recuar para não ser atingida. Quando as costas da menina bateram em uma coluna de concreto, ela se abaixou; o som das garras raspando na estrutura lhe causou arrepios, mas ela afastou-os quando golpeou. Seu punho atingiu o estômago da Gata Negra, que arquejou. Savannah aproveitou o momento para socá-la de novo, e de novo, e de novo.
A ladra estava curvada, tentando recuperar o fôlego que as investidas da Major haviam lhe roubado. A heroína aproveitou a oportunidade para desferir um chute em arco, o qual acertou o rosto da mulher. Ela caiu no chão com um baque, porém, assim que Savannah se aproximou, a Gata Negra entrelaçou os pés nos dela e a lançou para baixo. As costas da menina bateram no piso com força o bastante para lhe tirar o ar, e ela não foi capa de se levantar antes que a sua oponente. Esta lançou o pé na direção do rosto da vigilante, atingindo o seu maxilar com a bota. Ela xingou ao sentir a dor pungente alastrar-se por seu rosto.
Quando Savannah conseguiu se erguer, porém, a Gata Negra já tinha corrido para o carro de fuga. A jovem não pôde fazer nada além de observá-lo arrancar noite afora.
Com um suspiro pesado, a Major apoiou-se nos joelhos. A adrenalina pareceu se dissipar completamente de seu corpo, dando lugar a dores no corpo e ondas de náusea. Savannah tentou respirar fundo, e até aquilo fez o seu nariz doer — o sangramento aparentemente havia parado em algum ponto daqueles últimos minutos, mas sua máscara estava empapada de sangue.
O Homem-Aranha, de repente, surgiu ao seu lado.
— Eles fugiram — a garota falou, amargurada, sem tirar os olhos de onde vira o veículo pela última vez.
O herói pousou uma mão em seu ombro, como se para lhe conferir apoio. Savannah lançou um olhar a ele. Como pareciam distantes daquele primeiro encontro, quando lutaram contra a Gangue Fedora e discutiram.
— Conseguimos prender quase todos — o rapaz disse. — E ainda tem uns documentos lá em cima. Podemos dar uma olhada.
A garota assentiu. No entanto, ela não pôde evitar se remexer, desconfortável, quando imaginou que teriam que chamar a polícia para buscar aqueles criminosos apagados. Pessoas que poderiam ou não estarem envolvidas naquele esquema, que poderiam libertar os bandidos e destruir todo o trabalho que os heróis haviam feito naquela noite.
A cabeça da vigilante pulsou e ela suspirou. Ela olhou para o Homem-Aranha, que parecia tão cansado quanto ela, mas parecia tentar se manter otimista.
— Aliás, obrigado pela ajuda lá em cima — disse o menino. — Aquele golpe foi irado!
Apesar de tudo, Savannah riu.
✶
[14/11/2019]
oi, gente, tudo bem com vocês?
eu amo esse capítulo, that's it.
um agradecimento especial ao google maps, que me ajudou horrores na preparação desse cap. obg google maps, vc arrasa
e sim, a savannah deu uma chave de buceta num bandido, simplesmente porque eu amo esse golpe.
talvez vocês tenham ficado meio ?????? com esse lance da gata negra, PORÉM, tudo será explicado com o tempo. e, sim, eu me baseei o uniforme dela no do novo jogo pra ps4 do homem aranha hihihihi
enfim, espero que vocês tenham gostado do capítulo! até a próxima!
beijos!
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