13. to be a hero
DIZER QUE SAVANNAH NÃO estava tendo um bom dia era eufemismo: a menina estava cansada, estressada e preocupada, e ainda se encontrava na escola. Além de ter passado grande parte da manhã lutando contra a vontade de dormir — era engraçado o fato de uma festa exauri-la daquela maneira, quando as vigilâncias não o faziam —, mal conseguira tirar as palavras grosseiras do irmão da mente, o que estava irritando-a cada vez mais. Somados àquilo, estavam os pensamentos a respeito das veículos explodidas... Uma parte sua perguntava-se se teria conseguido impedir aquilo caso não estivesse na festa de Betty. Já a outra dizia que era injusto se tratar daquele jeito; ela merecia descanso e, acima de tudo, os carros tinham sido atacados em frente à delegacia. Aquilo era claramente um trabalho para os policiais.
Ainda assim...
A verdade era que Evans era um turbilhão de sentimentos incômodos que serviam apenas para deixá-la nervosa.
Foi somente durante o almoço que a garota conseguiu relaxar. Ela e Lia, ao invés de sentarem-se sozinhas como de costume, seguiram para onde Ned e Peter comiam. Bennett, depois de largar a bandeja em cima da mesa em um lugar ao lado de Savannah, contornou banco para poder dar um beijo rápido em Leeds. Savy e Peter não perderam a oportunidade de brincar com os dois, que sorriram um para o outro, um pouco encabulados, mas felizes. Na realidade, era fofo ver Amelia e Ned como um casal, e menina ficava contente em ver a amiga nas nuvens.
Ali, com os seus amigos, conversando sobre diversos assuntos — desde as aulas cansativas que haviam assistido até a excursão que teriam na quinta-feira para o Metropolitan Museum of Art, cortesia das aulas de História da Arte —, a vigilante pôde distrair a cabeça de todas as suas frustrações. Enquanto ela ria, já não existiam veículos explodidas, irmãos irritados ou noites mal dormidas.
Então, ela foi capaz de carregar as lembranças daquele bom momento consigo até o último período de sexta-feira, Química, que ela coincidentemente compartilhava com os seus três amigos. Savy tentou, de verdade, prestar atenção na aula (precisava entender a matéria especialmente depois da prova que fizera duas semanas antes, para qual não estivera nem um pouco preparada), só que os mínimos detalhes na sala tiravam o seu foco. Ela conseguia ver Lia, sentada em frente a ela, trocar bilhetinhos com Ned, ou então enxergava Michelle Jones fazendo uma caricatura do professor no caderno.
No final da aula, entretanto, qualquer rastro de alegria remanescente esvaiu-se de seu corpo quando o Sr. Cobbwell começou a distribuir as provas corrigidas pela classe. Ao entregar a de Savannah, a decepção em suas feições fez o estômago dela revirar. Aflita, a menina estendeu a mão para pegar o papel — e assim contemplou o seu fracasso: uma grande e vermelha nota E.
Todas as sensações ruins que antes rondavam a sua mente pareceram retornar com força total, agora acompanhadas da preocupação com o desempenho escolar. Ela não pôde evitar soltar um grunhido, sabendo que a culpa daquele resultado era inteiramente sua: apesar de geralmente se sair bem em Química, a garota não havia tido tempo para estudar para aquele exame. Na verdade, ela, dolorida e de orgulho ferido por ter deixado um ladrão escapar sem querer, esquecera-se completamente de que tinha uma prova para fazer até chegar na escola e encontrar todos se preparando para fazê-la.
A jovem já imaginava que não tinha se saído bem, mas ver aquela nota a fez se sentir péssima, e Savannah não tinha ninguém além de si mesma para culpar (bem, ela até poderia atribuir a culpa ao ladrão que havia ocupado o seu tempo, mas aquilo não adiantaria de nada).
Ela largou o papel na mesa e se permitiu debruçar-se em cima dele. Com a testa apoiada nos braços, a menina fechou os olhos e respirou fundo, o cansaço e a frustração pesando em seus ombros. Ela geralmente não tinha problemas na escola, sempre fora uma boa aluna, e aquela nota havia sido um golpe direto em seu orgulho.
— Savy, Savy! — Amelia a chamou, e Savannah ergueu a cabeça o suficiente para olhá-la. — Olha só! Consegui tirar um C+! — Ela cantarolou enquanto balançava a prova.
Savannah conseguiu abrir um sorriso para a amiga.
— Que ótimo, Lia! Estou orgulhosa — e ela realmente estava.
Amelia sorriu de volta, alegre. Alguns segundos depois, porém, ela franziu o cenho, uma vez que reparou no estranho estado da outra.
— O que foi?
Evans aprumou-se na cadeira antes de erguer a prova e mostrar sua nota como uma resposta. Bennett arqueou as sobrancelhas, mas rapidamente adotou uma expressão otimista.
— Não fica assim, Savy, você consegue recuperar! Ainda mais com outro teste vindo aí...
— Eu não sei nem o assunto que estamos estudando — murmurou. — Ei, talvez você possa me ajudar.
Amelia fez uma careta.
— Eu tenho um namorado agora, não tenho tempo para isso — ao ouvir aquilo, Savannah atingiu com a prova o braço da amiga, que tentou desviar do golpe aos risos. — Ai, calma! Eu tô brincando! Mas você sabe que eu não levo jeito mesmo para ensinar alguém... — ela interrompeu-se de repente, os olhos se arregalando. — O Peter poderia te ajudar!
— O Peter? — a heroína repetiu.
— Sim, ele é ótimo nessa matéria! — prosseguiu, animada. — Tenho certeza que faria você entender melhor que eu... afinal, vocês têm uma química incrível.
Elas se encararam por um instante, Savannah sem saber se tinha realmente ouvido aquele péssimo trocadilho. Seus temores se comprovaram ao a amiga desatar-se de rir como se tivesse falado a coisa mais engraçada do mundo. A Major comprimiu os lábios em uma linha fina.
— Por que eu ainda sou sua amiga? — ela resmungou.
Lia não se deixou desanimar e descartou aquele comentário com um aceno de mão.
— Você não estaria assim se tivesse visto o que eu vi na festa de ontem — ela explicou, ainda rindo. As feições de Savy se contorceram em uma careta com aquelas palavras. Quando Lia enfim conseguiu parar de rir, prosseguiu. — Brincadeiras à parte, fale com ele depois. Você sabe que eu não sirvo para dar aulas.
Savannah meneou a cabeça, claramente querendo dizer que a amiga não deveria ficar preocupada com aquilo. Embora pedir ajuda para Peter estivesse fora de cogitação — afinal, não se sentia confortável em incomodá-lo daquela maneira, principalmente levando em consideração que eles ainda estavam se aproximando —, ela acabaria se resolvendo.
— Bem, eu vou dar um jeito — replicou.
O sinal que anunciava o fim das aulas bateu naquele exato instante. Mais do que imediatamente, Savy arrumou suas coisas, ansiosa para sair dali o quanto antes. Logo estava fora da sala, indo em direção ao seu armário e querendo somente apagar aquela nota da cabeça. Ela já guardava seus pertences quando sentiu o celular vibrar no bolso: ao pegá-lo, viu que tinha recebido uma mensagem de Kyle, que dizia que ele a esperava do lado de fora do colégio. A adolescente encarou aquilo por tempo o bastante para recordar-se da briga dos dois na madrugada, e então fechou a porta do armário com um pouco mais de força do que o usual.
— Puxa, o que foi que o armário te fez? — Peter, que havia se aproximado sem ela perceber, trouxe-a de volta à realidade.
— Ele? Nada. Meu irmão? — ela chacoalhou o celular na frente dele, sinalizando que estivera falando com Kyle. — Tudo.
— Ele brigou com você por ter voltado tarde da festa? — tentou adivinhar enquanto ela, aos bufos, dava as costas para os armários.
— Digamos que sim — foi que respondeu. — E a sua tia?
— Ah, May não brigou. Ela já está acostumada comigo chegando tarde... — o rapaz interrompeu-se de súbito, como se tivesse revelado algo que não deveria. — Não que eu sempre chegue tarde. Não é, tipo, um hábito, eu só...
Achando graça da explicação afobada, Savannah arqueou as sobrancelhas e soltou uma risada.
— Fica calmo, criatura da noite, seu segredo está a salvo comigo.
O rapaz acabou rindo também e os dois, assim, começaram a caminhar para a saída da escola; Ned e Lia, que até então estiveram cochichando e rindo um com o outro mais à frente, juntaram-se a eles. Mal o quarteto havia deixado a construção quando Savannah avistou o carro de Kyle em meio ao estacionamento, o que a fez bufar. Aquilo chamou a atenção de Lia, e ela tocou seu ombro.
— Quer que eu te dê uma carona? — inquiriu. — Você não é obrigada a falar com o Kyle agora... sabe, depois da discussão.
Savannah realmente cogitou aceitar a sugestão por um instante. Ela preferia ir com Amelia ou até mesmo a pé para casa a ter que aguentar o detetive — talvez aquilo fosse terrivelmente infantil de sua parte, mas ela estava no seu direito. Ainda assim, não sabia o quão ruim estava o humor de Kyle e, por mais irritada que estivesse, preferia não começar uma briga em casa por tê-lo ignorado. Portanto, ela deu de ombros com um suspiro.
— Não precisa, valeu. Eu sobrevivo.
A heroína despediu-se de seus amigos e começou a se encaminhar na direção do carro. Não demorou para entrar no veículo ao alcançá-lo; ela bateu a porta com força, quase nem olhando para o irmão ao cumprimentá-lo de maneira seca. Ele a respondeu conforme girava a chave na ignição e ligava o carro. A Major observou, com a cabeça encostada na janela e com a mochila pesando no colo, a escola ficar para trás rapidamente.
O silêncio pesava no interior do automóvel até que Kyle o quebrou com um comentário qualquer. Savannah aguardou que ele revelasse o motivo de ter ido buscá-la depois da aula, mas ele somente agia como se nada tivesse acontecido, como se não tivessem discutido horas antes. Se estava arrependido pela maneira como agira, não demonstrou. Talvez estivesse esperando que ela se desculpasse — coisa que a menina recusava-se a fazer. E aquilo não era só uma questão de orgulho; ela não tinha feito nada feito nada além de se preocupar com o irmão e certamente não pediria desculpas por aquilo.
Aquela atitude, no entanto, começou a incomodar a garota, que soltou um bufo. Talvez ela devesse agir de maneira normal também, mas estava tão pilhada que não seria capaz de tal coisa. Poderia dizer tantas coisas. Estou irritada. Estou magoada. Estou com vontade de te dar um soco. Entretanto, o que ela disse foi diferente.
— Devo me sentir sortuda por você ter sido capaz de parar de trabalhar para me buscar ou o quê?
Suas palavras, encharcadas de sarcasmo, interromperam o homem, o qual, por sua vez, suspirou pesadamente ao ouvir a provocação. Ela finalmente havia tirado a cabeça do vidro a fim de olhá-lo.
— Savannah...
— Você — ela o interrompeu, irritada por completo — aparece aqui e age como se não tivesse sido um babaca mais cedo. Corta essa, tá legal? Só fala o que foi logo.
— Eu esperava conseguir chegar em casa antes de qualquer coisa! — o seu irmão disse.
O veículo parou quando o sinal do semáforo à frente ficou vermelho. Sendo assim, Kyle pôde virar o rosto para encarar a irmã, que, de braços cruzados, desviou o olhar e o focou no carro da frente. Pela visão periférica, ela conseguia ver o detetive passar as mãos pelos cabelos, frustrado.
— Olha... eu sinto muito pelas coisas que disse antes — ele começou. — Não deveria ter sido rude. Eu estava cansado e irritado por ter sido acordado e acabei descontando em você... Não foi justo. Desculpa. — Mais uma vez, ele suspirou. Savannah, então, lançou um olhar de esguelha para ele. Ela entendia o que ele queria dizer, e estava se deixando acalmar pelo pedido de desculpas quando o irmão continuou. — Mas a questão é que não posso dar um tempo do trabalho.
Ela grunhiu, virando-se para ele indignada.
— Kyle, você sequer está se escutando?! — esbravejou. — Acabou de admitir que está cansado, e mesmo assim não pode dar a droga de uma pausa? Como é que você vai continuar desse jeito?!
— Não sei, Savannah, eu dou um jeito! — rebateu. — Esse caso...
— Eu sei, ele é importante, é o maior da sua carreira até agora, mas que saco! — ela gesticulava, exasperada. — Você não precisa se matar de trabalhar por causa disso!
Naquele momento, o sinal ficou verde, e o veículo arrancou para frente.
— Você não entende, Savannah! Eu não posso parar!
A raiva queimava no peito da garota. Sim, ela entendia melhor do que ele imaginava. Entendia tão bem a importância de desvendar o roubo das armas alienígenas que vinha se empenhando em achá-las na última semana. Ela sentiu vontade de gritar que era a Major somente para ele saber que ela entendia, sim, o que tudo aquilo significava. Talvez Savannah fosse uma hipócrita por dizer ao irmão que ele deveria diminuir o ritmo quando ela mesma saía todas as noites em patrulhas, mas não se importava. O que era importante no momento era Kyle entender que continuar daquele jeito era ruim para a saúde mental e física dele.
— E por quê?!
— Por sua causa!
A brasa de raiva que queimava dentro da menina extinguiu-se naquele momento e foi substituída por surpresa. Ela fechou a boca, sem saber o que falar; qualquer argumento que Savannah pudesse ter para refutar as palavras do detetive desapareceram no instante em que ouviu aquilo. Kyle respirou fundo antes de continuar.
— Eu tenho que solucionar esse caso o quanto antes para deixar as ruas seguras para você. — Falou, a voz firme. — Como é que poderia não trabalhar sabendo que algo poderia acontecer? Você é a minha irmãzinha e eu tenho que protegê-la.
Ela não sabia o que dizer. Sempre soube que Kyle havia se juntado à polícia para amparar quem precisasse, todavia, imaginava que a pressa que tinha para resolver aquele novo caso tivesse a ver, em grande parte, com orgulho. Ouvi-lo falar daquela maneira fez o fundo de seus olhos arderem.
— Nada vai acontecer comigo. — Ela murmurou a maior mentira em que poderia pensar.
— Eu também achava isso até a semana passada, quando houve um ataque perto de você — ele balançou a cabeça em negativa, como se ainda não acreditasse nas coisas que vinham acontecendo. — Eu não sei o que faria se algo acontecesse. Não posso perder você para o crime, não como...
Não como perdemos o papai. A frase pairou no ar, capaz de machucar tanto quanto uma lâmina, sem a necessidade de ser completada para ser entendida. A cicatriz no abdômen de Savannah pareceu latejar com aquela simples lembrança — talvez fosse a vulnerabilidade do momento, mas as recordações doeram como não doíam fazia tempo. Seus olhos marejaram.
Ouvi-lo falar daquela maneira, como ele não queria que nada acontecesse com ela, fez a menina considerar talvez pela primeira vez o fato de poder se machucar gravemente durante suas atividades. Nunca tinha pensado naquilo direito: ela sabia que arranjaria vergões aqui e ali, entretanto, nunca imaginou que algo pior poderia acontecer. Para Savannah, ela sempre conseguiria vencer. Talvez fosse algum tipo de complexo de herói, mas gostava de pensar que tudo daria certo sempre — só que aquilo não era bem verdade, era? Quantas vezes já não deixara um bandido escapar? Quantas vezes já não voltara mancando para casa? A garota sempre soube que não era invencível, mas a ficha só estava caindo no momento.
Se algo grave ocorresse a ela, o que aconteceria com Kyle? Com sua mãe? Com Lia?
Ela amava ser a Major, mas não tinha analisado o que poderia vir a ser se um dia perdesse de verdade.
Os pensamentos lhe causaram falta de ar. Ela recostou a cabeça no banco e fechou os olhos na tentativa de impedir as lágrimas de caírem, as mãos apertando a alça da mochila.
Não.
Recusava-se a deixar aquele medo tomar conta dela. Savannah tinha um propósito: defender aqueles que não conseguiam fazê-lo sozinhos. Sabia que havia perigos, e sempre esteve disposta a se arriscar pelos seus princípios. Ela não queria nem iria desistir deles, por mais que algumas possibilidades pudessem assustá-la. Ela tinha o colete à prova de balas e o bastão para se resguardar, e eles tinham de bastar.
Sim, algo poderia acontecer a ela, bem como poderia acontecer a todos que lutavam para fazer a diferença. Grandes heróis, como os Vingadores, suas inspirações, não haviam desistido. Ela tampouco iria. Era aquilo que uma super-heroína significava ser: ajudar os outros mesmo com obstáculos e derrotar os vilões. E ela era a Major, uma super-heroína. Ou pelo menos estava no caminho para ser uma...
Mais rápido do que ela poderia ter imaginado, o furacão que era a sua mente se acalmou. Ela ainda se sentia um pouco nauseada, mas já conseguia respirar direito. E sabia que não iria desistir.
Quando tornou a abrir os olhos, viu Kyle limpando uma lágrima que escorria pela bochecha.
— Olha, eu sei que não venho estado muito presente ultimamente — sua voz tremeu — e eu sei que o meu estado não está o dos melhores. Só que agora você entende o porquê de tudo isso?
Ela assentiu.
— Mas...
— Mas — ele a cortou — você também está certa. Não vou conseguir resolver caso nenhum se estiver esgotado. Por isso tirei o restante do dia de folga e resolvi passá-lo com você... e dormindo também.
Ele lhe lançou um olhar de esguelha, um pequeno sorriso. A menina esforçou-se para devolvê-lo. Ele buscou por sua mão em cima da mochila e apertou, como se dissesse silenciosamente que ia ficar tudo bem.
— Só preciso passar no posto de gasolina antes de irmos para casa — comentou casualmente para aliviar o clima. — Uns amigos meus da delegacia me recomendaram um, disseram que a gasolina de lá é ótima. Não que importe agora, já que as viaturas deles explodiram, né?
Savannah conseguiu rir.
✶
[25/07/2019]
oi, galera, tudo bem com vocês?
primeiro de tudo, eu sei que o capítulo ficou meio paradinho, meio bleh, mas ele foi importante para mostrar que a vida de vigilantes adolescentes não é fácil sjebrjrbrbdb e eu particularmente gostei desse final, achei bem importante para a afirmação da savy como a major hihi
e segundo, hoje é o aniversário de um ano de super aaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!! nem dá pra acreditar que já se passou um ano! fico muito agradecida por todo o amor que vocês deram para a fic, amo ler cada comentário de vocês! provavelmente vou postar um capítulo para comemorar os 15K da fic, só tenho que ter ideias risos
enfim...... espero que vocês tenham gostado do capítulo! até a próxima!
beijos!
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