06. worries

— EU REALMENTE esqueci! Sinto muito, Ned.

Talvez aquela fosse a vigésima vez que Peter se desculpava com Ned desde que eles haviam se encontrado no pátio da escola, cerca de cinco minutos atrás. Agora, eles adentravam o interior do colégio, passando pelos corredores em busca de seus armários. Peter, nesse ínterim, foi capaz de narrar em tempo recorde os acontecimentos da noite anterior que o levaram a não ir ao encontro.

Após mergulhar na direção do outdoor, o Homem-Aranha, com o auxílio de suas teias, havia conseguido impedi-lo de cair no chão e esmagar quem quer que estivesse passando por baixo. Fora um verdadeiro milagre tê-lo conseguido, porém, o rapaz não tivera tempo para se sentir aliviado com o feito — enquanto cuidava da grande placa, o criminoso explodira dois prédios comerciais. Peter, então, ajudara as pessoas a escaparem de lá. No meio de toda aquela balbúrdia, o bandido acabou por escapar, sem nem dar chance ao herói de tentar detê-lo.

O garoto suspirou, frustrado consigo mesmo ao recordar-se do episódio. Apesar de uma parte sua saber que não era o responsável por aquilo, a outra — a maior parte de si, na verdade — não conseguia evitar sentir culpa. Cinco pessoas foram parar no hospital porque ele não fora rápido o bastante... E, principalmente, porque ele não fazia ideia de que as armas do Abutre estavam de volta.

— Mas como você poderia saber, Pete? — tia May havia lhe dito ao ele chegar em casa. — Nada disso é culpa sua. Você fez tudo o que podia.

Peter sabia que a mulher estava certa. Ainda assim, era difícil admitir aquilo para si mesmo.

Ned, obviamente, soube do ataque pelos jornais. Ele entendia e não culpava o amigo por ter se esquecido completamente do encontro depois daquilo. Parker, no entanto, não podia deixar de se sentir mal. O menino suspirou mais uma vez, os pensamentos a mil. Tinha certeza de que aquela seria uma longa e exaustiva semana.

Os rapazes pegaram em seus respectivos armários os materiais que precisariam para o primeiro período. Em seguida, começaram a caminhar lentamente até a sala de Química, apesar de o sinal ainda não ter soado. Enquanto o faziam, mantiveram a conversa, o tom de voz sempre baixo e tomando cuidado para ninguém escutá-los. Ned, que até então estava mais escutando do que falando, dispensou a fala do amigo com um aceno de mão, como se dissesse que não era necessário pedir desculpas.

— E agora? — ele questionou. — O que vamos fazer?

— Não sei, cara. — Ele estava sendo sincero. Não tinha ideia de qual seria o seu próximo passo. — Mandei mil mensagens para o Happy, mas até agora ele nem visualizou. Acho que vou ter que resolver isso eu mesmo. — De novo, completou mentalmente.

— Mas o Sr. Stark não vai gostar disso, não é? — Ned apontou.

— O Sr. Stark já sabe do que eu sou capaz. Ano passado eu derrotei o Abutre, não derrotei?

— É, mas esse cara não é como o pai da Liz.

Peter bem sabia que o amigo estava certo, até porque o bandido da noite anterior não usara a arma para roubar coisa alguma — aparentemente apenas fizera aquilo para disseminar medo e causar destruição. Bem, quaisquer que fossem as suas motivações, arruinar propriedades e machucar pessoas era algo que o Homem-Aranha não iria permitir.

Naquela noite, Parker iria atrás de informações e do próprio bandido. Havia um pequeno padrão em seus ataques: todos os três aconteceram em áreas comerciais que ficavam próximas umas das outras. Ele ficaria pelas redondezas, tentaria obter alguma pista que não havia sido divulgada nas notícias, ou algo do tipo. O que não seria muito difícil, já que os jornais tinham tantas informações quanto o herói; eles somente sabiam que aquelas explosões não eram obras de vazamentos de gás, como foram levados a acreditar anteriormente, e, sim, de criminosos.

Peter abriu a boca, prestes a argumentar com Ned, quando viu Savannah Evans passar diretamente por ele, indo para o lado oposto do corretor. De imediato, o rapaz estagnou e lançou o olhar para trás, vendo a menina trombar com alguém em seu caminho.

— Espere um pouco — ele falou, sem voltar o olhar para Leeds.

Sem aguardar uma resposta, Parker cruzou o corredor a passos rápidos na direção da garota. Sempre que lembrava que havia dado um bolo em Savannah — ainda que tivesse sido pelos motivos certos, ainda não gostou de tê-lo feito —, uma pontada de culpa o invadia. Ele já planejava falar com a garota para se desculpar, e a oportunidade apareceu mais cedo do que ele esperava.

Peter chamou-a uma vez, mas ela não pareceu escutá-lo. De fato, somente reparou nele quando o rapaz colocou a mão em seu ombro. Antes disso, ela tinha uma expressão alheia, como se estivesse imersa em seu próprio mundo.

Evans deu um pulo de susto quando Parker tocou-a. Ela levou a mão até a dele e a agarrou com força, surpreendendo o herói. Assim, porém, que ela viu quem era, recuou com os olhos azuis arregalados.

— Ah, desculpe, Peter! Você me assustou — ela disse, uma risada nervosa e culpada escapado de seus lábios. 

O menino logo entendeu o motivo daquela ação defensiva: lembrava-se de alguém, provavelmente Ned, ter comentado sobre como Savannah sabia defesa pessoal. Peter pegou-se imaginando se ela teria aplicado algum tipo de golpe nele se estivesse mais desprevenida. O rapaz também se perguntou no que ela estava pensando para estar tão distraída — será que estava relembrando o ataque da noite anterior que acontecera tão próximo a ela?

Não é todo mundo que fica pensando nisso, gênio. Ele teve de se recordar de que nem todos eram heróis que se preocupavam com vilões.

— Foi mal — Peter falou, um pouco sem jeito. — Hm... oi.

Savannah o encarou com certa curiosidade. Ela disse algo bem na hora em que Peter falou também, acarretando em uma mistura inteligível de palavras. Ambos riram fracamente, e ela insistiu que ele se pronunciasse primeiro.

— Eu só... queria pedir desculpas por ontem. Por não ter ido ao encontro e te dado um bolo. Aconteceram umas coisas e eu acabei...

— Ei, tudo bem — Savannah o cortou sutilmente. — Sem ressentimentos.

— Não, é sério, eu... 

— Eu sei — ela sorriu. — Mas não se preocupe. O encontro não era nosso, então está tudo certo.

Bem, Savannah estava certa quanto àquela parte; no fim das contas, eles haviam apenas sido arrastados para o encontro de Ned e Amelia. Apesar de ainda não estar exatamente tranquilo por tê-la deixado na mão, Parker ficou aliviado ao ouvi-la soar tão sossegada. Como ela mesma dissera, não estava brava, e aquilo já era ótimo.

— Além do mais, foi bom você não ter ido. — A menina acrescentou. — Por causa do ataque, digo.

Peter pensou ter visto uma sombra passar pelo rosto dela, mas foi tão breve que ele deduziu ter imaginado. As feições de Savannah continuavam despreocupadas, imperturbáveis.

O herói se fez de sonso e assentiu, torcendo para que ele mesmo mantivesse a expressão impassível.

— Imagino que tenha sido horrível estar lá bem naquele momento. Ainda bem que ninguém se machucou.

— É — ela murmurou, a expressão ficando um pouco distante. — Algumas pessoas são simplesmente cruéis.

Naquele exato momento, o som estridente do sinal que anunciava o início das aulas soou pelos corredores da Midtown. Savannah arrumou a alça da bolsa no ombro e deu uma olhada breve por cima dele.

— Bem, já vou indo — anunciou. — Tenho Geografia agora, e preciso guardar um lugar para a atrasada da Amelia.

— Eu também — Peter disse. — Quer dizer, tenho que ir para a aula. Química. Não... guardar um lugar para a Amelia.

A garota soltou uma risada, e, de forma quase involuntária, Parker acabou sorrindo também. 

— Bom falar com você, Peter — ela lhe deu as costas, espiando-o por cima do ombro.

— Igualmente — ele deu um aceno com a mão. — Até mais.

Ela sorriu para ele uma última vez e girou para frente, tomando o seu rumo. O garoto observou-a por alguns segundos, antes de também retomar o seu caminho para o lado oposto. Ele voltou para perto de Ned, que, olhando a cena de longe, já devia ter imaginado o que estavam dizendo.

— Sabe, é uma pena você não ter ido mesmo — começou assim que Peter aproximou-se. — Savannah é uma garota legal, vocês podiam ser amigos. E você deveria tê-la visto ontem, cara.

Parker franziu as sobrancelhas e olhou para o outro.

— Como assim?

— Quando aconteceu a explosão perto do restaurante, ela saiu correndo para ver se alguém tinha se machucado — Leeds explicou. — Foi meio doido, mas bem legal, na verdade.

Peter arqueou as sobrancelhas, ligeiramente surpreso. Ele olhou por cima dos ombros mais uma vez, mas Savannah já havia desaparecido do corredor. Ele acabou sorrindo; como Ned dissera, fora bem legal da parte dela.

Por fim, os rapazes acabaram por retomar o caminho até a aula de Química. O herói olhou de esguelha para o amigo e, com uma expressão divertida na face, cutucou-o com o cotovelo.

— Vamos, me conte como foi o seu encontro!

Ned sorriu também, empolgado, e começou a lhe contar tudo.

Savannah estava sentada em um dos bancos dispostos pelo vestiário feminino. Ela já usava o uniforme de torcedora: um cropped azul e amarelo com as insígnias da escola e um shorts-saia de mesma cor. Ela balançava cada vez mais rápido os pés calçados com o tênis branco de sempre à medida que lia um artigo no celular.

A notícia era sobre os três ataques que tinham ocorrido nos últimos dois dias. Savannah lia a reportagem para o caso de ela conter alguma informação que pudesse ajudá-la; no entanto, não havia nada ali que já ela não soubesse. Ainda assim, não foi uma total perda de tempo: quando a garota passou os olhos pelos nomes das ruas atacadas, foi como se um alarme tivesse disparado em sua mente. Ela examinou os nomes mais uma vez, agora mais atentamente, e foi quando percebeu que aquelas ruas eram próximas umas das outras.

E, o mais interessante, eram próximas da academia em que ela era auxiliar de krav magá.

Estava decidido: assim que saísse do seu turno no final daquela tarde, Savannah passaria nos locais das explosões. Quem sabe ela encontrasse algo que lhe fosse útil, algum possível sinal? Era uma jogada de sorte, contudo, que tipo de heroína ela seria se não fosse atrás das pistas em potencial?

— Pronta?

Evans mal notara Lia se esgueirar para perto dela. Pela segunda vez no dia, a garota assustou-se com a chegada de alguém porque estivera imersa demais em seus pensamentos acerca das explosões. Pelo menos, dessa vez, ela não ameaçara aplicar um golpe na amiga como havia feito em Peter.

Savannah bloqueou a tela do celular e o guardou. Enquanto se levantava para acompanhar Lia até o treino de torcida, ela pegou o seu prendedor e começou a amarrar os cabelos em um rabo de cavalo apertado. Ao ela erguer os braços, a cicatriz em seu abdômen ficou em evidência. E, ao lado dela, o seu novo hematoma, cortesia do pé de cabra do criminoso que havia detido duas noites antes. A grande marca chamou a atenção de Amelia, que arregalou os olhos.

Meu Deus, Savy! O que é isso?

— O quê? — Savannah, ainda alheia ao conhecimento da amiga, franziu as sobrancelhas.

— Esse roxo em você!

A garota abaixou os braços mais do que imediatamente. Aquilo, no entanto, não foi o bastante para cobrir o machucado por inteiro, que ainda despontava. Savannah pigarreou, a desculpa já na ponta da língua. Afinal, era a mesma que ela sempre dava.

— Ah, não é nada. Consegui nas aulas de kung fu, mas nem tá doendo. É bem pequeno, na verdade, mal dá para sentir.

Amelia semicerrou os olhos, claramente desconfiada. A heroína abriu o sorriso mais inocente que podia — um sorriso que ela, aliás, estava começando a usar muito com Lia. Se a amiga começasse a desconfiar demais... Poderia acabar descobrindo algo que não deveria.

Bennett, então, deu um cutucão na parte superior do tronco, bem onde o hematoma se iniciava, de Savannah. Esta encolheu-se, mordeu os lábios para reprimir um grito de dor. Lançou um olhar fulminante para Amelia, esquecendo-se de que deveria agir como se não fosse grande coisa. Já a outra ostentava um olhar indecifrável.

— Ele não parece ser pequeno. Como diabos você conseguiu um machucado assim nas aulas?

Savannah não demorou para responder.

— Foi durante uma luta de bastões.

Lia não pareceu se convencer muito com a história, mas deixou de lado. As duas garotas, então, apressaram-se para fora do vestiário, já que elas eram as únicas que ainda estavam lá e não deveriam se atrasar para o treino. Traçando o caminho para o campo, Savannah rapidamente mudou de assunto antes que a amiga pudesse retomar suas desconfianças.

— Quando vai ser o seu próximo encontro com o Ned?

Aquilo pareceu dissolver todas as suspeitas que pudessem estar se passando pela cabeça de Amelia, sua face tornando-se meio desanimada. Savannah, por um lado, agradeceu por seus machucados não serem mais o tópico da conversa. Por outro, ficou preocupada com o comportamento da amiga.

— O que foi? Você não se divertiu ontem?

— Não, é claro que eu me diverti! Foi incrível! Tirando a parte da explosão, isso não foi legal. — Lia chacoalhou a cabeça, percebendo que já estava divagando. — Mas eu nem sei se vai rolar, sabe? Eu queria muito sair com o Ned de novo, mas... E se as coisas derem errado? E se a explosão de ontem tiver sido um sinal de que não é para ser?

Savy interrompeu os passos, de modo que Amelia acabou fazendo o mesmo. Ela girou o corpo para ficar frente a frente com a amiga, olhando em seus olhos enquanto colocava ambas as mãos nos ombros da menina.

— Aquela explosão foi o ato de alguém mau, Lia, não do destino. E é compreensível você estar apreensiva, principalmente levando em conta o seu último namorado. Mas o Ned é um bom rapaz. Se você não tentar, nunca vai saber se é para ser ou não. E, na minha humilde opinião, é sim.

Lia não lutou contra o sorriso que se formou em seu rosto, bem como Evans, que deu em Bennett um chacoalhão antes de soltá-la. Amelia passou os braços sobre os ombros da amiga quando elas retomaram o caminho para o treino.

— Sabe, para alguém com uma vida amorosa tão parada, você até que dá bons conselhos.

Savannah riu e bateu no quadril de Lia com o seu, empurrando-a um pouco para o lado.

— Cale a boca, Bennett!

[23/01/2019]

oi, galera! como estão? passaram bem o fim de ano?

primeiro capítulo do ano, uhuuuul!!! ele ficou meio paradinho, mas fazer o que k tive que cortá-lo pela metade, mas a boa noticia é que já tenho o próximo capítulo escrito pela metade, então não devo demorar muito para postar.

enfim, espero que vocês tenham gostado desse capítulo (apesar de eu não tê-lo feito, de verdade). até a próxima atualização!

beijos!

ps: O TRAILER DE FFH EJEBKENEKRNRKRNKRNRKR SURTEI DEMAIS

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