03. a new case
"APARENTEMENTE, PETER tinha um encontro.
O sinal que marcava o fim das aulas daquela segunda-feira tinha batido fazia alguns minutos. Agora, Peter e Ned desciam os degraus da entrada da Midtown despreocupadamente enquanto Leeds narrava como havia desmontado, sem querer, a sua Estrela da Morte da Lego graças a um Pinscher muito mal-humorado. O Homem-Aranha ouvia atentamente a história quando escutou uma voz atrás deles, quase que carregada pelo falatório dos outros estudantes, chamar pelo amigo.
Ned não pareceu ouvir o chamado e continuou a traçar o seu caminho. Peter, o qual estacou no lugar, deixou de prestar atenção na história, espiando por cima do ombro. O outro estava tão concentrado em contar os acontecimentos que não percebeu a mudança.
— Ei, Ned! Espera!
Parker enxergou uma garota emergir pela massa de alunos que deixava a escola. Peter a reconheceu de imediato: era Amelia Bennett, a líder de torcida para quem Ned dera aulas complementares de Física no ano anterior. Obviamente Parker sabia quem ela era, afinal, Ned havia desenvolvido uma paixonite por ela e desde então suspirava sempre que a via pelos corredores.
Espremendo-se pela multidão, a menina, afobada, empurrava algumas pessoas na escada para poder chegar até os dois garotos. Peter ficou preocupado que ela caísse — ou provocasse a queda de alguém — por causa da evidente a pressa, mas Amelia alcançou o chão com graciosidade e sem problema algum.
— Só que aí o cachorro... — Ned por fim se deu conta de que estava praticamente falando sozinho. Ele parou de andar também e olhou de forma questionadora para o amigo. — O que foi?
Com o queixo, Peter indicou Bennett, que fez um carro buzinar ao frear com tudo a fim de não atropelá-la. A careta que a garota fez foi visível ao longe, e ela fez gestos de desculpa atrapalhados antes de prosseguir o caminho. Ned arregalou os olhos por um momento e daí encarou o herói, parecendo questionar o que fazer. O amigo deu de ombros, como quem dizia 'Ei, não pergunte a mim.'
— Como é que eu tô? — Murmurou, virando-se com rapidez para Peter.
Parker levantou o dedão e deu um sorriso. Ned não pareceu ficar mais tranquilo e soltou um gemido sofrido, dando um tapa leve no ombro do amigo que parecia significar 'Colabora!'. De sobrancelhas franzidas — afinal, ele estava tentando —, Peter devolveu o gesto, e provavelmente Leeds teria feito o mesmo se Amelia não tivesse finalmente aparecido em frente a eles. De imediato, Peter e Ned ajeitaram-se e se voltaram para ela.
— Ei — ela, apesar do esforço que fizera para alcançá-los, não estava nem um pouco ofegante. Seus olhos estavam grudados em Ned e ela claramente dirigira a palavra a ele, mas desviou os olhos brevemente para Peter e sorriu de leve. Parker devolveu o cumprimento.
Enquanto isso, Leeds não falou nada. Com os lábios ligeiramente entreabertos e os cantos dos mesmos elevados, ele encarou a garota. Peter abaixou a cabeça para esconder a risada que tentava segurar — em seguida, deu uma cotovelada de leve nas costelas do amigo. Ned piscou algumas vezes, parecendo acordar do transe, e abriu e fechou a boca algumas vezes antes de responder baixinho:
— Oi.
Os lábios de Amelia se curvaram para cima. A menina, cujas bochechas estavam rubras, alternou o peso do corpo entre as pernas e pigarreou. Não era preciso ser nenhum gênio para notar que ela estava nervosa.
— Bem... Hm... Ahn — gaguejou. Ela desviou os olhos, como se pensasse em como formular a frase. — Quarta-feira... pizzaria?
— Hm? — Ned piscou lentamente.
A única explicação para a falta de reação do rapaz era ele estar sofrendo algum tipo de colapso interno; Peter sabia que aquilo era muito possível. Ele, por outro lado, estava funcionando perfeitamente bem e compreendeu sem problemas o que acontecia. Amelia estava chamando Ned para sair!
O Homem-Aranha não tentou esconder o sorriso que tomava conta de seu rosto, ao passo que a garota à sua frente aparentava estar infinitamente mais nervosa graças à resposta de Ned.
— Certo. Ok, ok, ok. — Repetiu. Fechou os olhos e, mais uma vez, deu uma longa inspirada. Quando tornou a abri-los, os músculos de seu rosto suavizaram, o que lhe atribuiu uma imagem mais confiante. — Você quer ir a uma pizzaria comigo? Depois de amanhã?
Alguns segundos se passaram até que Ned respondesse. Ele, de sobrancelhas arqueadas, respondeu a garota com certa lentidão.
— Tipo... Um encontro?
— Se você quiser chamar assim — Bennett soltou um risinho.
Leeds pareceu ter sido petrificado. Por ele ter demorado para responder, um silêncio levemente desconfortável instalou-se entre os três — Ned estático, Amelia esperando por uma resposta e Parker sem saber o que estava fazendo ali. Ele sabia que o amigo estava apenas nervoso, mas a garota não, e a sua expressão vacilou por um momento.
O herói pigarreou, atraindo então a atenção para si. Estava prestes a fazer algum comentário como 'Puxa, que tempo mais agradável' quando a líder de torcida disparou de repente:
— Peter pode vir, se quiser! — A expressão dela era de quem tinha acabado de ter uma ideia brilhante. O que não foi o caso. — Minha amiga Savannah...
— O quê?! — Parker interrompeu.
Por um instante, ele ficou surpreso demais para falar qualquer outra coisa. Mas ele logo se recompôs e estava para negar o convite educadamente quando Ned, com uma velocidade incrível, tampou a sua boca. Peter reprimiu a vontade infantil de morder o amigo.
— Claro! — O garoto exclamou.
Peter, com as sobrancelhas franzidas, tentou argumentar, mas suas palavras não passaram de resmungos abafados contra a mão de Ned, embora ele duvidasse de que seria ouvido mesmo se pudesse falar direito. Afinal, do jeito que Bennett e Leeds sorriam um para o outro, eles mal prestavam atenção no outro rapaz.
— Eu... bem... levarei Savannah. — Amelia informou antes que o Aranha pudesse falar qualquer coisa. — É um encontro duplo, então! Te mando mensagem depois.
Dito aquilo, ela lançou um último sorriso para os rapazes, deu-lhes as costas e saiu correndo na direção do estacionamento. A menina já tinha tomado certa distância quando Peter bateu na mão de Ned a fim de tirá-la do rosto enquanto lhe dirigia um olhar intenso. Apesar de estar feliz pelo amigo, não queria, não podia ir a um encontro.
— Me belisca, Peter — Ned estendeu o braço, ainda fitando uma Amelia cada vez mais distante. Parker, depois de realmente considerar fazer isso, somente arqueou as sobrancelhas o para amigo. — O quê?
— Ned, você sabe que eu não posso ir a um encontro! — murmurou. — O estágio...
Mas o garoto não lhe conferiu a chance de terminar a frase. Rapidamente, ele agarrou os ombros de Peter e os chacoalhou.
— Você precisa me ajudar! Eu não faço ideia do que conversar com ela! Quer dizer, não posso falar de Física no meu encontro... — Ele se interrompeu subitamente. Algo como um clarão de compreensão iluminou o seu rosto e acentuou a sua expressão de pânico. — Meu Deus. Eu tenho um encontro. Eu não acredito. O que eu faço, Peter?!
— E você pergunta para mim?! — Parker soltou uma risada leve, afastando-se do amigo e de seus braços. Sinceramente, ele não era a melhor pessoa para se pedir conselhos quando o assunto era encontros. — Sei lá, pergunta se ela gosta de queijo.
Ned inclinou a cabeça para o lado e franziu os lábios, considerando a sugestão. Mas ele balançou a cabeça e retornou a atenção para Peter.
— Você precisa ir comigo. — Disse mais uma vez. — Você só precisa me impedir de dizer alguma bobagem. Não é como se precisasse sair com a Savannah.
Savannah. Parker rapidamente foi capaz de ligar o nome a um rosto — ele a conhecia, é claro, não só porque ela andava sempre junto à Amelia, mas também porque esteve em muitas das classes de Peter desde o início do ensino médio. Já haviam trocado algumas palavras poucas vezes; nada muito significativo. Mas o que realmente a marcava na cabeça de Peter era outra coisa.
— Não foi ela que deu um soco no Flash há dois meses? — relembrou.
Ele observou o amigo assentir convicção, e acabou por recordar-se do ocorrido: aproximadamente dois meses atrás, Flash estivera incomodando sua ex-namorada — a qual, por coincidência, era ninguém mais, ninguém menos que Amelia Bennett — em uma festa, e a melhor amiga dela, Savannah Evans, havia lhe dado um soco como resposta.
Sinceramente, Peter achou aquilo incrível.
Ele chegara a assistir aos vídeos que foram gravados da briga, e, de fato, não tinha nada mais gratificante do que ver Flash Thompson receber um murro no olho como um resultado direto de suas babaquices. Bem, talvez ver a marca arroxeada deixada em seu rosto por algumas semanas tivesse sido um pouco melhor, mas era um páreo duro.
Voltando à realidade, o herói encarou Ned por alguns segundos antes de responder. Decidiu, então, que faria aquilo pelo amigo. Ele poderia não ser o Homem-Aranha por uma noite.
— Eu vou, sim. Só não garanto que vou ser de boa ajuda.
Seu amigo soltou um suspiro de alívio antes de sorrir abertamente."
Agora, sentado no telhado de um prédio aleatório, com as pernas pendendo para fora do edifício, os olhos atentos no sol que sumia no horizonte e com as lembranças do dia anterior repassando por sua cabeça, Peter não tinha tanta certeza de que ter concordado com aquilo fora uma boa ideia.
Mas o que podia fazer? Havia dado a sua palavra a Ned e pretendia cumpri-la.
Suspirando, ele abaixou a máscara vermelha e cobriu o rosto novamente. Peter ergueu-se com um salto somente para lançar uma teia no prédio ao lado. Então, ele lançou-se ao ar e se balançou pelas ruas de Nova York.
✶
Savannah franziu o cenho em concentração enquanto fazia a tarefa atrasada de Geometria. Ou melhor, tentava. Os exercícios haviam sido passados uma semana atrás, mas, verdade fosse dita, a menina havia desistido logo quando tentara da primeira vez. Só que, por mais que quisesse, ela não poderia se esconder para sempre da matéria, então decidira dar um pouco mais de atenção aos estudos naquele início de noite.
Ela tinha acabado de terminar uma das páginas da lição quando, de repente, escutou a porta de entrada ser aberta. Vozes abafadas alcançaram seus ouvidos, e ela imediatamente notou que pertenciam a Kyle, seu irmão, e ao melhor amigo dele, Theodore Hathaway.
A adolescente saltou da cama a fim de ir cumprimentá-los e exigir que eles fossem, por fim, jantar — afinal, ela estava faminta depois de esperar o irmão, que ficara preso no emprego, por quase duas horas. Aquilo vinha acontecendo com certa frequência ultimamente: Kyle havia se tornado um detetive não fazia muito tempo e, desde então, esteve imerso no trabalho, não descansando até fechar os casos e constantemente pegando turnos extras.
Claro que aquela rotina nova do irmão havia favorecido muito a vigilante, que podia ir e vir sempre que quisesse sem se preocupar em ser pega. A única desvantagem era que, em algumas semanas, Savannah e Kyle mal se viam. Para que isso não se tornasse um hábito, os dois tinham um combinado de irem comer fora toda terça-feira. Não era incomum que o detetive levasse o melhor amigo, por isso a garota não estranhou ao notar que Theo estava ali também. Eles eram praticamente inseparáveis; era assim desde que haviam se conhecido na academia de polícia.
A heroína alcançou a escada e fez menção de começar a descer, mas interrompeu-se ao ouvir Kyle falar:
— Não acredito que querem interrogar o Abutre mesmo assim. É óbvio que ele não tem nada a ver com isso!
A menção ao alter ego criminoso de Adrian Toomes fez Savannah parar tudo que fazia. Ela franziu o cenho, interessada. O irmão evitava comentar com ela sobre qualquer acontecimento no trabalho, o que nunca a incomodou, mas agora ela precisava admitir que estava curiosa. O homem de quem ele falava pai de sua amiga, Liz Allen, e ele havia sido preso no ano anterior por fabricar armas a partir da tecnologia dos alienígenas contra os quais os Vingadores haviam lutado na Batalha de Nova York.
Savy se recordava do quanto havia ficado chocada ao descobrir que Adrian Toomes fora o responsável por aquelas armas terríveis, e do quanto se sentira arrasada por Liz. E, embora a menina não tivesse a menor ideia do que Kyle estava falando, ela duvidava que o Abutre estivesse envolvido no que quer que fosse. Afinal, pelo que sabia, ele fazia de tudo para que sua sentença fosse reduzida, e participar de novas atividades criminosas não o ajudaria em nada.
— É claro que não, ele está... — A voz de Theo tornou-se baixa demais para que Savannah pudesse escutar o resto.
Praguejando mentalmente, a jovem começou a descer os degraus com cuidado para não fazer barulho algum. Ao chegar na base da escada, ela já conseguia ouvir os homens com mais clareza, ainda que eles, em vez de revelarem algo útil de fato, estivessem apenas listando provas da falta de envolvimento de Toomes no que quer que estivesse acontecendo.
— Eles estão indo para um caminho totalmente errado — Kyle disse, por fim, com um suspiro. — Vou acabar enlouquecendo se ninguém fizer alguma coisa realmente prestativa.
Savannah, escondida pela parede da escada, inclinou-se um pouco para ter uma visão melhor do que acontecia. O irmão encontrava-se apoiado na ilha da cozinha, parecendo estressado. Theo, ao seu lado, passou a mão pelos cabelos ruivos e depois a colocou sobre a de Kyle.
— Vai dar tudo certo. Nós logo vamos desvendar isso, você vai ver.
Kyle meneou a cabeça, mas acabou por abrir um sorriso para o melhor amigo, que devolveu o gesto. Foi naquele instante que o estômago da garota escolheu dar o ronco mais impossivelmente alto do mundo, denunciando a sua localização. Ky afastou-se mais do que imediatamente de Theo, ao passo que Savannah jogava-se contra a parede a fim de se esconder. Ela espalmou as mãos na barriga, como se aquilo fosse adiantar alguma coisa, e lançou um olhar para baixo.
— Traidora — ela sussurrou para si mesma.
— Savy? — Kyle a chamou.
A garota rapidamente substitui a careta que tomava conta de seu rosto por um sorriso inocente. Ela bateu um pouco os pés no chão para parecer que estava descendo os degraus antes de sair de onde se escondia. Savy encontrou os detetives a encarando com expressões levemente inquisidoras, as quais ela fez questão de ignorar.
— Ah, oi! — Ela falou casualmente. — Achei que tivesse escutado vocês chegando. Tudo bem?
Kyle arqueou as sobrancelhas para a sua tentativa de disfarçar o que havia, de fato, acontecido. Em seguida, ele se aproximou e bagunçou exageradamente os cabelos da irmã. Ela chiou, afastando-se dele com um pulo enquanto ajeitava os seus fios desarrumados.
— Você estava nos espionando, sua pirralha?
Savannah, bufando, revirou os olhos. Kyle sabia o quanto ela odiava ser chamada por ele daquele jeito, e nunca perdia uma chance de fazê-lo. Às vezes, podia ser difícil dizer que ele era nove anos mais velho que a garota.
— Por favor, Ky, eu tenho coisa melhor para fazer do que escutar o blá-blá-blá de vocês dois — apesar da mentira descarada, ela soou bastante convincente. Claro, a menina poderia somente dizer a verdade e admitir que estava curiosa, mas aquilo faria com que Kyle nunca mais tocasse no assunto. Ele diria que aquilo não era para ela, de modo que a vigilante jamais descobriria o que ocorrera. Sendo assim, a alternativa mais viável era, logicamente, fingir que nada tinha acontecido e esperar pela melhor oportunidade de desvendar o mistério. — Eu simplesmente ouvi vocês chegarem, comecei a descer e foi quando meu estômago roncou vergonhosamente. Eu estou morrendo de fome. — Ela juntou as mãos em frente ao peito. — Então podemos, por favor, ir comer?
Sua tentativa de desviar o assunto pareceu funcionar daquela vez, visto que o detetive anuiu e deixou o assunto de lado. Savannah comemorou internamente e, tentando parecer tão relaxada quanto possível, voltou-se para Theodore.
— Você vem com a gente?
— Hoje não, Savy — ele respondeu. — Tenho planos com a Megan. Já estou de saída, só vim pegar umas coisas aqui.
Savannah meneou a cabeça e, por um momento, pensou ter visto uma sombra cruzar o semblante de Kyle com a menção à noiva de Theo. Mas foi tão breve que ela talvez tivesse imaginado; logo, o irmão estava sorrindo para ela como se nada tivesse acontecido.
— Que tal comida italiana? — Ele sugeriu. Ainda de sobrancelhas franzidas para o comportamento dele, tudo que a garota fez foi assentir. — Italiana, então!
✶
— Aparentemente, vai ter um torneio de torcida em Boston. Eu posso ir, certo? Você só precisa assinar uns papéis.
Savannah batucava os dedos na superfície de madeira da mesa. Ela já havia terminado de comer fazia um tempinho e agora só aguardava Kyle, cujo prato estava praticamente intocado. Ele esteve quieto e pensativo desde que saíram de casa, de modo que a refeição no restaurante se alternara entre momentos de silêncio pesado e algumas tentativas da adolescente de puxar conversa a fim de distrair o irmão. Não havia funcionado, claro; ele só parecia prestar atenção em suas palavras quando ela perguntava se estava tudo bem, e a resposta sempre era um "sim" seguido de um comentário qualquer para desviar o assunto.
A garota sempre se preocupava quando Kyle ficava naquele estado. Ele tendia a se estressar facilmente com o trabalho e se isolar em seus pensamentos, o que nunca era bom.
— Claro.
Savannah calou-se mais uma vez, a garganta já um pouco seca. Ela terminou o que restava de suco de uva, ainda tamborilando as unhas azuis na mesa. O silêncio arrastou-se pela mesa por mais alguns minutos; a menina aproveitou para responder algumas mensagens de Amelia, que estava surtando por causa do encontro no dia seguinte. Savy riu sozinha e, depois de conseguir acalmar a amiga, bloqueou a tela do telefone.
— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje — ela recomeçou, erguendo os olhos para o rosto do irmão. — A Lia...
— Que demais. — Interrompeu subitamente.
A vigilante sentiu a expressão azedar. Já farta daquilo, ela parou com o batuque na madeira e se aprumou no banco almofadado. A mesa deles estava no canto mais afastado do estabelecimento, encostada na janela, e, mesmo não havendo quase ninguém por perto, ela olhou para os lados com cuidado antes de falar. O irmão não percebeu o gesto; apenas continuou a manter a cabeça baixa, focado na comida.
— Kyle? — Chamou, a voz baixa.
— Hm?
— Tenho uma coisa para contar. — Ela fez uma pausa dramática para tentar chamar a atenção do irmão. Não pareceu surtir efeito. — À noite, eu visto um uniforme e saio batendo em bandidos. Surpresa!
— Que legal, Savy — ele disse quase que imediatamente. As palavras proferidas pela garota pareceram demorar para serem processadas e, quando isso por fim aconteceu, o detetive levantou a cabeça. — Espera, o quê?
Savannah arqueou as sobrancelhas, ao passo que o homem bufava.
— Você não vai perguntar se eu estou bem de novo, vai?
— Não sei, você vai falar comigo em algum momento? — Ela rebateu. — Vamos lá, Ky, já estou ficando preocupada. O que foi?
Embora ela já soubesse a resposta, ainda precisou questionar. Ela queria ver o irmão bem, coisa que ele claramente não estava agora. E, por mais interessada que pudesse ter ficado ao ouvi-lo falar do novo caso mais cedo, o que a menina fazia no momento não era para suprir a sua própria curiosidade e, sim, para ver se conseguia ajudá-lo a se desestressar de alguma forma.
Ela praticamente conseguia ver as engrenagens girando na cabeça de Kyle enquanto ele debatia se revelava ou não o que o perturbava. Por um momento, Savannah temeu que ele dissesse que ela era nova demais para entender e desviasse o assunto, como geralmente fazia. Porém, a dúvida desapareceu quando o detetive espiou os lados como se quisesse se assegurar de que ninguém estivesse ouvindo.
— É um novo caso. Um caso grande. — Revelou, o tom de voz baixo. Savy tinha certeza de que ele nunca teria feito aquilo se soubesse que ela estivera xeretando sua conversa com Theo mais cedo. — A polícia, os federais... todo mundo está envolvido nisso. Não conte para ninguém, ok?
— Ah, não! O que é que eu vou falar para todos na escola amanhã, então? — Ela caçoou, mas diante do olhar do irmão, fez uma careta. — Ok. Foi mal, péssima hora para brincadeiras. Pode continuar.
Kyle acabou por bufar uma risada, daí prosseguiu:
— Se lembra do pai da sua amiga, Adrian Toomes? Aquele que foi preso, o tal de Abutre. —Savannah tentou demonstrar alguma surpresa diante daquelas informações, como se ela não tivesse ouvindo nada antes. — Bem, se lembra também do parceiro dele que prendemos na sua escola? O Schultz?
O nome levou a garota para o ano anterior, mais especificamente para o dia do Baile de Boas-Vindas. Ela recordava-se de estar se divertindo quando, de repente, a polícia chegou e levou um homem sob a sua custodia — um criminoso que jazia bem no estacionamento. Kyle lhe contara depois que ele estivera ali para vigiar Liz Allen, a filha de seu chefe, quando o Homem-Aranha surgiu para prendê-lo. Ou, pelo menos, foi isso que o bandido contara no interrogatório.
— Schultz revelou tudo a fim de diminuir a pena. Disse os nomes dos parceiros, dos compradores e também onde ficava o laboratório deles. — Havia um quê de animação na voz de Kyle. — A gente levou tudo!
"Há três dias, porém, a base onde as armas estavam guardadas foi invadida. Levaram todas as armas, que são muitas. Vários federais foram feridos e alguns, até mortos. E, apesar de o armazém ficar em Nova Jersey, acreditamos que as armas estejam de volta a Nova York.
"O problema é que os meus colegas acham que o Abutre tem alguma coisa a ver com isso, mas não faz sentido, sabe? Ele está tentando diminuir a pena e conseguir uma condicional, não faz sentido estar envolvido nisso. Só que ninguém me dá ouvidos, claro. Querem interrogar Toomes e Schultz para descobrir se sabem de alguma coisa... Duvido que vão conseguir alguma coisa com isso. Eu acho que é alguém de fora que está interessado em armas altamente tecnológicas."
Quando Kyle finalizou, Savannah reparou que seus ombros estavam mais relaxados agora que ele tinha posto todo o peso daquelas informações para fora. Em compensação, ela estava tensa; armas construídas com tecnologia alienígena da Batalha de Nova York? A cidade ficaria um caos quando elas voltassem a circular.
— Vocês têm alguma pista? — Savannah tentou mascarar a ansiedade.
O irmão, que não pareceu notar a sua mudança de humor, enfiou uma garfada de risotto na boca. Ele balançou a cabeça enquanto esperava terminar de mastigar para voltar a falar.
— Ainda não — molhou os lábios. — Grande parte dos agentes machucados ainda não acordou, e os que levantaram não foram de grande ajuda. As câmeras também não deram em nada: elas foram sabotadas. Ainda estamos tentando achar alguma que tenha visto algo... Mas achamos que alguém se infiltrou nos federais e armou tudo.
Savannah assentiu de forma demorada, absorvendo as informações. Uau. Era realmente um caso grande e sério. Kyle tinha motivos para estar tenso, tendo em vista que era um de seus primeiros trabalhos importantes como detetive. Mas ela sabia que o irmão era ótimo no que fazia e que logo descobriria a verdade por trás daquele evento.
Principalmente se ela ajudasse...
Ela abriu a boca, prestes a fazer mais perguntas, mas foi interrompida pelo irmão, que pigarreou:
— Enfim! Obrigado, Savy. Já estou até melhor — ele sorriu sem mostrar os dentes. — Mas agora chega disso. Vamos falar sobre outra coisa. Mamãe te avisou que já saiu da Itália, não é? Logo, logo chega na França.
Savannah concordou, com a cabeça presa no caso. As palavras de Kyle perdiam-se em seus ouvidos; agora era ele quem falava sem parar e sem ser realmente escutado. A menina somente conseguia pensar nas armas fabricadas com material alienígena e no quão perigosa elas eram. Esses produtos não poderiam, de jeito algum, se espalhar pela cidade.
E ela iria se certificar disso.
✶
[30/09/2018]
OI GALERAAAAAAAAA! tudo bem?
gente eu até que não demorei muito- consegui postar no mesmo mês pelo menos k milagres podem acontecer.
e gente.
SUPER CHEGOU A 1K AAAAAASKBDLDVEKBDOSVDOBELSBSLDBKDVDISBSOSBOSS OBRIGADA GALERA EU AMO VOCES
o especial vai ser a savannah dando o socao no flash SIM! eu simplesmente amo esse fato, aiai.
enfim, eu espero que vocês tenham gostado desse capítulo! se algum errinho passou pela correção, me perdoem didjvf até o próximo capítulo <3
beijos!
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