01. Amor Puro 🌻
Capítulo 1 - Amor Puro
O garoto pequeno de nove anos, cabelo preto tigelinha, olhos grandinhos, e sorriso de coelhinho era bem quietinho na dele, não ousava se meter nos assuntos dos adultos nem nada do tipo. Porém, naquele dia em especial lhe bateu uma curiosidade.
Sua avó, Jeon Nayeon, sempre acordava cedo, todo dia no mesmo horário, quando o sol estava fraco por ter nascido a pouco tempo e os galos cantavam. Geralmente ela organizava a casa, tomava um banho, deixava o café pronto na mesa e ia direto para o trabalho junto de seu avô Boram, mas nos fim de semana era diferente.
Ela ia para a cozinha fazer seus famosos biscoitos de bichinhos de sabor baunilha e alguns de chocolate. Então enchia o prato do seu netinho, depois colocava os demais em vasilhas pequenas, separadinhas, sempre contendo o mesmo tanto de biscoitos e colava etiquetas, os levando para o carro e indo para algum lugar que o menino não conhecia, retornando somente no início da noite.
Jungkook guardou esses detalhes por muito tempo e atualmente se encontrava muitíssimo curioso. Por isso, se sentou próximo a mulher que sorriu para si, continuando a enfeitar os recém assados.
— Vovó, para onde a senhora vai todo sábado e domingo com os biscoitos?
— Eu vou em um lugar onde há várias crianças e ajudo a cuidar delas, além de levar um pouco mais felicidade. — disse com a ternura costumeira.
— Como se leva felicidade? — perguntou confuso, com sua ingenuidade de criança.
— Felicidade é um sentimento. E ela vem através de darmos atenção, cuidado, carinho, amor, às vezes alguns presentinhos...
— E os biscoitos da vovó! — ela sorriu.
— E os biscoitos da vovó. — concordou.
— Quando a senhora me pede para separar roupas que não me cabem e brinquedos que não brinco, é para levar felicidade também?
— Sim. As crianças ficam muito felizes e gratas podendo usar as roupinhas e brincar a vontade! E para mim os presentes que você manda se tornam mais especiais por eu saber que você dá de coração, sem egoísmo, sem esperar nada em troca. E é assim que deve ser, meu netinho.
— Eu tenho mais! — gritou, pulando do banco no chão. — Eu vou pegar e a senhora deixa eu ir junto? Eu quero levar felicidade!
— Claro, meu bem. — sorriu amplamente, o vendo se encher ainda mais de energia.
— Ebaaaa! — exclamou, correndo animado até seu quarto.
— Não esqueça de pedir ajuda à sua mãe para separar as coisas e também para ir comigo.
— Tá bom!
Empolgadíssimo, Jungkook encheu uma caixa com roupas e a outra com brinquedos. Se sua mãe não estivesse lá para ajudar e orientar, ele teria levado praticamente tudo o que tinha pois estava muito afim de fazer as crianças felizes.
— É um orfanato como nos filmes? — perguntou quando já estavam dentro do carro.
— É um Acolhimento Institucional. Orfanato não é um termo que devemos utilizar nos dias atuais. Antigamente, se usava orfanatos, reformatórios, internatos, e agiam como se quem precisava de lá eram delinquentes e abandonados que não deviam viver em sociedade enquanto não fosse "reformadas" através de uma rotina e educação rígida. Mas depois do surgimento do Estatuto da Criança e Adolescente, teve uma mudança para garantir cuidados e garantir os direitos para quem precisa do acolhimento ter o melhor desenvolvimento possível.
Tendo os olhinhos atentos do neto, ela continuou:
— O acolhimento deve ser de último caso e por menor tempo possível e a instituição deve seguir inúmeras regras. Infelizmente há várias instituições que o Estado não cuida, que ficam com poucos recursos ou é administrado por pessoas maldosas e rígidas que quebram as regras, além de transformar o local em um inferno. Mas não entrarei nesses assuntos com você, quem sabe quando estiver mais velho. O ponto é que dizer orfanato reforça o contexto antigo e dá uma visão inadequada ao que o local e as crianças realmente são. Aliás, "não existem crianças-carentes, crianças-abandonadas, crianças-órfãs. Existem crianças, existem adolescentes, existem famílias. Existem histórias, realidades, classes sociais, origens, dificuldades e potenciais, e um trabalho para que todos possam viver em família e na comunidade".
Jungkook entendeu pouco daquela explicação. Porém, aos poucos, de acordo que ia crescendo, foi compreendendo o assunto perfeitamente.
Naquele sábado ele amou levar felicidade. E a partir de então passou a fazer, junto de Nayeon, trabalho voluntário no Acolhimento Institucional de sua cidade.
Foi em uma de suas constantes idas ao local que ele conheceu e logo de cara se afeiçoou por Jimin. O garotinho não saberia dizer o porquê mas sentiu uma conexão diferente, gostou dele à primeira vista.
Jimin não era mais uma criança, era um adolescente de catorze anos. Ele era calado. Desconfiado. Vivia se isolando pois não queria ficar junto das crianças e/ou brincar e tinha a sensação que os adultos não sabiam lhe ouvir, lhe entender. Por isso, preferia ficar no seu canto cultivando o pouco de paz que lhe restou após tanto sofrimento que sua família perturbada e drogada o causou.
Até um certo garotinho que irradiava animação lhe achar no seu esconderijo favorito - embaixo de uma árvore, admirando o céu e sentindo o sol aquecer sua pele - e grudar em si como um chiclete.
Não sabia o porquê de Jungkook ficar tão empolgado ao lhe ver, ao conversar coisas bobas consigo - onde mais ouvia que falava alguma coisa -, ou porque ele parecia gostar tanto de si, sendo que Jimin era mesmo muito quieto, reservado e silencioso. Talvez seja seu instinto de criança.
Uma vez ouviu alguém dizer que crianças têm o mesmo instinto dos animaizinhos, elas sentem por baixo de todas as camadas que você impõe, atravessam todos seus muros, e enxergam a verdade, a sua essência, o seu coração.
Verdade ou não, Jimin estava pouco a pouco acreditando que existiam muitas coisas boas escondidas em seu peito e era por isso que Jungkook gostava tanto de si. Além de ter toda a inocência de um amor e carinho puro para dar a quem ele simpatizava.
Jungkook era quieto, até querer e vir a fazer amizade. Aí ele se tornava bastante falante e extrovertido.
E Jimin sempre buscou se manter afastado das pessoas que souberam lhe conquistar por serem tão boas consigo. Pessoas de quem ele gostava, até então a dona da instituição que sempre o ajudava, a avó do garotinho que em sua opinião tinha os melhores biscoitos do mundo e agora o próprio. Isso porque tinha noção de que tudo era passageiro, ainda mais sua estadia ali. Então não podia se apegar. Não queria, para não sofrer no futuro. Porém, se tornava difícil toda vez que estava perto de Soojin ou Nayeon ou Jungkook. Este que curiosamente lhe transmitia um bem estar imenso.
Seu jeito fofo, ingênuo, alegre, e fácil de se divertir o fazia sempre sorrir. Ele também parecia ter uma luz especial, aquela que conseguia iluminar seus pensamentos e seus dias escuros. Como os raios do seu precioso sol.
Secretamente, o apelidou de sunshine. Pois como o sol ele lhe enchia energia, felicidade, além de conseguir fazer seu peito ficar tranquilo, aquecido.
Em algum momento, Jimin se rendeu.
Ele aceitou que o sol não seria seu único amigo. Não quando Jungkook se empenhava tanto para ganhar esse posto.
Logo passou conversar cada vez mais com o garotinho, a cumprir as tarefas do fim de semana e também trabalhos da escola, sempre com maior empolgação, afinal, Jungkook também tinha o poder de erguer seu ânimo.
Uma amizade pura, intensa, e especial ia crescendo entre eles. A relação era cheia de respeito, companheirismo e carinho, algo que fazia bem a ambos. Dava para ver de longe o quão eram mais alegres tendo um ao outro com quem contar, para aconselhar, passar o tempo, se divertir.
— Você, um dia, gostaria de ser adotado? — perguntou Jungkook, como de costume deitado na grama ao lado de Jimin enquanto eles comiam biscoitos de bichinho, olhavam o céu e soltavam a imaginação, comentando sobre os desenhos que viam nas nuvens e sentindo o sol aquecer suas peles.
— Eu não sou mais uma criança. Ninguém me quer. Eu já me conformei que não vai acontecer.
— Você não cansa daqui? — o local não parecia tão bom para o garoto de agora doze anos, que tinha outra realidade, viver.
— Até que não. Há lugares bem piores. Mas você sabe que eu não deveria estar aqui a tanto tempo. A questão é que ninguém quer cuidar de um adolescente de dezesseis anos e a tia Soojin não permite que eu vá para outros lugares que podem não cuidar de mim direito. Acho que se ela conseguir continuar a mexer os pauzinhos é capaz que eu fique aqui até os dezoito. E então estarei livre.
— Mas sozinho. — disse como se fosse algo ruim pois na sua mente, de fato, era.
— Dá para acostumar com a solidão desde que você não encare como se ela fosse um problema que deve ser resolvido e sim como uma bela oportunidade de se conhecer, se amar e ser feliz com a sua própria companhia.
— Nossa! Você é tão inteligente, hyung! — falou, boquiaberto, o vendo como o garoto mais sábio do mundo e o admirando mais um pouco.
— Inteligente o suficiente para saber que estou sozinho no mundo desde que nasci. E para nunca alimentar as esperanças de ter uma família adotiva. — pronunciou como se tivesse certo do que dizia, como se isso não o abalasse mais, só que Jungkook sempre foi capaz de ultrapassar seus muros internos. Sabia que ele falava assim por estar decepcionado, perdendo as esperanças.
— Isso me deixa triste. — comentou, se sentando para beber água. — Eu gostaria que você tivesse uma família para te amar, apoiar, e ajudar. Uma mamãe, um papai, um vovô ou vovó com quem possa contar, como eu.
— A sua realidade é distante da minha. E somos diferentes. Eu não preciso disso. — também se sentou.
— Não precisa mentir para mim. Eu sei que você fica chateado por, quando as pessoas decidem adotar, preferirem os mais novos. Eu posso ser novinho mas não sou bobo, hyung.
— Uhm. — não tinha resposta pois era verdade.
— Por que eles fazem isso?
— A minha teoria é que bebês ou crianças pequenas são fofas e adoráveis e são fáceis serem inseridas na família, podendo ser criados e educados da maneira que os pais querem. O adolescente é cheio de pensamentos, questionamentos, e influências de pessoas de fora. Às vezes nem sabemos o que fazer, estamos nos formando pouco a pouco como pessoas e se é difícil para lidarmos com nós próprios, certamente para eles que estão de fora lidar com a gente se torna um desafio maior que não são todos que querem ou saibam resolver. As pessoas evitam problemas, adolescentes são vistos como problema, então nunca cogitam a hipótese de adotar um. Ou se pensam por alguns segundos logo chegam à conclusão que é melhor não. — sorriu amargo. — Acho ridículo porque assim que os bebês ou crianças crescem, de toda maneira irão passar pela "pior fase" que é a adolescência e irão se tornar adultos com opiniões e jeitos próprios.
— Faz sentido. Você fala tantas coisas complexas às vezes. Acho tão inteligente. Onde aprende isso?
— Com a psicóloga daqui. Tenho consulta toda semana. — deu de ombros. — Se me acha inteligente, precisa ver ela. A mulher sabe o que dizer e mexe comigo. Eu sempre penso muito, aprendo várias coisas e saio da sala todo leve.
— Tomar sol de deixa leve. Ir à psicóloga é como tomar sol? — o adolescente riu pela comparação.
— É parecido. Olha aquela! — apontou para uma nuvem que parecia ter orelhas e rabo de cachorro. — Parece o Tod!
Era o filhote de dálmata que não queria sair dali, porém, Jimin não podia ficar com ele e Jungkook se disponibilizou a cuidar do cãozinho.
— Sim, muito!
— Dá próxima vez que vier, traga ele. Estou com saudades.
— Tá bom.
Eles comeram os últimos biscoitos que estavam no prato.
— Uhmm... Eu estava pensando a um tempo... Hyung, e se eu te levar para casa?
— É impossível.
— Mas você diz que nada é impossível quando se quer muito.
— Não seja doido. — riu.
— Não estou sendo doido. Estou sendo inteligente. É uma ideia muito boa, eu estive com ela na mente por um tempão. Te ter em casa será muito legal! Nós poderíamos jogar vídeo game, ver desenhos, ir ao parque jogar vôlei como eu faço e você poderia cozinhar junto da vovó enquanto eu pego no pé de vocês, como fazemos aqui! Eu posso dividir tudo o que eu tenho com você e você pode ser da minha família!
— Não é uma ideia, sabe? É como um sonho. Bem distante.
— Não é tão distante assim. Aceite, Jiminnie. Eu posso aumentar seu ânimo todos os dias, você não precisaria esperar para ser animado só nos fins de semana.
O coração de Jimin se aqueceu ao ouvir a proposta inocente e afetuosa de Jungkook. Mas ele sabia que dependia além da vontade de um garoto de coração bom e lindas intenções. Dependia de adultos que nem sempre tinham e usavam essas coisas.
— Não se preocupe, eu estou bem assim. Não preciso de ninguém. E, você sabe, faltam dois anos para eu ser livre. Soojin disse que assim que eu sair, irá continuar a me ajudar. Já tracei meus planos, me formar na escola, arrumar um emprego, sair daqui, continuar meus estudos em alguma faculdade e morar na república. Depois me formar na faculdade, ser bom na minha profissão...
— Ter a casa dos seus sonhos, um cachorro, e ser feliz sozinho. Uhum, sei. Mas eu não gosto da ideia de te ver sozinho. Nem de eu não ser mencionado em seus planos. Você por acaso pretende sair daqui e manter a distância entre nós?
— Eu nunca faria isso com o meu melhor amigo. Nada nem ninguém ficará entre nós. E ficar sozinho não é ruim como parece. Você vai entender melhor quando estiver mais velho.
— Pode tentar se enganar, mas eu sei que você não quer ficar totalmente só. E eu quero que você tenha boas companhias. Quero te incluir na minha família.
Jungkook gostava de ter uma grande e unida família que ia além de seus pais e avós para contar. Eles eram amorosos, afetuosos, se ajudavam, apoiavam e transmitiam muito carinho. Algo que se contasse, Jimin não acreditaria que existia. Algo que sabia que ele merecia e queria que Jimin tivesse.
Tinha noção de que mesmo ele sendo durão, que falasse que a solidão é uma ótima companhia e que ficaria somente com ela no futuro, lá no fundo ele também desejava fazer parte disso. Como, quando eles se conheceram, ele sempre dizia ser seu sonho. Mas de uns tempos para cá Jimin anda perdendo a esperança.
— Não precisa. — o abraçou pelo pescoço, de lado, mesmo não sendo de muito contato físico. — E eu não falo de você nos planos porque nunca se sabe o que pode acontecer no futuro. Mas eu acredito que você verá tudo isso se concretizar ao meu lado.
— Eu quero. Então... — o olhou inocente. — Promete que no futuro você vai se casar comigo. — a fala pegou Jimin totalmente de surpresa. — Assim eu posso ver tudo acontecer, ser a sua família e morar na sua casa dos sonhos junto do cachorro que você terá.
— Mas eu sou um homem.
— E daí? Eu continuo seu melhor amigo, continuo te admirando e gostando de você. O que tem demais na gente se casar? Não é isso que se faz quando temos esses sentimentos?
O pedido era ingênuo, puro, genuíno, Jimin apreciava o fato de que o garoto queria que ele tivesse um lar, todos os cuidados e sentimentos que familiares deveriam ter e, infelizmente, ele sabia muito bem que nem todos tinham. E também apreciava que Jungkook o amava e queria tanto ser sua família que estava até cogitando um casamento, visto que imaginava que casar era unir duas pessoas que se gostam independente de qualquer coisa.
— Você me permite ter mais que uma família, Kook-ah. Você é a luz que leva embora os meus dias escuros, chuvosos e frios. Você me deixa leve, alegre, aquece meu peito. Você é meu sunshine. — o garoto abriu um sorriso bem largo, fofo e contagiante, que já expressava todo seu carinho, assim como o fato de que gostou de ser chamado de raio de sol - tradução que aprendeu quando estavam estudando inglês juntos -. Uma das coisas que sabia ser mais importante para Jimin.
— Eu amei! Você também é um sunshine pra mim! Vou te chamar assim a partir de hoje.
— Aish, e eu vou te chamar de que?
— Algo que se parece com o significado de sunshine?
— Sunflower.
— Oi? O que é... Flor sol? — o mais velho riu.
— Na verdade é girassol. Tem o mesmo significado, felicidade, calor, e reflete a energia positiva que emana do sol.
— Gostei! — sorriu, mas logo retornou ao assunto anterior. — Mas você sabe que eu sou persistente, né? Vou pedir para todo mundo lá de casa para que eu te leve para morar comigo!
— Tudo bem.
Concordou para não deixar o amigo triste. No entanto, sabia ser impossível de acontecer. Ninguém nunca o quis como filho, não seria agora que iam querer.
🌻
— Vovó, a senhora já pensou em ter mais filhos? — perguntou o garoto ao que ajudava a mulher a lavar a louça. — Adotar mais um além da mamãe?
— Você sabe que crianças dão trabalho. Sua mãe foi a vida toda uma garota difícil e bem custosa, só aquietou depois de casar com o mala do seu pai. Seu avô não é afim de ter mais filhos. E também estamos ficando velhos, daqui a pouco nós nos tornamos as crianças, e adotar para deixar nas costas de outros da família no futuro não será legal.
— Então adote um adolescente. Até vocês virarem bebês de novo, ele vai estar adulto e poderá se virar!
— Não sei... O seu avô pode surtar com essa ideia. — visto que ele demonstrava satisfeito apenas em ter Jisoo.
— A senhora bem que podia convencê-lo, né? — ela lhe encarou, achando o papo suspeito.
— Onde está querendo chegar?
— Eu quero muito adotar o Jimin hyung! — admitiu. — Mas eu não posso porque sou uma criança e meu pai é muito chato, brigou comigo só de eu começar a falar a proposta para mamãe. Então eu pensei, eles não querem me dar um irmão, mas a senhora talvez poderia me dar um tio. Não seria legal? Uhm?
— Ah, Jungkook... — ela já havia pensado isso várias vezes, praticamente desde que conheceu Jimin, porém sabia que o marido ia ser relutante diante da ideia e ter um filho é algo que ambos no relacionamento devem querer. Seu coração se apertou como sempre fazia quando se esbarrava com a vontade de trazer o adolescente pra casa. — Eu sei o que você está querendo fazer, é muito lindo, mas é complicado. Não depende só de mim.
— A senhora gosta do Jimin?
— Claro que gosto.
— Ele pode ocultar mas eu sei que ele também gosta muito da senhora. Assim como esconde que sempre quis ter um quarto, um lar, uma família legal só para si. Os anos estão passando, ele anda perdendo essa vontade e eu não quero. Quero que suas esperanças nunca morram porque a mamãe vive falando que é a fé e esperança que movem as pessoas. Não quero vê-lo triste, parado no lugar. E eu quero meu amigo sempre por perto também. A senhora que manda na casa, exige, faz todos concordarem contigo. Pode, sim, convencer o vovô. Então nós seremos a família dos sonhos do hyung!
A mulher se sentiu tocada e mais corajosa para tentar. Sorriu para o neto, dizendo confiante:
— Eu vou fazer isso acontecer!
Após alguns meses repletos de conversas sérias com o marido e de vários fim de semana o fazendo trabalhar como voluntário no Acolhimento Institucional, a mulher o amoleceu o coração de Boram, além de Jungkook viver elogiando Jimin para si, e do próprio adolescente tê-lo o conquistado com seu jeito educado, inteligente, calmo e gentil, ainda que fosse um garoto reservado.
Boram aceitou dar entrada nos papéis junto de Nayeon.
Foi um grande susto para Jimin ver que Jungkook se empenhou tanto para que ele entrasse para a família e que no fim tudo dera certo. O garoto, mesmo novinho, sempre quis sua felicidade, desde o início esforçava para isso, acha lindo e sempre buscava retribuir da melhor forma possível, ignorando então a parte que tentava ser distante, fechada, que tentava evitar se apegar.
Quando conversou sobre a adoção com Nayeon, Boram, e Soojin, ele achou surreal. Sua ficha só caiu meses depois quando pisou na casa dos Jeon e foi recebido pelo abraço apertado e eufórico do seu sunflower, assim como as lambidas animadas de Tod.
Foi estranho conhecer os pais de Jungkook como quem deveria ser irmã e cunhado. Conhecer os tios e tias, primos, tanto do lado de Nayeon quanto Boram. A família era mesmo grande. Unida ao máximo possível - pelo o que entendeu havia alguns que não se falavam, mas quando era assim cada um ficava em seu canto -. Demorou cerca de um ano para acostumar com a ideia de que realmente lhe acolheram, era parte de uma família. E nesse tempo também desvendou como funciona a dinâmica dos Jeon, aprendendo a lidar com cada um deles.
Para sua surpresa, a maioria deles eram atenciosos e se esforçavam para lhe deixar confortável, incluso. Mas claro que ninguém era capaz de ultrapassar Jungkook nesse quesito.
Se antes já o considerava um chiclete, agora ele era ainda mais. Com toda certeza. O garoto vivia lhe seguindo para todo lado. Querendo ter muitos momentos ao lado do hyung que tanto gostava e simplesmente admirava muito em cada pedacinho da personalidade, cada atitude ou detalhezinho.
Eles vivam vendo o sol de manhã, com a mania de comentar sobre as nuvens terem formatos de bichos, itens, enquanto conversavam de tudo e comiam biscoitos. Depois iam para a escola. Almoçavam em família então passavam o dia vendo filmes ou animes. A tarde estudavam juntos, ainda que estivessem em séries diferentes, e mais tarde ficavam jogando vídeo game.
Faziam algumas tarefas de casa como arrumar os próprios quartos e lavar a louça juntos. Iam no shopping, na praça, no parque, no cinema. Eram a sombra um do outro. E aprendiam muito conversando, se abrindo, compartilhando suas inseguranças, alegrias, falando de decepções e situações que lhe davam ensinamentos que os permitiam amadurecer pouco a pouco.
Jungkook sempre gabava que tinha o melhor tio-amigo do mundo. Jimin amava esse posto e se esforçava para mantê-lo.
Ele também amava o casal que lhe adotou, assim como se esforçava para ser um bom filho.
No início Boram ficava claramente sem jeito perto de si, não sabendo como lhe tratar direito, mas com o tempo eles iam encontrando coisas em comum que fazia o favor de os aproximar, como por exemplo o amor pela fazenda que o mais velho tinha e Jimin demonstrou ter.
Já com Nayeon o garoto sempre teve uma conexão, uma intimidade maior, uma grande cumplicidade. Foi fácil a ver como mãe.
E quando os chamou aqueles dois de pais, permitindo com que eles lhe tratarem oficialmente como filho, foi uma grande emoção para os três.
Jimin se tornou eternamente grato a Jungkook. Por aproximar dele quando estava acuado no canto. Por persistir em fazer uma amizade. Por respeitar seu tempo de se abrir. Por querer que ele sentisse como era ter sentimentos entre a família - que ele descobriu, dependendo da situação, serem tanto bons quanto ruins - e por insistir até que ele fizesse parte dos Jeon.
Falando no garoto, toda a admiração e amor infantil, ia crescendo junto dele. Todo seu sentimento inocente, intenso e genuíno, também anda se tornando cada vez mais maduro. Ele só não percebeu esse detalhe sobre seus sentimentos. Ainda.
— Vem comigo. — Jungkook agarrou a mão de Jimin e saiu o puxando para longe.
O local onde rolava a festa tinha uma casa na árvore, foi para lá que ele levou o hyung.
— Sobe, rápido. Não quero que ninguém nos veja. — murmurou, empurrando o rapaz para a escada que levava em direção a casinha.
Antes de segui-lo, se abaixou, pegando algumas garrafas de soju, e as levando junto. Ao entrar com elas, falou todo sorridente:
— Olha o que eu trouxe!
— Garoto — arregalou os olhos, tentando tomar as garrafas dele mas o mesmo se afastou. — Por que trouxe isso?
— Eu quero ter minha primeira embriaguez. Nada melhor que na minha festa de aniversário e ao lado do meu melhor tio-amigo. — se sentou em meio a umas almofadas que haviam ali, se esforçando para abrir uma das garrafas mas não conseguindo. Jimin riu. — Faça algo mais útil e abre pra mim.
— Eu não. Você tá achando que está completando quantos anos? Não pode beber ainda.
— Não seja chato, Jiminnie. — fechou a expressão pra ele que suspirou pelo biquinho que surgiu ali. — Só uma, vai.
Ele suspirou outra vez. Não conseguia negar. Porém, talvez pudesse adiar.
— Primeiro seu presente.
— Sério? — se levantou empolgado, recebendo um assentir. — Você disse que me entregaria só no final da noite...
— Já são quatro, já já a noite termina. Mas primeiro você vai ter que adivinhar o que é. — sua sobrancelha ergueu em desafio. Jungkook pela primeira vez notou o ato, achando sexy.
— Uhm... Onde está?
— No meu bolso. — ele estava com as mãos em ambos da calça.
— Não vai dizer que é seu- — Jimin lhe deu um cascudo. — Ai, hyung!
— Aonde está aprendendo essas coisas?
— Eu já tenho quinze, sei mais do que você imagina. — ergueu o rosto, se achando. O outro estreitou os olhos.
— Uhum, sei. Agora foca em adivinhar o que é.
— É uma caixinha de som? — ele negou. — Uma palheta pra fazer par com o violão que ganhei da vovó?
— Essa seria uma boa mas não. Acho que sua mãe já comprou. — ele ganhou um tapa. — Mas que porra...?
— O que combinamos? Nada de spoiler de presentes!
— Desculpa.
Eles ficaram quase uma hora em chutes do aniversariante para saber o que era o presente e brincadeiras até Jungkook cansar e sentar emburrado dizendo que era péssimo nisso.
— Você não é péssimo em adivinhar, eu que sou bom em surpreender. Mas relaxa que vou te entregar. — se ajoelhou atrás dele — Fecha os olhos.
— Pronto. — respondeu, ansioso.
Jimin passou o colar pelo pescoço dele e abotoou. Jungkook passou a mão pelo item, puxando para frente ele viu a ponta das pétalas de um girassol. Seu coração saltou no peito. Se virou para o amigo que estava lhe encarando com um sorriso nos lábios.
— O meu. — tirou de dentro da camiseta, o mostrando o pingente de sol com raios parecidos com as pétalas.
— Hyung é... É lindo. — estava emocionado, ainda mais pelo significado que aqueles pingentes traziam, e muitíssimo feliz. — Eu amei muito. Você é o melhor! — pulou em seus braços, o desequilibrando e os levando ao chão. Jimin gargalhou pois Jungkook grudou em si e não parecia afim de soltar.
Fez carinho no cabelo dele.
— Você é um chiclete, sabia?
— Uhm. — não sabia, nem queria saber de nada no momento a não ser ficar aconchegado no peito cheiroso e quentinho de Jimin.
Os dois ficaram assim por um tempo, vendo o céu lá fora ir clareando aos poucos. Até o garoto lembrar das bebidas. Se sentou, pegando duas garrafas, entregando ao outro para que abrisse.
— Eu quero tomar soju. — afirmou.
— Jungkook, se alguém ver eu vou estar ferrado.
— Mas vou beber porque eu quero!
— Só que você é menor de idade, eu já tenho dezenove, a responsabilidade se torna toda minha, então vai sobrar pra quem, uhm? — o encarou.
— Não seja careta. Vai dar tudo certo. E se você não quer abrir e me dar, eu abro! — tomou uma das garrafas, a abrindo na marra.
— Garoto teimoso. — rolou os olhos e diferente dele abriu seu soju com facilidade.
Eles conversavam sobre momentos engraçados, riam, enquanto bebiam. Com uma garrafa Jungkook já estava com seus sentidos alterados.
Foi até a janela ampla da casa na árvore, fechando os olhos e fazendo careta.
— Tudo bem? — perguntou Jimin, escorando na mesma janela, ao contrário do garoto, podendo olhá-lo ao que bebia o terceiro soju. Ainda estava longe dos sintomas de embriaguez.
— Eu estou com um calor estranho. Acho que estou passando mal, hyung. — ele gargalhou. — Por que está rindo?
— É por causa da bebida.
— Ah... — o olhou, o vendo levar o bico da garrafa até a boca carnuda que estava vermelhinha, logo vendo o líquido descer pela garganta dele... Jungkook se sentiu estranho.
— O que foi? — perguntou, erguendo a sobrancelha ao notar que estava sendo fitado.
— N-nada. — desviou, olhando o céu. — O sol está nascendo.
Jimin se virou, abraçando Jungkook pelo ombro, ao que assistiam.
— Essa é a melhor parte, um novo dia nascendo para fazer história. — disse ele. — Não é lindo?
— É, é lindo. — murmurou, porém estava encarando o hyung. — Você... Você é muito lindo.
— E você está bêbado. — riu, concluindo isso pela forma que ele lhe olhava. — Mas não nego. Eu sou maravilhoso.
— Uhm... Convencido. — resmungou.
— Convencido não, consciente da minha beleza. — ergueu o nariz, o fazendo rir.
— Certo, sr. Beldade. — entrelaçou o pescoço dele, sorrindo. — Obrigado pelo presente especial. Obrigado por sempre ser meu cúmplice. — tomou a garrafa dele, bebendo, sentindo o coração bater rápido ao pensar que a boca dele estava ali antes. Jimin negou, rindo. — E obrigado por sempre me aturar.
— Não precisa agradecer por isso. Você não é difícil de lidar, é um bom garoto. De uns tempos para cá você melhorou nas implicâncias infantis e chatas mas ainda anda muito nervosinho sem motivos. Esse estresse todo não faz bem, sabia?
— Eu preciso aprender a controlar meus nervos, eu sei. Vou melhorar nisso também. — tomou mais soju então deitou a cabeça no ombro dele, sendo abraçado e se sentindo muito bem naqueles braços.
Mais tarde, um Jungkook alterado não queria descer da casa da árvore e ir para sua casa.
— É sério, já devem estar loucos atrás da gente. Vamos.
— Não quero. Eu quero viver para sempre aqui, com você, vendo o sol. — grudou em um galho que crescia dentro da casinha, se negando a ir.
— Eu nunca mais vou deixar você beber. — massageou as têmporas. Tinham minutos que estava ali tentando convencê-lo a ir pra casa.
— Você vai. Sabe por que? Eu sei ser persistente. Sempre soube!
— Tá mais para teimoso, né? Mas agora precisamos ir. — cansou de tentar o pegar com delicadeza, usou sua força, o fazendo desgrudar do galho e o pegando no colo. Jungkook gritou, logo rindo.
— Eu virei noiva!
— Colabora pois eu preciso te pôr no chão para a gente descer, Jungkook.
— Tudo bem. — o rapaz o desceu, observando se ele ia se mover suspeito e voltar ao maldito galho. — Mas eu tenho um pedido.
— O que?
— É um mais presente de aniversário... — sorriu, um pouco tímido. — Vai me fazer muito feliz e eu vou embora junto com você depois...
— Estou esperando. — o garoto fitou os lábios cheinhos, aproximando. — Nem pensar. — colocou o indicador na boca macia e de desenho único.
— Mas, hyung-
— Você está bêbado.
— Eu não preciso estar bêbado para saber que gosto de garotos! — ao ver os olhos saltados em surpresa de Jimin, se tocou que o pensamento do segredo, ao qual estava guardando nos últimos meses, saiu pela sua boca. — N-não conta pra ninguém. Meu pai não vai g-gostar de saber... Eu... Você não vai parar de gostar de mim, né?
— Shh... — soou como um pedido para que ele se calasse, o abraçando. — Está tudo bem. Você pode ter atração por meninos. É natural. Eu não vou deixar de ser seu amigo ou de te amar. Nada vai mudar.
Jungkook ergueu o rosto, sorrindo e com os olhos lacrimejando.
— Você é mesmo o melhor hyung do mundo.
— Seus pais não vão concordar com isso quando eu chegar junto de você bêbado. — afirmou. E mesmo tendo a chance alta de se ferrarem, eles riram.
— Eu prometo me comportar. Se você- — Jimin o selou, um simples encostar de lábios mas para Jungkook foi o melhor beijo do mundo. O mais especial. Por ser o primeiro. Com o hyung que descobriu fazer seu coração acelerar e lhe deixar todo bobinho. Sorriu abertamente. — Obrigado, você me deu os melhores presentes hoje!
Ele negou, rindo e ignorando a sensação estranha que surgiu em seu peito.
— Certo, certo. Agora vamos, sunflower teimoso.
E foi nesse dia que uma paixão romântica, a qual nunca haviam sentido antes, começou a nascer em seus interiores vindo da base que já tinham a anos: o puro amor de infância.
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